segunda-feira, 22 de setembro de 2025

FILOSOFAR A VIDA.


 

Tudo começou pela filosofia: a “alma”, o “céu”, o “inferno”, o “demônio”, o “pecado”, o “castigo”. Os primeiros pensadores começaram filosofando a vida. No século XIX a Igreja condenou as locomotivas, a iluminação a gás, as pontes suspensas e as vacinas porque “eram contra a vontade de Deus”, e porue os sábios pretendiam se colocar no lugar de Deus. Comecemos pela “alma”. Platão foi o primeiro filósofo que pensou no elemento ”alma”. A alma era uma chama que habitava no Olimpo, a morada dos deuses. Essa chama era uma substância imortal e eterna distinta do corpo, ela era o princípio da  vida e do conhecimento. Ela pertencia ao mundo das Ideias, ela é real e imutável, e se une ao corpo de forma temporária. A alma, em Platão, possuía três partes: a racional, a espiritual e apetitiva. Numa vida ideal, a parte racional tinha que governar as outras duas dimensões, a sensitiva e apetitiva. Alma era uma substância que existe independente do corpo, sendo este uma prisão temporária para a alma. A alma anima o corpo e é o princípio do conhecimento e do raciocínio da razão, e da busca pela verdade. A alma fazia este trabalho usando a cabeça do corpo; pela dimensão espiritual a alma fabricava as emoções, as paixões, a raiva e a coragem, usando o peito do corpo; a dimensão sensitiva ou concupiscente abrangia os desejos, os prazeres e os instintos usando o abdômen do corpo. Antes de se unir ao corpo a alma contemplava as ideias perfeitas no Mundo das Ideias. O esquecimento ocorria quando se unia ao corpo, mas depois, pela filosofia e o conhecimento recuperava essas ideias. Depois de Platão veio Aristóteles, para o qual a alma não é imortal nem separada do corpo, mas um princípio de vida que dá forma e função ao corpo, tornando-se sua essência. Aristóteles também destacou três funções na alma: a função vegetativa, a sensitiva e a função racional ou intelectiva. A função vegetativa e a sensitiva estão presentes em todos os seres vivos, plantas e animais, a intelectiva só nos humanos. Para Aristóteles a alma e o corpo são uma única coisa, inseparáveis e interdependentes. Seria assim, na metafísica de Aristóteles: a alma é a “forma”, do corpo; o corpo seria a “matéria” da alma. A alma nutritiva era responsável pela Nutrição, crescimento e reprodução; A alma sensitiva era responsável pela sensação de dor e da alegria; A alma racional tinha a função da razão, do intelecto e do raciocínio. As duas primeiras “almas” são comuns a todos os seres vivos, a racional só é própria dos humanos. Conclui-se daí que para Aristóteles a alma não era elemento sobrenatural, como para Platão, mas um princípio natural e essencial para a vida. Por sua vez Zoroastro, da Pérsia, que viveu muito anos antes, entre 1.500 e 1000 a.C. pensava a alma como essência imortal do indivíduo, e após a morte seria julgada com base nas boas ou más obras. As almas boas atravessavam uma ponte para o céu, enquanto que as outras caíam no inferno, ou casa das Mentiras. E lá também havia um lugar intermediário para as almas de ações equilibradas a que os cristãos depois chamaram de purgatório.  Porém, no final dos tempos viria um Messias que reuniria todas as almas, que, purificadas, entrariam num lugar de felicidade. Estamos vendo sobre a filosofia da ‘”alma” e do “céu”. Falemos agora sobre quando se começou a falar sobre sobre “demônio”. Esta palavra começou a ser falada entre os  gregos, era uma divindade menor. Era um deus menor chamado “daimon”, que servia de intermediário entre deuses e humanos, e que podia agir para o bem ou para o mal. No antigo livro de Enoque os demônios eram os filhos dos anjos que foram deixados na Terra depois do dilúvio para levar os homens a adorar os ídolos. No livro do Gênesis fala-se nesses filhos de deuses ou anjos que depois se uniram com as primeiras mulheres e produziram os gigantes,(Gn.cap.6). Finalmente, formou-se a lenda do Apocalipse da “luta de Lúcifer”; numa batalha celestial onde o arcanjo Miguel e os exércitos celestiais lutaram contra o Anjo da luz  ou Lúcifer que queria ser igual a Deus. Derrotado, é lançado na Terra. (Apoc. cap12). Por seu lado, os rabinos judeus ensinavam nos seus segredos  que Deus criou os demônios na tarde do sexto dia mas não teve tempo de dar-lhes um corpo, porque com o pôr do sol começava o descanso do sábado. Por isso eles ficaram vagando. E então entravam no corpo das pessoas e cada um tinha uma doença para adoecer os homens. (Prado, José Luis, biblista). Sobre os princípios da humanidade, muito se tem falado nos mitos do Enuma Elish, e Gilgamesh que foram em parte copiados para o Gênesis, mas agora apresento um mito dos povos africanos: "Deus criou muitos filhos dos homens no céu. Mas um dia apareceu uma criança deformada. Como os homens se revoltassem, foram nesse instante expulsos do céu. Aí Deus se