Para
nos aproximar da comunhão, o Ritual romano traz esta exclamação. O Ritual já
vem do século XIII, corroborado pelo Papa Pio V no século XV. E por sua vez foi
buscar isso no evangelho de Mateus: “Senhor
eu não sou digno de que entres em minha casa, mas dize uma só palavra e o meu
empregado será curado”(Mt.8,8). Quem falou essas palavras foi um oficial
romano que tinha mandado empregados para que Jesus curasse um empregado
dele.
Temos
que ver os motivos e o ambiente em que essa expressão vem no evangelho de
Mateus, e por que é que vem. Dois motivos: O mais relevante é um motivo político.
O redator ou redatores do evangelho tinham a preocupação de adular o
império romano, por um lado, e por outro lado rebaixar o povo judeu diante dos
romanos. Porquê? Eles pretendiam que os romanos aceitassem as comunidades
e o cristianismo em vez de persegui-lo. Por isso tinham que encontrar motivos
e exemplos para agradar os romanos. Como quem diz: Eu apresento a vocês este
exemplo: “Um dia um oficial romano
aproximou-se de Jesus suplicando, ‘Senhor, o meu empregado está de cama, lá em
casa, sofrendo terrivelmente com uma paralisia. Jesus lhe disse, ‘vou
curá-lo”(Mt.8,6-7). Seguindo a cena, o oficial recebeu o elogio de Jesus,
que disse ”Nunca encontrei em Israel
alguém que tivesse tanta fe. E vos digo, muitos virão do Oriente e do Ocidente
e se sentarão à mesa no reino de Deus junto com Abraão, Isaac e Jacó”(8,10).
Isto
nos diz que o evangelista está adulando o povo romano sem restrições e por
outro lado colocando a fé do centurião acima da fé do povo de Israel. Isso
portanto é uma parábola, com a finalidade de convidar os romanos à conversão,
porque seriam mais dignos ainda do que os Judeus para “sentarem à mesa no Reino
dos céus junto com Abraão, Isaac e Jacó”. Até que em outras ocasiões os
evangelistas chegam ao ponto de afirmar que dessa mesa iriam ser excluídos os
judeus. (Cf. Mt.8,12).
O
evangelista tem ainda em mente a conotação purista que o oficial saberia
que Jesus não poderia entrar na casa dele por ser pagão, porque os judeus
ficavam impuros entrando na casa dos pagãos. Difícil é imaginar que o oficial
saberia desse detalhe, claro que não sabia, mas convinha para a narrativa.
Finalmente, o convite para a conversão: “virão muitos do oriente e do ocidente e se sentarão à mesa no reino de
Deus junto com Abraão, Isaac e Jacó”(MT.8,11).
A
Igreja adotou essa frase de há séculos para o momento da comunhão, o que hoje é
discutível em todos os sentidos: nem nós somos os romanos nem Jesus é mais o judeu que ficaria impuro ao entrar na
casa, nem nós somos funcionários. E nem Jesus entra em morada alguma
porque ele já está na vida do comungante. E se é para “dizer uma só palavra” para quê a comunhão? “Dizei uma só palavra e eu serei salvo”, mas todo mundo vai
comungar. Qual é o motivo mais oculto dessa tradição? Faça uma pesquisa do significado
e do motivo dessa palavra “dizei uma só
palavra”: Não será uma comunhão que me dê só a mim a salvação individual,
só a mim e mais ninguém? Mas onde há só eu onde há comunhão? Onde
fica aí o empenho comunitário pelos que não têm lugar na “mesa do pão
da família? Os desempregados, os sem-teto, e os sem-terra? Os
sem-saúde e sem-pão e sem-estudo? Mas tudo bem, contanto
que eu, na comunhão, eu escute só uma palavra, o resto
que se dane.
Aí
acabou a comunhão, entrou a solidão.
P.Casimiro
João
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