domingo, 2 de novembro de 2014

dia de finados e a força de uma vida plena


A Bíblia diz que fomos criados à imagem de Deus. Somos imagem formada pelo Criador, mas deformada pelo pecado, reformada pela graça de Cristo e que será transformada na vida plena da Ressurreição. A vida de cada ser humano deveria ser um ensaio para a felicidade eterna pela procura de estar com Deus. É a esperança que nos dá força para optar pelo caminho das bem-aventuranças. 

Ansiamos por uma vida plena. S. Paulo dizia que se não fora essa vida plena ele seria o mais desgraçado dos seres humanos. E eu faço minha também esta afirmação. Sempre tentei trocar tudo por essa vida plena

Criança ainda, entrei no seminário. Passei a juventude habitando salões de estudo e espaços de oração. Ouvia longe o barulho do mundo e altifalantes, ao domingo, vomitando músicas de diversão. No silêncio reforçava minha opção pela vida plena. Quando o amor me piscou o olho para que viesse sorrir à vida na liberdade do mundo, pensei, decidi e aceitei outro apelo para viver o amor doutra maneira. Tudo em nome da vida plena. 

Fiz-me homem e aceitei ser missionário. Entrei num grupo que se dedicava a espalhar pelo mundo essa vida plena. Despedi-me de entes queridos, afastei-me da família e fui para Moçambique, numa zona onde havia guerra brava. Era a vida plena dos irmãos daquelas paragens que me arrastava. 

Levantaram-se ventos contrários, fustigaram-me tempestades, enormes ondas quase faziam afundar minha barca. Aguentei, não desanimei! Não fugi. Senti que trazia na fragilidade dos meus braços uma força que me empurrava para a vida plena. Vim estudar à Europa, trabalhei em Portugal em circunstâncias históricas difíceis. Vários colegas debandaram. 

Um mundo encantador parecia surgir, mas as dúvidas foram desfeitas, os porquês foram resolvidos. Sempre na atração irresistível da vida plena. Longe de todos os meus projetos, soou o apelo do Nordeste Brasileiro. De princípio, não simpatizei com a modalidade. Vozes traiçoeiras das sereias da acomodação novamente cantaram. 

Família e amigos lembravam que não era preciso ir tão longe e suportar tanta dificuldade. Ilusão de estoicismo esgotante ou serviço à vida plena? Esta falou mais alto. “Lutei, venci! Estou aqui!” Foram as minhas primeiras palavras em Chapadinha. 

Trinta e seis anos passaram de luta para viver e transmitir vida plena! Agora, alquebrado pelos anos, custa-me pensar que terei que fazer outra viagem. Não pedi para nascer, também não peço para viver muito. Dediquei-me a Seu projeto, sei que Deus não me abandona. 

Custa-me saber que ainda tenho que dizer o adeus mais radical, viver o momento mais turbulento do meu percurso. Depois de tantos, mais um e este decisivo... Desde já aceito passar essa porta para a vida plena. Recuso pensar que foi inútil ansiar pela vida plena. Esse desejo não pode ter sido em vão!. Chamem-lhe o que quiserem. 

Eu chamo-lhe Ressurreição: Vida Plena em Deus! Ressuscitarei e viverei para sempre essa vida plena.   

VIDA NÃO É FEIRA ONDE SE COMPRAM ESCRAVOS

Alguém disse um dia que o amor é pobre. Sim, porque é doação, entrega, dádiva... É pobre, mas faz as pessoas ricas.  Deus é Amor. Não tem nada, porque está em tudo. É Senhor absoluto. O ser humano foi feito à Sua imagem e semelhança. Há mais felicidade em dar que em receber. Quem dá sente-se feliz na felicidade que o outro recebe. Amar não é dominar. Nem tão pouco negociar: amo-te para que me ames! Também não é entregar-se sem reservas. 

Quem ama não vira proprietário de ninguém. Quem é amado não se deve julgar escravo. Amar não é possuir, dominar, ser dono de alguém... Isso é paixão, instintos não controlados, desiquilíbrio mental, doença. Amar não é apoderar-se de alguém para ter direito de controlar tudo que ele ou ela pensa, olha, diz ou faz. O verdadeiro amor fica destruído pelo desejo de posse. Quem pensa que ama, dominando o outro, não o ama. Ama-se a si mesmo no outro.  É um amor egocêntrico que facilmente costuma degenerar em vingança. O amor nasce e vive em liberdade, espontaneidade e gratuidade. Quem ama deve poder dizer: “ninguém me pertence e eu pertenço a todos”.
Quem pensa que amar admite domínio, acaba por escravizar, manipular, reduzir a pessoa amada a objeto. Por isso, há patrões que exploram, há amigos que manipulam, há maridos ou esposas que só utilizam seu cônjuge em proveito próprio. A própria palavra: “cônjuge” significa: “com o mesmo jugo”. Cônjuge é aquela pessoa a quem me sinto unido que vive, com liberdade, puxando comigo a mesma responsabilidade. A relação domínio-submissão depressa cai em desamor. Pode haver aí um pouquinho de amor, mas será sufocado pelo excesso de zelo e se demonstrará sempre um amor imperfeito, incompleto e egocêntrico. 