apresentou na Terra em forma de peixe. Em seguida tomou a forma de homem e tornou-se seu companheiro. Ingrato, o homem insultou a Deus, e então Deus separou-se para sempre do homem. Quando os primeiros homens saíram do pântano do caniço, o chefe do pântano mandou um camaleão levar-lhes a seguinte mensagem: os homens morrerão, mas hão de ter outra vida. O camaleão pôs-se a caminho vagarosamente. Entretanto o chefe do pântano mudou de opinião e despachou o lagarto de cabeça azul para dizer aos homens: morrereis e apodrecereis debaixo da terra. O lagarto partiu imediatamente, e em breve ultrapassou o camaleão. Quando enfim chegou o cameleão com sua mensagem, os homens disseram-lhe: vens tarde demais, o animal da morte chegou primeiro” (Altuna, “Cultura tradicional africana, apud Vicente, José Armando “A salvação na RTA, Loyola, pag.145-146). Israel sempre quis ter Deus ao seu serviço. Isso traz consequências teológicas. Israel não gerou filosofias, apenas teologismos, e estes direcionados ao orgulho de sua nação, sobre o seguinte: que Deus tinha que estar a seu serviço para derrotar os inimigos, e um dia dominar todo mundo. Tal como o atual Donald Trump de hoje, que alguns historiadores dizem ser descendente de imigrantes de judeus da antiga Baviera alemã. Comparem com o comparsa dele, Natenyahu, de Israel. Porém, na Grécia nasceu a filosofia, que bota a cabeça e a razão para trabalhar e equilibrar a mente, a escrita e as ações. E a pouca filosofia que reinou entre Israel foi tardia, e copiada da Grécia, como o livro da Sabedoria de Ben Sirac, que releu toda a Bíblia sob o prisma da “Sabedoria”, uma filosofia eclética a partir da filosofia dos gregos. A Bíblia dos Judeus não se  interessava com “céu” nem com “inferno” como o zoroastrismo da Pérsia, mas estes conceitos vieram em dado momento tardio para a Bíblia do Novo Testamento, copiando da filosofia  de Zoroastro. Na verdade, para os judeus funcionava assim: Depois da morte havia outro estágio de vida, que chamavam “dormir”, aguardando a vinda final do Messias, como afinal também no zoroastrismo. Porém esse Messias não vinha tratar de  uma vida “no céu”, mas outra vida nesta Terra, vida feliz e libertada dos inimigos da Nação que agora aprontaria todas as vinganças contra todos seus inimigos. Não seria ressurreição como nós entendemos hoje mas uma vida feliz aqui na terra de “novos céus e nova terra”(Is.65,17, e Apoc,21,1). (Cf. N.T.Wright, a ressurrição do filho de Deus, pag.590-595). Isso consta do próprio evangelho quando Pedro perguntou a Jesus o que “eles”, os apóstolos iriam ganhar depois de deixarem tudo:  “Não há ninguém que tendo deixado tudo isso não receba já neste mundo 100 vezes mais em casas, irmãos, irmãs, filhos, terras, e no século vindouro a vida eterna ”(Mc.10,28).  E ainda, no momento da despedida de Jesus, na Ascesão, qual era a preocupação dos discípulos: “É agora que vais restaurar o reino de Israel?” (At.1,6). Podemos ainda conferir o pedido dos filhos de Zebedeu: “queremos o primeiro lugar,  um à tua direita e outro à tua esquerda na vinda do teu reino” (Mc.10,37). Finamente, quando entrou em voga o termo “ressurreição”? “Ressurreição era um símbolo imponente: de “pôr de ponta-cabeça a ordem presente e marcar o começo do reinado do “Messias”, ou seja o “reinado de Israel”. Este conceito vem em todas as entrelinhas do cap.3 do Êxodo, episódio da “sarça ardente”, em Ez. Cap.37, no sentido da “destruição do “(Jo.2,19), e em Isaías cap. 53-56, quando a exaltação do servo sofredor representa a exaltação de Israel. ("Cf. Wright, o.c.p. 595). Falamos em filosofar a vida. Neste capítulo demo-nos conta que a fé vem depois da filosofia. Os elementos que mais nos impressionam e ao mesmo tempo nos incomodam vieram todos da filosofia: ALMA, CÉU, PURGATÓRIO, PECADO, DEMÔNIO, PRIMEIROS ANTEPASSADOS E "SALVAÇÃO". Isto nos diz que o cristão deve botar mais a cabeça na organização da sua vida; Há uma coisa contraditória nisso aí, é aquela atitude dos povos que nos parecem mais religiosos, como Israel, e se mostram os mais egoístas, como o povo judeu, que sempre quiseram ter Deus ao seu serviço. E porque Jesus não se pôs ao seu serviço o eliminaram.

Conclusão. É preciso filosofar a vida; não só teologizar. Porque teologizar sem filosofar cai-se num espiritualismo vazio, e muitas vezes caricato, como aquele que a “iluminação a gás, as locomotivas e as pontes suspensas e as vacinas eram contra a vontade de Deus”, a teoria que condenava esses avanços científicos no séc.XIX. Isto nos diz que a teologia vem depois da filosofia e não o contrário, como aconteceu com Agostinho e Tomás de Aquino  que se seguraram em várias filosofias para fazer as suas teologias, e como acontece com os teólogos modernos.

P.Casimiro João         smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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