segunda-feira, 22 de julho de 2024

TEOLOGIA BÍBLICA, A AÇÃO DE JEUS SOBRE O SÁBADO E A LEI

 

Um dia Jesus teria feito esta afirmação: “Meu Pai trabalha sempre portanto também eu trabalho”. (Jo.5,17). Com esta afirmação, Jesus aumentava a pólvora para se queimar. Esta afirmação vem em sequência de uma discussão sobre o sábado, quando tinha acontecido a cura do paralítico junto à piscina de Betesda em dia de sábado. Por esse motivo mais os judeus se acirravam, e achando Jesus ousado demais, eles “com maior ardor procuravam tirar-lhe a vida porque não somente violava o repouso sabático mas afirmava que Deus era seu Pai” (Jo.5,17-18). E vem então um discurso magistral supostamente de Jesus que envolve: a ação de Jesus sobre o sábado; sobre a ressurreição dos mortos; sobre o julgamento; sobre a “hora” de Jesus; sobre os túmulos abertos; sobre o testemunho de João e sobre a glória e sobre Moisés (Jo.5, 19-47). Em primeiro lugar. O mote que deu lugar ao discurso é aquele do sábado “Meu Pai trabalha sempre portanto também eu trabalho”. (Jo.5,17). O Livro do Gênesis afirma que “Deus descansou no sétimo dia de toda obra que tinha feito”(Gn.2,3), no entanto, os próprios rabinos já tinham mudado isso na sua teologia dizendo que Deus e a Providência permanece ativa durante o sábado porque no sábado homens nascem, e homens morrem no sábado, e Deus tem que lidar com todos”. (R.Brown, “Comentário do evangelho de João, vol I, p.440).  Os Judeus ai não tiveram problema ao mudar a teologia inicial do Gênesis. O princípio dessa mudança era que, na teologia dos rabinos Deus tem três chaves: a chave da chuva, a chave do nascimento e a chave da morte. (R.Brown). O problema dos judeus era passar de leve sobre o privilégio sabático, que era peculiar de Deus e ninguém era igual a Deus. As setas deles já começavam por aí, e continuavam sobre a suposta arrogância de Jesus que reivindicava para si  o mesmo direito de Deus. De todos os lados Jesus estava cercado. Ainda mais quando Jesus, avançando no seu sermão afirmou que ele e o Pai eram “Um”. Aí Jesus deu o braço a torcer na quebra de braço e explicou que ele não veio por própria  iniciativa mas foi envidado por Deus. Por isso o que envia e o que é enviado são um só. E ainda que o “filho faz o que vê o pai fazer”(Jo.5,19) numa referência às oficinas familiares da época em que todo filho aprendia com as habilidades do pai.(o.c.p.443). Depois destes itens, segundo os estudiosos teria havido umas três edições neste capítulo de João que consta de um discurso com vários temas (o.c.p.446). O segundo redator teria ido buscar da cena de Caná o tema da “hora” de Jesus: “em verdade, em verdade lhes digo, vem a “hora”, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que ouvirem viverão.” (Jo.5,25). Esse segundo redator juntou o tema da “hora”, que seria a hora da Paixão, com o tema escatológico da ressurreição dos mortos (o.c.p.446). Com efeito, o tema da ressurreição não vem nos primeiros tempos do Antigo Testamento, mas só foi colocado nos últimos livros da Bíblia no século II a.C. por influência dos caldeus e babilônicos com quem eles conviveram no cativeiro e aprenderam essa doutrina. Na verdade, se o justo sofre tanto e o malvado morre sem castigo, tem que isso acontecer na outra vida. Assim os judeus aprenderam na própria pele mas nunca tinham feito uma reflexão. Então concluíram que se o justo sofre tanto tem que haver uma ressurreição para ele com glória, e um castigo, ou um inferno para os torturadores. É na base deste elemento escatológico que no evangelho de Mateus aparece bem expresso junto com outros elementos escatológicos na hora da morte de Jesus, a seguinte afirmação “Eis que os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade santa e apareceram a muitas pessoas”.(Mt.27,51-53).  E um terceiro redator terá tecido mais uma reflexão para completar o discurso deste cap.5 de João e este sermão, aproveitando dois links do Antigo Testamento: um do apocalipse de Daniel quando apesenta a visão do “filho do Homem”(Dn.cap.7) em que o Pai entregou o julgamento ao filho: “Assim também o Pai não julga ninguém mas entregou todo julgamento ao Filho” (Jo.5,23-24). Devemos até notar que este redator esqueceu que outras vezes Jesus afirmou que ele não julga ninguém (“eu não julgo ninguém”(Jo.8,15). E foi buscar outro link no cap.37,1-8 de Ezequiel na sua visão apocalítica de um vale cheio de ossos ressequidos, e que pelo sopro divino voltaram à vida. Nós sabemos que apocalipses são uma parábola. E parábola é escrever uma coisa para significar outra. Como no exemplo do “Pequeno príncipe”, de Saint Exupéry, que, perdido no deserto foi socorrido por uma estrela que se transformou no “pequeno príncipe” que o levou às águas do deserto, é uma parábola moderna.

Conclusão É admirável como da cura de um paralítico saem ganchos para um discurso tão central como este de João. E na análise dos últimos especialistas bíblicos vejamos o que nos dizem a respeito: “A tendência crítica é avaliar tal discurso como o produto da teologia cristã posterior ao 1º século, com pouco ou nenhum fundamento na tradição primitiva das palavras de Jesus”(o.c.p.440). Resumindo, e como afirmado detalhadamente sobre os vários redatores, os evangelistas se inspiraram em alguns ditos soltos de Jesus e links de outras Escrituras e tudo indica que “tenham feito no produto final uma organização e aprofundamento teológico que refletem uma perspectiva final e mais elaborada.(Bliglh,131)”o.c.p.440. Finalmente retomando o nosso título: A ação de Jesus sobre o sábado e a lei, tivemos ocasião de não só ver a ação de Jesus, mas conferir a ação dos redatores evangelistas para moldar e organizar um discurso atribuído a Jesus, porém com mais quantidade de reflexões e aportes de compartilhamentos deles do que de ditos de Jesus. Isto quer dizer que o “Jesus” apresentado nos evangelhos é mais um “Jesus” da teologia pós pascal, como dizem os estudiosos, do que o Jesus histórico ou pré pascal.

P.Casimiro João   smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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