Religião é só uma. Sistemas religiosos
não têm limites: adornos, roupas, purificações, contos, narrativas, crenças,
lendas, sacrifícios. O problema é que confundimos religião com sistemas
religiosos. Os Fariseus viviam só de sistemas religiosos, com suas abluções e
purificações, proibições e obrigações. E o interessante é que estava na Bíblia,
e seguiam a Bíblia à risca. Acontece que a Bíblia também faz parte do sistema
religioso. Há outras religiões e outros sistemas que também têm os seus livros
fazendo parte dos seus sistemas religiosos. E oitenta por cento da Humanidade
não têm a Bíblia, mas se salvam como diz o conc.vaticano II (G.et Spes, n.16).
Jesus teve muito que enfrentar com os fariseus: “Vós, fariseus, purificais o interior do copo e do prato, mas vosso
interior está cheio de avareza e de rapina” (Mt.23,25). Por
seu lado a Epistola de Tiago afirma sobre a religião: ”A religião pura e sem mancha consiste em socorrer o pobre e a viúva”
(Tg.1,17). Tenho falado neste blog que somos em três quartos de judeu e
apenas um quarto de não judeu. Mas não só, o próprio judeu por si só já
tem três quartos de outras religiões e culturas e só um quarto de judeu. Nem o
primeiro livro do mundo foi a Bíblia mas os poemas de Gilgamesh e Enuma Elish,
que influenciaram muito a Bíblia, e o Avestá de Zoroastro. Cada uma destas
religiões encarnou a cultura geográfica e antropológica de seus países e seus
sistemas religiosos. Eles chegaram e estagnaram numa geografia da Europa confinada
por potências tais como Roma, Grécia, e Síria. Este local tomou o nome
histórico de bacia do Mediterrâneo. Este conglomerado é considerado o berço do
cristianismo, desde Jerusalém, Antioquia da Síria, Constantinopla, Atenas e
Roma, como pontos fulcrais da famosa bacia do Mediterrâneo. Por isso o teólogo
J.Comblin afirma: “Uma coisa é o evangelho de Jesus Cristo, outra coisa é o
sistema religioso complexo de 2.000 anos que se apresenta hoje como
cristianismo que é o resultado de 2.000 anos de miscigenação com muitas
religiões humanas principalmente aquelas que floresceram na bacia do
Mediterrâneo”. (J.Combin, Soter, Paulinas, 2005, p.7). Na verdade, o nosso
mundo é um mundo miscigenado. Desde os primórdios da humanidade com a evolução
do ser humano há cerca de 500 mil anos, os humanos não ficaram parados. A
essência do ser humano é peregrinar como dizem os especialistas. E há uma
certeza científica: o primeiro sinal da existência do ser humano como ser
pensante é quando se descobrem restos e sinais de enterro de seus mortos. E
onde há mortos há religião e solidariedade. O ser humano mostrou religião e
solidariedade, e por onde passava ele a exercia e a comunicava. E quem a
recebia aumentava com novas formas,
sinais e símbolos a religião que recebia e aumentava os sistemas religiosos. A
religião é essencialmente um conjunto simbólico (J.Comblin). Sua finalidade é
entrar em relação com a divindade. Cada grupo humano cria seus símbolos,
comunica com outros grupos, que por sua vez aumentam outros símbolos e assim como
o ser humano se multiplica numa miscigenação assim os símbolos e os sistemas aumentam
em miscigenação. No final das contas a religião é uma só, como o ser humano é
uno, mas os modos de se entender com Deus são muitos. Na verdade, outro símbolo
é a linguagem. Por isso a religião fala por símbolos também, como uma
linguagem. E isso é cultura. Eis como se exprime o teólogo J.Comblin: “A
religião pertence à ordem natural. Ela não pertence à revelação que nos veio
por meio da história de Israel e de Jesus Cristo. A religião é uma virtude
moral e não uma virtude teológica. A religião é uma criação humana, é uma parte
da cultura: é uma criação cultural diversa, múltipla. Cada tribo tem a sua
religião, embora possa haver semelhanças entre tribos vizinhas. No sistema
cristão atual há pelo menos 95% por cento de construção cultural em que se
depositaram as heranças de muitas culturas, e há 5% por cento que procede de
Jesus Cristo “ o.c.p.8). Na verdade,
não reparamos assim tanto na questão simbólica. Os símbolos das religiões
existem feitos roupagens, gestos, enfeites que exprimem o que não vemos e nem
podemos falar, ritmos, danças, e comidas. Quanto a Jesus, vejamos: “Abrindo os
evangelhos, descobrimos que Jesus não criou nenhum sistema religioso. Além
disso, ele se opôs com vigor contra todo sistema religioso edificado ao redor
do templo ou da lei, pelas elites do seu povo. Ele contestou tudo isso em nome
das necessidades corporais dos pobres. Para ele, em vez do encontro com Deus
ser feito através dos sistemas religiosos preferiu fazê-lo através dos corpos
sofredores dos pobres, com a misericórdia, e o serviço. Encontrar-se com Deus é
dar de comer ao faminto, de beber ao sedento e saúde ao doente” (o.c.p.10),
como fala a Carta de Tiago: “A religião pura e sem mancha consiste em socorrer
o órfão e a viúva”(Tg.1.17).
Conclusão.
Enquanto os sistemas “religiosos” teimam em perder tempo com o acidental que
são os embelezamentos simbólicos, e nisso lhes falta tempo para o essencial,
Jesus dedicou-se ao irmão, e deixou de lado o acidental. Uma coisa é religião, outra
coisa são os sistemas religiosos. Do mesmo jeito, uma coisa é o evangelho de
Jesus cristo, outra coisa um sistema religioso, que no nosso caso, mesmo sendo
cristão, se configura como os outros sistemas religiosos.
P.Casimiro João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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