Na
nossa gramática machista até Deus é masculino, porém, no dizer do teólogo Libanio,
o conceito de Deus está sofrendo uma despatriarcalização por causa dos
movimentos feministas.
Eles
denunciam os preconceitos de muitos religiosos para as quais as leis divinas valem
mais do que as dores do ser humano. E também são contra a instituição
patriarcalista das culturas antigas, onde se dizia que “a mulher deve
adaptar-se aos desejos do marido; ele a deve governar” (Plutarco, Moralia,
140B, cf W.Carter, Sobre o evangelho de Mateus, pg.119).
Por
seu lado, a cultura semita que escreveu a Bíblia foi marcadamente androcêntrica,
ou machista.
A teologia cristã seguinte, praticamente obra de homens, e quase sempre
clérigos, reforçou esse androcentrismo ou machismo. A visão androcêntrica
acabou marcando o conjunto da cultura ocidental, isto é, do continente europeu,
influenciando a própria gramática.
Os
movimentos feministas tomaram consciência deste fenômeno e o denunciaram como
forma de opressão. E também denunciam que essa forma machista e androcêntrica
de considerar o mundo e a criação é ingenuamente considerada como revelação,
aliás é porque convém ao machismo. Isto porque as ciências modernas se deram
conta da mútua relação que existe entre o poder e o saber. O poder
faz o saber, e o saber rege o poder. Ora, o saber machista impôs poder
também machista. E desse jeito os homens se arrogam todos os direitos sobre a
mulher, desde a governança política, ao familiar e sexual. É tudo quanto é
machismo governando o mundo, com raras exceções, nas instituições, nas Câmaras
legislativas, nos Senados, até chegar aos vereadores. E assim se arrogam
direito para salários diferenciados ainda que as mulheres trabalhem igual ou
melhor. E também com direitos abusivos como as ideologias de controlar a mulher
e até à petulância dos assédios.
Os
movimentos feministas desmascaram esta situação. “E no momento em que a
teologia começou a ser também trabalhada por mulheres, o conceito de Deus
sofreu uma despatriarcalização, no dizer de teólogo Libânio, isto é, o desmonte
do domínio patriarcal, considerado “divino”, em vez de cultural.(Cf. Libânio,
João Batista, “Creio na Trindade” p.25). Hoje em dia tem teólogas como a
brasileira Ivone Gebara, autora de mais de trinta livros sobre o
assunto, e não só, que ajudam a expandir o entendimento da religião em favor
dos mais necessitados, e em defesa da vida das mulheres contra o domínio
machista na esfera social e nas Igrejas. Denunciam os preconceitos de muitos
religiosos para os quais as leis valem mais do que as dores reais do ser
humano.
Desde
há dois séculos tem havido mulheres filósofas e sociólogas que têm estudado e
têm produzido ideias renovadas para a modernização da sociedade, enumeremos
algumas delas. Judith Buther (USA) e Simone de Beauvoir, francesa,
defendem a tese de que o sexo nasce com o ser humano, o gênero não nasce com
o ser humano; ela começou a teoria que faz a diferença ainda neste sentido:
o sexo é biológico, o gênero é sociológico; o gênero é fluído e não binário,
como veremos mais à frente no caso de Maria Quitéria, a primeira mulher
soldado, nas guerras de independência do Brasil, que ficou conhecida como o
“Soldado Medeiros”.
No
Brasil há bastantes lutadoras históricas pelos direitos das mulheres: 1. Djamila
Ribeiro é uma filósofa, feminista, escritora e acadêmica brasileira, negra.
Concentrou a sua luta contra o status de opressão que é comum na
sociedade patriarcal, nos seus três Livros: “Quem tem medo do feminismo negro”; “O que é lugar de fala” e “Pequeno
Manual antirracista. 2. Celina
Guimarães Viana, escritora e poetisa,
e professora. Lutou pelos direitos de voto. Foi a primeira mulher a votar no
Brasil, em 15/11/1890. 3- Nisia Floresta, Educadora, escritora e
poetisa. Com o seu livro “Direitos das Mulheres e injustiças dos homens” foi a
primeira a tratar dos direitos das mulheres à instrução e aos postos de trabalho, em 1810. 4- Batha
Lutz, bióloga, lutou e conseguiu que o voto das mulheres entrasse na
Constituição brasileira, aprovada por Getúlio Vargas em 1932. 5- Mietta
Santiago, advogada, foi a primeira deputada federal brasileira. 6- Carlota
de Jesus, escritora e pedagoga, deputada federal por São Paulo, foi a única
mulher a compor a Assembleia nacional constituinte em 1933. 7- Dandara,
foi a esposa de Zumbi dos Palmares, e a maior colaboradora da criação do
Quilombo dos Palmares; quando foi presa preferiu a morte a voltar de
novo para a escravidão. 8- Laudelina Melo fundou o primeiro Sindicado
das domésticas do Brasil em 1024. 9- Maria Quitéria, (1822): Foi
a primeira mulher soldado do Brasil e vestiu-se de homem para lutar na
independência do Brasil contra as tropas portuguesas, sendo conhecida como
“Soldado Medeiros”. Os livros escritos sobre ela estão em bibliotecas da
Austrália, e três pintores a
representaram, só um deles está no Museu de São Paulo, outros na Europa. É uma
das patronas do Exército brasileiro. Sem falar em CORA CORALINA, feminista em
uma época em que os direitos das mulheres era um assunto polêmico, e por isso
muitas delas escreviam com pseudônimo masculino. Em 1907 fundou jornal A
ROSA dirigido apenas por mulheres, e lutou pela criação de um partido feminino.
Conclusão. Quando o peso da história cai sobre gerações seguidas, influencia
muito as cabeças. E quando este peso convém a uma parte da humanidade
desiquilibra o pêndulo da igualdade. E ainda mais quando esse peso histórico
vem vestido com uma suposta e falsa ideologia do sagrado.
Essa
ideologia do sagrado para a grande maioria é ingênua e fruto da ignorância de
cultura religiosa. E para outros é bandeira de conveniência de defender seu
status, e “porque sempre foi assim”. Como vimos no inicio, mesmo nos bem
intencionados reina uma tremenda confusão em distinguir entre religião e
cultura. E também em saber que noventa e nove por cento dos religiosos não
vivemos de religião, mas de cultura. Isso resulta numa incompreensão quando se
pretende desmontar uma cultura, porque noventa e nove por cento ficam pensando
que se desmonta a religião. Enquanto não.
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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