Numa rara ocasião eu tive a sorte de assistir à
independência de Moçambique, um dos mais lindos países da África oriental. Nos
anos seguintes eu soube que havia o Ministério da Ideologia Nacional. Era para
cuidar e vigiar para que toda a população seguisse e não se afastasse da
ideologia marxista do governo que era de Mao Tse Tung. Aliás tinha sido a China
que tinha assessorado a independência de Moçambique quando saiu do colonialismo
português em 1975. Os cidadãos, na verdade, eram sujeitos a uma lavagem
cerebral para que o pensamento ateu ocupasse a sua cabeça, pelo que deviam
sujeitar-se à disciplina de lavar ou extrair de sua cabeça toda a doutrinação
anterior, quer do governo colonial, quer da Igreja ou das Igrejas. Quando em
dado momento me adiantei mais nas estruturas da Igreja, tive ocasião de fazer a
comparação entre o Ministério da Ideologia e o outro departamento da Igreja
católica: o Dicastério para a doutrina da fé, que substituiu a anterior
Congregação para a doutrina da Fé, que por sua vez substituiu a Suprema e Sacra
Congregação da Inquisição. Esta breve indicação me falou muito de um certo
paralelismo. Por sua vez, não seria muito diferente no Antigo Testamento onde
se previa a pena de morte para diversas formas de infidelidade à lei (Dt.17,2-5;
Lv.24,16; Lv.20,10. Quando veio Jesus pregou a metanoia, que em grego significa
mudança de mentalidade, (Mc.1,15). Afinal, não era outra coisa senão também uma
lavagem cerebral. Este complexo de coisas se explica pela “internalização”,
conceito psicológico pelo qual o ser humano internaliza conceitos, ou seja
coloca no seu interior, dentro de si mesmo, na sua cabeça sistemas e paradigmas
de conhecimento tão internos que ficam fazendo parte de sua cabeça, seu pensar
e seu agir. Por isso se diz também “fazer a cabeça”, assim como deixar a cabeça
antiga por uma cabeça nova. Na linguagem simples e corriqueira vernácula os
tradutores lhe chamaram simplesmente de “conversão”. Vamos nos referir e
direcionar ao evangelho, que também vamos traduzir por “boa nova” ou “feliz
notícia”. Ora, como em todas as lavagens cerebrais o processe não é simples,
nem da noite para o dia. Assim, teríamos que ver o significado de boa nova ou
feliz notícia que traz o evangelho de Jesus. Esta feliz notícia de Jesus exigia
também uma lavagem cerebral, que significa deixar a “cabeça antiga” por uma
cabeça nova. A cabeça antiga do pobre
que se julgava sem valor nenhum, e a cabeça
do rico e político que pensavam isso acerca do pobre como sendo sem valor
nenhum. E quem diz pobre diz pecador, leproso, cego, coxo, aleijado. Era
preciso trocar a cabeça destes e daqueles. Noutro lugar o evangelho também lhe
chama “não botar remendo novo em pano velho” (Mc.2,21). Esta lavagem cerebral
no grego tem o nome de “metanoia”. Digamos que em primeiro lugar esta metanoia
tinha duas direções: para os bem instalados na vida, e para os “desinstalados”,
para os ricos e para os pobres. Para os
ricos e políticos essa lavagem ia bater em cérebros blindados contra qualquer
lavagem possível; e, por incrível que pareça, também para os pobres. Vamos
explicar esse aporema da tal metanóia ou lavagem cerebral, ou ‘conversão’.
