Naquele tempo disse Moisés: “Nada acrescenteis e nada tireis à palavra
que vos digo”. Esta ordem vem em Dt.4,2. Outra vez Jesus disse: “As doutrinas que ensinais são preceitos
humanos” (Mc.7,7). Para os fundamentalistas e literalistas aquela palavra
de Moisés deverá ser uma base importante, “nada acrescentar ou tirar”. Só que
não era bem assim que os judeus faziam, mas eles mexeram e remexeram muito nos
escritos da Bíblia. Partes importantes da Bíblia foram refundidas e reeditadas
e retocadas. Os exemplos são as edições conhecidas como eloísta, javeista e
sacerdotal, conforme essas equipes usavam o nome de Eloin, ou de Javé para
Deus, e revisões de equipes de sacerdotes para tratar sobre o Altar, regras de
culto, vestes sacerdotais, pureza sacerdotal, e demais itens envolvendo o
Templo. Depois disso foram aumentando mais comentários que ficaram nas páginas
até hoje. Outras vezes quando as cópias não estavam bem conservadas o novo
redator escrevia o que lhe parecia melhor segundo o seu entendimento ou a sua teologia.
Este tipo de acrescentos ou acréscimos prolongou-se até o séc. II d.C. quando
fizeram a convenção de Jamia, e aí definiram que não mais podiam fazer retoques
na Bíblia. Como então interpretar a palavra de Moisés, “nada acrescenteis, nada
tireis”, seria igual a dizer: o que lhes disse é muito importante, prestem
muita atenção. E na verdade, na polêmica de Jesus com os fariseus e mestres da
lei, Jesus ou o redator até teriam debochado sobre tais tradições para as quais
eles apelavam (Mc.7,7-8). Quer dizer em todas as religiões há a Tradição.
Digamos que a Tradição é o arcabouço das verdades provenientes dos fundadores
das religiões, e da sua fé. Dizíamos na página anterior que fé é a maneira de
cada povo entender Deus. Além da Tradição fundamental há tradições que podemos
chamar também costumes, “é costume”, “era costume”. Toda a religião tem seus
costumes como tem a sua Tradição. E no cristianismo tinha tradições que já
mudaram, ou acabou o seu tempo de validade, assim como acabou o tempo de
validade para a Circuncisão dos Judeus, e as regras de “puro e impuro”. Na
Igreja acabou a “tradição” de batizar logo cedo as crianças, hoje em dia não há
obrigação de tempo e nem “obrigação” de batizar, deixando à consciência dos
pais, e se a pessoa for adulta, à consciência e vontade dela. Outra tradição é
aquela que dizia: “fora da Igreja não há salvação”. Este jargão reinou em toda
a Idade Média e é atribuído a São Justino, séc.II d.C. Na verdade, naquela
época nem sonhavam com a evolução dos tempos modernos como a liberdade de
consciência e liberdade de religião que foi abraçada também pela Igreja
católica e sacramentada pelo concílio vaticano II no N.16 da Lumen gentium e
N.2 da Constituição Nostra Aetatae onde se diz que todas as religiões têm verdade
e santidade que são reconhecidas pela Igreja. E quem cumprir de boa consciência
as suas religiões encontra a salvação. Vemos então que há a Tradição, e também
as tradições ou costumes. E também “tradicionalismos” quando as pessoas dão
mais importância aos costumes do que ao central da fé. Digamos que dão
importância e se prendem com muitas frescuras como se diz na gíria do Nordeste
do Brasil. No evangelho, eles preocupavam-se demais com as tradições ou “frescuras”
“recebidas dos antigos” (Mc.7,3). “Abandonais os mandamentos para seguir as
tradições dos homens” (Mc.7,14).
Conclusão.
Suponho que colocamos no seu devido lugar aquela “ordem” de Moisés no cap.IV do
Deuteronômio. Moisés fez como os reis da antiguidade, que tinham já os termos
consagrados para marcar a sua autoridade: “Este decreto foi por mim decretado e
não pode ser alterado”. Moisés não fez outra coisa senão isso que faziam os
fundadores de antigas religiões e os imperadores quando publicavam seus
decretos: E assim vemos o mesmo procedimento no evangelho de Mateus: “Nem uma só letra ou vírgula serão tiradas na
Lei até que tudo se cumpra” (Mt.5,17).
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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