Ficamos confusos quando lemos nos
evangelhos Sinóticos que nenhum dos apóstolos estava presente na crucificação
de Jesus, “todos o abandonaram e
fugiram”(Mc.14,50); e “então todos os
discípulos o abandonaram e fugiram”(Mt.26,56), porém o evangelho de João
diz que estava lá o “discípulo amado” (Jo.19,26). Seria o apóstolo João? Desde
já, os estudiosos dizem que nenhum dos apóstolos esteve presente na crucificação.
Porém, o quarto evangelho dá a entender
que João estava presente na crucificação: “Quando
Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que Jesus amava, disse à sua mãe
‘mulher, eis aí o teu filho’; depois disse ao discípulo ‘eis aí a tua mãe”
(Jo19,26). Quem seria então esse “discípulo amado”? Hoje os críticos, na
linha do historiador Orígenes afirmam que é um símbolo do cristão”, assim como a maioria dos
modernos estudiosos bíblicos. Isto na linha de outras afirmações anteriores de João:“Os que guardam os mandamentos são amados
pelo Pai e pelo Filho”(Jo.14,21). E, nessa questão, para João era
importante essa colocação para encontrar o lugar adequado para ser acolhido
também pela mãe de Jesus, na hora derradeira de Jesus (R.Brown, o Evangelho de
João, vol.II p.1378). E os comentaristas ainda interpretam: Os irmãos e
discípulos incrédulos de Jesus cedem agora o lugar a um novo "irmão", o discípulo
amado”. Isto quando antes foi afirmado: “com efeito, nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele”(Jo.7,5).
Questionemos agora esta outra
afirmação: “O que foi testemunha deste
fato o atesta (e o seu testemunho é verdadeiro e digno de fé e ele sabe que diz
a verdade) a fim de que vós acrediteis”(Jo.19,35). E no final do
evangelho: “Este é o discípulo que dá
testemunho de todas estas coisas, e as escreveu. E sabemos que de fato é digno
de fé o seu testemunho”(Jo.21,24). Em primeiro lugar, reparemos na
interpretação da última afirmação que é falada em terceira pessoa, ‘este é o discípulo’, e depois também na
terceira pessoa do plural “sabemos”
; quer isso dizer que não é o João que está falando, mas são outros que
escreveram.
Em segundo lugar, os redatores deste
evangelho sabiam da existência já das tradições anteriores dos outros três
primeiros evangelhos, mas eles tinham a sua versão própria, e queriam mostrar,
embora que ficticiamente, uma “testemunha ocular” imaginando como tendo sido o
João filho de Zebedeu. Isto porque nas outras tradições já conhecidas também
havia testemunhas “oculares”,”depois apareceu
a mais de 500 irmãos de uma vez dos quais muitos ainda vivem”(1Cor.15,6), e
além disso a comunidade joanina pelejava para ser visível e relevante perante
as outras.(Cf. o.c.p.1373).
Em terceiro lugar: A “testemunha fiel” na intenção do evangelista
se referia ao Paráclito, como prometido por Jesus como garante dos seus
escritos. Por isso o evangelista, e mais à frente os redatores, estavam
conscientes e convencidos da “verdade” do que afirmavam fundamentados no
testemunho do Paráclito. “O Paráclito que
o Pai vai enviar em meu nome, vos ensinará todas as coisas”(Jo.14,26).
Conclusão.
Para o que dissemos sobre a “testemunha verdadeira” descrita no evangelho de
João resumimos em três esforços teológicos. Primeiro, o discípulo como
representando o cristão fiel a Jesus até a cruz, “amado pelo Pai e
por Jesus”, como vinha sendo a interpretação desde os primeiros
Padres da Igreja, no estereótipo de Origenes. Segundo, a pretensão de
certa relevância pretendida pela comunidade joanina, que achava que estava sendo esquecida.
Terceiro, a fundamentação de que o que até
ficticiamente pudessem aumentar, se basearia no fundamento garantido
da assistência do Espírito Santo Paráclito por Jesus prometido.
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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