Atacar pessoas da mesma fé, só por
discordar da sua explicação e que consideram opostos à verdade conforme eles a
veem, e que divergem da verdade “deles”, não é cristão e nem humano. Chegam até
a chamar os outros de “anticristos”. (1 Jo,2,18; e 2,22). Estamos falando das
elites de ontem, de hoje e da há muito tempo. No início do cristianismo
chamavam-lhes de “anticristos”; hoje chamam-lhes de “hereges”. Porém, hereges
de ontem hoje podem não ser mais, como no caso de Pelágio que discordava de Agostinho
sobre a teoria do pecado original, no séc.IV. E também quanto aos
Iluministas do séc.XVIII quando o Iluminismo foi condenado e hoje está em voga.
Dentro disto estão também os pedidos de “perdão” dos Papas João Paulo II e Papa
Francisco, (em 2000, 12 de março; 2001,02 de abril) e 2006 e 2015
respectivamente. Mas como pode isso acontecer, se até, por outro lado, o
próprio evangelho viu-se em apuros para explicar o que é o “Reino de Deus” e a
“pessoa de Jesus”? Vejamos: “Com que se
parece o Reino de Deus? Com que hei de compará-lo?” (Lc.13,18). E também: “A que podemos comparar o Reino de Deus? O
Reino dos céus é como”. “Como” não
explica, só dá uma comparação. “A que
podemos comparar?” Não denota uma certeza mas uma procura. E o que nos surpreende:
na resposta de Pedro à pergunta de Jesus “quem
sou eu” há duas atitudes opostas e contraditórias: Primeiro, que Pedro foi
“inspirado” pelo Pai do Céu”; (Mt.16,18).
segundo:
que foi “inspirado por Satanás, afasta-te de mim satanás” (Mt.16,23).
Na história do cristianismo, tudo o que temos são textos. E todos os textos são
produção de elites. Teólogos fazem teologias, às vezes eles são considerados
Santos, e como tal logo ganham créditos para o reconhecimento e o aval das
elites da Igreja. Logo à frente alguém faz outra teologia, que devido ao tempo,
pôe a outra teologia fora de época ou fora da validade de prazo. E tem
acontecido. Para trazer só o exemplo de duas teologias que eram os pilares do
A.T., o sábado e a circuncisão que dependiam de duas teologias. E quem pelejava
para manter a teologia antiga? As elites. Mas, como o evangelho diz, quando se
foi costurar remendo novo em roupa velha, estourou a roupa velha. E com Jesus
acabou a sacralidade sagrada do Sábado, e a nova teologia de Paulo acabou com a
sacralidade da Circuncisão. No N.T. vimos na página anterior que a teologia de
Agostinho impulsionou na Igreja o azáfama do batismo como a coisa mais urgente
e importante da Igreja. Há pouco tempo teologias abriram novos caminhos para
libertar as consciências e decidirem que o mais importante não é o sacramento
mas a palavra de Deus que dá suporte ao sacramento, incluindo a comunidade. E a
mesma coisa quanto à Eucaristia, como diz o documento do Papa Francisco
“Alegria do Amor”, N. 185. Para confirmar isto vou colocar uma reflexão meio
difícil: Há alguma diferença entre o “ensinamento” de Jesus e a “teologia” da
Igreja? A.Bultmann diz que a teologia começa como reflexão da fé em Jesus, e
não no seu ensinamento e autoconhecimento de Jesus: “O cristianismo está
enraizado na fé de que Deus agiu por intermédio de Jesus, não de que Jesus
reivindicou status divino” (Cf. em Robin Scroggs, O Jesus do povo, Paulus, 2012,
p.13). Explicando: no início uma preocupação dominava: era de colocar Jesus
acima de todas as realidades terrestres, à semelhança de como faziam os
“filósofos e pregadores de mercado” que traziam suas filosofias e religiões
como a coisa mais inovadora, colocando deuses no meio do fogo, usando todas as
magias de curas, de ressurreições de pessoas, e os adoradores em rodas mágicas
de fogo para falar com os deuses. Assim eram
imitados pelos escritores cristãos, que por isso mesmo abstraíam de um Jesus humano que viveu em Nazaré. Até porque, como afirmam os
historiadores, naquela época dos escritos sobre Jesus ninguém tinha conhecido
Jesus pessoalmente, para a maior parte Jesus era uma pessoa lendária de que só ouviam falar, e de
quem a grande maioria nem tinha ouvido falar. Em resumo: descrevendo um Jesus
glorioso nos céus sem ter passado pela terra, esquecendo o Jesus histórico da
terra. Este foi o trabalho das elites, como referi, e a teologia das elites.
Porém, agora existe um movimento contrário. De há 200 anos atrás assistimos à
tarefa de recuperar esse Jesus histórico que eles já tinham esquecido. Vejamos
o ambiente de hoje: “Entretanto, uma segunda questão diz respeito à
possibilidade de conhecer o Jesus histórico, o bastante para que possamos
recuperar seu ensinamento e autoconhecimento. A busca do Jesus histórico
remonta ao Iluminismo, há mais de um século, com Albert Schweitzer. Com o
Iluminismo o cristianismo “aprendeu” a desenrolar os verdadeiros fatos de Jesus das lendas e
mitos teológicos dos evangelhos” (R. Scroggs, o.c.p.13). Na verdade “lendas e
mitos dos evangelhos’ refletem a fé dos que crêem em Jesus, mas não descrevem
necessariamente os ‘fatos’ de Jesus” (o.c.p.14). Assim fica mais clara esta
conexão da apresentação de um Jesus “só divino” adequada para competir com o
ambiente das filosofias e magias dos pregadores de ruas e dos mercados da
época.
conclusão
Hoje em dia os estudiosos que se
voltaram para o Iluminismo encontram dificuldades para ser entendidos pelas
camadas populares. Isto porque as camadas populares internalizaram num tão longo
espaço de tempo de há dois mil anos a esta parte as antigas maneiras iguais às
apresentadas por esses pregadores de mercado de que falei. Assim, irá levar
outros dois mil anos para interpretar outras reflexões.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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