Tudo começou pela filosofia: a “alma”, o “céu”, o “inferno”,
o “demônio”, o “pecado”, o “castigo”. Os primeiros pensadores
começaram filosofando a vida. No século XIX a Igreja condenou as locomotivas, a
iluminação a gás, as pontes suspensas e as vacinas porque “eram contra a
vontade de Deus”, e porue os sábios pretendiam se colocar no lugar de Deus.
Comecemos pela “alma”. Platão foi o primeiro filósofo que pensou no elemento
”alma”. A alma era uma chama que habitava no Olimpo, a morada dos deuses. Essa
chama era uma substância imortal e eterna distinta do corpo, ela era o
princípio da vida e do conhecimento. Ela
pertencia ao mundo das Ideias, ela é real e imutável, e se une ao corpo de
forma temporária. A alma, em Platão, possuía três partes: a racional, a
espiritual e apetitiva. Numa vida ideal, a parte racional tinha que governar as
outras duas dimensões, a sensitiva e apetitiva. Alma era
uma substância que existe independente do corpo, sendo este uma prisão
temporária para a alma. A alma anima o corpo e é o princípio do conhecimento e
do raciocínio da razão, e da busca pela verdade. A alma fazia este trabalho
usando a cabeça do corpo; pela dimensão espiritual a alma fabricava as emoções,
as paixões, a raiva e a coragem, usando o peito do corpo; a dimensão sensitiva
ou concupiscente abrangia os desejos, os prazeres e os instintos usando o
abdômen do corpo. Antes de se unir ao corpo a alma contemplava as ideias
perfeitas no Mundo das Ideias. O esquecimento ocorria quando se unia ao corpo,
mas depois, pela filosofia e o conhecimento recuperava essas ideias. Depois de
Platão veio Aristóteles, para o qual a alma não é imortal nem separada do
corpo, mas um princípio de vida que dá forma e função ao corpo, tornando-se sua
essência. Aristóteles também destacou três funções na alma: a função
vegetativa, a sensitiva e a função racional ou intelectiva. A função vegetativa
e a sensitiva estão presentes em todos os seres vivos, plantas e animais, a
intelectiva só nos humanos. Para Aristóteles a alma e o corpo são uma única
coisa, inseparáveis e interdependentes. Seria assim, na metafísica de
Aristóteles: a alma é a “forma”, do corpo; o corpo seria a “matéria” da alma.
A alma nutritiva era responsável pela Nutrição, crescimento e reprodução; A
alma sensitiva era responsável pela sensação de dor e da alegria; A alma racional
tinha a função da razão, do intelecto e do raciocínio. As duas primeiras
“almas” são comuns a todos os seres vivos, a racional só é própria dos humanos.
Conclui-se daí que para Aristóteles a alma não era elemento sobrenatural, como
para Platão, mas um princípio natural e essencial para a vida. Por sua vez Zoroastro, da
Pérsia, que viveu muito anos antes, entre 1.500 e 1000 a.C. pensava a alma como
essência imortal do indivíduo, e após a morte seria julgada com base nas boas
ou más obras. As almas boas atravessavam uma ponte para o céu, enquanto que as
outras caíam no inferno, ou casa das Mentiras. E lá também havia um lugar
intermediário para as almas de ações equilibradas a que os cristãos depois
chamaram de purgatório. Porém, no final
dos tempos viria um Messias que reuniria todas as almas, que, purificadas, entrariam num lugar de felicidade. Estamos vendo sobre a filosofia
da ‘”alma” e do “céu”. Falemos agora sobre quando se começou a falar sobre
sobre “demônio”. Esta palavra começou a ser falada entre os gregos, era uma divindade menor. Era um deus
menor chamado “daimon”, que servia de intermediário entre deuses e humanos, e
que podia agir para o bem ou para o mal. No antigo livro de Enoque os demônios
eram os filhos dos anjos que foram deixados na Terra depois do dilúvio para
levar os homens a adorar os ídolos. No livro do Gênesis fala-se nesses filhos
de deuses ou anjos que depois se uniram com as primeiras mulheres e produziram
os gigantes,(Gn.cap.6). Finalmente, formou-se a lenda do Apocalipse da “luta de
Lúcifer”; numa batalha celestial onde o arcanjo Miguel e os exércitos
celestiais lutaram contra o Anjo da luz
ou Lúcifer que queria ser igual a Deus. Derrotado, é lançado na Terra.
(Apoc. cap12). Por seu lado, os rabinos judeus ensinavam nos seus
segredos que Deus criou os demônios na
tarde do sexto dia mas não teve tempo de dar-lhes um corpo, porque com o
pôr do sol começava o descanso do sábado. Por isso eles ficaram vagando. E
então entravam no corpo das pessoas e cada um tinha uma doença para adoecer os
homens. (Prado, José Luis, biblista). Sobre os princípios da humanidade, muito
se tem falado nos mitos do Enuma Elish, e Gilgamesh que foram em parte copiados
para o Gênesis, mas agora apresento um mito dos povos africanos: "Deus criou
muitos filhos dos homens no céu. Mas um dia apareceu uma criança deformada.
