segunda-feira, 8 de setembro de 2025

VINHO NOVO EM VASILHAS NOVAS.


 Há quarenta anos atrás o escritor filósofo e teólogo Frei Beto cunhava uma frase que virou jargão internacional “Hoje não vivemos numa época de mudanças mas numa mudança de época”, publicada num artigo para o Jornal “O Globo” em 1984. Na verdade é quase assim como em 1789 quando começava outra mudança de época com a Revolução francesa em que se inaugurava a época do Iluminismo com John Locke; da Razão pura com Eamuel Kant; e da liberdade de consciência e de religião com Descartes. Em que se passava da assim chamada “Idade das trevas”, um apelido da Idade Média para a Idade do pensamento de Descartes. Imagine o mundo de hoje sem a TV, sem o celular, sem o avião, sem os robôs das montadoras de carros e aviões e todos nossos utensílios, sem o laser e todas as suas aplicações na medicina, nas cirurgias presenciais e à distância, e sem a IA, inteligência artificial que está fazendo os seus primeiros ensaios. Um dia o Mestre Jesus decidiu uma polêmica com os tradicionais fariseus e mestres da lei dizendo que não adéqua costurar um “remendo novo em roupa velha” (Lc.5,36), e nem botar “vinho novo em odres velhos, porque o vinho novo arrebenta os odres velhos” (5,37). Por outras palavras, o jargão de Frei Beto vai pelo mesmo caminho quando disse que “estamos numa verdadeira mudança de época”. No entanto há uma plêiade de cristãos e alguns que se têm por conceituados intelectuais dentro das fileiras das hierarquias da Igreja que, supomos, resistem em dar o passo para a “mudança de época”, ou de colocar o “vinho novo” da nova época em vasos novos. Dá-nos a impressão de que têm os pés no dia de hoje mas a cabeça nos dias da Idade Média, inclusive antes do concílio vaticano II. Esta dicotomia cria embates e conflitos. A Igreja atual está envolvida em levar a cabo o debate sinodal. Seria um grande esforço para a atualização da Igreja quanto à Família, à teologia, à Bíblia, à antropologia e à ciência. Se no Sínodo se resolverem cinquenta por cento dos embates e conflitos e resistências encontradas digamos pela velha guarda, seria já um resultado satisfatório. Na verdade, ainda estamos com as nossas homilias chovendo no molhado da idade de há 100 ou 200 anos atrás, em vez da atualização que seria exigida hoje, segundo o jargão do evangelho citado “vinho novo em vasilhas novas”. Eram dessa maneira as “homilias” de Jesus. E era dessa maneira que suscitava embates, resistências e conflitos com os seus opositores. Naquela época os opositores de Jesus eram os mais devotos e os mais “santos” da fé dos judeus. Os fariseus batiam no peito dizendo que eles eram os “santos de Israel”, e da fé e dos costumes judaicos. Não admira que hoje os mais “santos”, os “mais seguidores da tradição e das tradições e “da fé”, sejam também os que se opõem a botar o vinho novo em vasilhas novas. Ao mesmo tempo na fileiras eclesiásticas e nas fileiras do povo cristão isto existe.

Conclusão. Como nas Preces da Assembleia se reza: “Pela Igreja em seu caminhar de renovação sinodal, para que seja fortalecida pelo Espírito diante dos desafios que se apresentam em nossos dias”. A prece termina: “rezemos” (Cf. Liturgia Diária, Nov.2024, pag. 36).

P.Casimiro João    smbn

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