“As
multidões viam os sinais que Jesus fazia” (Jo.6,2); Evoca os
sinais que Moisés fazia, a vara, a
serpente, as águas vermelhas (Êx.7...) Assim seriam os sinais que o
povo esperava de Jesus como sendo o Messias. Certamente seria Jesus: “eles queriam fazê-lo rei” (Jo.6,15).
Em segundo lugar, em Jesus se repetiam
os sinais de Moisés no monte Sinai. “Jesus subiu ao monte e sentou-se”, dado que naquele lugar
não havia monte nenhum (R.Brown, p.462). Diante da multidão que pedia alimento,
veio a resposta de Moisés de muito alimento e muitos peixes: “Com seiscentas mil pessoas adultas tu
perguntas ‘ainda que matássemos todas as vacas e ovelhas isto não seria
suficiente, e ainda que reuníssemos todos os peixes do mar nem assim bastariam”(Num.21,23).
Assim como Moisés, Jesus repetia a mesma abundância: “E vendo as multidões ao seu redor Jesus disse a Felipe ‘onde
compraremos pão para que eles possam comer? Felipe respondeu ‘nem duzentas
moedas de prata bastariam para dar um pedaço a cada um”(Jo.6,7). Para
ajudar o evangelista veio a evocação do profeta Eliseu, que mandou um moço
repartir 20 pães de cevada por 100 pessoas “um
moço levou para o profeta 20 pães de cevada e trigo novo; Eliseu ordenou ‘distribua
a essas pessoas para que comam; o servo disse como distribuirei isso para 100
pessoas. Eles comeram e ainda sobrou” (2Rs.4,42-44).
Na cena de Moisés falava que ‘nem todas
as vacas e ovelhas seriam suficientes, e nem todos os peixes do mar”. E na cena
de Jesus “nem 200 moedas de prata”, o que seriam 200 dias de salário porque o
salário de um dia era uma moeda de prata. Na cena de Eliseu “como seriam
suficientes 20 pães para 100 pessoas? Jesus falou “Fazei sentar as pessoas; Jesus tomou os pães, e fez o mesmo com os
peixes; quando todos ficaram satisfeitos Jesus disse aos discípulos ‘recolhei
os pedaços que sobraram para que nada se perca”. É necessário comparar com
Eliseu: “eles comeram e ainda sobrou” (2Rs.4,44).
Estes eram os sinais de que
Jesus era o Messias, sem dúvida, porque realizava os acontecimentos de Moisés e
dos profetas. Por isso veio a aclamação”vendo
o sinal que Jesus tinha realizado exclamaram ‘este é verdadeiramente o Profeta,
aquele que deve vir ao mundo. E queriam fazê-lo rei, mas quando notou que
estavam querendo leva-lo e proclamá-lo rei, Jesus retirou-se e foi de novo,
sozinho para o monte”(Jo.6,15). Conclusão, Jesus recusou-se a assumir-se
como rei.
Avançando mais um passo na mesma
catequese. Após a discussão do alimente, avancemos na teologia joanina: “Depois
que Jesus saciara os 5.000 homens, seus discípulos o viram andando
sobre o mar; ficaram com medo, mas Jesus lhes disse “sou eu” não tenhais
medo”(Jo.6,20). Agora é necessário mencionarmos um parágrafo do especialista
joanino citado: “Aqui há um
simbolismo pascal no caminhar sobre o mar, à maneira de uma referência à
travessia do mar vermelho e à dádiva do maná. Também João quer evocar o Salmo
78,24. Este Salmo menciona como os israelitas passaram pelo mar. No salmo
77,20, numa descrição poética da travessia do Êxodo lemos sobre Deus: Teu caminho foi sobre o mar, e tuas veredas
pelas grandes águas, e não se conheceram os teus caminhos. Também o Salmo
29,3 descreve Deus como o “Senhor sobre
muitas águas”; e em Isaías se diz: “Como
o redimido passando pelo caminho profundo do mar”(Is.51,6). Em Êxodo 12,12
encontramos uma das mais importantes passagens do “Eu Sou” no Antigo
Testamento, talvez uma construção mais completa dos paralelos
veterotestamentários com os temas do capitulo seis de João.
Pensando na cena joanina como uma “epifania”
divina notamos que a “Midrash Melkita” sobre o Êxodo mencionava que Deus
abriu caminho para Si através do mar, quando o homem não poderia fazê-lo.
Assim, conectando essa fórmula com a fórmula Eu Sou de Êx. 12, 12 encontramos a
conexão com o Midrash pascal, ou seja, com a pregação pascal dos judeus”
(o.c.p.489). E junto com esses dados do domínio do mar e das ondas esses salmos
fornecem mais dados que João aplicou para a sua catequese do pão da vida.
No Salmo 107 ouvimos o grito do povo peregrino e faminto pelos descampados
desérticos; e que o Senhor sacia estes famintos com bons alimentos; e que
alguns descem ao mar em navios; e que
eleva as ondas do mar; e são atormentados e clamam ao Senhor; e Ele os liberta
acalmando o mar e conduzindo-os ao seu porto
(Sl.107). Assim portanto, há passagens no Antigo Testamento, particularmente as
que tratam do Êxodo, que ajudam a explicar por que o episódio de Jesus
caminhando sobre o mar teria sido oportuno num tema pascal geral no capítulo
seis de João e, assim, ter permanecido em estreita associação com a “multiplicação
dos pães” (o.c.p490)
Indo agora para a terceira parte da
cena dos pães, continuamos o rumo da
catequese: “Esforçai-vos pelo alimento
que permanece para a vida até a vida
eterna e que o filho do homem vos dará” Jo.6,27. Então perguntaram a Jesus: que
devemos fazer para realizar as obras de Deus? Jesus respondeu: a obra de Deus é
que acrediteis naquele que ele enviou Jo.6,28-29. Aí há um hiato, ou uma quebra
de perguntas, quer dizer, o alimento é a
obra de Deus, e a obra de Deus é que acreditem. Conclusão, tendo em conta que no A.T. a obra
de Deus era fazer as obras da Lei (Torá), agora é a aceitação de
Jesus, aceitar Jesus e a sua doutrina e palavra. Portanto o alimento
e a obra de Deus é o mesmo que aceitar Jesus. Vale dizer, “comer e beber o
corpo e o sangue de Jesus é o aceitamento da pessoa de Jesus como obra de Deus.
Conclusão.
Raymund Brown, que se dedicou por mais de 30 anos ao estudo dos escritos de João
não descarta a ideia de que o cap. 6 de João seja uma composição literária do
evangelista, assim como um grande midrash sapiencial na tradição sapiencial
do Antigo Testamento( Êxodo, Isaias, e Siraque e Salmos. Na verdade, entre
os primeiros Padres, uns inclinavam-se mais
para a dimensão eucarística do capítulo; outros para a dimensão
sapiencial do Midrash. A mesma coisa continuou durante toda a Idade Média.
Inclusive o próprio Concílio de Trento deixou a questão em aberto, tendo
deixado toda a questão para a teologia, e não deu lugar para os Hussitas
que pleiteavam a comunhão pelas duas espécies(Cf. o.c.p514).
P.Casimiro João
smbn www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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