sábado, 28 de janeiro de 2023

ESPÍRITO DE POBRE E ESPÍRITO DE RICO. (Mt.5,3).

 

“Bem aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus”(Mt.5,3).

Há pobre que é pobre mas tem espírito de rico. E por outro lado pode haver rico com espírito de pobre. O que significa espirito de rico? Quais as manifestações? Em três, pela seguinte ordem: primeiro, ganância; segundo, desejo de acumular, e terceiro, desprezo pelo pobre. E como será o rico com espírito de pobre? Em três dimensões: primeiro, entender o pobre; segundo colaborar para que o pobre fique menos pobre; e terceiro, trabalhar pela justiça social.

Tentemos analisar cada um destes itens, começando pela ganância que caracteriza o ser do rico: A ganância é prima do desejo de ajuntar e acumular sempre mais, sem nunca saciar. E a luta para acumular vai usar de meios lícitos e ilícitos, até mentir, defraudar, e até matar o opositor. Fiar-se no que já tem para conseguir o que não tem, com atividades preventivas e planejadas com advogados e parceiros de crime. E, claro, a consequência é o terceiro item que é o desprezo e o deboche pelo pobre; este espirito dá valor ao ter, e não à pessoa. Quem tem dinheiro vale, quem não tem não vale.

Por outro lado, vem o rico com espírito de pobre quando o rico tem empatia para com o pobre e entende e se dói com o pobre. É um primeiro passo. O segundo passo é fazer ações para que o pobre fique menos pobre e consiga chances de mudar para melhor. O terceiro passo é trabalhar pela justiça social, se colocando ao lado de movimentos, projetos e políticas que promovam mais igualdade entre as classes sociais.

O prêmio apontado no evangelho em referência, é que o espírito de pobre herdará o reino dos céus. O evangelho de João nos dá um palpite sobre o reino dos céus. “Na casa do meu Pai há muitas moradas, e vou preparar um lugar para vocês” (Jo.14,3). Na verdade Deus bem quereria que nesta vida cada um tivesse já a sua morada. Mas como Deus terceirizou o mando deste mundo, acontece que quem tem o mando se apodera do melhor ou de tudo, deixando tanto cidadão sem uma morada. Aí vem a ideia sempre viva no Antigo Testamento da escatologia que Deus irá recolocar tudo no seu lugar com o nome “reino dos céus”. Ali, no final dos tempos, Deus assume o poder, e dará a cada um a sua morada. Acabando com a terceirização e má distribuição.

Na casa do Pai, ou “reino do Pai” haverá moradas. E sabemos que neste mundo não ter morada significa não ter trabalho porque não tem estudo; não tem estudo, não tem dinheiro; não tem dinheiro não tem o que comer; não tem o que comer e onde morar, por isso vai morar na rua; morar na rua é ficar doente; e morrer cedo e não incomodar mais a sociedade.

O jornalista e professor Douglas Gavras põe esta questão: Porque é que nos últimos anos a “direita” se fortaleceu em larga escala? E ele parte da análise de dados como o monopólio do acesso escolar que tem sido sequestrado pelas elites. “Se duas pessoas terminam o Fundamental ou o Médio, as oportunidades de trabalho vão para os da elite, sempre brancos ou amarelos, enquanto que os mesmos diplomados pretos, indígenas e pardos ficam sobrando”. Sendo assim, com o mesmo grau de instrução, 10% por cento no topo ganham mais do que todos os outros. A elite econômica captou 65% dos ganhos no nível Fundamental e Médio, e 30% para o superior”(Douglas Gavras). E continua: “O esgotamento dos ganhos educacionais é uma das principais razões do diminuição de democracia, e, por consequência, da ascensão da “direita”. Os dados sugerem que os brasileiros de menos renda ganham no mercado de trabalho, mesmo que tenham igual ou mais estudo. Por isso as elites fazem tudo para limitar o acesso ao estudo para que as demais faixas da população não tenham acesso.” E, como dizia o ministro da Educação em 2022, Milton Ribeiro, que fez o “Gabinete paralelo” no governo, com seus pastores evangélicos: “Pobre não pode ser doutor”. Além de que entre mulheres e homens, a renda do trabalho, ainda que com os mesmos diplomas, eles recebem de 150% a 50% a mais do que elas. Isto pertence aos direitos de gênero, estabelecido pela CONSTITUIÇÃO brasileira no art.126, mas certos governos odiavam o conceito e o estudo de gênero nas escolas, para ficar longe desses direitos.

Este é o “reino da terceirizado” daqui debaixo que pouco a pouco tem que ser desmontado. Contrariamente à opinião do Antigo Testamento que só aguardavam para o final dos tempos. A Constituição brasileira diz que todos são iguais perante a Lei, no art.V. E no art.126 trata do gênero afirmando os mesmos direitos sociais e políticos para gênero masculino e feminino e outros. Mas num País que tem se negado a estudar nas Escolas o conceito de gênero, como poderia cobrá-lo para o cumprimento da Constituição?

Conclusão. Esta reflexão deve-nos levar à convicção de que as Bem-aventuranças, embora tenham muito do pensamento escatológico judaico, não são receita de “ópio do povo” ou tentativa de anestesia perante os desmandos da sociedade, mas apelam para “uma parceria entre Deus e aqueles que vivem de acordo com os propósitos de Deus” (Warren Carter, evangelho de Mateus, p.183), enquanto aguardam o “império dos céus” e a utopia possível do governo de Deus, que é também a utopia do governo do povo (democracia). A tarefa dos pobres é lutar para frear a ganância dos mais ricos, e para frear os desmandos da sociedade.

P.Casimiro João    smbn          www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br


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