Um homem fala pra sua mulher: “eu estou sempre contigo
porque te amo. Mesmo que não existisse lei nenhuma eu sempre te amarei”. Que alegria para aquela esposa. E vice-versa,
a mulher falando pro seu esposo. O contrário: “eu não separo só porque é
proibido, porque não te amo mais.” Olha
a tristeza! Aqui o exemplo de um casamento certo e de um errado. É destes que o
último Sínodo dos bispos falou, em 2015. O tema da família é tão abrangente,
que ela é o primeiro lugar onde aprendemos a “comunicar”. Ela é o lugar
paradigmático onde a comunicação aparece como um diálogo que se tece com a
linguagem do corpo, numa expressão feliz do Papa Francisco. Exultar pela
alegria do encontro é o arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação que
aprendemos ainda antes de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira
escola de comunicação feita de escuta e contato corporal. Onde começamos a
familiarizar-nos com o mundo exterior. Depois de chegarmos ao mundo
permanecemos num outro ventre que é a família; um ventre feito de pessoas
diferentes inter-relacionando-se. A família é o espaço onde aprendemos a
conviver na diferença. Na família recebemos as palavras que são o veiculo da
comunicação dos nossos antepassados. Não nos inventamos, e nem inventamos as
palavras: tudo recebemos, e nós, como numa corrente, aprendemos a passar
adiante o fluido de palavras e comunicação que recebemos em família. Tudo
quanto recebemos em família será enriquecido com a nossa experiência que iremos
transmitindo por nossa vez. Aprendemos também a oração dos pais e avós, e
exemplos de vida que nos passam. Também aqui a família se torna a dimensão
religiosa da comunicação. O paradigma comunicativo da família se concretiza em
vários canais e capacidades: na capacidade de abraçar, apoiar, acompanhar,
decifrar olhares e silêncios, capacidade de rir e chorar juntos. E ainda na
capacidade de “visitar” e sair da sua zona de conforto, indo ter com o outro. É assim que a família
leva conforto e esperança às famílias mais feridas. Também na família
experimentamos limitações próprias e alheias. E nos damos conta que não existe
família perfeita cem por cento. E não precisamos ter medo da imperfeição, da
fragilidade, nem mesmo dos conflitos. Por isso aprendemos a enfrentá-los de
modo construtivo. Aprendemos ainda que a família é uma comunicação que definha
e se quebra como a teia de uma rede de tecido, mas é possível refazer os nós e
fazê-la crescer, e ficar mais bonita que colcha de fuxico. Na família, como na
rua, entram os meios de comunicação social. Eles são perigosos e são luminosos,
segundo aquela afirmação de O.Murchu: “é da essência do futuro ser perigoso”.
Aí nadamos num futuro belo e arriscado. Na família se aprende também a conviver
com as tecnologias e não só se deixar arrastar por elas. Seja a família um
ambiente onde se aprende a comunicar. Uma comunidade que sabe acompanhar:
festejar, frutificar e narrar. Narrar significa compreender que nossas vidas
estão entrelaçadas numa trama unitária; que as vozes são múltiplas, mas onde
cada uma é insubstituível. É importante afinar o olho clínico no seguinte,
segundo as palavras do Papa Francisco: “Aquilo que parece normal para um bispo
de um continente, pode resultar estranho, quase um escândalo para outro bispo
de outro continente; aquilo que se considera violação de um direito numa
sociedade, pode ser preceito óbvio e intocável noutra; aquilo que para alguns é
liberdade de consciência, para outros pode ser só confusão. Na realidade, as culturas
são muito diferentes entre si e cada princípio geral, se quiser ser observado e
aplicado, precisa de ser inculturado. E
o Sínodo terminava: “Significa que procuramos abrir os horizontes para superar
toda a hermenêutica conspiradora ou perspectiva fechada, para defender e
difundir a liberdade dos filhos de Deus, para transmitir a beleza da novidade
cristã, por vezes coberta pela ferrugem duma linguagem arcaica ou simplesmente
incompreensível. Significa também que espoliamos os corações fechados que,
frequentemente, se escondem mesmo por detrás dos ensinamentos da Igreja ou das
boas intenções para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com
superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”. Isto
ressoa como um apelo para que sejamos mais adultos e possamos avaliar mais a
nossa responsabilidade. Como dizendo, você não é mais criança, seja adulto.
Enfoca-se também a importância de defender o homem e não as ideias, defender o
espírito e não a letra. “A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor
também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a
letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a
gratuidade do amor de Deus e do seu
perdão”. Outra constatação do Sínodo: “O primeiro dever da Igreja não é aplicar
condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, chamar à
conversão e conduzir à salvação do Senhor” (cf. Jo.12,44-50). É por isso que o
Sínodo deixou ao discernimento e ao critério do pároco e dos bispos assuntos
delicados como a comunhão dos recasados em segundas núpcias.
Conclusão. Nessas reflexões do sínodo houve muito senso na seguinte
constatação de um olho clínico apurado: “A experiência do Sínodo fez-nos
compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os
que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as
fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus
e do seu perdão”.
P.Casimiro João
smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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