O
povo de Israel tinha a ideia fixa de ser o carro-chefe do mundo, i.é, o mais
importante do mundo. Tanto os textos oficiais focavam nisso que todo o povo
internalizou esse imaginário. Até depois da morte de Jesus dois homens do povo
expressaram esse imaginário quando foram questionados sobre suas pretensões. E
afirmaram sem rodeios: “Nos esperávamos
que fosse ele quem havia de restaurar Israel , e agora, além de tudo isto, é
hoje o terceiro dia que estas coisas sucederam, mas a ele ninguém o viu”(Lc.
24,21-22). Israel tinha esse sonho fixo de ser uma ditadura imperial ao
jeito da Assíria antiga, a Pérsia, ou a Babilônia. E suspirava por aquele
momento em que chegasse a sua vez, ‘agora é a nossa vez’. Esse foi também o
grito expresso pelos discípulos de Jesus na hora da Ascensão: “É agora que vais inaugurar o reino de Israel”?
(At.1,6). Assim como hoje os USA, a Rússia e todas as ditaduras têm a ideia
fixa de dominar os povos e o mundo, assim eles tinham. E faziam alianças e mais
alianças. E no substrato dessas alianças o carro chefe era sempre a religião. A
suposta “presença” de Deus que estaria sempre “do seu lado” contra os outros
povos. A isso juntava-se o outro “imaginário” de ser o “povo escolhido”. Deus
estaria com eles e com os outros não. Vem daí o termo pagão, um termo de
desprezo. Pagão era tudo que não fosse judeu, na raça, na nação e na religião.
Gente portanto não “olhada” por Deus e considerada gente longe de Deus e sem
Deus, gente inferior e sem “salvação”, portanto desprezada por Deus e pela
nação. A própria Igreja teve os seus momentos mais piores da sua história
quando quis ser também a “maior”. Maior que os príncipes, do que os reis e do
que as nações. E maior do que as outras Igrejas quando foi questionada por
elas. No judaísmo, como no cristianismo criou-se a ideia e a ideologia da
“religião superior”, e, se ela era a “religião superior”, as outras eram
“inferiores”: as Igrejas orientais, as Igrejas evangélicas, as religiões
africanas, as religiões indígenas, as chinesas e japonesas e das Ilhas, e afro-brasileiras.
A gênese disso é uma herança nefasta da “falsa superioridade” dos judeus em
relação aos outros. Donde se gera o desprezo e a discriminação para com os
outros considerados “inferiores”. Neste tempo isso tem um nome: marginalização
e discriminação. Desse imaginário de ser a “religião superior” veio também a
“obrigatoriedade” da circuncisão, i.é, todo estrangeiro (ou “pagão”) teria que
ser circuncidado para que se salvasse. Então teria, digamos assim, de tornar-se
judeu. E, de quebra, passou para a Igreja dos primeiros tempos a
obrigatoriedade de ser batizado. É notório o que se afirmava quando houve as
primeiras tentativas da evangelização da China. Foi quando se falou que “todo
chinês tem que deixar de ser chinês para ser cristão”. O que implicava
costumes, roupas, oração e ritos litúrgicos e vestes litúrgicas. Veja que
palavra bárbara essa! Só mais tarde se atentou na “enculturação”, não levando a
cultura da Europa para a China, mas levando a Igreja para dentro da cultura
chinesa. Assim como levando a Igreja para dentro das culturas africanas e
japonesas. No tocante ao Brasil adotou-se o termo de religião e cultura
afro-brasileira. Contra o “orgulho de ser religioso” temos toda a conduta de
Jesus, bem expressa quando verberou esse orgulho dos fariseus: “Ai de vós escribas e fariseus, percorreis a
terra e o mar para fazerdes um prosélito, e depois de o terdes feito, o fazeis
duas vezes mais filho do inferno do que vós”.(Mt.20,15).
Ainda
bem que a Igreja deu o braço a torcer nessa luta do orgulho da religião quando
reconheceu que a Igreja não era maior que a ciência, depois mais tarde quando
reconheceu o direito dos povos e das pessoas à “liberdade de religião” e “à
liberdade de consciência”. Digamos que o orgulho religioso é um dos piores
orgulhos e é fonte de outros grandes pecados, como de perseguição a outras
religiões e considerá-las inferiores e marginais. E quando se conta com o poder
político como aliado, além de perseguir, ainda se prende e se mata.
Conclusão. O orgulho do católico muitas vezes se
baseia no que os “outros não têm” como aquele “culto”, aquela missa e a
comunhão. Porém, a comunhão ou eucaristia é um meio, não é um fim. Ora as
outras religiões têm outros meios de salvação. E quantas vezes uma religião até
bem “pequenina”, digamos, tem muita gente boa e santa, que fazem muito bem,
enquanto que na “comunhão” poderá ter gente que comunga todos os dias e não
pratica benzinho nenhum. Seria como ter uma enxada e não utilizá-la; Ou como
ter um celular e não usar. Lembremos que o mundo está quase com 10 bilhões de
pessoas, e só um bilhão tem essa eucaristia e comunhão. Porém, a salvação de
todos esses oito ou nove bilhões está garantida, mesmo sem a eucaristia e a
comunhão.(Vat.II L.Gentium, 16).
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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