segunda-feira, 9 de setembro de 2024

NAQUELE TEMPO DISSE MOISÉS.

 

Naquele tempo disse Moisés: “Nada acrescenteis e nada tireis à palavra que vos digo”. Esta ordem vem em Dt.4,2. Outra vez Jesus disse: “As doutrinas que ensinais são preceitos humanos” (Mc.7,7). Para os fundamentalistas e literalistas aquela palavra de Moisés deverá ser uma base importante, “nada acrescentar ou tirar”. Só que não era bem assim que os judeus faziam, mas eles mexeram e remexeram muito nos escritos da Bíblia. Partes importantes da Bíblia foram refundidas e reeditadas e retocadas. Os exemplos são as edições conhecidas como eloísta, javeista e sacerdotal, conforme essas equipes usavam o nome de Eloin, ou de Javé para Deus, e revisões de equipes de sacerdotes para tratar sobre o Altar, regras de culto, vestes sacerdotais, pureza sacerdotal, e demais itens envolvendo o Templo. Depois disso foram aumentando mais comentários que ficaram nas páginas até hoje. Outras vezes quando as cópias não estavam bem conservadas o novo redator escrevia o que lhe parecia melhor segundo o seu entendimento ou a sua teologia. Este tipo de acrescentos ou acréscimos prolongou-se até o séc. II d.C. quando fizeram a convenção de Jamia, e aí definiram que não mais podiam fazer retoques na Bíblia. Como então interpretar a palavra de Moisés, “nada acrescenteis, nada tireis”, seria igual a dizer: o que lhes disse é muito importante, prestem muita atenção. E na verdade, na polêmica de Jesus com os fariseus e mestres da lei, Jesus ou o redator até teriam debochado sobre tais tradições para as quais eles apelavam (Mc.7,7-8). Quer dizer em todas as religiões há a Tradição. Digamos que a Tradição é o arcabouço das verdades provenientes dos fundadores das religiões, e da sua fé. Dizíamos na página anterior que fé é a maneira de cada povo entender Deus. Além da Tradição fundamental há tradições que podemos chamar também costumes, “é costume”, “era costume”. Toda a religião tem seus costumes como tem a sua Tradição. E no cristianismo tinha tradições que já mudaram, ou acabou o seu tempo de validade, assim como acabou o tempo de validade para a Circuncisão dos Judeus, e as regras de “puro e impuro”. Na Igreja acabou a “tradição” de batizar logo cedo as crianças, hoje em dia não há obrigação de tempo e nem “obrigação” de batizar, deixando à consciência dos pais, e se a pessoa for adulta, à consciência e vontade dela. Outra tradição é aquela que dizia: “fora da Igreja não há salvação”. Este jargão reinou em toda a Idade Média e é atribuído a São Justino, séc.II d.C. Na verdade, naquela época nem sonhavam com a evolução dos tempos modernos como a liberdade de consciência e liberdade de religião que foi abraçada também pela Igreja católica e sacramentada pelo concílio vaticano II no N.16 da Lumen gentium e N.2 da Constituição Nostra Aetatae onde se diz que todas as religiões têm verdade e santidade que são reconhecidas pela Igreja. E quem cumprir de boa consciência as suas religiões encontra a salvação. Vemos então que há a Tradição, e também as tradições ou costumes. E também “tradicionalismos” quando as pessoas dão mais importância aos costumes do que ao central da fé. Digamos que dão importância e se prendem com muitas frescuras como se diz na gíria do Nordeste do Brasil. No evangelho, eles preocupavam-se demais com as tradições ou “frescuras” “recebidas dos antigos” (Mc.7,3). “Abandonais os mandamentos para seguir as tradições dos homens” (Mc.7,14).

Conclusão. Suponho que colocamos no seu devido lugar aquela “ordem” de Moisés no cap.IV do Deuteronômio. Moisés fez como os reis da antiguidade, que tinham já os termos consagrados para marcar a sua autoridade: “Este decreto foi por mim decretado e não pode ser alterado”. Moisés não fez outra coisa senão isso que faziam os fundadores de antigas religiões e os imperadores quando publicavam seus decretos: E assim vemos o mesmo procedimento no evangelho de Mateus: “Nem uma só letra ou vírgula serão tiradas na Lei até que tudo se cumpra” (Mt.5,17).

P.Casimiro João        smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

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