Hoje vamos ver um exemplo de quando a senhora Sara Milles, fez a sua primeira comunhão e de repente teve a ideia de começar com um banco de alimentos: “O que fizerem ao mais pequeno dos meus irmãos foi a mim que o fizeram” (Mt.25,40)
A distribuição de marmitas e pratos aos
moradores de rua pelos franciscanos da cidade de São Paulo é uma extensão da
mesma Ceia do Senhor. Assim como o Padre Júlio Lancellotti vem fazendo há
muitos anos, intensificando agora em tempos de pandemia, na sua Paróquia de São
Miguel, na arquidiocese de São Paulo.
Não serão estes que estão cumprindo
aquilo de São Mateus “O que fizeram ao mais pequeno dos meus irmãos foi a
mim que o fizeram”? (Mt.25,40). E ainda: “Vão pelas esquinas das ruas e convidem todos que encontrarem, e tragam
todos pro meu banquete”? (Mt.22,9).
No ano de 2010 a senhora Sara Milles
entrava numa igreja pela primeira vez. Não sabendo nada de igreja, mas chegando
na hora da comunhão aproximou-se e recebeu a comunhão. Voltou mais duas
ocasiões, e então pensou: “eu que tenho tudo em casa de comidas abundantes, e
este povo aqui comendo um pãozinho tão pouco. É possível? E pensou em organizar
um banco de alimentos para os moradores de rua.
Com autorização do pároco fez as
primeiras distribuições de comida no espaço da igreja, após as missas, convidou
os membros da igreja para a distribuição, e logo na segunda fase já os próprios
moradores de rua prepararam e distribuíram as refeições na praça da igreja. Em
pouco tempo duzentos e cinquenta passaram a vir a cada vez. Sem saber muito de
igreja, mas começou a praticar a solidariedade. Hoje o movimento chama-se Sopa
Sara Milles.
No caso da senhora Milles, um
fundamentalista seria tentado a proibir-lhe a comunhão, pois tinha chegado
atrasada. Mas na verdade ela foi introduzida logo no centro do reino de Deus
que é não admitir ser feliz sozinha. Ela entendeu que ser feliz sozinha não
dava certo. E de repente entrou na dinâmica do Reino de Deus, que é
experimentar ser feliz junto com os outros.
“A expressão ‘reino de Deus’ é
uma das mais mal utilizadas e mal compreendidas da Bíblia. Por vezes se pensa
que para lá talvez você vá quando morrer quando a história deste mundo acabar,
ou algo que é inteiramente interior. Enquanto que é algo que acontece neste
mundo e para este mundo. (Harvey Cox, 62 “O futuro da fé ” Paulus, 2015).
Veja a conexão do Pai Nosso: “Venha o vosso reino” “O pão de cada dia
tenhamos hoje” (Mt.6,9).
E as célebres palavras do programa de
Jesus: “O Espirito do Senhor me enviou
para pregar o evangelho aos pobres, libertar os presos, curar os cegos,
e dar a libertação aos oprimidos” (Lc. 4,11). Ora, na outra vida não
há pobres, nem presos, nem cegos, e nem oprimidos.
E nem precisa o pão de cada dia. Onde precisamos então “o
pão de cada dia” ?
Também havia um grande banquete preparado
para os convidados. Porém, cada um foi pro seu interesse pessoal: Um foi para
os seus bois, outro para sua fazenda, outro pra sua família (Lc.14,18-20). Aqui
cada um quis ser feliz sozinho, não com os outros. Escolher ser feliz sozinho
não é o reino de Deus: mas escolher ser feliz om os outros é o reino de
Deus.
Há uma poesia no Antigo Testamento do profeta Isaias sobre o reino de Deus, que
eles chamavam também de Shalom e que
está escrita assim, descrevendo como será a Nova Jerusalém: “Nela
não se tornará a ouvir o choro com lamentação. Já não haverá ali crianças que
vivam apenas alguns dias, nem velho que não complete sua idade. Os homens
construirão casas e as habitarão.
Plantarão vinhas e comerão os seus frutos. Já não construirão para que outro
habite a sua casa. Não plantarão para que outro coma o fruto” (Is. 65,19-22).
Poesia, mas essa Nova Jerusalém
dos sonhos é aqui, porque na outra vida não tem videiras para plantar,
nem casas para construir, e isto é tremenda denúncia sobre quem
não tem uma casa e só vive construindo para os outros, e só plantando
para os outros comerem.
Esta denúncia em poesia evoca
uma imagem muito diferente daquela Nova Jerusalém que vemos em desenhos de revistas
mostrando anjos espalmados em túnicas sem caimento, e empoleirados
nas nuvens e tocando harpas.
Estamos em tempos da pandemia. O que
aconteceu com alguns poucos que desviaram o muito dinheiro para a saúde pública?
Não é que quiseram arriscar ser felizes sozinhos? Será que isso é o reino de
Deus? O que acontece quando eu quero ser feliz sozinho?
A teologia da libertação na América
latina tinha este slogan: “Quando chega
para todos, chega também para mim; quando chega só para mim não chega para
todos”. E o Padre Lencellotti diz: “Desde
criança aprendi que o pouco que a gente tem é uma fortuna para quem nada tem”.
P. Casimiro smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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