segunda-feira, 20 de junho de 2022

Na nossa gramática machista até Deus é masculino. Não estará um curso um combinado desse conceito para avanços mais democráticos?




 

Na nossa gramática machista até Deus é masculino, porém, no dizer do teólogo Libanio, o conceito de Deus está sofrendo uma despatriarcalização por causa dos movimentos feministas.

Eles denunciam os preconceitos de muitos religiosos para as quais as leis divinas valem mais do que as dores do ser humano. E também são contra a instituição patriarcalista das culturas antigas, onde se dizia que “a mulher deve adaptar-se aos desejos do marido; ele a deve governar” (Plutarco, Moralia, 140B, cf W.Carter, Sobre o evangelho de Mateus, pg.119).

Por seu lado, a cultura semita que escreveu a Bíblia foi marcadamente androcêntrica, ou machista.
A teologia cristã seguinte, praticamente obra de homens, e quase sempre clérigos, reforçou esse androcentrismo ou machismo. A visão androcêntrica acabou marcando o conjunto da cultura ocidental, isto é, do continente europeu, influenciando a própria gramática.

Os movimentos feministas tomaram consciência deste fenômeno e o denunciaram como forma de opressão. E também denunciam que essa forma machista e androcêntrica de considerar o mundo e a criação é ingenuamente considerada como revelação, aliás é porque convém ao machismo. Isto porque as ciências modernas se deram conta da mútua relação que existe entre o poder e o saber. O poder faz o saber, e o saber rege o poder. Ora, o saber machista impôs poder também machista. E desse jeito os homens se arrogam todos os direitos sobre a mulher, desde a governança política, ao familiar e sexual. É tudo quanto é machismo governando o mundo, com raras exceções, nas instituições, nas Câmaras legislativas, nos Senados, até chegar aos vereadores. E assim se arrogam direito para salários diferenciados ainda que as mulheres trabalhem igual ou melhor. E também com direitos abusivos como as ideologias de controlar a mulher e até à petulância dos assédios.

Os movimentos feministas desmascaram esta situação. “E no momento em que a teologia começou a ser também trabalhada por mulheres, o conceito de Deus sofreu uma despatriarcalização, no dizer de teólogo Libânio, isto é, o desmonte do domínio patriarcal, considerado “divino”, em vez de cultural.(Cf. Libânio, João Batista, “Creio na Trindade” p.25). Hoje em dia tem teólogas como a brasileira Ivone Gebara, autora de mais de trinta livros sobre o assunto, e não só, que ajudam a expandir o entendimento da religião em favor dos mais necessitados, e em defesa da vida das mulheres contra o domínio machista na esfera social e nas Igrejas. Denunciam os preconceitos de muitos religiosos para os quais as leis valem mais do que as dores reais do ser humano.

Desde há dois séculos tem havido mulheres filósofas e sociólogas que têm estudado e têm produzido ideias renovadas para a modernização da sociedade, enumeremos algumas delas. Judith Buther (USA) e Simone de Beauvoir, francesa, defendem a tese de que o sexo nasce com o ser humano, o gênero não nasce com o ser humano; ela começou a teoria que faz a diferença ainda neste sentido: o sexo é biológico, o gênero é sociológico; o gênero é fluído e não binário, como veremos mais à frente no caso de Maria Quitéria, a primeira mulher soldado, nas guerras de independência do Brasil, que ficou conhecida como o “Soldado Medeiros”.

No Brasil há bastantes lutadoras históricas pelos direitos das mulheres: 1. Djamila Ribeiro é uma filósofa, feminista, escritora e acadêmica brasileira, negra. Concentrou a sua luta contra o status de opressão que é comum na sociedade patriarcal, nos seus três Livros: “Quem tem medo do feminismo negro”; “O que é lugar de fala” e “Pequeno Manual antirracista. 2. Celina Guimarães Viana, escritora e poetisa, e professora. Lutou pelos direitos de voto. Foi a primeira mulher a votar no Brasil, em 15/11/1890. 3- Nisia Floresta, Educadora, escritora e poetisa. Com o seu livro “Direitos das Mulheres e injustiças dos homens” foi a primeira a tratar dos direitos das mulheres à instrução e  aos postos de trabalho, em 1810. 4- Batha Lutz, bióloga, lutou e conseguiu que o voto das mulheres entrasse na Constituição brasileira, aprovada por Getúlio Vargas em 1932. 5- Mietta Santiago, advogada, foi a primeira deputada federal brasileira. 6- Carlota de Jesus, escritora e pedagoga, deputada federal por São Paulo, foi a única mulher a compor a Assembleia nacional constituinte em 1933. 7- Dandara, foi a esposa de Zumbi dos Palmares, e a maior colaboradora da criação do Quilombo dos Palmares; quando foi presa preferiu a morte a voltar de novo para a escravidão. 8- Laudelina Melo fundou o primeiro Sindicado das domésticas do Brasil em 1024. 9- Maria Quitéria, (1822): Foi a primeira mulher soldado do Brasil e vestiu-se de homem para lutar na independência do Brasil contra as tropas portuguesas, sendo conhecida como “Soldado Medeiros”. Os livros escritos sobre ela estão em bibliotecas da Austrália, e  três pintores a representaram, só um deles está no Museu de São Paulo, outros na Europa. É uma das patronas do Exército brasileiro. Sem falar em CORA CORALINA, feminista em uma época em que os direitos das mulheres era um assunto polêmico, e por isso muitas delas escreviam com pseudônimo masculino. Em 1907 fundou jornal A ROSA dirigido apenas por mulheres, e lutou pela criação de um partido feminino.

Conclusão. Quando o peso da história cai sobre gerações seguidas, influencia muito as cabeças. E quando este peso convém a uma parte da humanidade desiquilibra o pêndulo da igualdade. E ainda mais quando esse peso histórico vem vestido com uma suposta e falsa ideologia do sagrado.

Essa ideologia do sagrado para a grande maioria é ingênua e fruto da ignorância de cultura religiosa. E para outros é bandeira de conveniência de defender seu status, e “porque sempre foi assim”. Como vimos no inicio, mesmo nos bem intencionados reina uma tremenda confusão em distinguir entre religião e cultura. E também em saber que noventa e nove por cento dos religiosos não vivemos de religião, mas de cultura. Isso resulta numa incompreensão quando se pretende desmontar uma cultura, porque noventa e nove por cento ficam pensando que se desmonta a religião. Enquanto não.

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

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