sábado, 7 de maio de 2022

O capitulo seis de João como um resumo condensado do Êxodo, Salmos e profetas para as Catequeses pós-pascais da comunidade joanina.

As multidões viam os sinais que Jesus fazia” (Jo.6,2); Evoca os sinais que Moisés fazia, a vara, a serpente, as águas vermelhas (Êx.7...) Assim seriam os sinais que o povo esperava de Jesus como sendo o Messias. Certamente seria Jesus: “eles queriam fazê-lo rei” (Jo.6,15).

Em segundo lugar, em Jesus se repetiam os sinais de Moisés no monte Sinai. “Jesus subiu ao monte e sentou-se”, dado que naquele lugar não havia monte nenhum (R.Brown, p.462). Diante da multidão que pedia alimento, veio a resposta de Moisés de muito alimento e muitos peixes: “Com seiscentas mil pessoas adultas tu perguntas ‘ainda que matássemos todas as vacas e ovelhas isto não seria suficiente, e ainda que reuníssemos todos os peixes do mar nem assim bastariam”(Num.21,23). Assim como Moisés, Jesus repetia a mesma abundância: “E vendo as multidões ao seu redor Jesus disse a Felipe ‘onde compraremos pão para que eles possam comer? Felipe respondeu ‘nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço a cada um”(Jo.6,7). Para ajudar o evangelista veio a evocação do profeta Eliseu, que mandou um moço repartir 20 pães de cevada por 100 pessoas “um moço levou para o profeta 20 pães de cevada e trigo novo; Eliseu ordenou ‘distribua a essas pessoas para que comam; o servo disse como distribuirei isso para 100 pessoas. Eles comeram e ainda sobrou” (2Rs.4,42-44).

Na cena de Moisés falava que ‘nem todas as vacas e ovelhas seriam suficientes, e nem todos os peixes do mar”. E na cena de Jesus “nem 200 moedas de prata”, o que seriam 200 dias de salário porque o salário de um dia era uma moeda de prata. Na cena de Eliseu “como seriam suficientes 20 pães para 100 pessoas? Jesus falou “Fazei sentar as pessoas; Jesus tomou os pães, e fez o mesmo com os peixes; quando todos ficaram satisfeitos Jesus disse aos discípulos ‘recolhei os pedaços que sobraram para que nada se perca”. É necessário comparar com Eliseu: “eles comeram e ainda sobrou” (2Rs.4,44).  Estes eram os sinais de que Jesus era o Messias, sem dúvida, porque realizava os acontecimentos de Moisés e dos profetas. Por isso veio a aclamação”vendo o sinal que Jesus tinha realizado exclamaram ‘este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo. E queriam fazê-lo rei, mas quando notou que estavam querendo leva-lo e proclamá-lo rei, Jesus retirou-se e foi de novo, sozinho para o monte”(Jo.6,15). Conclusão, Jesus recusou-se a assumir-se como rei.

Avançando mais um passo na mesma catequese. Após a discussão do alimente, avancemos na teologia joanina: “Depois  que Jesus saciara os 5.000 homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar; ficaram com medo, mas Jesus lhes disse “sou eu” não tenhais medo”(Jo.6,20). Agora é necessário mencionarmos um parágrafo do especialista joanino citado: “Aqui há um simbolismo pascal no caminhar sobre o mar, à maneira de uma referência à travessia do mar vermelho e à dádiva do maná. Também João quer evocar o Salmo 78,24. Este Salmo menciona como os israelitas passaram pelo mar. No salmo 77,20, numa descrição poética da travessia do Êxodo lemos sobre Deus: Teu caminho foi sobre o mar, e tuas veredas pelas grandes águas, e não se conheceram os teus caminhos. Também o Salmo 29,3 descreve Deus como o “Senhor sobre muitas águas”; e em Isaías se diz: “Como o redimido passando pelo caminho profundo do mar”(Is.51,6). Em Êxodo 12,12 encontramos uma das mais importantes passagens do “Eu Sou” no Antigo Testamento, talvez uma construção mais completa dos paralelos veterotestamentários com os temas do capitulo seis de João.

Pensando na cena joanina como uma “epifania” divina notamos que a “Midrash Melkita” sobre o Êxodo mencionava que Deus abriu caminho para Si através do mar, quando o homem não poderia fazê-lo. Assim, conectando essa fórmula com a fórmula Eu Sou de Êx. 12, 12 encontramos a conexão com o Midrash pascal, ou seja, com a pregação pascal dos judeus” (o.c.p.489). E junto com esses dados do domínio do mar e das ondas esses salmos fornecem mais dados que João aplicou para a sua catequese do pão da vida. No Salmo 107 ouvimos o grito do povo peregrino e faminto pelos descampados desérticos; e que o Senhor sacia estes famintos com bons alimentos; e que alguns  descem ao mar em navios; e que eleva as ondas do mar; e são atormentados e clamam ao Senhor; e Ele os liberta acalmando o mar e conduzindo-os ao seu porto     (Sl.107). Assim portanto, há passagens no Antigo Testamento, particularmente as que tratam do Êxodo, que ajudam a explicar por que o episódio de Jesus caminhando sobre o mar teria sido oportuno num tema pascal geral no capítulo seis de João e, assim, ter permanecido em estreita associação com a “multiplicação dos pães” (o.c.p490)

Indo agora para a terceira parte da cena dos pães, continuamos o  rumo da catequese: “Esforçai-vos pelo alimento que permanece para a vida até a  vida eterna e que o filho do homem vos dará” Jo.6,27. Então perguntaram a Jesus: que devemos fazer para realizar as obras de Deus? Jesus respondeu: a obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou Jo.6,28-29. Aí há um hiato, ou uma quebra de perguntas, quer dizer, o  alimento é a obra de Deus, e a obra de Deus é que acreditem.  Conclusão, tendo em conta que no A.T. a obra de Deus era fazer as obras da Lei (Torá), agora é a aceitação de Jesus, aceitar Jesus e a sua doutrina e palavra. Portanto o alimento e a obra de Deus é o mesmo que aceitar Jesus. Vale dizer, “comer e beber o corpo e o sangue de Jesus é o aceitamento da pessoa de Jesus como obra de Deus.

Conclusão. Raymund Brown, que se dedicou por mais de 30 anos ao estudo dos escritos de João não descarta a ideia de que o cap. 6 de João seja uma composição literária do evangelista, assim como um grande midrash sapiencial na tradição sapiencial do Antigo Testamento( Êxodo, Isaias, e Siraque e Salmos. Na verdade, entre os primeiros Padres,  uns inclinavam-se mais para a dimensão eucarística do capítulo; outros para a dimensão sapiencial do Midrash. A mesma coisa continuou durante toda a Idade Média. Inclusive o próprio Concílio de Trento deixou a questão em aberto, tendo deixado toda a questão para a teologia, e não deu lugar para os Hussitas que pleiteavam a comunhão pelas duas espécies(Cf. o.c.p514).

P.Casimiro  João    smbn        www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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