1.
O problema. Aceitar Moisés ou Jesus, neste discurso “deu-lhes a comer o pão vindo do céu”,Jo6.31.
Pedindo um sinal a Jesus, os judeus apresentaram esse sinal que Moisés lhes
deu. A resposta de Jesus: “Não foi
Moisés que lhes deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o pão do céu” (Jo.6,32).
Como
já foi falado noutra página, o primeiro problema aqui era “aceitar Moisés,
ou Jesus, como já tinha feito
Paulo aos seus cristãos noutra ocasião a respeito da Lei e da graça
(BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 22/8/21). Aqui, a proposta ao vivo, o mesmo dilema a
respeito da Cristologia no evangelho de João.
Paulo
propunha o tema da graça que supera a Lei para a salvação, a justificação
pela fé; aqui João propõe a salvação pela pessoa de Jesus, e já não
pela pessoa de Moisés. Notemos o detalhe:”Vossos pais comeram o maná mas morreram, este ó o pão que desceu do
céu para que não morra todo aquele que dele comer; quem comer deste pão
viverá eternamente”(Jo.6,50-51). Porque não morre quem dele comer? Porque
na cristologia joanina quem aceitou Jesus já não vai precisar morrer para
ver a Deus. Nesta vida já tem Deus e vê a Deus“quem me viu viu o Pai” (Jo.14,9). Semelhantemente à cristologia de
Paulo “nós os vivos que estamos ainda na
terra seremos arrebatados sobre as nuvens ao encontro do Senhor, nos ares”(1Tes.4,17).
Portanto,
a respeito do pedido dos judeus,“Moisés
deu-nos o pão do céu”Jo.6,31, e “tu
que sinal nos dás, qual é a tua obra?” Jo.6,39, João propõe aqui a resposta
da diferença e da origem do pão:“Moisés não
vos deu o pão do céu”Jo.6,32, o pão agora é Jesus “eu sou o pão descido do céu”Jo.6,41. Ele mesmo é que é o pão descido do
céu. E ainda: “Eles morreram”Jo.6,49,
porém “quem come deste pão viverá
eternamente”Jo.6,51 isto é, nem vai precisar de morrer para ver Deus
(Cf.BLOG www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 05/9/2021).
2.
Este pão que desceu do céu é aceitar Jesus com a sua humanidade.
Dentro das comunidades joaninas havia tendências diferenciadas a respeito de
Jesus: os adocionistas pensando que Jesus era só adotado por
Deus; subordinacionistas, que era deus, mas subordinado a Deus; e separacionistas
que pensavam que depois da morte de Jesus a divindade tinha deixado a
humanidade, e por isso a humanidade de Jesus seria só aparente, e também
como consequência a sua morte. Eram as cristologias em oposição. Este discurso tem por
finalidade declarar para as comunidades o objetivo de aceitar Jesus na sua
humanidade, embora numa explicação com
viés gnóstico.
3. João
não tem em vista tanto o sacramento, mas a cristologia. Tanto assim que não
escreveu nada sobre o rito da instituição da Ceia, mas objetiva resolver as
diferenças cristológicas. E na pessoa de Jesus reforça o serviço à comunidade,
no símbolo do lava-pés e do avental do serviço. Versículos que
fazem referência aos materiais sacramentais certamente foram interpolados mais
tarde por um redator eclesiástico, no séc.IV, como por exemplo Jo.6,51-58, dada
a dificuldade que este evangelho tinha encontrado para ser incluído no Cânon.
(R.Brown A comunidade joanina, p.111).
4.
Pão do céu. Tanto esta expressão idiomática foi cristalizada pelos
tempos afora, que viralizou numa espiritualidade desencarnada. Tanto assim que
quase ninguém pensa na abrangência dessa cristologia. Sendo uma metáfora de
Jesus: o que ele foi e o que ele é: a
pessoa doada para que todos tivessem pão do alimento nas mesas, e pão de
inteligência em suas cabeças, e pão de amor em seus corações. Foi isso que
revoltou romanos e judeus quando condenaram Jesus. Porque quem quer o alimento
do povo revolta os dominadores, e não só o alimento do estômago, mas o pão abrangente
da pessoa humana. É constatado que os países colonizadores e opressores eram
todos países cristãos e tinham em seu programa o ”pão do céu”, mas não o
“pão da terra”. Assim como o nosso país de hoje fala muito em pão do céu
mas tira o pão da terra, como os antigos. Estratégia “espiritualista” para
alienar o cidadão e mantê-lo numa anestesia divina, descida do céu. E
ainda se fala no “pão dos anjos”, como? Se anjos não comem, isso não existe. E
são estes países onde o povo continua sofrendo de fome, e sem teto, sem
moradia, sem terra e sem chances de trabalho e chances de escola.
Na
verdade. O “pão do céu se não produzir o “pão da terra” é uma quimera. O “pão
do céu” se não produz o “pão da terra” pode ser uma ilusão.
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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