Há um pedido na oração do Pai Nosso que
a maior parte de nós insiste e demora aí talvez achando que seja a parte mais
importante. É aquele versículo: “Perdoa
as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, destacando
aquele “assim como”. Mas será mais
importante esse versículo, ou as palavras iniciais: “Pai nosso”? Não estaremos nós fazendo de Deus um comerciante que
paga com a mesma medida e moeda? Aquele “assim como” parece induzir a isso. Ou
faremos de Deus um parceiro, um igual a nós? “Pago se você me pagar”, perdoo
se você perdoar”? Não seria assim fazer de Deus à nossa imagem e
semelhança? Enquanto que devemos ser a “imagem
e semelhança” de Deus fazemos Deus à nossa imagem e semelhança. Quer dizer,
Deus perdoa sempre e nós devemos nos esforçar também por perdoar; não quer
dizer que Deus só perdoa se nós perdoarmos. Não começamos assim, Pai Nosso? E depois trocamos tratando Deus como um
carrasco. O fato de nos fixarmos naquele versículo perdoa como nós perdoamos já levou pessoas à depressão, e outros a
dizer: você não pode rezar o Pai Nosso se
você não perdoar. Problema gerador de medo, afastamento de Deus,
incrementação da culpa, e internalização só de uma coisa: Deus é “inimigo”,
porque não me perdoa e nem olha para a minha pessoa. Semelhante situação é
igual àquela onde se diz: “com a mesma
medida com que vocês medem os outros serão medidos”(Lc.7,2). Sempre o Deus
carrasco, comerciante, e igual a nós nos contratos, contratos comerciais. Indo
agora para outros ditos, encontramos aquela sentença: Sede santos, sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”
(Lc.6,36). A pergunta é esta: quem é que pode ser santo como o Pai do céu?
Misericordioso como o Pai do céu? Porém, tem uma saída: Isso é o ideal do
cristão. O cristão nunca pode se aposentar. O cristão nunca pode pendurar as
chuteiras. Temos que olhar para os 100 por cento, mas com a certeza que nunca chegaremos lá. A terra boa onde a semente foi plantada, uma produz 30,
outra 60 e outra 80 por cento, quem produz 100 por cento? (Mt.cap.13). Falando ainda sobre as “ofensas”, a
melhor tradução seria “dividas” o que
nos introduz nas “dívidas” bíblicas relatadas no Levítico sobre o ano do
jubileu pelo qual as terras arrancadas ao pobre como paga de suas dívidas lhe
deviam ser restituídas ao fim de sete anos. “O uso desta linguagem na oração
relembra o tema profético de que o culto é fazer justiça, i.é, perdoar a divida
e assegurar que o pobre tenha acesso aos recursos de que ficou privado por sete
anos” (W.Carter, Comentário do evangelho de Mateus, p.224). Vale dizer que o
pobre teria sido privado dos frutos de suas terras por sete anos, e o rico
proprietário se aproveitou usando as terras dele por sete anos para recuperar a
dívida. Assim, enquanto que o credor lucrou por 7 anos, o pobre perdeu por 7
anos. É um pedido social, familiar, no seu sentido básico, bíblico-histórico.
Porque se tivesse em primeira mão o sentido espiritual e “moralista” estaria
fora do alcance bíblico, porque que para os judeus tudo se resumia nesta terra,
a felicidade aqui e agora, na terra “conquistada”.
Conclusão.
De tudo que falamos acrescentamos que a “salvação” para o judeu não se
orientava para a vida do além, mas tudo se realizava aqui na terra. “Se observares estas minhas palavras e as
puseres em prática em prática serás feliz porque entrarás na terra que eu
prometi das aos vossos pais”.(Dt.11,20-21). A “terra prometida” era aqui
mesmo. Por isso o “perdoar” ou não “perdoar” não tinha muito a ver, ou nada,
“com aquele perdoar que foi imaginado depois, mas com aquelas “dívidas” que
faziam a pobreza ou a riqueza aqui na terra. É este o perdão bíblico que está
aí em questão e que afinal das contas não foi tão mal interpretado para um
sentido moralista e espiritualista, mas bastante oportuno, até porque o nosso
ambiente é outro e não mais o ambiente ruralista do perdão das dívidas do campo.
Foi feliz transposição e adaptação, mas sem esquecer o que significava para
aquela época em que foi escrito e para os leitores para quem foi escrito. Temos
portanto dois níveis de destinatários, os do tempo da escrita, e o nosso agora.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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