Era pelo final do século primeiro
depois de Cristo, e algumas décadas mais tarde, quando os redatores do
evangelho de Lucas escreveram: “subindo
numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastassem um pouco da margem.
Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões”.(Lc.5,3).
Esta cena, além de ser uma parábola
sobre a vocação dos apóstolos, é uma apologia do que estava sendo formado sobre
o primado de Pedro. Eis alguns sinais: a barca, que é a Igreja, e
sentado, que significava a autoridade do mestre na missão do
ensino. Não passa pela cabeça de ninguém que Jesus podia ser escutado “sentado
numa barca” por uma multidão
dispersa lá na praia. Como disse, estava-se fabricando a teologia do
primado de Pedro onde tem o seu paralelo em Mt.16,16. (blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
12/12/21). E isto tinha que ser à semelhança com o imperador romano. Na
verdade, quando o império começava a desmoronar-se a Igreja começava ocupando o
lugar do império: na autoridade, no fausto, no palácio, no mando e nas vestes.
As vestes do imperador passaram para o Papa e os bispos, como veremos mais
adiante. Inclusive os eclesiásticos começavam a exercer suas funções por meio
de serviços pagos.
Por
outro lado, havia duas chaves para a colação da auréola de autoridade do Papa:
a primeira vinha do Antigo Testamento na figura do Sumo Sacerdote,
(Cf.Hb.4,14); A segunda era a figura do imperador romano que o Papa assumia.
Este arcabouço que funcionou em toda a Idade Média até há bem pouco
tempo, estava sendo colocado agora nos seus alicerces. No Antigo Testamento o
sumo sacerdote exercia as funções eclesiásticas, e a missão política junto e de
acordo com o rei. Assim acontecia também na época da colonização romana e com a
colonização da Europa sobre os povos das colônias. A chancela da autoridade
absoluta do sucessor de Pedro foi feita nesta época. A afirmação contundente “toda a autoridade foi-me dada no céu e sobre
a terra” (Mt.28,20) vem dessa época como os episódios das chaves(Mt.16,18;
Cf. blog www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br,
10/9/21). Não era nada mais do que chancelar e juntar no primado a autoridade
do sumo sacerdote e do imperador. Esta teologia começava a fazer parte do
imaginário de todos os Papas.
Passando
das formulações do duque Hildebrando, que era o jurista do tio, o
imperador Henrique VIII da Baviera, o qual desse cargo passou a
ser eleito Papa, o Papa Gregório VII (1075). Nos seus 27 ordenamentos
chamados de “Dictatus Papae” (os
Privilégios do Papa) de onde vou destacar os principais: 1.O Papa pode julgar todo mundo, e não pode
ser julgado por ninguém; 2. O Papa tem o poder de investir e o poder de depor
os imperadores; 3.Receber os dízimos de todos os Estados; 4.O Papa não pode
errar nem nas coisas divinas e nem humanas; 5 Somente o Papa pode usar as
insígnias imperiais; 6. O Papa é somente inferior ao próprio Deus; 7.Os
Príncipes devem beijar os pés do Papa.
Embora
nunca fosse proclamado o dogma da infalibilidade nessa época no entanto era a
prática e a teologia formada. Estavam sendo colocados os pilares para uma
ditadura da Igreja. Até que chegou a vez de ser definido o dogma da
infalibilidade do Papa com a pessoa de Pio IX em 1789. Porquê? Pio IX proclamou
o dogma foi numa época em que ele estava em baixa no seu prestígio, e em que
ele não aceitava as teorias modernas do Renascimento, do Iluminismo, da
filosofia da “Dúvida” e da declaração dos Direitos Humanos, como a liberdade de
religião e liberdade de consciência, que ele intitulava como “a peste da
humanidade”. No entanto todas essas teorias são agora aceitas por todas as
nações e pela cultura moderna e também pela Igreja.
Também
observamos que depois de ter escrito o documento “Syllabus” em que condenava
todas essas teorias, finalmente sonhava e proclamou a abertura do Concilio
Vaticano I onde usou de todos os subornos e “propinas” para que os cardeais
votassem na “infalibilidade do Papa”, pelo que muitos, não concordando,
deixaram a Sala do Concílio. (Hans Kung, “A Igreja tem salvação?”. Na verdade,
desde essa hora a validade desse dogma está sendo colocada em causa, inclusive
o Papa Leão XIII (1878) não o acatou.(H.Kung.c.p.166). Assim como também as
Faculdades teológicas e o Episcopado em geral também manifestaram oposição
(o.c.p.158). Isto na esteira do próprio Santo Agostinho que já na época dele
declarou: “ a maior autoridade da Igreja
está nos Concílios, e nem estes têm infalibilidade” ( H.Kung,o.c.p.83).
Voltando
agora na historia para avaliar, como dizíamos, como era a vida do imperador e
dos reis antigamente no Antigo Testamento? Comecemos pelo mito de Davi e
Salomão, como era a vida deles em comparação com os outros reis dos povos?
Tinha alguma diferença? Vejamos quantas mulheres e quantas concubinas tinha
Salomão? “700 esposas e 300 concubinas”(1Rs.11,3) . E Davi? “sete esposas e dez concubinas”(id.) o
que soa tão ridículo quanto o atual presidente do Brasil que só tem uma tecla
para falar sobre a família e sobre o aborto, quando ele mesmo já está no
3ºcasamento. Parece a imitação do Auto
da Compadecida de Ariano Suassuna em que os “defensores da moral e dos
bons costumes são os mesmos que corrompem o povo e a sua dignidade”. E na “corte” em que se transformou o
papado na Idade Média, o que diz a história sobre a eleição dos Papas, sobre a
ganância, subornos, e propinas? Sem falar em problemas morais muito semelhantes
aos de Davi e Salomão?
Avançando
para as nações “cristãs”: como é a vida de deputados , e “colarinhos brancos”?
Como avaliamos a vida de uma “Flordeliz”? Será um único caso? E não somos um
país “cristão” e com a fama de ser o pais com maior número de batizados do
mundo? E como é a vida das famílias no mundo, e não é igual no Brasil? Poderá
se dizer: mas nós temos missa, Bíblia, e confissão...Lembremos que outras religiões também rezam e têm
também conventos e mosteiros ou “monastérios” como lhe chamam. E nessas
religiões têm monges também.
Conclusão. Nos países comunistas tinham tortura
e prisões e sumiço de gente. Repare: na época da ditadura aqui tinha
também tortura, prisões e sumiço de gente do mesmo jeito. Tudo igual
como nesses países e como nos reis dos antigos tempos. Uma pergunta final: nos
jugamos diferentes; os “santos”, os
“escolhidos”. Mas não seria bom pensar que os “outros” também são “os
santos”, os “bons” e “os escolhidos”? Com as mesmas práticas que nós chamamos
“perversas” e com as mesmas orações ao mesmo Deus? Voltando ao mesmo titulo
“Naquele tempo estava-se construindo a
teologia do primado de Pedro”.
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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