domingo, 24 de outubro de 2021

Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado” (Mc. 16,16). Uma reflexão.


 

Antes de Santo Agostinho não havia a teoria do pecado original, e as crianças que morriam sem o batismo iam pro Céu; Santo Agostinho botou elas pra fora do Céu. E agora?

Agora a Igreja  bota de novo as crianças sem batismo pro Céu. É por isso que a Igreja agora não obriga mais a ser batizado pouco depois de nascer como antes. Uai, podia dizer o mineiro, então os protestantes têm razão em não batizar crianças. Têm e não têm. Porquê? Porque se um adulto morrer sem ser batizado também vai pro céu.

Então para quê Jesus mandou batizar? Primeiro, era para aceitar a ele publicamente e aceitar fazer parte da Igreja que estava começando, com os compromissos consequentes, como ser irmãos na partilha e fazer uma sociedade igual. “Os cristãos tinham tudo em comum, dividiam seus bens com alegria: Deus espera que os dons de cada um se repartam com amor no dia a dia” (Cf. Atos, 2,42).

Segundo, o batismo não é para a outra vida mas para esta vida, é um compromisso escrito de fazer o bem aceitando Jesus e a sua Igreja. E fazer o bem não se faz na outra vida é nesta, e a Igreja é só para esta vida.

Por isso o  chinês o japonês e o asiático e outros que seguem sua consciência de fazer o bem e não prejudicam ninguém também o céu é deles. “Virão muitos do oriente e do ocidente  se assentar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus” (Mt.8,4). “Ide às encruzilhadas dos caminhos e chamai para a festa  todos quantos encontrardes” (Mt. 22, 1-14).

Dá para voltarmos ao início do nosso tema para vermos o histórico da nossa questão. Santo Agostinho viveu no séc.V da nossa era, e converteu-se e foi batizado aos 40 anos de idade. Antes ele seguia uma filosofia chamada maniqueísmo. Esse filosofia dizia que tudo era matéria, não tinha espírito. O impulso sexual produzia a miséria das pessoas porque era coisa da matéria. Então a criança nascia do impulso sexual, estava condenada se não fosse batizada.

A Igreja foi aceitando essa teoria, e mesmo já na época, Agostinho encontrou-se com o filósofo cristão sério, Pelágio, e viu que não concordava com ele. Os teólogos da Idade Média respondiam com aquela história de “Trancoso”, do Limbo, para onde botavam as crianças que morriam sem o batismo, uma vez que não iam nem pro céu, nem para o inferno e nem para o purgatório.  Nos anos de agora isso passou, virou lenda.

Por isso de novo a pergunta: Antes de Agostinho não havia o pecado original; as crianças que morriam sem o batismo iam para o céu; Santo Agostinho botou elas para fora do céu. E agora? Agora a Igreja bota elas de novo para o céu.

Então agora a pergunta formulada: AS CRIANÇAS SEM BATISMO SE SALVAM?

Em continuação, vamos dar seguimento à segunda parte, os motivos que levam hoje a afirmar que as Crianças que morrem sem batismo não se podem condenar, estão salvas. Antes de tudo vamos dar uma olhada às razões que levavam à obrigação do batismo.

1. Razões antropológico-bíblicas primitivas:

1). As razões da Igreja da Idade Média para a não salvação das Crianças sem o batismo baseavam-se na primitiva antropologia da fabricação do homem com o barro (teoria Criacionista). Agora atende-se à teoria evolucionista, na qual o Adão e a Eva são os nossos Ancestrais desde 500 mil anos atrás, em evolução progressiva até chegar, por uma Sinapse do Córtex cervical à formação da consciência .

2). Devido a isto, acrescenta-se a teoria do polimorfismo genético pela qual em muitos casais primevos aconteceu esta evolução (teoria do poliformismo).

3). Não há como dizer que o homem na sua evolução até ao Homo sapiens e Neandertal não tivesse morrido, antes numa consciência em evolução, e depois já em plena consciência.

4). Não há portanto como dizer que antes o homem era imortal e que só teria morrido por causa do pecado.

5). Por fim, o ser humano foi evoluindo tanto na sua Consciência como na sua evolução física e biológica, e da formação do seu Genoma genético.

6). Atribuindo à história bíblica o gênero mitico e lendário primitivo, do jeito primitivo de forjar uma explicação para o inexplicável sem a Ciência de hoje, temos que a Criança nasce sem pecado, como é afirmado na teoria evolucionista, hoje aceita oficialmente pela Igreja.

2. Razões filosóficas e antropológicas

Vamos ao ponto fulcral de Agostinho. Ele dizia que o pecado original vinha da relação sexual, que é matéria. E porque a matéria era má, todo o sexo era mau. Agostinho seguiu a filosofia dos Maniqueus, fundada por Mani (250 d.C.) que tinham a matéria como má aproveitando-se das ideias de Platão (450 a.C.). Segundo eles, o demiurgo era o intermediário de Deus na criação, responsável pelo mal que não podia ser atribuído ao Criador Supremo, que não tinha nenhum envolvimento com o mundo e com a matéria. Seriam então dois deuses, o demiurgo e o deus supremo.

