Era um período muito agitado por um
fervilhar de filosofias e de filósofos ambulantes aquele período imperial do
séc.II depois de Cristo. Para não omitir o conteúdo e para não parar o fôlego
da leitura vejamos na íntegra esse ambiente surpreendente escrito por um
especialista: “Muitos filósofos deixaram
as escolas e foram às praças e mercados e às ruas da cidade. Eles se diziam
“filósofos” mas era difícil saber se um homem que que oferecia sua sabedoria na
rua era um deus, um mágico, apóstolo de uma nova religião, ou um sábio do
futuro. O exército de missionários e filósofos
ambulantes transformou-se numa legião. Competindo uns com os outros,
eles anunciavam sua arte para atrair discípulos, superavam-se uns aos outros em
demonstração de poder, e não eram de forma nenhuma avessos a tirar dinheiro das
pessoas. Essas competições ocorriam, aliás, no seio do mesmo movimento religioso.
Inclusive o próprio Paulo, para qualquer lugar que ele se dirigisse, ele sempre
se defrontava com outros pregadores cristãos que procuravam superá-lo com suas
apresentações. Filósofos pagãos, cristãos e judeus dessa natureza não se
dirigiam às camadas educadas, mas às pessoas comuns, isto é, a quem quer que
encontrassem na rua. Além do discurso público em que o orador dava tudo de si,
demonstrações de poder sobrenatural eram um instrumento importante de
propaganda. Milagres eram realizados não somente por missionários cristãos mas
também por pregadores judeus, filósofos neoplatônicos e por muitos outros
professores, médicos e magos. Toda a escala de feitos miraculosos de poder era
em geral usada, de truques de magia a predições do futuro, desde horóscopos até
á cura de doenças, até à ressurreição de pessoas mortas. Nos círculos a que
esses filósofos de mercado se dirigiam, o poder da palavra e a magnitude dos
milagres exerciam efeitos mais decisivos do que a profundidade da mensagem
racional, moral e religiosa. Poderes astrais tomavam o lugar dos velhos deuses;
novas divindades atraíam mais do que doutrinas filosóficas; forças demoníacas
explicavam melhor o mundo do que o conhecimento científico. Regras morais
simples de comportamento orientavam mais do que conteúdos psicológicos. A
solução de problemas pessoais urgentes mediante artimanhas mágicas era aceita
com mais disposição do que as exigências de reforma social. Era difícil traçar
uma linha clara entre o impostor e o
missionário sério. O que mais facilmente atraía as pessoas eram fenômenos
ocultos, visões e êxtases, exorcismos e conjurações, milagres e magia. Os
papiros de magia relatam as práticas mais diversificadas para controlar o
“poder” e para receber predições e revelações: manipulações de água e luz,
conjurações de pessoas mortas, de espíritos de deuses, e a manipulação
habilidosa dos meios de comunicação. Práticas ocultistas podiam até invadir
escolas filosóficas. Relatos informam que Jâmbulo levitava durante a oração, e
que Proclo ficava envolvido no meio de raios de luz enquanto apresentava seus
discursos. Uma filosofia usava rodas mágicas para falar com os deuses; e
conhecia direitos mágicos para fazer chover” (Helmut Koester, Introdução ao
N.T. vol.I §6 p.360-361). Não dá para segurar certamente o fôlego para
tentar adentrar no ambiente daquele séc.II onde se desenvolvia o primitivo
cristianismo com todas as consequências que daí derivam, querendo ou sem
querer, deste tsunami de filosofias, conjurações, magias e milagres que
entraram no cristianismo. Por isso afirma o mesmo autor: ”Para apresentar sua
mensagem o cristianismo precisava entrar neste debate seguindo as leis da
oferta e da procura do mercado” (o.c.p.361).
Ou, como diz o ditado brasileiro, “dançar conforme a música”. No meio de
toda essa competição por verdades e novidades, e novas religiões entrava também
o cristianismo. Não seria daí que o autor de Apocalipse colocou Deus num carro
de fogo, com rodas de fogo, e cercado
por um mar de fogo, no Apocalipse?(Apoc.4,1-7). Damo-nos
conta dos métodos descritos: ressurreição de
mortos, curas mágicas, feitos miraculosos de poder, competindo uns com
os outros. Forças demoníacas e solução de problemas pessoais urgentes. Eram as
ofertas ora de uns ora de outros. E o que mais facilmente atraía as pessoas
eram fenômenos ocultos, visões e êxtases, exorcismos e conjurações e milagres e
magia. De tudo isso um pouco ou bastante os pregadores cristãos também teriam
usado, porque teriam que usar dos mesmos métodos para serem ouvidos, e oferecer
o produto “segundo a lei do mercado”.
Conclusão.
Veja bem como esses métodos continuaram: a Igreja católica viu nisso um recurso
sobremaneira importante na escrita das biografias dos Santos onde se fazem
milagres sem conto colocando essas figuras não mais como humanas como seres
divinos. Assim como nos escritos do Novo Testamento. E nas Igrejas protestantes,
que continuam assumindo o mesmo ambiente nas pessoas dos Malafaias, dos Edir
Macedos e Cia que continuam com as mesmas habilidades mágicas. E pense em
pastores que vão de encomenda convidados para grande palanques com “falsas
profecias”, “revelações”, com “conjurações de pessoas mortas, de espíritos e de
deuses, e manipulações habilidosas dos meios de comunicação, justo como na
época descrita. Só falta subir nos ares, ou levitar, como o Jâmbulo, e se
colocar no meio rodas de fogo mágicas para falar com Deus.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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