As mudanças da posição da Igreja
católica desde o séc.XIX ao séc. XX sobre as outras doutrinas e a liberdade
religiosa foram significativas. No final do séc.19 a Igreja romana passou do anátema
para a tolerância, das condenações para as conversações, ao reconhecer a
legitimidade duma sociedade civil pluralista e laica fundada no contrato social
da democracia e não na “autoridade” papal e dogmática. Mas ela deu um passo
muito mais considerável ao reconhecer a liberdade religiosa como um direito
fundamental de todo ser humano, e ao fazer um juízo positivo sobre as outras
religiões mesmo as não cristãs. Assim, passou também de uma tolerância condescendente
para um verdadeiro diálogo feito de respeito e de estima pelos que se referem a
verdades religiosas diferentes.
Qual a diferença entre fundamentalismo
e razão? O drama de todos os fundamentalistas é de identificar a letra de
textos considerados sagrados como sendo mesmo palavra de Deus. Quem
garante que tal palavra é de Deus? Mesmo entre a Igreja católica se tem dado um
passo para esta reflexão, quando foram descobertos textos escondidos em pedras
e tijolos nas grutas de Qunram em 1940, que eram da mesma data dos
textos dos evangelhos, mas tinham sido escondidos para que os autores da época
não fossem perseguidos ou mortos pelo imperador. Quantas palavras se atribuíam
a Jesus diretamente, e com a comparação hermenêutica com textos e autores
daquela época ficou claro que eram discursos e narrativas de parábolas e
metáforas dos redatores, além de outros acrescentos colocados posteriormente
por outros comentaristas cujos comentários foram incluídos nos próprios textos?
Além de, como por exemplo nos dois primeiros capítulos de Lucas, ele ter usado
o modelo do Antigo Testamento baseado em visões de Anjos e lendas de nascimentos
que transportou para o Novo Testamento.
Devido a isso, devemos reparar que de
há tempos a esta parte a Igreja falava quase sempre em forma dogmática, porém
agora mudou de tom, digamos como de igual para igual, em forma de reflexão. Até
porque no histórico dos dogmas temos que convir que muitas vezes foram
motivados por motivações politicas, circunstanciais e históricas, e abstraindo
da ciência, até, quem sabe, por motivações pessoais, como relata o Livro de August
Bernhard Hasler, do Secretariado da Unidade dos Cristãos, de 1979. De tal
maneira que isso leva os teólogos agora a esclarecer a tal circunstancialidade.
Quantas vezes, quando os dogmas não adéquam com a ciência nem com a mentalidade
de hoje ficam perplexos, e acho que a interpretação que propõem seja muito
diferente da época em que esses dogmas foram redigidos. A este respeito diz um
teólogo atual: “O Mistério d’Aquele que chamamos de Deus transborda as
fronteiras e os limites da qualquer tradição religiosa. Creio profundamente que
o diálogo inter-religioso nos convida a superar uma mentalidade de
“proprietário”. C.Geffré. De Babel a Pentecostes, p.391). E na mesma direção
afirmou o bispo Pierre Calverie, de Oran, na Algéria: “Sou crente, creio que há
um Deus, mas não tenho a pretensão de possuir esse Deus, nem por Jesus, nem
pelos dogmas de minha fé não se possui Deus” (o.c.p.391).
Até há bem pouco tempo acreditava-se que
o destino da Terra e dos humanos dependia diretamente de Deus. Porém agora
sabemos que Deus terceirizou o governo do mundo e dos humanos. A
perspectiva agora é outra. Pela primeira vez, o destino do planeta Terra e da
espécie humana depende do domínio responsável do homem. Por isso esta é a 4.ª
era da humanidade, no dizer dos estudiosos: a era planetária em que Deus
terceirizou aos humanos o governo do mundo. As religiões não deveriam, diante
disso, buscar a rivalidade entre si mas trabalhar juntas nesse mesmo objetivo
planetário de agora. E as diversas tradições religiosas descobrem que não devem
estar a serviço delas mesmas, elas têm uma responsabilidade histórica: de
trabalhar juntas pelas condições de uma vida verdadeiramente humana e fraterna
na Terra. Por isso, elas não devem buscar a rivalidade entre elas, mas se
converter a uma união de esforços inter-religiosos e planetários.
Há um desafio da modernidade que todas
as religiões estão chamadas a responder: a escuta da mensagem cada vez mais
clara da ética global que seu torna o bem comum da humanidade, formulado
na Carta dos Direitos Humanos. Deste jeito, a modernidade pode se tornar
uma chance para a transformação delas e para o seu futuro. Basta olhar para os
itens e os valores proclamados nessa Carta: a igualdade de homem e
mulher; o caráter inviolável da
consciência; o valor da vida; o direito ao trabalho, à
saúde, e à felicidade da vida humana. O Varticano II resumiu estes valores quando
falou no ”verdadeiramente humano” dos povos e das religiões. O oposto a
isso é o que se convencionou chamar “crimes contra a humanidade”. Por
fim, as religiões que nas suas doutrinas ou suas práticas ferem gravemente o
ser humano são convidadas a se transformar e rever as suas posições. Porquê? O
homem criado à imagem de Deus tem um valor sagrado, e violar os direitos
fundamentais do ser humano é ofender os próprios direitos de Deus. A “regra de
ouro” universal que vem já do Código de Hamurabi, já dizia: “Não faças
aos outros o que não queres que te façam”. E na lenda grega de Antígona: “Além
da justiça distribuitiva há uma lei da superabundância” que faz pender o
prato da balança em favor dos mais carentes. Esta portanto deverá ser a
vocação ética das grande religiões do mundo.
Conclusão.
Como corolário do dito nestas páginas enfocamos três conclusões. A primeira,
nenhuma religião deve se considerar com o monopólio da verdade sobre o
Absoluto, e sobre qual deve ser a vida boa na complexidade das existências
humanas; Segundo, o cuidado para que nenhuma religião possa legitimar e
sacralizar práticas propriamente desumanas; terceiro, fomentar o zelo de
trabalhar pela salvação e a cura do ser humano e da humanidade na sua
integralidade.
P.Casimiro João www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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