“Oh
três senhores, dizei-me qual é a verdadeira divindade dos Três”, rezava o
devoto à Tríade dos deuses da Índia. –“Ó devoto, aprendei que não há distinção
real entre nós. O que lhe surge é somente a semelhança. O Único ser aparece sob
as três formas pelos atos de Criação, Preservação e Destruição.
Mas Ele é um só”. Esta era a crença e a oração na antiguidade da Índia à Tríade
dos deuses Brahma, Vishnu e Shiva. São Jerônimo afirmava,
no sec.IV da era cristã que quase todas as religiões da Antiguidade possuíam
uma doutrina similar à trindade. “Todas
as nações antigas acreditavam na trindade de deuses” (Marie Sinclair, em
“Antigas Verdades sob Uma Nova Luz’, p.382). Por seu lado, os Sumérios e
babilônios tinham a sua trindade, Anu, que regia o céu; Entil,
que regia a terra; e Ea, que regia as Águas.
Entre
os gregos, o filósofo Aristóteles dizia: “Todas as coisas são em
três, e três vezes é tudo. E vamos usar este número na adoração dos deuses,
pois tudo e todas as coisas são limitadas por três, o fim, o meio, e o início têm este número em tudo, e este
compõe o númeiro da trindade” (Arhur Weigall, Paganismo e nosso cristianismo,
1928, p.197).
Vejamos
o Livro dos Provérbios na nossa Bíblia: “O
Senhor me possuiu como primícias de seus caminhos, antes de suas obras mais
antigas; desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes das
origens da terra” (Prov.8,22 ss). A “Sabedoria” foi primeiramente a deusa
Astarte que entre os judeus fazia parte da corte dos deuses e era a esposa do
deus de Israel antes de “fecharem” com o único deus Javé, depois do exílio da
Babilônia. Após o exílio e com o domínio dos Asmoneus e Macabeus transferiram o
apelido da deusa Astarte para “a Sabedoria”, para se verem livres da semelhança
com os vizinhos de “vários deuses”.
Para
a doutrina cristã da Trindade foram decisivos os concílios de Niceia (325) e
Constantinopla (381), onde o Espírito Santo ficou no posto de terceira pessoa
da Santíssima Trindade. Antes desses
concílios havia várias discussões a respeito da inclusão de Jesus Cristo na
Trindade. Havia os Unitários que torciam pelo puro monoteísmo, segundo
os quais era preciso não mexer na doutrina do Monoteismo. E havia os trinitários
ou modalistas, que pensavam que podia haver três modos de Deus se
manifestar. Seria assim como três “máscaras” semelhantes àquilo que usavam os
atores gregos no Teatro para representarem personagens diferentes. Entre
os gregos desta teoria se destacou Santo Atanásio. Ário, de outra
maneira, defendia a teoria dos Unitários, segundo a qual o Filho, era
uma pura criatura, a mais elevada das criaturas, mas assim mesmo criatura. Para
resolver estes impasses foram convocados os concílios de Nicéia em 325,
e Constantinopla em 381, ambos sob a autoridade do imperador Constantino,
receoso que esta discussão poderia afetar a unidade do império. O imperador
destituiu dos seus cargos Ário, e o mandou para o exílio e não espalhar
mais suas ideias, e foi aceite a doutrina de Atanásio. Entre os latinos
destacou-se também Santo Agostinho que propunha a teoria da predestinação.
Deus já teria destinado uns para a salvação antes de Abraão e até antes de
Adão, e por isso não havia a necessidade de um Filho de Deus se
tornar Deus-e-homem para salvar os homens, uma vez que só-Deus-salva
desde o princípio do mundo.
As polêmicas não acabaram entre os pensamentos
de gregos e latinos, e arianos, e foram vindo à tona em
muitas ocasiões como nos concílios de Latrão IV em 1215; de Lião II
em 1274; de Florença em 1431. Entre os modernos destaca-se Karl
Barth no séc XIX e Moltman, que torciam pelo modalismo. Kalr
Rahner aos modos de manifestação divina chamou substâncias, para
substituir o termo grego de “máscara” traduzido para o termo latino de pessoa,
dos concílios de Niceia e Constantinopla que definiram em Deus três
pessoas numa única natureza divina.
Em
1995 o assunto voltou à baila no encontro do Patriarca Bartolomeu I de
Constantinopla e João Paulo II, onde rezaram juntos, e onde no Credo
comum o santo João Paulo II teria omitido a fórmula “Filioque”, i.é, que o
Espirito Santo procede do “Pai e do Filho” e que tem sido o nó nevrálgico das
polêmicas.
P.Casimiro
João
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