domingo, 3 de outubro de 2021

Gêneros literários na Bíblia, ou os Formatos etiológicos de doutrinação “e se transfigurou diante deles”.(Mc.9,2-10)


 

Gêneros literários são formas ou formatos de colocar uma ideia ou uma história. Podemos catalogar os principais: gênero apocalíptico, gênero épico, gênero profecia, gênero evangelho, gênero romance ou novela, gênero teofania e gênero ou formato vocacional.

1. gênero apocalítico: Ao autores punham sua espiritualidade ou sua teologia em formato de sonhos para expressar suas teses ou teologias. Quase sempre utilizando elementos cósmicos e nomes de animais para dar o tom de mistério. E mais, com os nomes e figuras de animais ocultavam os nomes dos inimigos políticos de que falavam. Outras vezes o gênero apocalíptico vai buscar coisas do Antigo Testamento também do mesmo gênero em formato de sonhos ou visões para acabar de tecer a sua história ou narrativa etiológica.

2. gênero épico: Os autores punham suas narrativas exageradas e inventadas e “sonhadas”, e “aumentadas” em forma ou formato de histórias como sendo verdadeiras, mas que nunca aconteceram daquele jeito, para enaltecer a sua nação ou um seu herói.

3. gênero profecia: Os autores punham em forma ou formato de afirmações ou revelações como vindas de Deus em pessoa “Deus falou,” “Deus disse,  Escutem a voz de Deus”, “Deus falou com Moisés”.. Estas expressões existem 2.200 vezes na Bíblia. Aliás, já antes dessas falas, o rei de Moab também escreveu a respeito do seu deus: “Ele me disse: vai, e toma as cidades de Nebo de Israel”. Eu fui de noite e lutei até a tarde, e as tomei”(José Ademar Kaefer,”A Bíblia, a Arqueologia”, Estela de Mesa) p.74). Aliás, como diz o mesmo autor, “a profecia é um fenômeno universal e existiu praticamente em todas as formas ou organizações religiosas conhecidas do mundo antigo” o.c.p.85). Geralmente o profeta estava a serviço do rei e da corte e tinha a função de conselheiro do rei, que o considerava como “vidente”. “Seus profetas adivinham por dinheiro” (Miq.3,9). A maior parte dos profetas bíblicos estavam também na corte ao serviço do rei, inclusivamente o profeta Isaías.

Profecias e textos execratórios eram tipos de previsões escritas contra os inimigos. Existem estelas e óstracos que confirmam que as profecias tinham-se realizado na derrota dos inimigos. O principal profeta conhecido é o egípcio Neferti, do ano 3.000 a.C. antes de toda a história bíblica, estamos ainda na Idade do Bronze. (Cf. BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 21/2/21)

Além do gênero profecia que os judeus imitavam das culturas do seu entorno, também se inspiraram e copiaram o gênero salmos dessas mesmas culturas mormente do Egito, assim como copiaram também o tipo Provérbios, inclusive no livro dos Provérbios vêm alguns desses antigos (Cf.Prov.cap.30).

O gênero profético atribui uma esperança ou utopia popular a um plano divino de certo herói de tempos passados em uma sobrevivência no futuro como sendo preparada por Deus. Exemplo de como em Portugal havia o sonho da volta do rei Sebastião, morto na África, mas que havia de voltar numa manhã de nevoeiro...Na Bíblia, o exemplo do sucessor do rei Davi. Essa ideia exprime a nostalgia coletiva de que voltassem os tempos áureos do esplendor de uma nação, simbolizados no herói principal da sua época.

Outras vezes o gênero profético se inspirava nas pitonisas helênicas que faziam seus oráculos de “adivinhação”, sempre com o objetivo de dar suporte às expectativas dos clientes. É famoso o culto da pitonisa do templo de Apolo em Delfos, desde o séc. VIII antes de Cristo. Os oráculos eram ocasionados por vapores que subiam da ruptura sísmica das rochas onde o Templo estava construído; a pitonisa emitia uns sons sem sentido, mas considerados profecias pelos sacerdotes para fins lucrativos.

4.-gênero evangelho: Coloca na boca de Jesus afirmações e discursos para descrever casos concretos e locais vividos pelas comunidades para dar autoridade como históricas, e assim solucionar os problemas e casos vividos pelas igrejas locais. Semelhantes a este gênero é o gênero Epístolas e Atos.  Epístolas e Atos também se inspiram em relatos e listas de atos maravilhosos de heróis antigos que faziam parte do imaginárío popuplar. Exemplos de relatos de curas, milagres de andar em cima do mar, curas à distância, aparecimento e desaparecimento físico, e se encontrar em vários lugares, ou bilocação, como também se sair bem de tremores de terra, derribar até fortificações como Sansão, e escapar de mordeduras de cobras venenosas, como Apolinário de Tiana; ressuscitar mortos e expulsar demônios, e afastar epidemias(Apolinário de Tiana e Bem Hanina).  Alguns nomes desses heróis: Hanina bem Dosa, judeu; Imbotep, o egípcio; Hipócrates, grego; Apolônio de Tiana; Roni e Banuz, e Eliázar, judeu.

5. gênero teofania: Mais precisamente uma parte do gênero épico, onde os autores colocavam Deus se mostrando em seu poder com nuvens, trovões, relâmpagos, e fogo, como no caso de Moises no deserto, Êx.cap.3, e do Pentecostes, At.cap.2; nuvens como no Tabor assim como vozes, no Tabor e no batismo de Jesus, Moisés no Sinai, e na sarça ardente. Na verdade, nas antiguidades o deus supremo era o deus da tempestade. Justamente por isso a religião judaica que trazia parcelas das culturas antigas tinha que colocar o Deus-Javé falando em cima de nuvens, trovões, relâmpagos e tempestades, como no Sinai (Êx. Cap,20). Cf. BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 21/2/21).

6. Tem ainda o gênero ou formato vocacional que mostra a fala de Deus no chamado para uma vocação, como Samuel, Isaias, Jeremias, João Batista e toda a cena dos pais para o nascimento, até ao nascimento de Jesus com a vocação da Virgem Maria.

7. E tem o gênero em formato “romance” (novela), que são casos extraordinários para criar impacto, admiração e o “poder” de Deus, como Jonas no ventre da baleia (Jn.cap.3), Daniel na “cova dos leões” Sansão e Dalila, e Cãntico dos cânticos.

8. Tem ainda o jogo de números, que para os antigos judeus tinha uma linguagem, como os números 3, 4, 6, 7  10 e 12.   Três, sete e doze são da perfeição. Dez e seis, da imperfeição; quatro, os 4 pontos cardeais, o mundo todo implicado.

Conclusão. “O método histórico-crítico é o método indispensável para o estudo científico do sentido dos textos bíblicos. Como a Sagrada Escritura enquanto palavra de Deus em linguagem humana foi composta por autores humanos em todas as suas partes e todas as suas fontes, sua compreensão não só admite como legítima, mas pede a utilização deste método” (DECLARAÇÃO DA PONTIFÍCA COMISSÃO BÍBLICA, aprovada pelo Papa São João Paulo II em 1993 e publicada em 1994).

P.Casimiro João

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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