domingo, 23 de janeiro de 2022

“Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e eu serei salvo. ”Será uma parábola ?

Para nos aproximar da comunhão, o Ritual romano traz esta exclamação. O Ritual já vem do século XIII, corroborado pelo Papa Pio V no século XV. E por sua vez foi buscar isso no evangelho de Mateus: “Senhor eu não sou digno de que entres em minha casa, mas dize uma só palavra e o meu empregado será curado”(Mt.8,8). Quem falou essas palavras foi um oficial romano que tinha mandado empregados para que Jesus curasse um empregado dele.

Temos que ver os motivos e o ambiente em que essa expressão vem no evangelho de Mateus, e por que é que vem. Dois motivos: O mais relevante é um motivo político. O redator ou redatores do evangelho tinham a preocupação de adular o império romano, por um lado, e por outro lado rebaixar o povo judeu diante dos romanos. Porquê? Eles pretendiam que os romanos aceitassem as comunidades e o cristianismo em vez de persegui-lo. Por isso tinham que encontrar motivos e exemplos para agradar os romanos. Como quem diz: Eu apresento a vocês este exemplo: “Um dia um oficial romano aproximou-se de Jesus suplicando, ‘Senhor, o meu empregado está de cama, lá em casa, sofrendo terrivelmente com uma paralisia. Jesus lhe disse, ‘vou curá-lo”(Mt.8,6-7). Seguindo a cena, o oficial recebeu o elogio de Jesus, que disse ”Nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fe. E vos digo, muitos virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão à mesa no reino de Deus junto com Abraão, Isaac e Jacó”(8,10).

Isto nos diz que o evangelista está adulando o povo romano sem restrições e por outro lado colocando a fé do centurião acima da fé do povo de Israel. Isso portanto é uma parábola, com a finalidade de convidar os romanos à conversão, porque seriam mais dignos ainda do que os Judeus para “sentarem à mesa no Reino dos céus junto com Abraão, Isaac e Jacó”. Até que em outras ocasiões os evangelistas chegam ao ponto de afirmar que dessa mesa iriam ser excluídos os judeus. (Cf. Mt.8,12).

O evangelista tem ainda em mente a conotação purista que o oficial saberia que Jesus não poderia entrar na casa dele por ser pagão, porque os judeus ficavam impuros entrando na casa dos pagãos. Difícil é imaginar que o oficial saberia desse detalhe, claro que não sabia, mas convinha para a narrativa. Finalmente, o convite para a conversão: “virão muitos do oriente e do ocidente e se sentarão à mesa no reino de Deus junto com Abraão, Isaac e Jacó”(MT.8,11).

A Igreja adotou essa frase de há séculos para o momento da comunhão, o que hoje é discutível em todos os sentidos: nem nós somos os romanos nem Jesus é  mais o judeu que ficaria impuro ao entrar na casa, nem nós somos funcionários. E nem Jesus entra em morada alguma porque ele já está na vida do comungante. E se é para “dizer uma só palavra” para quê a comunhão? “Dizei uma só palavra e eu serei salvo”, mas todo mundo vai comungar. Qual é o motivo mais oculto dessa tradição? Faça uma pesquisa do significado e do motivo dessa palavra “dizei uma só palavra”: Não será uma comunhão que me dê só a mim a salvação individual, só a mim e mais ninguém? Mas onde há só eu onde há  comunhão? Onde fica aí o empenho comunitário pelos que não têm lugar na “mesa do pão da família? Os desempregados, os sem-teto, e os sem-terra? Os sem-saúde e sem-pão e sem-estudo? Mas tudo bem, contanto que eu, na comunhão, eu escuteuma palavra, o resto que se dane.

Aí acabou a comunhão, entrou a solidão.

P.Casimiro João

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
 

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