segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O MAIOR TESOURO

 

Se perguntarmos, facilmente ouviremos a resposta: a fé. Porém, a fé divide, o amor une. O amor vale mais do que a fé (1Cor.13,13). Há a fé dos protestantes, dos Orientais, dos afro-brasileiros, dos chineses, dos japoneses, dos africanos, dos indígenas de todos os continentes e dos católicos. A fé divide, o amor une. A própria Igreja e as Igrejas protestantes já mataram por causa da fé. Quantas brigas hoje por causa da fé ainda existem. Porém quando há terramotos, tsunamis, chove gente de todo lado para ajudar e ninguém pergunta qual é a sua fé? A fé é diferente, o amor é o mesmo. Esse é o tesouro que sempre se esconde mas  que sempre precisamos descobrir. O grande tesouro do A.T. era a Torah, a Lei. No pórtico do Templo de Jerusalém estava esculpida uma videira de ouro de dois metros de altura significando a Torah. Na festa das luzes havia um grande letreiro “Eu sou a luz”, referente à luz da Torah, que depois Jesus aplicou a si mesmo, “Eu sou a luz”.  Pela Torah (lei) morriam e matavam. Na festa da Luz da Torah os sacerdotes carregavam sete candelabros de ouro com sete luminárias cada um, ao ritmo de hinos, aclamações e muito incenso. Este era o grande tesouro dos Judeus, a Torah. Pela Torah morriam e pela Torah matavam. Porém, veio São Paulo no princípio do cristianismo, e para ele o maior tesouro já não era mais a Torah, mas a morte de Jesus Cristo na cruz, donde a fé em Jesus tomou o lugar da Torah. Quase assim como se na morte de Jesus tivesse morrido também a Torah. “Abolindo na própria carne a Lei” (Ef.2,14). Então o maior tesouro ficou sendo a fé em Jesus Cristo. Porém, quando chegou a Idade Média, a fé em Jesus ficou em segundo lugar e a Igreja da Idade Média fez ressuscitar, digamos, de novo a Lei que, assim como a Torah, era defendida pela Igreja não já como a luz, mas como verdade da salvação, a “verdadeira Igreja” pela qual se morria e se matava. Por isso na Idade Média a maior preocupação da Igreja era a Lei. Preservar a Lei e atacar as heresias. E a teologia principal era a teologia Apologética. A Apologética tinha o único objetivo da defesa contra as heresias. Na verdade, quem se achava na posse total da verdade ou se achando “dona da verdade” achava que podia fazer tudo. Todos os que pensavam diferente deviam ser atacados. Esse era o tesouro escondido. Só que, paulatinamente, a Igreja começou a entrar na modernidade. O que diz a modernidade de hoje? O concilio de Latrão (1215) e de Florença (1442) tinham definido o jargão “Fora da Igreja não há salvação” atribuído a São Justino (séc.II d.C.). No concilio Vaticano II esta doutrina teve uma nova história, onde se declarou o reconhecimento da verdade e da santidade que estão presentes em todas as religiões. “Todos os que buscam a Deus sinceramente e procuram cumprir a sua vontade conhecida por meio da sua consciência, e agem sob o influxo íntimo da graça podem obter a salvação” (Lumen Gentium, N.16). E: “A Igreja católica não rejeita o que é verdadeiro e santo em todas as religiões” (Nostra Aetate, N.2).(Cf.www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 26/11/23). No séc.II a.C. filósofos pagãos  já tiveram intuições que nos surpreendem como estas: “Os atos de benevolência em relação ao próximo constituem uma confirmação da ação do espirito divino que governa o mundo humano”. E ainda: “Como providência, razão Suprema e pai da humanidade, Deus identifica a sua vontade com a lei moral; cumprindo essa lei e purgando-se a si mesmo de toda afeição, o indivíduo se identifica com a divindade” (Sêneca, cf Helmut Koester, Introdução ao Novo Testamento, vol. I, p.357). O evangelho diz que há um tesouro escondido (Mt.13,44). E uma pérola. Como vimos, para os judeus era a Torah. Para São Paulo era a fé em Jesus Cristo na cruz. E para a Igreja a verdade da “verdadeira Igreja”. E para a modernidade qual será? Na verdade, se já não é mais a Torah (a Lei) que com São Paulo deu lugar à fé, e não mais também a verdade da “verdadeira Igreja”, fica então a pergunta qual será o maior tesouro que ainda a Igreja prega, depois da Torah e da fé em Jesus Cristo uma vez que se salvam também os que não têm a fé em Jesus Cristo? Espere: é o Amor. Como assim? Se pela Torah se matavam pessoas; se pela “verdadeira fé” se matavam pessoas, então tem que haver um outro tesouro que não mata. É o amor. E este amor já aqueles filósofos citados o anunciavam, e já as religiões antigas também quando afirmaram: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles”, (citado em Mt.7,12). E, vejamos, se acontecer que essas religiões façam isso e se a Igreja não fizer e apelando somente ao “divino” e destruindo o “humano”, que verdade e que tesouro estaria propondo? Como poderia invocar em seu favor a autoridade do “sagrado”? E aí se revela o maior tesouro e mais sagrado: nem “jejuns”, nem “sacrifícios” ou “orações”(Mc.2,18). Mas o amor se torna o maior tesouro e a melhor religião. O cantor Francisco Marinho já intuiu isto quando botou no seu repertório de suas canções essa aí: “O amor é a melhor religião”.

Conclusão. No final da história não haverá religiões. Já não existirá Budismo ou Hinduismo ou Xintoismo, Islamismo ou Judaismo ou Cristianismo. No final não existirá nenhuma religião, nem profeta nem iluminados, e nem Buda, e nem o próprio Jesus Cristo que entregará tudo a Deus Pai (Jo14,28).

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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