Hoje
em dia os historiadores deram-se conta que alguns dogmas foram proclamados por
motivos de viés político e por motivações até pessoais inconfessáveis. Isto
deu-se em épocas de conflito e de não aceitação por parte da Igreja de
filosofias que depois vingaram no mundo e que a própria Igreja acabou
aceitando.
Aí
se invocavam até motivações “divinas” para esse endurecimento da religião. O
mesmo endurecimento se viu debilitado com o andar dos anos. Foi assim que o Papa Pio VI invocava uma suposta“revelação
divina” para condenar a filosofia dos direitos humanos, a liberdade
de religião, e a liberdade de consciência, em 1791. É por isso que afirmam
os teólogos que os dogmas traduzem épocas e histórias discutíveis. E traduzem
na verdade uma fé da Igreja ainda não madura, que na época “não aceitava
desafios e os riscos da busca”, como
afirma Mário Aletti, docente da Universidade Católica de Milão.(citado
por Ales Bello, “Entre Fenomenologia,
Psicologia, e Psicopatologia” Paulus, p.160).
Podemos
citar o ambiente histórico de Pio IX (1792-1878) que viveu a época da perda dos
Estados Pontifícios. Podemos imaginar a crise emocional com que
teve que conviver e que o levou a proclamar tantas condenações e a ainda mais à
obstinação de lançar mão de todos os meios para proclamar a infalibilidade
pontifícia, que era a última coisa que lhe restava para satisfazer o Ego,
que ele via ser destruído por todos os lados como uma estátua que se vê
derrubada de seu pedestal. Enfrentando as filosofias do Modernismo,
Iluminismo, e Liberalismo publicou o documento Syllabus que “enumerou”
quase 100 erros da sociedade, e os condenava com o apelido de “a peste do
mundo moderno”. Com isso ele declarava “guerra à modernidade“ e ajudou a
debandada de cientistas e filósofos católicos e muitos intelectuais. Estava
criado um ambiente em que a Igreja não era considerada nem escutada. Dali a uns
anos, em 1950, o Vaticano não foi nem admitido a tomar parte na Convenção
Europeia para os Direitos Humanos. Essa crise do Papa atingiu o seu pique ao convocar o Concílio Vaticano I em cujo encerramento
tinha um propósito da proclamação da Infalibilidade papal. A história diz que
não conseguiu a maioria dos Padres Conciliares, e teria resolvido o caso por
meio de ameaças a uns e de privilégios a outros, fato que levou vários Padres
conciliares a abandonar o Conclave.(Cf. H.Kung “A Igreja tem salvação”, Paulus,
166).
Já
vimos que ele não aceitava as mudanças da modernidade que “eram a peste do
mundo moderno”, e filosofias que defendiam a liberdade de religião e de
consciência, como também as teorias que defendiam que o poder dos reis
devia estar livre da tutela da Igreja, e os que defendiam a
independência da razão, o liberalismo. Para nossa surpresa, hoje tudo isto
faz parte da filosofia e da doutrina da Igreja, como confirmou mais à
frente o Concílio Vaticano II (1960-64).
Para
explicar fatos como estes, valemo-nos dos estudos dos psicólogos da religião.
Estes psicólogos, como W.Allport, o fundador da psicologia da religião,
e A.Vergote distinguem uma religiosidade “extrínseca” e uma religiosidade
“intrínseca”. (A.Bello o.c.p.160). A religiosidade extrínseca diz
respeito a uma necessidade de segurança, de conforto, de defesa. A religiosidade
intrínseca reconhece que a fé é um valor que se traduz num empenho pelos
outros e procura meios para fazer os outros e a sociedade crescerem para o
objetivo maior que é o reino de Deus. A primeira olha para o seu reino, o
seu umbigo; a segunda visa o reino de Deus, que é também o reino
dos outros.
A
religião intrínseca é alimentada por um processo de formação permanente capaz
de conduzir à maturidade religiosa. A religião extrínseca parou no
tempo. Acha que não há mais nada para aprender, que já sabe tudo. A
religião intrínseca move-se naquela consciência própria do ser humano que sabe
que nada está acabado, mas tudo por acabar, é a consciência darwuiniana do não
acabado.
É
por isso que Freud falava do infantilismo da religião, quando o
ser humano só fabrica ilusões que governam a sua vida, como um plasma gravado
na sua infância e que distorce as realidades da vida adulta. Esse plasma é uma
camisa de forças que não deixa crescer. E depois dele, entre outros como Sartre
e Nietzshe.
O
que nos permite concluir desta situação é que a infantilidade da fé de muitos
adultos é que provoca a incredulidade de muitos “ateus”. Ou seja, a religiosidade
do medo, do conforto e da
defesa que não cresce. Que nunca chega a olhar o mundo e a própria fé com
olhos de adulto. Seria como se um menino do Pré e do jardim de infância
permanecesse assim no meio de adultos, doutores, cientistas, e professores ou
gente com ensino médio, filosófico, e humanístico. No caso ele iria gritar que
os outros estão todos errados e só ele está certo. Ou então se recolher e
conviver só com seus parceiros do início da escolaridade e do tempo das fadas.
Conclusão. Falei que a Igreja teve seus problemas com os dogmas. Não
será por isso que hoje em dia, como vem acontecendo depois do Concílio Vaticano
II, a Igreja católica se tornou mais acolhedora e compreensiva e aberta às
outras religiões? E não só, também para com os Sem fé, e sem religião? Na
verdade, um princípio norteou os Padres do Concílio Vaticano II: de não
publicar dogmas e nem excomunhões de jeito nenhum para nada e
para ninguém.
P.Casimiro João
smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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