domingo, 15 de maio de 2022

A “testemunha verdadeira”, sobre a presença de João na cruz e o testemunho final do seu evangelho.


 

Ficamos confusos quando lemos nos evangelhos Sinóticos que nenhum dos apóstolos estava presente na crucificação de Jesus, “todos o abandonaram e fugiram”(Mc.14,50); e “então todos os discípulos o abandonaram e fugiram”(Mt.26,56), porém o evangelho de João diz que estava lá o “discípulo amado” (Jo.19,26). Seria o apóstolo João? Desde já, os estudiosos dizem que nenhum dos apóstolos esteve presente na crucificação.

Porém, o quarto evangelho dá a entender que João estava presente na crucificação: “Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que Jesus amava, disse à sua mãe ‘mulher, eis aí o teu filho’; depois disse ao discípulo ‘eis aí a tua mãe” (Jo19,26). Quem seria então esse “discípulo amado”? Hoje os críticos, na linha do historiador Orígenes afirmam que é um símbolo  do cristão”, assim como a maioria dos modernos estudiosos bíblicos. Isto na linha de outras afirmações anteriores de João:“Os que guardam os mandamentos são amados pelo Pai e pelo Filho”(Jo.14,21). E, nessa questão, para João era importante essa colocação para encontrar o lugar adequado para ser acolhido também pela mãe de Jesus, na hora derradeira de Jesus (R.Brown, o Evangelho de João, vol.II p.1378). E os comentaristas ainda interpretam: Os irmãos e discípulos incrédulos de Jesus cedem agora o lugar a um novo "irmão", o discípulo amado”. Isto quando antes foi afirmado: “com efeito, nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele”(Jo.7,5).

Questionemos agora esta outra afirmação: “O que foi testemunha deste fato o atesta (e o seu testemunho é verdadeiro e digno de fé e ele sabe que diz a verdade) a fim de que vós acrediteis”(Jo.19,35). E no final do evangelho: “Este é o discípulo que dá testemunho de todas estas coisas, e as escreveu. E sabemos que de fato é digno de fé o seu testemunho”(Jo.21,24). Em primeiro lugar, reparemos na interpretação da última afirmação que é falada em terceira pessoa, ‘este é o discípulo’, e depois também na terceira pessoa do plural “sabemos” ; quer isso dizer que não é o João que está falando, mas são outros que escreveram.

Em segundo lugar, os redatores deste evangelho sabiam da existência já das tradições anteriores dos outros três primeiros evangelhos, mas eles tinham a sua versão própria, e queriam mostrar, embora que ficticiamente, uma “testemunha ocular” imaginando como tendo sido o João filho de Zebedeu. Isto porque nas outras tradições já conhecidas também havia testemunhas “oculares”,”depois apareceu a mais de 500 irmãos de uma vez dos quais muitos ainda vivem”(1Cor.15,6), e além disso a comunidade joanina pelejava para ser visível e relevante perante as outras.(Cf. o.c.p.1373).

Em terceiro lugar:  A “testemunha fiel” na intenção do evangelista se referia ao Paráclito, como prometido por Jesus como garante dos seus escritos. Por isso o evangelista, e mais à frente os redatores, estavam conscientes e convencidos da “verdade” do que afirmavam fundamentados no testemunho do Paráclito. “O Paráclito que o Pai vai enviar em meu nome, vos ensinará todas as coisas”(Jo.14,26).

Conclusão. Para o que dissemos sobre a “testemunha verdadeira” descrita no evangelho de João resumimos em três esforços teológicos. Primeiro, o discípulo como representando o cristão fiel a Jesus até a cruz, “amado pelo Pai e por Jesus”, como vinha sendo a interpretação desde os primeiros Padres da Igreja, no estereótipo de Origenes. Segundo, a pretensão de certa relevância pretendida pela comunidade joanina,  que achava que estava sendo esquecida. Terceiro, a fundamentação de que o que até  ficticiamente pudessem aumentar, se basearia no fundamento garantido da assistência do Espírito Santo Paráclito por Jesus prometido.

P.Casimiro João    smbn 

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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