É uma tese aceita e
propugnada hoje pelos estudiosos bíblicos que o evangelho não é geográfico, e
não é histórico, mas teológico. Vejamos um exemplo no seguinte episódio do
evangelho de Lucas: “Aconteceu que
caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando
estava para entrar num povoado, 10 leprosos vieram ao seu encontro”
(Lc.17,11-12). Na sequência, foram curados mas só um deles voltou para
agradecer, “e este era samaritano”
(Lc.17,16).
Aqui não devemos ter
em conta: primeiro, se ele era um
samaritano ou não; segundo, se os leprosos eram dez ou vinte. O que
interessa é a lição moral a tirar: que era preciso ir levar o evangelho aos
samaritanos. Porquê? Porque na época em que estava sendo escrito o evangelho as
comunidades discutiam se podiam ir aos samaritanos ou não. Isto fundamentava-se
na ordem que Jesus teria dado aos discípulos quando os mandou ir de dois em
dois “anunciar o reino de Deus”. E lhes deu esta ordem: “Não entrem nas cidades
dos samaritanos”(Mt.10,5 e Lc.10,1-13). Com o andar dos tempos, pelo ano 70 já
depois de Jesus, punha-se o problema se deviam ou não admitir os samaritanos
nas comunidades incipientes. Os historiadores contam que Jesus em vida não pisou
em terras dos samaritanos.
Em segundo lugar, vem
destacado o exemplo do único leproso que agradeceu, “que era
samaritano”. Elogio proposital para incentivar que eles, os samaritanos eram
gente boa, sim, de tal maneira que aquele samaritano “venceu na fé e na
gratidão “os próprios judeus” que não eram samaritanos. Dá para entender
tranquilamente a finalidade teológica do caso.
Aliás, há nos
evangelhos casos semelhantes somente para adular também os romanos, e chamá-los
ao evangelho e às comunidades, da seguinte maneira: Que a fé do centurião
romano ultrapassou também a fé de Israel, quando foi curado um servo do
centurião romano. “Em verdade eu vos digo
que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”(Lc.7,9). É então outro caso
paralelo a este, digamos, outra parábola igual essa. E porque era preciso
adular os romanos dessa maneira? Os estudiosos dizem que o objetivo era
agradá-los para que eles não perseguissem as comunidades, e para que eles
também viessem a fazer parte das comunidades incipientes, uma vez que todos são
chamados à salvação, samaritanos e romanos.
Que o evangelho não é
geográfico e nem histórico podemos ver por mais exemplos: Até hoje em dia não
se sabe o ano do nascimento de Jesus, o dia de Natal. E porquê?
Porque foi escolhido o dia 25 de dezembro? Por um motivo teológico,
seguinte: Para os romanos e pagãos o dia 25 de dezembro era o dia do sol,
o deus Mitra dos romanos e dos povos conquistados por Roma. O dia 25 de dezembro era uma das maiores festas do
império romano: o dia do deus Mitra, o Sol invicto que unia romanos e povos conquistados
na mesma crença. O nome Mitra remonta à divindade indo-iraniana do zoroastrismo
que significa luz, sol, misericórdia, amizade, amor. Essa divindade com “mil
ouvidos”, com “dez mil olhos” foi adotada pelos romanos. O Sol invicto tornou-se
a primeira divindade dos romanos em 270 d.C. quando o imperador Aureliano fez
do deus Sol a primeira divindade do império. Foi por isso que no ano de 354 o
Papa Júlio I aproveitou essa ocasião para celebrar no dia 25 de dezembro o dia
do nascimento de Cristo ou dia de NATAL, pois até ali não havia nenhuma celebração
do Natal. Foi assim transferido o deus-Sol para o
outro novo Sol, luz do Mundo, Jesus Cristo, com o objetivo de cristianizar
as celebrações realizadas nessa época do ano. O primeiro documento escrito que estabelece
o Natal em 25 de dezembro foi do Papa Júlio I no ano de 354 d.C. E, de
quebra, hoje os estudos histórico-científicos revelam que o nascimento de Jesus
aconteceu seis anos antes do que até aqui se supunha, portanto no ano 6 a.C.
(antes de Cristo).
A propósito: se tinha
anjos, se não tinha; se tinha reis, se não tinha, não são dados históricos, mas
teológicos.
Conclusão
A este respeito, sobre a nossa colocação, o autor M.Eugene Boring afirma: O
evangelho de Lucas divide-se em três seções: primeiro, a seção do Antigo
Testamento, iniciando com os esquemas do Antigo Testamento, (Lc.1-4);
segunda seção, o tempo de Jesus, (Lc.4-24); terceira seção, o tempo
da Igreja, (Lc.cap.24, continuando com os Atos dos Apóstolos). (Cf.
M.Eugene Boring – Introdução ao Novo Testamento vol.II, 1054).
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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