O
evangelho está cheio de parábolas. Muitas vezes os evangelistas referem: “naquele
tempo Jesus contou esta parábola”. Porém, outras vezes poderão ser os próprios evangelistas
que compunham parábolas, aquilo que era chamado de “midrash” pelos judeus.
Compartilho a opinião dos estudiosos que têm a narrativa do “possesso” de
Gerasa como uma parábola (Cf. Warren Carter, o evangelho de Mateus, p.281).
Atendamos
a vários elementos, tendo em conta o seu significado e referência, que lemos em
Mc.5, 1,sgs. A “outra margem do lago” significa a terra dos pagãos. As correntes
que amarravam os “possessos” representam as correntes do império que amarravam
o povo com correntes. Os porcos que se jogaram no mar significam os “cavalos
e cavaleiros” do faraó que foram afundados no mar, vencidos por Moisés, e agora
é com o novo Moisés, Jesus.
Os
Judeus tratavam os estrangeiros como cães, e também como porcos; para eles Roma
e os romanos eram como porcos pelo motivo que eram como animais impuros. E aqui
tem conotação pior para os soldados do império porque naquela região tinham uma
Legião. Daí que, na boca dos possessos,
é dito que “nosso nome é legião porque somos muitos”(Mc.5.9). Na resposta à
mulher fenícia Jesus terá respondido: “Não é licito tirar o pão dos filhos e
dá-lo aos cachorrinhos” (Mt.15,26).
Vespasiano
tinha mandado um general na época da revolta judaica para esta região e ali
mandou afogar no mar cerca de dois mil judeus, como comenta Flávio Josefo
(Flávio Josefo, Guerras). Por seu lado, Herodes tinha mandado construir um
templo ali em cima de um cemitério. Veja que os “possessos” viviam “nos
cemitérios” e “acorrentados” mas ninguém podia segurá-los. Por isso dai vinha a
raiva dos judeus por esse lugar. Raiva e medo.
As
lições morais aparecem depois desta análise: Se para os judeus era um ugar de
raiva e medo, Jesus não tinha medo, ele era mais forte; “se um homem forte e
bem armado guarda a casa a sua casa está segura, mas se vem um mais forte do
que ele tira-lhe as armaduras e rouba o que ele tem” (Lc.11,21). Podemos
enumerar detalhadamente as seguintes lições: Primeiro, Jesus é apresentado como
o novo Moisés; Moisés afundou no mar vermelho os inimigos políticos; para
Mateus, Jesus é o novo Moisés que, usando o símbolo dos porcos, vinha no tempo
escatológico afundar o império romano simbolizado na manada de porcos. Segundo,
os dois homens que ninguém podia dominar e quebravam todas as tentativas eram “uma
legião”, e representavam o império romano pois em Gerasa havia uma legião. Terceiro,
o mar de Gerasa significava o mar vermelho. Quarto, Os porcos significavam o
domínio estrangeiro vencido por Moisés, e agora pelo novo Moisés, Jesus. Em
quinto lugar, o medo dos judeus tornava-se o lugar do poder de Jesus.
Conclusão. Neste episódio-parábola estão plasticamente recordados
como num quadro de pintura vários elementos do Antigo Testamento, como as águas
do mar vermelho, e os conceitos de puro e impuro aplicados aos porcos; já vimos
que os espíritos entravam nos corpos das pessoas e traziam as doenças com eles;
eles aqui conseguiram também entrar nos corpos dos animais. Águas e mar foram
dominados por Moisés lá no tempo antigo, e agora por Jesus, que é soberanamente
exaltado nesta parábola-midrash. Cumpre-se assim o provérbio: “o bom pai de famílias
sabe tirar do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt.13,52).
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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