Um dia Jesus teria feito esta
afirmação: “Meu Pai trabalha sempre
portanto também eu trabalho”. (Jo.5,17). Com esta afirmação, Jesus
aumentava a pólvora para se queimar. Esta afirmação vem em sequência de uma
discussão sobre o sábado, quando tinha acontecido a cura do paralítico junto à
piscina de Betesda em dia de sábado. Por esse motivo mais os judeus se
acirravam, e achando Jesus ousado demais, eles “com maior ardor procuravam tirar-lhe a vida porque não somente violava
o repouso sabático mas afirmava que Deus era seu Pai” (Jo.5,17-18). E vem
então um discurso magistral supostamente de Jesus que envolve: a ação de Jesus
sobre o sábado; sobre a ressurreição dos mortos; sobre o julgamento; sobre a
“hora” de Jesus; sobre os túmulos abertos; sobre o testemunho de João e sobre a
glória e sobre Moisés (Jo.5, 19-47). Em primeiro lugar. O mote que deu lugar ao
discurso é aquele do sábado “Meu Pai
trabalha sempre portanto também eu trabalho”. (Jo.5,17). O Livro do Gênesis
afirma que “Deus descansou no sétimo dia de toda obra que tinha feito”(Gn.2,3), no entanto, os próprios rabinos
já tinham mudado isso na sua teologia dizendo que “Deus e a Providência permanece
ativa durante o sábado porque no
sábado homens nascem, e homens morrem
no sábado, e Deus tem que lidar com todos”. (R.Brown, “Comentário do
evangelho de João, vol I, p.440). Os
Judeus ai não tiveram problema ao mudar a teologia inicial do Gênesis. O
princípio dessa mudança era que, na teologia dos rabinos Deus tem três chaves:
a chave da chuva, a chave do nascimento e a chave da morte. (R.Brown). O problema
dos judeus era passar de leve sobre o privilégio sabático, que era peculiar de
Deus e ninguém era igual a Deus. As setas deles já começavam por aí, e
continuavam sobre a suposta arrogância de Jesus que reivindicava para si o mesmo direito de Deus. De todos os lados
Jesus estava cercado. Ainda mais quando Jesus, avançando no seu sermão afirmou
que ele e o Pai eram “Um”. Aí Jesus deu o braço a torcer na quebra de braço e
explicou que ele não veio por própria
iniciativa mas foi envidado por Deus. Por isso o que envia e o que é
enviado são um só. E ainda que o “filho faz o que vê o pai fazer”(Jo.5,19) numa
referência às oficinas familiares da época em que todo filho aprendia com as
habilidades do pai.(o.c.p.443). Depois destes itens, segundo os estudiosos
teria havido umas três edições neste capítulo de João que consta de um discurso
com vários temas (o.c.p.446). O segundo redator teria ido buscar da cena de
Caná o tema da “hora” de Jesus: “em
verdade, em verdade lhes digo, vem a “hora”, e já está aí, em que os mortos
ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que ouvirem viverão.” (Jo.5,25). Esse
segundo redator juntou o tema da “hora”, que seria a hora da Paixão, com o tema
escatológico da ressurreição dos mortos (o.c.p.446). Com efeito, o tema da
ressurreição não vem nos primeiros tempos do Antigo Testamento, mas só foi
colocado nos últimos livros da Bíblia no século II a.C. por influência dos
caldeus e babilônicos com quem eles conviveram no cativeiro e aprenderam essa
doutrina. Na verdade, se o justo sofre tanto e o malvado morre sem castigo, tem
que isso acontecer na outra vida. Assim os judeus aprenderam na própria pele
mas nunca tinham feito uma reflexão. Então concluíram que se o justo sofre
tanto tem que haver uma ressurreição para ele com glória, e um castigo, ou um inferno
para os torturadores. É na base deste elemento escatológico que no evangelho de
Mateus aparece bem expresso junto com outros elementos escatológicos na hora da
morte de Jesus, a seguinte afirmação “Eis
que os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram saindo
de suas sepulturas, entraram na Cidade santa e apareceram a muitas
pessoas”.(Mt.27,51-53). E um
terceiro redator terá tecido mais uma reflexão para completar o discurso deste
cap.5 de João e este sermão, aproveitando dois links do Antigo Testamento: um
do apocalipse de Daniel quando apesenta a visão do “filho do Homem”(Dn.cap.7)
em que o Pai entregou o julgamento ao filho: “Assim também o Pai não julga ninguém mas entregou todo julgamento ao
Filho” (Jo.5,23-24). Devemos até notar que este redator esqueceu que outras
vezes Jesus afirmou que ele não julga ninguém (“eu não julgo ninguém”(Jo.8,15). E foi buscar outro link no
cap.37,1-8 de Ezequiel na sua visão apocalítica de um vale cheio de ossos
ressequidos, e que pelo sopro divino voltaram à vida. Nós sabemos que
apocalipses são uma parábola. E parábola é escrever uma coisa para significar
outra. Como no exemplo do “Pequeno príncipe”, de Saint Exupéry, que, perdido no
deserto foi socorrido por uma estrela que se transformou no “pequeno príncipe”
que o levou às águas do deserto, é uma parábola moderna.
Conclusão
É admirável como da cura de um paralítico saem ganchos para um discurso tão
central como este de João. E na análise dos últimos especialistas bíblicos
vejamos o que nos dizem a respeito: “A tendência crítica é avaliar tal discurso
como o produto da teologia cristã posterior ao 1º século, com pouco ou nenhum
fundamento na tradição primitiva das palavras de Jesus”(o.c.p.440). Resumindo,
e como afirmado detalhadamente sobre os vários redatores, os evangelistas se
inspiraram em alguns ditos soltos de Jesus e links de outras Escrituras e tudo
indica que “tenham feito no produto final uma organização e aprofundamento
teológico que refletem uma perspectiva final e mais elaborada.(Bliglh,131)”o.c.p.440. Finalmente retomando o
nosso título: A ação de Jesus sobre o sábado e a lei, tivemos ocasião de não só
ver a ação de Jesus, mas conferir a ação dos redatores evangelistas para moldar
e organizar um discurso atribuído a Jesus, porém com mais quantidade de
reflexões e aportes de compartilhamentos deles do que de ditos de Jesus. Isto
quer dizer que o “Jesus” apresentado nos evangelhos é mais um “Jesus” da
teologia pós pascal, como dizem os estudiosos, do que o Jesus histórico ou pré
pascal.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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