segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

O que significa “evangelizar os pobres” (Lc.4,18)


 

Nos tempos áureos das Missões muitos meninos da Europa alimentavam o imaginário de ser missionários em lugares longe, de gente pobre e carente não só da fé mas também dos bens da vida. E se formaram nesse sonho, levando a bandeira da sua cultura na sua bagagem e na sua fé. Eles tinham duas motivações, primeiro é que eles eram também pobres porque os seminários “de Missões” eram direcionados a candidatos de recursos modestos e não tinham meios econômicos para estudar em Liceus ou instituições mais caras, vez que naquela época não havia Ensino Público gratuito estatal ou federal. Depois, porque se sentiam mais à vontade com as classes mais baixas, igual eles. Já por exemplo os seminários diocesanos ficavam mais caros, e os futuros párocos se instavam em paróquias confortáveis. Uma pesquisa diz que 85%por cento dos missionários nos séculos passados estavam neste patamar. E se jogavam mais facilmente em riscos e aventuras devido à sua infância de maiores carências e sacrifícios. Mas será que é isso mesmo a explicação evangélica de “evangelizar os pobres”? O Espirito do Senhor está sobre mim porque me ungiu, e enviou-me para proclamar a boa nova aos pobres ”(Lc.4,18)?

Vejamos quais eram as notícias, as más novas que os pobres sempre ouviam: Que pobre não vale nada; tem que “apanhar” para trabalhar; se não pagar suas contas vai virar escravo porque o proprietário vai tirar suas terras. E não adianta reclamar, porque isso é “o destino”, é “vontade de Deus”; porque “Deus fez o pobre e fez o rico” (Sam.2,7). Se precisar de esmola bote o pé na estrada porque a esmola ajuda para mantê-los na sua inferioridade. Pobre vive só para trabalhar pros seus patrões, e comer só o tanto para continuar o seu trabalho. Assim chegou-se à seguinte constatação: “Onde há grandes propriedades tem que haver grandes desigualdades; Para um muito rico tem que haver pelo menos 500 pobres, e a riqueza de poucos se apoia na indigência de muitos.” (Adam Smith, economista britânico).

Estas eram no Antigo Testamento as más “notícias” de cada dia para os pobres. Na vertente oposta, a “boa notícia” para dar aos pobres da parte de Deus era outra, e toda contrária a essa lista das más notícias: 1) pobre tem valor, sim, tem o mesmo valor do rico;  2) E não é destino coisa nenhuma, nem vontade de Deus, é mau governo dos homens 3) tem direito de acesso ao estudo para não depender de esmolas alheias; 4) ser pobre não é “da vontade de Deus” mas dos homens; 5) Isto era o contrário da filosofia de Platão que dizia que só alguns eleitos podiam dedicar-se ao estudo das ideias que moram no Olimpo celeste, enquanto que os outros que trabalham com a matéria não podem ter acesso a ela.

Há aquele dito que diz assim: “Deus terceirizou o governo deste mundo aos humanos. E os que mandam se apoderam de tudo. Mas quando chegar o “reino de Deus” vai haver distribuição. “Na casa do meu Pai há muitas moradas, e eu vou preparar uma morada para cada um” (Jo.14,6).  A luta dos pobres deverá ser para frear muita ganância dos poderosos, e diminuir os estragos. Este é o kit de novidades e “boas notícias” que significa a palavra “evangelizar os pobres”. Além de dar boas notícias tem ainda o significado de “conscientizar”, uma vez que a luz da  consciência dos pobres estava apagada. E só orientada pelas mentiras sociais da sociedade e da religião, quando os informavam que “era a vontade de Deus”, ou “destino”. E quando a pessoa tantas vezes escuta uma mentira, essa mentira passa a ser verdade na cabeça do povo que internaliza essa mentira, no dizer de Joseph Goebbers ministro da cultura da Alemanha nazista; e quando essa mentira é religiosa é mais cruel.

Conclusão. “Eu fui enviado para evangelizar os pobres”(Lc.4,18) não é para mantê-los na ignorância do “em nome de Deus”, ou “do destino” dizendo-lhes que o estado em que se encontram é da “vontade de Deus” ou do destino. Se os evangelizadores forem pregar que isso é da vontade de Deus estariam fazendo da religião o que denunciou Karl Marx “fazendo da religião o ópio do povo”. (Cf.www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 01/01/23). Resumo: "Evangelizar os Pobres" é então dar BOAS NOTÍCIAS AOS POBRES.

P.Casimiro João   smbn.

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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