Como a criança nasce da matéria pela relação sexual, ela vinha condenada pelo “pecado de origem” dos pais. E foi nessa linguagem que o fruto da relação começou a ser chamado de pecado original por Santo Agostinho, devido à filosofia maniqueista dualista e gnóstica da condenação da matéria.

Como vimos atrás, a esta filosofia dualista maniqueísta juntava-se a primitiva antropologia da criação pelo barro, dum único casal humano na descrição do mito da Criação. Tiradas estas bases, pode se ver a nuvem em que Santo Agostinho trabalhava. Como dito antes, não sendo consistente essa teologia, os pensadores da Idade Média quiseram resolver o problema com a estória do Limbo, que também não deu certo. Este pessimismo maniqueu vai na contramão da apreciação positiva do Gênesis: "E Deus viu que tudo era bom" (Gn.1,19).

3. Razões históricas.

1ª etapa – A tese bíblica do Antigo Testamento era a certeza que o Israel bíblico estava destinado a ser o dono do mundo. E todo mundo seria circuncidado para ser do reino. Os apóstolos tinham isso na cabeça e o mostraram no episódio da Ascensão: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel”? (At. 1,6).

2ªetapa: Isso não foi possível, e chegou novo dono do mundo, o império romano, que dominou a Palestina e todo mundo ocidental. Até o séc. VI-VII. Mas também o império romano foi embora com os seus sonhos imperiais de seis anos. No séc.VI o império romano se dividiu e ruíu.

Mas ainda a Igreja e  o império trabalharam unidos uns séculos. E como no Judaísmo todo mundo tinha que se circuncidar, na religião do império todo mundo tinha que se batizar. Foi por esse tempo que estavam sendo feitas as últimas edições dos evangelhos sinóticos. E apareceram vários acrescentos, entre os mais importantes o acrescento feito ao evangelho de Marcos na última metade do último capítulo: ”Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado” (Mc. 16,16).

3ª etapa: - Com o fim do império romano dividido, chegou a Igreja católica. A Igreja herdou as vestimentas, os poderes e os brazões da nobreza. O império romano se foi embora mas esses costumes ficaram na Igreja. Os bispos eram os príncipes, o Papa era o Rei dos reis.

  etapa: Como no Judaísmo todo mundo teria que se circuncidar, na Igreja todo mundo tinha que se batizar, senão ia se condenar como falámos na 2ª etapa.

5ª etapa: Nos povos das Colônias, no séc. XVI em diante, todos  eram obrigados a se batizar, escravos e crianças para ter os direitos de cidadão do império colonizador, e quem sabe, para irem também pro céu.

Esta é uma breve resenha antropológico-filosófica, pré-cristã e histórica das andanças em que têm andado os caminhos teológicos do Batismo.

Com a abertura da Igreja à teologia do pluralismo teológico e ao pluralismo das religiões, e com as novas teorias antropomórficas, foi possível olhar e compreender as razões históricas, e afirmar corajosamente a salvação. Passando do antigo aporema: “Fora da Igreja não há salvação(Cipriano, 258), para o novo aporema: “Fora da Igreja há muita salvação” como vem desde o Concílio Vaticano II.

Na verdade, muitas hipóteses se têm levantado, como aquela do “batismo de desejo”, outras vezes se tem falado na “igreja visível e na igreja invisível”, daqueles que não pertencem visivivelmente à Igreja de Cristo. Tem se falado dos que “com culpa ou sem culpa” se salvam. Mas a Lumen Gentium (Vaticano II) afirmou “Quem se salva, salva-se por Cristo e em sua Igreja: pertença a ela visível ou invisívelmente”  (LG.16). Daqui a conclusão: As crianças se salvam porque são sem culpa e pertencem à Igreja invisivelmente.

E o Catecismo da Igreja Católica: “Aqueles que não receberam o evangelho estão relacionados com o Povo de Deus de várias maneiras” (CIC), 838-839.

RESUMO: 1)-A Igreja seguiu o Antigo Testamento, todo mundo tinha que ser circuncidado para a salvação; 2)- Herdou a ideologia do império romano: ser os donos do mundo; 3)- Acabou o império romano, ficou a Igreja dona do mundo; 4)- “Quem não crer” foi um acréscimo desta época para batizar todo mundo na marra; 5)- As Colônias foram grande exemplo (batizar para pertencer aos impérios) e “para salvar a alma” – batizar à força; 6)- O Para era o rei dos reis e o dono do mundo; 7)- As vestimentas, poderes e insígnias continuaram sendo como no império; 8)- Era uma teocracia e regime monárquico; 9)- “Ide por  todo mundo” foi interpolação desses séculos III e IV e seguiu a mesma ideologia; 10)- Direitos Humanos e liberdade de consciência: A Igreja foi a última em aceitar perante o mundo a liberdade de consciência, e em assinar o estatuto da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10 de dezembro de 1948.

P.Casimiro João     smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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