domingo, 29 de agosto de 2021

A Escatologia Joanina, diferente da dos Sinóticos. O “anticristo veio; eis que já há muitos anticristos, por isso conhecemos que é a última hora.”

“Filhinhos, esta é a última hora; vós ouvistes que o “anticristo veio; eis que já há muitos anticristos, por isso conhecemos que é a última hora” (1Jo.2,18). As trevas passaram e já brilha a luz verdadeira” (1Jo2,8). Estas são expressões que mostram que os cristãos joaninos estavam convencidos de que os últimos tempos já tinham chegado.

Isto leva-nos a repetir a tese de como a escatologia depende da cristologia: para os sinóticos Jesus era visto como alguém que caminhou por esta terra e depois foi levado para Deus; no final dos tempos ele desceria para julgar, assumindo a função de juiz.  Mas para João, durante o seu ministério, Jesus já tinha descido de Deus para servir de juiz.

Para João a vida eterna já se faz presente no agora, “quem escuta a minha palavra passou da morte para a vida,”(Jo.5,24) e jamais morrerá”Jo.11,26. O cristão joanino não precisava esperar a segunda vinda para ver Deus, porque quem viu Jesus já viu Deus: “Desde agora o conheceis e o vistes”(Jo.14,7). E não ficarão órfãos quando não eram aceitos pelo mundo: “não vos deixarei órfãos”(Jo.14,18).

Eles já são julgados e não precisam enfrentar mais julgamento, “Quem nele crê não é condenado, mas não quem crê já está condenado”(Jo.3,18). Eles já têm a vida eterna, “quem come a minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna”(Jo.6,54). Já se aproximaram da luz,”aquele que me segue não anda nas trevas mas tem a luz da vida” (Jo.6,12).

São filhos que nasceram de Deus: “não nasceram do sangue nem da vontade do homem, mas sim de Deus”, (Jo.1,13). E não precisarão morrer para passar para outra vida,”quem vive e crê em mim jamais morrerá” Jo.6,58 isto é, eles simplesmente irão passar deste mundo ao qual realmente nunca pertenceram: “eles não são deste mundo, como eu também não sou deste mundo” (Jo.17,14), para juntar-se a Jesus nos lugares que ele preparou para eles: “Na casa do meu Pai há muitas moradas, e eu vou preparar um lugar para  vocês” (Jo.14,2).

Em abono de que as últimas coisas já estão presentes na vida da comunidade estão ainda muitas outras indicações como estas: “Vencestes o maligno”, 1 Jo.1,14; “A vida manifestou-se” 1Jo.1,12; “Caminhamos na luz,”1Jo,1,7; Estavam na comunhão com Deus: “A nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo” 1 Jo.1,13; São verdadeiramente filhos de Deus: “Considerai com que amor nos amou o Pai para  que sejamos chamados filhos de Deus; e nós o somos de fato,”(1Jo.3,1). Deus permanece no crente:“todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece com ele, e ele com Deus” (1Jo.4,15).

Quando Oscar Cullmann carimbou a expressão do já, e ainda não,  na teologia da Escatologia dele como uma parte já realizada no presente, e outra parte aguardada para a vida futura, (O.Cullmann, Cristologia do Novo Testamento), isso não se aplica aqui em João, porque o autor das Cartas está empenhado para que os seus cristãos usem a visão do futuro como um corretivo de purificação no presente. Portanto os seus avisos éticos são uma fonte de confiança no futuro, partindo da atual vivência, onde o futuro já está presente.

Apesar de tudo o que os “anticristos” possam maquinar, para o Autor das Cartas já “é chegada a última hora”: “Filhinhos, esta é a última hora; vós ouvistes que o “anticristo veio; eis que já há muitos anticristos, por isso conhecemos que é a última hora” (1Jo.2,18). Para aqueles que se ligam na Boa Nova que foi proclamada desde o princípio, há uma certeza: “As trevas passaram e já brilha a luz verdadeira” (1Jo2,8).

Por estas tantas passagens, e por todo o ambiente do evangelho e das Cartas joaninas, e por várias situações criadas para confirmá-lo, como a cena de Lázaro, os estudiosos concordam num ponto: que a escatologia de João e das Cartas já estava se realizando na sua comunidade e em cada um dos seus membros.

Conclusão. Tratar de escatologia não é acidental no estudo da teologia. “O Cristianismo é total e visceralmente escatologia” no dizer de O.Cullmann (o.c.p.71); e “o culto cristão é uma dimensão escatológica em tensão(id). Para Schweitzer: “Os conceitos escatológicos não só dominam a pregação de Jesus, mas toda a sua vida”. E: “A história da cristandade é a história da demora da parusia”. ( A questão do Jesus histórico”, p.238). Nos Sinóticos “ela é capaz de dar tempo a Deus, ciente que não lhe compete saber “a respeito daquele dia ou daquela hora”(Maxwel), o que porém não acontece para João. Aliás, entre os modernos, Bultmann tem uma teoria bastante semelhante à de João quando afirma: O momento da decisão está à mão, e aqueles que crêem já possuem a vida eterna.” (Em “O Guia trinitário para a escatologia, 61). E acrescenta: “É o mais adequado para dialogar com os padrões de pensamento da humanidade moderna”. Aliás ele assim aproxima o conceito de escatologia com o conceito de reino de Deus. Já Tillich tem uma escatologia muito confusa, no entanto corroborando a ideia que a escatologia não poderá ser reduzida a um apêndice da pregação e da teologia. Já Karl Barth tem mais semelhanças com Bultmann, e, como falei, com os escritos joaninos.        

Embora que os Sinóticos e Paulo, todos eles esperavam assistir a essa parusía nas suas vidas, num futuro breve, para João ela já tinha chegado. Afinal, esta escatologia de João emergiu também na escatologia dos teólogos modernos Bultmann, Albert Schweitzer, e um pouco em Tillich. Finalizo com Luis Carlos Susin, quando afirmou: “A teologia cristã é uma encruzilhada de muitos caminhos, e a escatologia é a chegada desses muitos caminho. (Luis Carlos Susin, “Assim na terra como nos céus”, pg. 11).

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

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