Trata-se, em primeiro lugar, da valia da pessoa humana. Nada se constrói em
cima do que não é seguro. Ora, o que é preciso primeiro é considerar o valor de
ser gente, ou pessoa humana. Direcionemo-nos primeiro aos pobres, porque eles
julgavam-se sem valor. Talvez se julgassem como escravos, quando não tinham
mais nada para viver se entregavam como escravos para uma família. Era a
situação social do pobre, assim como uma coisa ou objeto que pertencia a
alguém, e que se podia trocar ou vender. Não é nada não, mas a mulher estava
igualmente nestas mesmas condições de poder ser trocada ou vendida. E não só,
no referente ao imaginário religioso também era assim. Vendo que o pobre era
considerado como nada pelos homens, então ele pensava que também para Deus não
era nada. Desprezado pelos homens, desprezado por Deus. Ainda no século passado
isso existia aqui nalgumas regiões do Brasil, onde os donos de terras diziam
para os sem terra: vocês não têm terra, então não têm Deus. Esta situação foi
confrontada pelo homem que mais amou e entendeu a humanidade, Jesus Cristo. E
botou pra quebrar com o seu propósito de mudar a cabeça dos judeus, dos ricos e
dos pobres. Dos pobres para saberem que tinham valor, e dos ricos para saberem
que pobre tem valor. E tentou “fazer a cabeça” deles, tanto de uns como de
outros. Tão difícil fazer a cabeça como grande era o medo das consequências: as
vinganças dos ricos e dos políticos sobre os pobres, e o sofrimento e a
paciência do pobre para conseguir ser alguma coisa. Além do perigo aduzido pelo
grande sociólogo Paulo Freire, da vingança coletiva do pobre que, quando
ganhasse um “lugar ao sol” fosse tratar os outros como ele tinha sido sempre
tratado. Mas não é por um motivo hipotético que se deixa de fazer uma obrigação
natural, assim como não foi pelo perigo dos insucessos humanos que a humanidade
deixou de existir. Ela existiu e enfrentou e enfrenta os ciclos e riscos
difíceis. Esta tarefa exige tempo. Não
seria no tempo de Jesus, nem Jesus poderia ter a oportunidade de ver a mudança.
Ao invés disso, ele viu, sim, o poder da reação e da raiva das classes
dominantes sobre ele, tanto das classes políticas e do dinheiro quanto do poder da
religião. Ficaria para mais tarde este efeito dessa mudança de cabeça, porque Jesus lançou apenas a semente da palavra e do exemplo. E por
incrível que pareça, essa história dessa
metanoia, ela se concretizava em pequenos grupos ou “comunidades” com esforço e
paciência. Mas como um todo de prática vigente, somente 18 séculos depois do
desaparecimento de Jesus, digamos, no século 18, com o grito que virou um grito
mundial em que se proclamava o slogan para toda a humanidade: IGUALDADE,
FRATERNIDADE, LIBERDADE, em 1789. E tanto que em 1946 teve o mérito de ser
proclamado como “DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS” para toda a
humanidade onde a maioria das Nações mundiais o subscreveram, como o Brasil.
Não porém algumas nações que não mudaram a “cabeça” e nem fizeram essa metanoia
do valor intrínseco da essência do ser humano. Algumas até poderão considerar-se
religiosas, mas não consideram que antes da religião tem o ser humano. E quem
despreza o ser humano por causa da religião não é humano nem religioso. Ou seja
é uma consideração falsa de religião. Esta falsa religião foi a que Jesus
encontrou quando veio na Palestina dos judeus. Falamos em metanoia. E falamos
que levou 18 séculos, ou 1.800 anos para que se transformasse em valor universal. Uma
sementinha que o Senhor Jesus lançou sobre a pergunta: Quem tem mais valor, o
homem ou o dinheiro? O homem ou o poder? O homem ou a riqueza? O homem ou a
religião? E de quebra, como pano de fundo, aquele jargão universal que já vinha
nas bíblias de todos os povos antes dos judeus: “Não faça aos outros aquilo
que não quer que façam a você.” Nisto consiste a lei e os profetas (Mt.7,12). Conclusão.”A
felicidade, para os pobres, começa pelo
reconhecimento de que possuem os mesmos direitos que os ricos. Isso, por si só,
representa uma revolução. Jesus sonhou com uma mesa onde todos tivessem um
lugar: ricos, pobres, sãos, doentes, justos e pecadores” (João, Casimiro em
“Páginas de teologia bíblica para hoje, vol.I, p. 31)
P.Casimiro João
smbn
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