Como os homens se revoltassem, foram nesse instante expulsos do céu. Aí Deus se
apresentou na Terra em forma de peixe. Em seguida tomou a forma de homem e tornou-se
seu companheiro. Ingrato, o homem insultou a Deus, e então Deus separou-se para
sempre do homem. Quando os primeiros homens saíram do pântano do caniço, o
chefe do pântano mandou um camaleão levar-lhes a seguinte mensagem: os homens
morrerão, mas hão de ter outra vida. O camaleão pôs-se a caminho vagarosamente.
Entretanto o chefe do pântano mudou de opinião e despachou o lagarto de cabeça
azul para dizer aos homens: morrereis e apodrecereis debaixo da terra. O
lagarto partiu imediatamente, e em breve ultrapassou o camaleão. Quando enfim
chegou o cameleão com sua mensagem, os homens disseram-lhe: vens tarde demais,
o animal da morte chegou primeiro” (Altuna, “Cultura tradicional africana, apud
Vicente, José Armando “A salvação na RTA, Loyola, pag.145-146). Israel sempre
quis ter Deus ao seu serviço. Isso traz consequências teológicas. Israel não
gerou filosofias, apenas teologismos, e estes direcionados ao orgulho de sua
nação, sobre o seguinte: que Deus tinha que estar a seu serviço para derrotar
os inimigos, e um dia dominar todo mundo. Tal como o atual Donald Trump de
hoje, que alguns historiadores dizem ser descendente de imigrantes de judeus da
antiga Baviera alemã. Comparem com o comparsa dele, Natenyahu, de Israel.
Porém, na Grécia nasceu a filosofia, que bota a cabeça e a razão para trabalhar
e equilibrar a mente, a escrita e as ações. E a pouca filosofia que reinou
entre Israel foi tardia, e copiada da Grécia, como o livro da Sabedoria de Ben Sirac, que releu toda a Bíblia sob o prisma da “Sabedoria”, uma filosofia
eclética a partir da filosofia dos gregos. A Bíblia dos Judeus não se interessava com “céu” nem com “inferno” como
o zoroastrismo da Pérsia, mas estes conceitos vieram em dado momento tardio
para a Bíblia do Novo Testamento, copiando da filosofia de Zoroastro. Na verdade, para os judeus
funcionava assim: Depois da morte havia outro estágio de vida, que chamavam
“dormir”, aguardando a vinda final do Messias, como afinal também no
zoroastrismo. Porém esse Messias não vinha tratar de uma vida “no céu”, mas outra vida nesta Terra, vida feliz e libertada dos inimigos da Nação que agora aprontaria todas as
vinganças contra todos seus inimigos. Não seria ressurreição como nós
entendemos hoje mas uma vida feliz aqui na terra de “novos céus e nova terra”(Is.65,17,
e Apoc,21,1). (Cf. N.T.Wright, a ressurrição do filho de Deus, pag.590-595).
Isso consta do próprio evangelho quando Pedro perguntou a Jesus o que “eles”, os apóstolos iriam ganhar
depois de deixarem tudo: “Não há ninguém
que tendo deixado tudo isso não receba já neste mundo 100 vezes mais em casas,
irmãos, irmãs, filhos, terras, e no século vindouro a vida eterna ”(Mc.10,28). E ainda, no momento da despedida de Jesus, na
Ascesão, qual era a preocupação dos discípulos: “É agora que vais restaurar o
reino de Israel?” (At.1,6). Podemos ainda conferir o pedido dos filhos de
Zebedeu: “queremos o primeiro lugar, um
à tua direita e outro à tua esquerda na vinda do teu reino” (Mc.10,37). Finamente, quando entrou em
voga o termo “ressurreição”? “Ressurreição era um símbolo imponente: de “pôr de
ponta-cabeça a ordem presente e marcar o começo do reinado do “Messias”, ou
seja o “reinado de Israel”. Este conceito vem em todas as entrelinhas do cap.3
do Êxodo, episódio da “sarça ardente”, em Ez. Cap.37, no sentido da “destruição
do “(Jo.2,19), e em Isaías cap. 53-56, quando a exaltação do servo sofredor
representa a exaltação de Israel. ("Cf. Wright, o.c.p. 595). Falamos em
filosofar a vida. Neste capítulo demo-nos conta que a fé vem depois da
filosofia. Os elementos que mais nos impressionam e ao mesmo tempo nos
incomodam vieram todos da filosofia: ALMA, CÉU, PURGATÓRIO, PECADO,
DEMÔNIO, PRIMEIROS ANTEPASSADOS E "SALVAÇÃO". Isto nos diz que o cristão deve botar mais a
cabeça na organização da sua vida; Há uma coisa contraditória nisso aí, é
aquela atitude dos povos que nos parecem mais religiosos, como Israel, e se mostram os
mais egoístas, como o povo judeu, que sempre quiseram ter Deus ao seu serviço.
E porque Jesus não se pôs ao seu serviço o eliminaram.
Conclusão. É preciso filosofar a vida; não só teologizar. Porque
teologizar sem filosofar cai-se num espiritualismo vazio, e muitas vezes
caricato, como aquele que a “iluminação a gás, as locomotivas e as pontes
suspensas e as vacinas eram contra a vontade de Deus”, a teoria que condenava esses avanços
científicos no séc.XIX. Isto nos diz
que a teologia vem depois da filosofia e não o contrário, como aconteceu com
Agostinho e Tomás de Aquino que se
seguraram em várias filosofias para fazer as suas teologias, e como acontece com os teólogos
modernos.
P.Casimiro João
smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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