segunda-feira, 5 de agosto de 2024

TEOLOGIA BÍBLICA, SIGNIFICADO ESCATOLÓGICO DO BATISMO DE JOÃO BATISTA

 Nesta página convido o leitor a adentrar no gênero das narrativas da vida de João Batista, como ele surge envolto nos moldes das vocações do Antigo Testamento. No dizer de Eugene Boring o único evangelho que fala do nascimento do Batista, é Lucas 1,5-26, e este evangelho de Lucas consta de três compartimentos: o primeiro pertence ao tipo lendário dos nascimentos do Antigo Testamento, como o de Samuel (1 Sam.1, 1-20), Sansão (Jz.13,20) e as estéreis Sara (Gb.11,30), Rebeca (Gn.25,21) e Raquel (Gn.30,29). Neste gênero são incluídos os primeiros capítulos do evangelho de Lucas onde terá copiado esses links inclusive desde o batismo de Jesus até à vida pública. (Cf. E.Boring Introdução ao Novo Testamento vol II p. 1064-71). Por seu lado, Helmut Koester por outras palavras tem as mesmas informações: “Não é possivel fazer um relato histórico sucinto da vida e do ministério quer de João Batista quer de Jesus de Nazaré. Há só um breve comentário sobre João do historiador Flávio Josefo. Tudo o que existe são uns poucos dados externos, como a execução de João pelo tetrarca Herodes Antipas e a condenação de Jesus à morte na cruz pelo governador Pôncio Pilatos. Só é possível avaliar seus ministérios e mensagens na forma de uma trajetória que pode ser traçada desde as expectativas escatológicas de Israel no primeiro século d.C. A história de João e de Jesus se tornou memória da comunidade, uma memória que chegou até nós não como um registro de fatos mas como um diálogo, em que tudo que foi dito se transformou em história e palavras de significado da comunidade para o presente” (Helmut Koester, Introdução ao Novo Testamento, Paulus, 2012 vol.II §8,p.80). Podemos ainda aduzir mais semelhanças ou paralelos com as narrativas e a saga do profeta Elias. Tanto a narrativa sobre João como sua doutrina social levam os historiadores a comparar a saga de João do mesmo tipo que a saga do profeta Elias. Ora isto leva a crer que não passa de um produto cristão. H.Koester conclui portanto que “com toda a probabilidade a narrativa do nascimento de João, se não for do próprio Lucas, é uma composição cristã, ou talvez uma lenda piedosa herdada dos seguidores de João. É impossível dizer se a informação de que João descendia de uma família sacerdotal merece confiança. Por seu lado, o batismo de João deve ser entendido como um selo escatológico para reconstituir os eleitos de Israel que seriam “poupados” no julgamento de Deus.” (o.c.§8,p82). No estilo e na preocupação escatológica de João entra um gesto significativo cultural da religião de Moisés, onde se diz que os “seguidores de Moisés foram todos batizados na nuvem e no mar” (1.cor.10,2). Nesse sentido, “o batismo” de João significava uma nova passagem para o final dos tempos e para a chegada do Reino de Deus que se aproximava também pela “voz do deserto” que ele representava (Is.40,5). Traços comparativos atestam ainda uma escatologia como um link tirado do Antigo Testamento, como aquele onde “o machado já está posto à raiz da árvore”, Mt.3,10 sobre o juízo e o julgamento de Deus sobre a nação de Israel. O martírio de João é posto em suspeição pela história de Flávio Josefo que afirma outro motivo, a execução do Batista aconteceu porque Herodes Antipas suspeitava de uma insurreição popular, porque a mensagem de João implicava consequências políticas (o.c.§8, p.83). Isto se confirma pelo fato de que na mesma época de João, aconteceu a execução de Judas o Galileu, de Teúdas e do profeta “Egípcio”. Constatamos portanto que a Introdução do evangelho de Lucas sobre João, e não só, traz um resumo do Antigo Testamento sobre nascimentos miraculosos, e sobre a escatologia do fim de um mundo e o começo de outro novo mundo, com a parábola do “machado na raiz da árvore” e com o batismo de Jesus por João, trazendo à baila o “batismo” na nuvem e no mar por meio de Moisés. E daí segue, como que firmando-se nesse alicerce do Velho Testamento, a vida pública de Jesus para levantar o novo edifício do Reino de Deus.

Conclusão. Costumamos subestimar a tradição de João Batista e relegá-la às calendas, como ofuscada pela vinda de Jesus. Historicamente, não parece tão verdadeiro esse ofuscamento e esse sumiço de João. Algumas indicações existem da continuidade da presença de João simultaneamente com a presença de Jesus. Certa ocasião Paulo perguntou a alguns discípulos “recebestes o Espirito Santo quando abraçastes a fé? Em que batismo fostes batizados? No batismo de João, responderam eles” (At. 19,1 ss). Podemos pensar num tempo passado mas o tempo podia também ser aquele mesmo, i.é, ainda haveria gente batizando no batismo de João. Um dia Jesus teria dito: “Entre os nascidos de mulher não surgiu nenhum maior do que João” (Mt.17,1ss). Os estudiosos desconfiam que essa declaração tenha sido feita por Jesus, mas fosse ou não, redatores posteriores quiseram corrigir logo com o acréscimo: “mas o menor no Reino dos céus é maior do que ele”. Hoje em dia existe ainda o grupo dos Mandeanos, uma seita religiosa que existe no Iraque, e que alguns estudiosos dizem ter-se originado nas terras do Jordão, derivados do João Batista”(o.c. vol.II, §8, p.84).

P.Casimiro João                  smbn                   

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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