domingo, 24 de maio de 2020

“ PALAVRA DE DEUS” E CIÊNCIA E FÉ

A Bíblia como “Palavra de Deus” vem do século XVI. A expressão “Palavra da salvação” vem do Concílio Vaticano II em 1965. Vejamos mais.

Os gregos “veem” Deus, os Judeus “ouvem Deus”. É por isso que a arte escultórica ou iconográfica vem dos gregos; e a arte da palavra vem dos hebreus. Para eles toda a palavra boa vinha de Deus.

A expressão ”Deus falou” aparece 2200 vezes na Bíblia. E “assim falou Deus” 428 vezes. É evidente que é uma maneira antropomórfica de falar, pondo Deus a falar como uma pessoa. Igual como quando Deus “formou o homem do barro” é maneira antropomórfica de colocar Deus como um homem oleiro.

Outras vezes a Bíblia conta que Deus reuniu os membros da sua corte e dialoga com eles no seu palácio (1R.22,1-28 e Jó 1.6). Outras vezes mandou “mensageiros”, os “anjos” para mandar as suas ordens ou palavras.

Na única afirmação que encontramos na Bíblia: “ Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir, e para formar na justiça”(2 Tim.3,16) a tradução mais legítima é “soprada por Deus” semelhante ao sopro no homem formado de barro para que ficasse vivo. E igual àquela expressão “fica de pé filho do homem, porque eu vou falar” (Ez.2,1).

Podemos constatar que nenhum texto da Biblia fala acerca da Biblia como “palavra do Senhor”. No próprio Apocalipse, como em todos os livros canônicos o termo “palavra de Deus” nunca é aplicado a um texto, a um livro ou coleção de livros, mas é reservado a Jesus Cristo: “O seu nome é Verbo (ou Palavra) de Deus” (Ap.19,13), e para a mensagem de testemunho da igreja sobre ele (Ap.1.2.9)  e Ap.20,4). Então como é o histórico da situação?

Quando os Judeus ganharam muita relevância no mundo onde tinham se espalhado, muita gente estava interessada nos escritos bíblicos. Porém, eram muitos e separados e escritos em diversas épocas. 

Então  em 245 a.C. foi inaugurada a Biblioteca de Alexandria  por Ptolomeu II, e ele pediu ao sumo sacerdote Eleazário que  precisava uma Biblia hebraica para a biblioteca. Mas como, se só havia escritos tantos e tão separados?

Então Eleazário escolheu 70 escribas para juntar e traduzir todos os escritos num só livro, e resultou a BIBLIA DOS SETENTA. Eles espalharam o boato ou lenda que cada um tinha ficado isolado num quarto, e que sua tradução tinha vindo de um anjo, “palavra por palavra” de tal modo que a tradução de cada um era igualzinha às dos outros.

A essa lenda dos SETENTA juntou-se outra no ano 90 d.C. quando um mestre judeu fez, junto com cinco escribas outra tradução de vários livros. Ele espalhou também o boato de que tinha visto Deus numa sarça de fogo e lhe deu essa ordem para fazer esse trabalho em 40 dias. Este é chamado o II ESDRAS que copiou o nome do Esdras antigo do século V a.C.

Com a lenda dos SETENTA e  do II ESDRAS os Judeus estavam bem aparelhados para se apresentar diante das Nações como tendo em mãos a “PALAVRA DE DEUS”.

No entanto, as primeiras correntes dos cristãos não entraram nessa onda, embora esses escritos tiveram muita influência nos evangelhos e não só.

A Bíblia como “PALAVRA DE DEUS”, digamos oficialmente entre os cristãos começou só no século XVI com o costume dos protestantes. E porquê? Porque eles negavam o valor da Tradição da Igreja, e por isso a “palavra de Deus” era reservada só para a  Bíblia.

O terceiro marco foi o adventos do Iluminismo no séc. XIX na época do Renascimento. A reviravolta deu-se quando a razão iluminada (daí o termo Iluminismo) começou vendo as contradições entre a fé e a ciência. Se a Biblia é a “palavra de  Deus” e tem científicos, como pode ser considerada palavra de Deus?

Aí se confrontaram duas correntes: uns escolhendo a ciência e rejeitando a Bíblia. Outros escolhendo a Bíblia e rejeitando a ciência.

Entre os Protestantes nasceu a Teologia liberal, sobretudo na América do Norte. Para uma parte deles a Biblia não como um todo a “palavra de Deus”. Ao passo que os fundamentalistas  afirmam que cada palavra é ditada por Deus palavra por palavra. Para os primeiros, a Bíblia não contém a palavra de Deus quando entra nos limites da ciência.

Tempo atrás também a Igreja Católica considerava a Bíblia como “palavra de Deus” como cada palavra ditada por Deus. Porém desde o Vaticano II a Pontifícia Comissão Bíblica tem alertado várias vezes que não é bem assim. 

Nessa época também a Igreja católica considerava a ciência como serva, ou escrava da fé; agora pode acontecer o inverso, a Igreja se dobra diante dos vereditos da ciência. O CORONAVÍRUS que venha nos ensinar.

Porém, se ambas caminham juntas, os braços  de uma são os braços da outra, mas só abraçadas. Aí a Bíblia é a palavra de Deus. E a Ciência é também palavra de Deus. Porque a mesma ciência foi feita por Deus. 

E antes das leis da Bíblia já havia as leis da Ciência, e a Bíblia não pode mudá-las. 
O COVID-19 que o diga.



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