Se perguntarmos, facilmente ouviremos a
resposta: a fé. Porém, a fé divide, o amor une. O amor vale mais do que a fé
(1Cor.13,13). Há a fé dos protestantes, dos Orientais, dos afro-brasileiros,
dos chineses, dos japoneses, dos africanos, dos indígenas de todos os
continentes e dos católicos. A fé divide, o amor une. A própria Igreja e as
Igrejas protestantes já mataram por causa da fé. Quantas brigas hoje por causa
da fé ainda existem. Porém quando há terramotos, tsunamis, chove gente de todo
lado para ajudar e ninguém pergunta qual é a sua fé? A fé é diferente, o amor é
o mesmo. Esse é o tesouro que sempre se esconde mas que sempre precisamos descobrir. O grande
tesouro do A.T. era a Torah, a Lei. No pórtico do Templo de Jerusalém estava esculpida
uma videira de ouro de dois metros de altura significando a Torah. Na festa das
luzes havia um grande letreiro “Eu sou a luz”, referente à luz da Torah, que depois
Jesus aplicou a si mesmo, “Eu sou a luz”. Pela Torah (lei) morriam e matavam. Na festa
da Luz da Torah os sacerdotes carregavam sete candelabros de ouro com sete
luminárias cada um, ao ritmo de hinos, aclamações e muito incenso. Este era o
grande tesouro dos Judeus, a Torah. Pela Torah morriam e pela Torah matavam.
Porém, veio São Paulo no princípio do cristianismo, e para ele o maior tesouro já
não era mais a Torah, mas a morte de Jesus Cristo na cruz, donde a fé em Jesus
tomou o lugar da Torah. Quase assim como se na morte de Jesus tivesse morrido
também a Torah. “Abolindo na própria carne a Lei” (Ef.2,14). Então
o maior tesouro ficou sendo a fé em Jesus Cristo. Porém, quando chegou a Idade
Média, a fé em Jesus ficou em segundo lugar e a Igreja da Idade Média fez
ressuscitar, digamos, de novo a Lei que, assim como a Torah, era defendida pela
Igreja não já como a luz, mas como verdade da salvação, a “verdadeira Igreja”
pela qual se morria e se matava. Por isso na Idade Média a maior preocupação da
Igreja era a Lei. Preservar a Lei e atacar as heresias. E a teologia principal
era a teologia Apologética. A Apologética tinha o único objetivo da defesa
contra as heresias. Na verdade, quem se achava na posse total da verdade ou se
achando “dona da verdade” achava que podia fazer tudo. Todos os que pensavam
diferente deviam ser atacados. Esse era o tesouro escondido. Só que,
paulatinamente, a Igreja começou a entrar na modernidade. O que diz a
modernidade de hoje? O concilio de Latrão (1215) e de Florença (1442) tinham
definido o jargão “Fora da Igreja não há salvação” atribuído a São Justino (séc.II
d.C.). No concilio Vaticano II esta doutrina teve uma nova história, onde se
declarou o reconhecimento da verdade e da santidade que estão presentes em
todas as religiões. “Todos os que buscam
a Deus sinceramente e procuram cumprir a sua vontade conhecida por meio da sua
consciência, e agem sob o influxo íntimo da graça podem obter a salvação”
(Lumen Gentium, N.16). E: “A Igreja
católica não rejeita o que é verdadeiro e santo em todas as religiões” (Nostra
Aetate, N.2).(Cf.www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br 26/11/23). No
séc.II a.C. filósofos pagãos já tiveram
intuições que nos surpreendem como estas: “Os
atos de benevolência em relação ao próximo constituem uma confirmação da ação
do espirito divino que governa o mundo humano”. E ainda: “Como providência, razão Suprema e pai da
humanidade, Deus identifica a sua vontade com a lei moral; cumprindo essa lei e
purgando-se a si mesmo de toda afeição, o indivíduo se identifica com a
divindade” (Sêneca, cf Helmut Koester, Introdução ao Novo Testamento, vol. I,
p.357). O evangelho diz que há um tesouro escondido (Mt.13,44). E uma
pérola. Como vimos, para os judeus era a Torah. Para São Paulo era a fé em
Jesus Cristo na cruz. E para a Igreja a verdade da “verdadeira Igreja”. E para
a modernidade qual será? Na verdade, se já não é mais a Torah (a Lei) que com
São Paulo deu lugar à fé, e não mais também a verdade da “verdadeira Igreja”,
fica então a pergunta qual será o maior tesouro que ainda a Igreja prega,
depois da Torah e da fé em Jesus Cristo uma vez que se salvam também os que não
têm a fé em Jesus Cristo? Espere: é o Amor. Como assim? Se pela Torah se
matavam pessoas; se pela “verdadeira fé” se matavam pessoas, então tem que
haver um outro tesouro que não mata. É o amor. E este amor já aqueles filósofos
citados o anunciavam, e já as religiões antigas também quando afirmaram: “Tudo o que quereis que os homens vos façam,
fazei-o também a eles”, (citado em Mt.7,12). E, vejamos, se acontecer que
essas religiões façam isso e se a Igreja não fizer e apelando somente ao
“divino” e destruindo o “humano”, que verdade e que tesouro estaria propondo?
Como poderia invocar em seu favor a autoridade do “sagrado”? E aí se revela o
maior tesouro e mais sagrado: nem “jejuns”, nem “sacrifícios” ou “orações”(Mc.2,18).
Mas o amor se torna o maior tesouro e a melhor religião. O cantor Francisco
Marinho já intuiu isto quando botou no seu repertório de suas canções essa aí:
“O amor é a melhor religião”.
Conclusão.
No final da história não haverá religiões. Já não existirá Budismo ou Hinduismo
ou Xintoismo, Islamismo ou Judaismo ou Cristianismo. No final não existirá
nenhuma religião, nem profeta nem iluminados, e nem Buda, e nem o próprio Jesus
Cristo que entregará tudo a Deus Pai (Jo14,28).
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário