segunda-feira, 31 de julho de 2023

“Não terás outros deuses diante de mim”: Controvérsias entre católicos e protestantes.


 

“Não terás outros deuses além de mim. Não te prostrarás diante destes deuses” (Êx.20).

Em primeiro lugar, Israel tinha outros deuses ao lado de Javé, porém Javé sendo o maior no panteão dos deuses de Israel. Inclusive tinham a deusa Aserah, compondo o casal dos deuses. Com o andar dos tempos os israelitas se desfizeram desta deusa, que era a rainha dos céus, e a cognominaram de “Sabedoria”, que acompanhou as obras da criação ao lado de Deus desde o principio, desde os fundamentos,(Prov.8,22-36). Nesses primeiros tempos, os anjos, ou “Mensageiros” também eram deuses menores ao serviço do Deus-Javé. Por isso ganharam o nome de “mensageiros” ou anjos.

Em segundo lugar, essas palavras do “Monte Sinai” não são de Moisés. São de 500 ou Mil anos mais tarde. Como disse, Israel tinha outros deuses junto com Javé. Em dada altura eles resolveram ficar só com ele, o que nunca conseguiram. O nome da “Aserah”, a Rainha dos Céus aparece 40 vezes na Bíblia. E ficaram registrados no livro do profeta Jeremias os ecos de quando era adorada como deusa: “Os filhos espalham a lenha e os pais acendem o fogo, e as mulheres preparam a massa para fazerem bolos para a Rainha dos Céus” (Jer. 7,18). E ainda: “As mulheres de Jerusalém dizem: Faremos o que nós quisermos e queimaremos incenso à Rainha dos Céus; apresentaremos a ela sacrifícios tantos quantos quisermos, tal como já fizemos nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. E nesses dias tínhamos abundância de comida, tudo nos corria bem e éramos felizes.” (Jer.44,17). Salomão tinha uma multidão de deuses e “700 concubinas”. Davi tinha também os seus deuses e muitas concubinas. (Cf. Finkelstein, Arqueologia, e Moraes, “O Pentateuco”, São Paulo, Fonte Editorial, p.189-190; Cf. também Erick Zenger, Os Livros da Torah, São Paulo, Loyola 2003, SBN,85).

O Judeismo só ficou uma religião monoteísta no regresso do cativeiro da Babilônia, por volta do séc. II a.C.na época dos nacabeus. Notemos que o primeiro Estado monoteísta do mundo nem foi Israel mas o rei Akinatón. (www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br.14/3/21). Estas palavras do "Monte Sinai" refletem a época da monarquia e a briga da monarquia dividida entre os filhos de Salomão, onde cada um tinha a adoração aos seus deuses (do Norte e do Sul – Samaria e Judá), nos anos de 700 a.C. Na época do reinado de Josias houve um grande movimento de escrita, que serviu para reforçar as ambições de Josias.  Foi nesta época que a redação sacerdotal fez uma nova versão do primeiro rascunho atribuído a Moisés mas que não foi Moisés. Por isso ficou conhecida como a versão sacerdotal para defender os seus direitos e os seus serviços no templo de Javé, contra os sacerdotes dos outros deuses. Porque a redação do primeiro rascunho chamava-se javeista para estabelecer o culto a Javé, pois antes o primeiro deus de Israel tinha sido o deus “El” ou Eloim. Então a redação do primeiro rascunho foi pelos anos de 600 a.C. A redação do segundo texto nos anos de 450 a.C. A época convencional de Moisés, é dos anos de 1400 a.C. E isso de atribuir tanto a primeira como a segunda redação tudo a Moisés obedecia a um padrão usado na época, em que os escritores atribuíam a uma pessoa famosa os seus escritos. Aliás não só aqui, mas o Novo Testamento, Atos dos Apóstolos, Cartas e os evangelhos estão cheios deste artificio literário. Hoje nós podemos chamar isto de “um arranjo literário”.

Então as palavras da Bíblia não foram escritas ou ditadas por Deus? Chamo aqui o documento da Pontifícia Comissão Biblica de 1944 onde diz textualmente que está enganado quem atribui a escrita da Bíblia “palavra por palavra como sendo de Deus”: “A Palavra de Deus foi expressa em linguagem humana e foi redigida sob inspiração divina por autores humanos com capacidades e recursos limitados. Por esta razão, os que querem tratar todo o texto bíblico como se tivesse sido ditado palavra por palavra pelo Espírito não chegam a reconhecer que a Palavra de Deus foi formulada em uma linguagem e uma fraseologia condicionada por uma ou outra época; O fundamentalismo tem igualmente tendência a uma grande estreiteza de visão pois considera conforme à realidade uma antiga cosmologia já ultrapassada, porque encontra-se na Bíblia” (Pont.Com.Bíblica  São Paulo, Loyola, 1944, pag.40-41).

Resumindo, as etapas da escrita do Pentateuco ou Torá, onde vem o trecho em questão do “Monte Sinai” que estamos analisando são as seguintes: Havia uma primeira tradição a que chamamos de rascunho que era a tradição eloísta porque chamava a Deus com o nome de Eloim (600 a.C.) Depois houve uma outra tradição, oral ou rascunho, a tradição javeista porque chamavam a Deus por Javé (Iawheh), (450 a.C.) E ainda uma terceira  tradição ou redação chamada sacerdotal feita por uma turma de sacerdotes depois do exílio da Pérsia para defender os seus direitos e para tratarem do sacerdócio, dos sacrifícios, das festas e do culto. Este foi o último arranjo ou retoque, e foi dele que surgiu o livro do Levitico. Historicamente, nos registros das grandes Bibliotecas do Egito e da Pérsia e da Babilônia não vem nenhum registro sobre as histórias da Bíblia ou dos seus principais personagens, antes do ano 650 a.C. O fragmento mais antigo conhecido do Pentateuco é um cântico de "boa sorte" do ano 600 a.C. (Israel Finkelstein, Arquiologia, p.68-69).

Conclusão. Do que foi exposto, faltaria ainda a pergunta: E a história do bezerro de ouro como fica? Esses são outros quintos. É uma crítica dos profetas de Judá (450 a.C) contra o reino do Norte porque ele quis representar Javé lá nos seus templos na forma de um bezerro, e colocaram também como sendo de Moisés, simples assim. (Mark S.Smith, “O Memorial de Deus” Paulus 2006, pag.88-89).

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

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