segunda-feira, 25 de março de 2024

TEOLOGIA BÍBLICA, “Olharão para aquele que transpassaram.” (Jo,19,37).


 

Esta expressão de João reporta-se a uma cena narrada no Livro de Números, cap.21, em que o povo murmurava contra Moisés porque não tinham carne nem mantimentos no deserto, e então, no eufemismo de época, o livro descreve que “Deus mandou serpentes venenosas que os picaram, e morreram muitas pessoas”. (Num. 21, 1-6) Aí, “por indicação” de Deus, Moisés teria levantado uma serpente de bronze num poste, e quem olhasse para ela seria curado.” (Num.21,6s). Afinal, em tempos mais antigos o filho de um deus teria vindo em socorro de pessoas que também andavam no deserto, e eram picadas por serpentes. O povo orou ao seu deus, assim como fez Moisés, e ele mandou o seu filho em socorro desse povo. Ele ficou enrolado numa planta, o povo olhou bem para ele, e ficaram curados. Ficou conhecido como Esculápio o filho do deus Apolo. Essa lenda deu origem ao logotipo da Medicina, e deu origem à narrativa da Bíblia de que falei acima.(Cf.Philipe Wajdenbaum, “os argonautas do deserto”, p.190). Naquela época os autores já tinham este método de “Ctrl” (copia e cola), e assim fez o autor do Livro de Números, num método de adaptação como aconteceu com a data do NATAL. Por seu lado os autores do evangelho de João se inspiraram aí para completar: “do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos que nele crerem tenham a vida eterna”.(Jo.3,6).  Isto é, no seu catecismo os autores  deste evangelho foram buscar a citação de Números, assim como o livro de Números foi buscar a cena de Esculápio. Isto chama-se uma adaptação. Há outros exemplos destas adaptações na Igreja. Uma delas é a data do Natal. Ninguém sabia a data do nascimento de Jesus na época de Constantino, séc.IV, então a Igreja aproveitou a festa do deus Mytra o deus Sol, que era celebrada em Roma no dia 25 de dezembro, para transformá-lo no dia do nascimento de Jesus. Esse dia era conhecido como  a festa do “dies solis invicti natalis” quer dizer, o dia do nascimento do Sol invicto. Trocado em miúdos, ficou chamada a Festa do Natal. Assim a celebração do Natal transformou e adaptou a maior festa pagã do império romano para a festa do Natal. Assim a festa do deus Mytra passou a ser a festa de Jesus no Novo Testamento. No próprio império romano nascia a maior festa cristã nas raízes da maior festa pagã. A isto chama-se transformação e adaptação. Se fossemos enumerar o que há de mais casos históricos levaria muito tempo e páginas e paciência. No título desta página fizemos referência a outro dito do evangelho de João, referindo-se justamente à posição de Jesus na cruz: “olharão para aquele que transpassaram” (Jo.19,37). Mais uma referência à recomendação de Números: “Os que olharem, i.é, os que virem ficarão curados”. Essas mesmas palavras vêm no primitivo quadro do deus Esculápio filho do deus Apolo: ”Olhem bem para ele, escondido na planta, para ficarem curados”.(Ph. Wajdenbaum o.c.p.197). João também diz que isso já tinha sido proferido pelo profeta Zacarias. No entanto os comentadores referem o pronunciamento de Zacarias à morte de Josias, o último rei de Judá, morto por um sodado egípcio na batalha de Meguido. E as palavras são diferentes: Eles olharão para mim por causa daqueles que foram transpassados e lamentarão como quem lamenta a morte de seu único filho, ou a morte de um primogênito” (Zac.12,10). Também os estudiosos notam que esta citação não aparece em nenhum outro evangelho, nem em lado nenhum do N.T. e nem em São Paulo. Aliás, em épocas posteriores ao profeta Zacarias eram lidas também edições do escritos do famoso Apolônio de Rodes, o autor do livro original que referimos "Os argonautas" onde narra as curas de Esculápio.

Conclusão. Parafraseando o evangelho, no nosso tempo diríamos que não basta olhar só para Jesus na cruz. Essa atitude era a atitude histórica do povo sofredor no meio das “serpentes”, mas agora o povo sofredor está no meio das ruas das grandes cidades, e são picados pelos venenos das políticas exclusivas que os desprezam, os marginalizam e matam de morte matada pela arma das policias, pela arma dos vigias de supermercados dos que os vigiam como não tendo o direito de entrar nos supermercados. E no meio de tudo isso há a mística quase nunca entendida: “O que fizerem ao menor dos meus irmãos é a mim que estarão fazendo”. (Mt.25,40).

P.Casimiro João

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

Nenhum comentário: