sábado, 21 de novembro de 2020

A primeira comunhão e um banco de alimentos. “O que fizerem ao mais pequeno dos meus irmãos foi a mim que o fizeram” (Mt.25,40).


 Hoje vamos ver um exemplo de quando a senhora Sara Milles, fez a sua primeira comunhão e de repente teve a ideia de começar com um banco de alimentos: “O que fizerem ao mais pequeno dos meus irmãos  foi a mim que o fizeram” (Mt.25,40)

A distribuição de marmitas e pratos aos moradores de rua pelos franciscanos da cidade de São Paulo é uma extensão da mesma Ceia do Senhor. Assim como o Padre Júlio Lancellotti vem fazendo há muitos anos, intensificando agora em tempos de pandemia, na sua Paróquia de São Miguel, na arquidiocese de São Paulo.

Não serão estes que estão cumprindo aquilo de São Mateus “O que  fizeram ao mais pequeno dos meus irmãos foi a mim que o fizeram”? (Mt.25,40). E ainda: “Vão pelas esquinas das ruas e convidem todos que encontrarem, e tragam todos pro meu banquete”? (Mt.22,9).

No ano de 2010 a senhora Sara Milles entrava numa igreja pela primeira vez. Não sabendo nada de igreja, mas chegando na hora da comunhão aproximou-se e recebeu a comunhão. Voltou mais duas ocasiões, e então pensou: “eu que tenho tudo em casa de comidas abundantes, e este povo aqui comendo um pãozinho tão pouco. É possível? E pensou em organizar um banco de alimentos para os moradores de rua.

Com autorização do pároco fez as primeiras distribuições de comida no espaço da igreja, após as missas, convidou os membros da igreja para a distribuição, e logo na segunda fase já os próprios moradores de rua prepararam e distribuíram as refeições na praça da igreja. Em pouco tempo duzentos e cinquenta passaram a vir a cada vez. Sem saber muito de igreja, mas começou a praticar a solidariedade. Hoje o movimento chama-se Sopa Sara Milles.

No caso da senhora Milles, um fundamentalista seria tentado a proibir-lhe a comunhão, pois tinha chegado atrasada. Mas na verdade ela foi introduzida logo no centro do reino de Deus que é não admitir ser feliz sozinha. Ela entendeu que ser feliz sozinha não dava certo. E de repente entrou na dinâmica do Reino de Deus, que é experimentar ser feliz junto com os outros.

“A expressão ‘reino de Deus’ é uma das mais mal utilizadas e mal compreendidas da Bíblia. Por vezes se pensa que para lá talvez você vá quando morrer quando a história deste mundo acabar, ou algo que é inteiramente interior. Enquanto que é algo que acontece neste mundo e para este mundo. (Harvey Cox, 62 “O futuro da fé ” Paulus, 2015).

Veja a conexão do Pai Nosso: “Venha o vosso reino” “O pão de cada dia tenhamos hoje” (Mt.6,9).

E as célebres palavras do programa de Jesus: “O Espirito do Senhor me enviou para pregar o evangelho aos pobres, libertar os presos, curar os cegos, e dar a libertação aos oprimidos” (Lc. 4,11). Ora, na outra vida não há pobres, nem presos, nem cegos, e nem oprimidos. E nem precisa o pão de cada dia. Onde precisamos  então “o pão de cada dia” ?

Também havia um grande banquete preparado para os convidados. Porém, cada um foi pro seu interesse pessoal: Um foi para os seus bois, outro para sua fazenda, outro pra sua família (Lc.14,18-20). Aqui cada um quis ser feliz sozinho, não com os outros. Escolher ser feliz sozinho não é o reino de Deus: mas escolher ser feliz om os outros é o reino de Deus.

Há uma poesia no Antigo Testamento  do profeta Isaias sobre o reino de Deus, que eles chamavam também de Shalom e que está escrita assim, descrevendo como será a Nova Jerusalém:  “Nela não se tornará a ouvir o choro com lamentação. Já não haverá ali crianças que vivam apenas alguns dias, nem velho que não complete sua idade. Os homens construirão  casas e as habitarão. Plantarão vinhas e comerão os seus frutos. Já não construirão para que outro habite a sua casa. Não plantarão para que outro coma o fruto” (Is. 65,19-22).

Poesia, mas essa Nova Jerusalém dos sonhos é aqui, porque na outra vida não tem videiras para plantar, nem casas para construir, e isto é tremenda denúncia sobre quem não tem uma casa e só vive construindo para os outros, e só plantando para os outros comerem.  

Esta denúncia em poesia evoca uma imagem muito diferente daquela Nova Jerusalém que vemos em desenhos de revistas mostrando anjos espalmados em túnicas sem caimento, e empoleirados nas nuvens e tocando harpas.

Estamos em tempos da pandemia. O que aconteceu com alguns poucos que desviaram o muito dinheiro para a saúde pública? Não é que quiseram arriscar ser felizes sozinhos? Será que isso é o reino de Deus? O que acontece quando eu quero ser feliz sozinho?

A teologia da libertação na América latina tinha este slogan: “Quando chega para todos, chega também para mim; quando chega só para mim não chega para todos”. E o Padre Lencellotti diz: “Desde criança aprendi que o pouco que a gente tem é uma fortuna para quem nada tem”.

P. Casimiro    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

 

 

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