Esta expressão de João reporta-se a uma
cena narrada no Livro de Números, cap.21, em que o povo murmurava contra Moisés
porque não tinham carne nem mantimentos no deserto, e então, no eufemismo de
época, o livro descreve que “Deus mandou
serpentes venenosas que os picaram, e morreram muitas pessoas”. (Num. 21, 1-6) Aí,
“por indicação” de Deus, Moisés teria levantado uma serpente de bronze num
poste, e quem olhasse para ela seria curado.” (Num.21,6s). Afinal, em tempos
mais antigos o filho de um deus teria vindo em socorro de pessoas que também
andavam no deserto, e eram picadas por serpentes. O povo orou ao seu deus,
assim como fez Moisés, e ele mandou o seu filho em socorro desse povo. Ele ficou
enrolado numa planta, o povo olhou bem para ele, e ficaram curados. Ficou
conhecido como Esculápio o filho do deus Apolo. Essa lenda deu origem ao
logotipo da Medicina, e deu origem à narrativa da Bíblia de que falei
acima.(Cf.Philipe Wajdenbaum, “os argonautas do deserto”, p.190). Naquela época
os autores já tinham este método de “Ctrl” (copia e cola), e assim fez o autor
do Livro de Números, num método de adaptação como aconteceu com a data do
NATAL. Por seu lado os autores do evangelho de João se inspiraram aí para
completar: “do mesmo modo como Moisés
levantou a serpente no deserto assim é necessário que o Filho do Homem seja
levantado, para que todos que nele crerem tenham a vida eterna”.(Jo.3,6). Isto é, no seu catecismo os autores deste evangelho foram buscar a citação de
Números, assim como o livro de Números foi buscar a cena de Esculápio. Isto
chama-se uma adaptação. Há outros exemplos destas adaptações na Igreja. Uma
delas é a data do Natal. Ninguém sabia a data do nascimento de Jesus na época
de Constantino, séc.IV, então a Igreja aproveitou a festa do deus Mytra o deus
Sol, que era celebrada em Roma no dia 25 de dezembro, para transformá-lo no dia
do nascimento de Jesus. Esse dia era conhecido como a festa do “dies solis invicti natalis” quer dizer, o dia do nascimento do Sol
invicto. Trocado em miúdos, ficou chamada a Festa do Natal. Assim a celebração do Natal transformou e adaptou a
maior festa pagã do império romano para a festa do Natal. Assim a festa do deus
Mytra passou a ser a festa de Jesus no Novo Testamento. No próprio império
romano nascia a maior festa cristã nas raízes da maior festa pagã. A isto
chama-se transformação e adaptação. Se fossemos enumerar o que há de mais casos
históricos levaria muito tempo e páginas e paciência. No título desta página
fizemos referência a outro dito do evangelho de João, referindo-se justamente à
posição de Jesus na cruz: “olharão para
aquele que transpassaram” (Jo.19,37). Mais uma referência à recomendação de
Números: “Os que olharem, i.é, os que
virem ficarão curados”. Essas mesmas
palavras vêm no primitivo quadro do deus Esculápio filho do deus Apolo: ”Olhem bem para ele, escondido na planta,
para ficarem curados”.(Ph. Wajdenbaum o.c.p.197). João também diz que isso já tinha sido proferido pelo profeta
Zacarias. No entanto os comentadores referem o pronunciamento de Zacarias à
morte de Josias, o último rei de Judá, morto por um sodado egípcio na batalha
de Meguido. E as palavras são diferentes: Eles
olharão para mim por causa daqueles que foram transpassados e lamentarão como
quem lamenta a morte de seu único filho, ou a morte de um primogênito”
(Zac.12,10). Também os estudiosos notam que esta citação não aparece em
nenhum outro evangelho, nem em lado nenhum do N.T. e nem em São Paulo. Aliás, em épocas posteriores ao profeta Zacarias eram lidas também edições do escritos do famoso Apolônio de Rodes, o autor do livro original que referimos "Os argonautas" onde narra as curas de Esculápio.
Conclusão.
Parafraseando o evangelho, no nosso tempo diríamos que não basta olhar só para
Jesus na cruz. Essa atitude era a atitude histórica do povo sofredor no meio
das “serpentes”, mas agora o povo sofredor está no meio das ruas das grandes
cidades, e são picados pelos venenos das políticas exclusivas que os desprezam,
os marginalizam e matam de morte matada pela arma das policias, pela arma dos
vigias de supermercados dos que os vigiam como não tendo o direito de entrar
nos supermercados. E no meio de tudo isso há a mística quase nunca entendida: “O que fizerem ao menor dos meus irmãos é a
mim que estarão fazendo”. (Mt.25,40).
P.Casimiro João
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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