A vida e as instituições são feitas à base de mitos, e tabus. Vou dar alguns exemplos a respeito.
O primeiro exemplo que me vem à mente são os Estados
Pontifícios, baseados numa falsa assinatura atribuída ao imperador Constantino
(272-337), que hoje se descobriu ser um mito.
Na verdade, um tal Cristóforus secretário do Papa Estêvão I redigiu essa suposta “Doação” de Constantino ao Papa no ano de 750 d.C. a qual hoje é conhecida como “a fraude mais bem sucedida da história” (André Chevitaresse, historiador da UFRJ).
Estávamos
no ano 750 d.C. e ele colocou a data de
315 d.C. Fez Isso para passar a ideia de segurar aquela posse perante os povos bárbaros
que invadiram a Itália. A motivação da doação: que o imperador tinha sido curado
de uma lepra por uma bênção do Papa.
Quem desmascarou essa falsa assinatura, e também que o imperador nunca teve essa lepra, foi o historiador e filólogo italiano Frei Lorenzo Valla em 1439, no Livro intitulado: DE FALSO CREDITA ET EMENTITA CONSTANTINI DONATIONE DECLAMATIO, contra a DOAÇÃO de Constantino.
Como consequência, o rei Vitor Emanuel II,
em 1870 anexou os Estados Pontifícios à União da Itália. Com isso, o Papa ficou
só com a cidade-Estado do Vaticano, pelo Tratado de Latrão, feito
com o Papa Pio XI, no ano de 1929.
O segundo outro mito ou farsa bem sucedida é a lenda de Santiago de Compostela na Espanha. Esta lenda teve inicio com um eremita de nome Pelágio, no ano de 813, num suposto sonho em que teria visto umas luzes noturnas e um túmulo de mármore com os ossos de São Tiago.
Logo o rei Alfonso II declarou que
eram genuínos e nomeou Santiago protetor da Espanha. Foi o rastilho que faltava
para as lutas contra os muçulmanos que estavam invadindo a Península ibérica.
Era o grito de Santiago que vencia os inimigos.
Em
1640 o Papa Alexandre VII quis declarar que era lenda e mito essa história, mas
o rei ameaçou de cortar os altos dízimos de ouro que mandava para o Papado, e
ele então desistiu.
Em
3º lugar, nem é preciso falar do mito bíblico da criação do homem pelo
barro, como narrado em Gn.2,7.
Porém, agora recentemente, no ano de 1809-1882 surgiu a figura de Charles Darwin que trouxe a teoria da evolução, com novas luzes para a formação das espécies incluindo aí o surgimento da consciência, com a célula geradora do córtex cerebral.
A consciência terá surgido como uma força primária entre alguns répteis, e aves e mamíferos como uma primeira fase. Na segunda fase surgiu em alguns primatas e no homo sapiens a consciência com dois novos tipos de memória. Daí chegou-se à ponte entre o DNA e a mente, no final do milênio 2000.
Vem daí
a novidade dos algoritmos que dão sempre certo nas condições certas. A
teoria darwiniana é um algoritmo, não é um acaso, como dizem os cientistas
atuais. Os Softwares são algoritmos, assim também como o bolo confeitado.
Para
S.Tomás de Aquino (1225-1274), o desenvolvimento do embrião se baseia na
teoria do Hilemorfismo, em três fases: Na 1ª fase o embrião só tem vida
vegetativa ao modo de planta; Na 2ª fase ganha uma vida vegetativa-sensitiva ao
modo de animal. E na 3ª fase ganha a forma humana de consciência.
Os
cientistas e biólogos Jaques Menod e Y.Jacob afirmam não haver
vida humana até o 5º ou 6º mês de gestação, quando se forma o sistema nervoso
central. Estas proposições são muito paralelas com a tese do Hilemorfismo
de Tomás de Aquino, como atrás referido. E também adéqua com Darwin e T. de
Chardin sobre a célula embrionária do córtex e do sistema neuropsíquico.
O historiador Hurts afirma que nos princípios da Igreja, faltas como adivinhação, suborno e roubo tinham penas maiores do que a interrupção da gravidez. E a moralidade desta não derivava do aborto em si mesmo, mas pela intenção de encobertar um adultério ou fornicação. Simplesmente isso. Nos primeiros estágios não era considerado um homicídio.
Até ao séc.18 e 19 não existiu
proibição em matéria de aborto. Em 1713 a Congregação da Santa Inquisição ou
do Santo Ofício que deu origem à
Congregação da Doutrina da Fé, perguntada sobre o batismo dos fetos abortados,
respondeu: “Se existe uma base para pensar que o feto é animado por uma alma,
pode e deve se batizar; No entanto se não existe tal certeza não deve se
batizar sob nenhuma circunstância” (Hurst J.; Muraro R.M p.7-40- 1992).
O
cientista e teólogo do séc.20, o Jesuíta Teilhard de Chardin disse: a formação
do embrião não depende da ideia antropomórfica de colocar Deus como oleiro
soprando uma alma, mas no desenvolvimento da consciência, isto é que origina o
ser humano, e ocorre na formação do córtex cerebral” (Cross F.L Livingstone –
The Oxford Dictionary of the Christian Church,
1997).
Duas
observações: 1º Os cientistas sabem que 75% dos zigotos são expelidos na
fecundação natural. E as mesmas quantidade ocorrem na fecundação in vitro.
Porquê se considera lícito realizar experiências com embriões desenvolvidos in
vitro sem que se tenha o sentimento de estar manipulando seres humanos?
2º Na Encíclica Humanae Vitae, Paulo VI, em 1968 proibia os anticoncepcionais, porém, de lá até aqui ninguém parou de usar. Porque virou tabu falar de aborto aqui entre nós? Será que a Europa toda está errada, e só nós estamos certos? Aqui, numa nação onde mais se mata?
Ainda bem que o Papa Francisco,
nesta mesma linha de ideias, estendeu para todos os sacerdotes, pela BULA DO
ANO DA MISERICÓRDIA, “Misericordia et
misera” de 21/11/2016 o poder de perdoar todos os pecados de aborto, igual todos
os outros pecados. Entenda-se, foi como que a descriminalização do aborto a
nível de Igreja.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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