domingo, 22 de maio de 2022

Quem não respeita o ser humano por causa da religião não é religioso. (Cf.Tg. 2,4).


 

Uma senhora de 60 anos, entrevistada num supermercado, atribuía as culpas de não ser alfabetizada ao seu velho pai que dizia “sempre foi assim, mulher não vai à escola, sempre foi assim.”

Quem sabe, por conta desse “sempre foi assim” há um grande país no mundo com 210 milhões de habitantes e tem 9 por cento de analfabetos, ou seja 13 milhões. É um país chamado Brasil. Ocupa o oitavo lugar no mundo do analfabetismo. Também não admira que tenha um ministro da educação que declarava há pouco publicamente que “pobre não pode ser doutor, isso é coisa de rico, e “sempre foi assim”. E, para adequar com esse objetivo foram inventadas manobras para diminuir o número de alunos nas universidades e alienar os jovens nas provas do ENEM, e das escolas. “Porque sempre foi assim”.

Um dia, entre as andanças pela Judeia, um homem diferente não tinha problema de se misturar com gente de má fama, e gente da rua, até para uma refeição. Os devotos e piedosos viam essa pessoa com maus olhos e o reprovavam porque estava infringindo as leis sociais antigas que proibiam essa promiscuidade. “Sempre foi assim, com a nossa separação, e o fulano extrapola”. Esse homem diferente atendia pelo nome de Jesus. E corria o boato que contava histórias como esta: o filho caçula de um rico fazendeiro saiu com a sua herança na bagagem, e viajou para a cidade grande, até gastar o último centavo. Quando se viu em apuros voltou para casa, e foi bem recebido, como um príncipe. O irmão mais velho do moço deu uma bronca no pai, porque não cumpriu a lei do castigo para esses casos. É porque sempre foi assim, pai, você tem que castigar o caçula e não está cumprindo a nossa lei.

Na época do 1960, do século passado, a Igreja católica fez uma reflexão com o episcopado mundial, e entre os debates e nas conclusões, ficaram resoluções que promoviam algumas mudanças para o futuro, e o que podíamos chamar de “inovações”. Seria longo enumerá-las aqui. Essa reflexão foi longa, a mais longa de todos os concílios, de tal forma que entre as atividades e intervalos, levou quatro anos. Foi o concílio Vaticano II. Pensado e promovido pelo Papa João 23, hoje São João 23, e encerrado com o Papa São Paulo VI. Uma das inovações que são mais materializadas e imediatas foi largar o latim nas Liturgias, e começar com as línguas vernáculas. Outra, foi a postura do padre-celebrante que celebrava de costas para o povo, veja só...Está na cara que estas coisas são como nos jogos de futebol, em que o técnico fala sobre a postura durante o hino nacional e a camisa que vestem. A filosofia do jogo é mais inacessível. Assim a teologia resultante do Vaticano II ficou escondida e só quase na letra para grande porcentagem no mundo. Mesmo assim, passados que foram poucos anos, tomaram corpo reações tais como: assim não pode acontecer, como era é que está bem, sempre foi assim, porque agora vai ser de outra maneira?

Bispos, padres, etc. se apavoraram e tentaram de todos os jeitos voltar atrás. São como aquele irmão do caçula, os que olham só para o passado, para trás. Se você olha só para trás não vai caminhar nunca. Os críticos contam mesmo que um cardeal, após o concílio, teve saudades do passado, e algumas vezes celebrou a missa em latim como antes do concílio e de costas para a assembleia. E quem conta é o Hans Kung, que foi um dos consultores do concilio. Paulo VI, no encerramento do concilio se despojou da Tiara de três coroas (poder espiritual, poder de estado e poder sobre os imperadores), e a tal tiara reverteu em favor dos pobres de Roma. Quando esse eminente cardeal  ocupou a cadeira do Papado, procurou nos armários e baús do Vaticano outra semelhante para usá-la. Foi o cardeal Ratzinger (H.Kung, A Igreja tem salvação, p.253).

Na verdade, o Card. Ratzinger, depois Papa Bento 16, fez de tudo para ressuscitar a antiga liturgia de antes do concílio. Driblando o Concílio de todos os modos ele fez um Motu Proprio onde escreveu que se pode celebrar nas duas liturgias, a de Pio V (do ano de 1500) e do Vaticano II. Pôs todo o empenho em recomendar a antiga Liturgia em latim e de costas para o povo, assim como na administração dos sacramentos. Chegou até ao ponto de conceder que algum bispo pudesse formar uma paróquia pessoal onde se fizesse essa liturgia antiga. (Cf. Motu próprio, Bento 16, 7/7/2007). Os danos causados por semelhante atitude revertiam não só em prejuízo para a Liturgia mas recaíam também como em cascata contra a aceitação dos outros documentos do Vaticano II.

Isso é o símbolo de atitudes do “sempre foi assim”. Porém, é preciso renovação das mentalidades ao ritmo do Vaticano II. “Acolher à mesa”, “acolher na eucaristia, acolher nos casamentos, segundas núpcias, acolher os diferentes, acolher os homo, acolher os e as LGBTs. Atenção, o filho mais velho pensava que “sempre foi assim”. Igualmente tem acontecido. “Ah, mas a minha religião não permite. Cuidado, que antes da religião existe o ser humano. Quem não respeita o ser humano por causa da religião não é religioso. (Tg. 2,4). A religião pode atrapalhar o ser humano. Antes de religioso é um ser humano. Se alguém deixa de ser humano para ser religioso, não é ser humano e nem religioso.

CONCLUSÃO. Por causa da religião do “sempre foi assim’, escreveu o Dom Angélico Sândalo Bernadino, bispo de Blumenau: “Tivemos enorme dificuldade na preparação, na realização do Concílio, e no pós-concílio dentro da Igreja. Algumas chagas ainda sangram em consequência das mudanças, que muitas pessoas bem intencionadas não compreenderam, agarradas que estavam a certas tradições com “t” minúsculo, e certos costumes. Não conseguiram abraçar a voz do Espírito que gritava naquele momento tão importante da história”.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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