O amor desenvolve-se em clima de liberdade e igualdade. Num casal, quando alguém acha que tem o direito de ter o outro fechado em casa, limitar-lhe seus olhares, tratá-lo com toda a aspereza, criticá-lo por tudo que faz, nunca dar um elogio ou transmitir uma ternura, negar a informação sobre os dinheiros familiares... está promovendo escravatura que já foi abolida há muito. Maneira nojenta, desumana e falsa de amar. Tudo isso indica egoísmo, orgulho intratável e anormalidade na relação. Doença grave que, se não for tratada, mata de raiz o amor, se é que ele já não morreu há muito. A vida não é feira em que se passa como comprador de pessoas.

Ninguém se deve julgar no direito de ser carcereiro de alguém. Família não é prisão para ter alguém só para si. Mesmo numa cela presidiária tem que se respeitar a dignidade da pessoa. Habitua-te a amar, sem te prenderes e sem prender a ti alguma pessoa. Ninguém se deve prender só à beleza ou às qualidades duma pessoa. O tempo tudo muda. 

Amar é um processo de melhoramento: conhecer melhor, compreender melhor, aceitar melhor, ajudar melhor... Amar é olhar no núcleo mais íntimo da pessoa do outro, valorizar a pessoa do outro... aí aonde se revela nele a grandeza da pessoa como obra criada por Deus.

MÁSCARAS, MUITAS MÁSCARAS!

Mudam os tempos, os políticos, os hábitos e as técnicas... Nunca mudou o alfabeto dos olhos: lágrimas, brilho, admiração, medo... Quer os olhos sejam grandes como nos africanos, de amêndoa como nos orientais, pequeninos como nos homens das zonas polares... todos e sempre, os olhos comunicam mensagens. Mas, desde sempre o homem aprendeu a fingir. O fingimento é uma arte. A criança esconde-se, o adolescente mente, o adulto faz de conta... Hoje tudo pode ser xerocado, copiado, imitado.

É difícil distinguir o que é natural do que é artificial. O mundo está cheio de atores, burlões, troca-tintas, falsários. São a força que comanda o mundo de hoje. Por toda a parte aparecem rostos envernizados, caras coloridas, cabelos pintados, sorrisos maquiavélicos, lentes de contato, cirurgias plásticas... que conseguem mudar a realidade das pessoas. Até uma mentira, dita muitas vezes, tende a passar por verdade. Hoje nem no olhar se pode confiar. O que interessa é criar imagem, ter IBOPE, boa aparência, enganar os outros. A aparência é dona. Em tudo: no esporte, no negócio, na arte, nas amizades e até na religião. Nota-se que muita gente quer criar a convicção que pronunciar a palavra “diabo” é pecado, mas fazer o que o diabo quer é bom. 

O filósofo grego Diógenes andava em pleno dia no mercado de Atenas com uma lamparina acesa na mão. A quem lhe perguntava o motivo, respondia: “ando à procura do homem!”. Mas só Pilatos, quando apresentou Jesus à multidão, desfigurado pelos maus tratos, pôde gritar: “eis o Homem!” Mas hoje como é difícil ter um comportamento humano, luminoso e transparente, gostoso como pão quente ou verdadeiro como água da nascente. A nossa civilização é uma civilização em que cada um procura ser bom ator, representar um papel. Para isso, usa máscaras, conforme a conveniência.

Habituámo-nos ao disfarce, ao engano... E que ninguém nos critique! Mesmo nos outros, sem querer, só vemos o que nos interessa. Ficamos nas aparências: olhamos um bosque, mas não apreciamos a qualidade das árvores. É um bosque! Olhamos uma multidão, mas não apreciamos as pessoas. É uma multidão! Temos uma visão seletiva. Não vemos tudo. Só as coisas e pessoas que queremos. Deus não é assim. Ele vê em profundidade. Não usa óculos. Não fica nas aparências. Não se deixa enganar. Vê por detrás de nossas máscaras. Olha e acolhe. Acaricia a todos com seu olhar. Convida a melhorar. Levanta os olhos para ver Zaqueu. Manda os discípulos de João Batista ir ver onde mora. Foram, trocaram os olhares e ficaram com Ele.

A Liturgia do 31º domingo comum, que seria hoje se não fosse Dia de Finados, manda-nos tirar as máscaras, derrubar estratégias, sair de nossos esconderijos, ser verdadeiros e autênticos. Amar a verdade. Só ela nos salvará. Ou isto, ou nunca passaremos de inúteis mentirosos. Como aqueles que venderam o voto e agora se começam a queixar que pobre é desprezado. Pois, é! Mas se vendeu a alfaia que tinha, se recebeu o troco... não tem direito de receber mais nada.

              NOTICIÁRIO PAROQUIAL

1)- O Papa Francisco beatificou o Papa Paulo VI. Para quem viveu a enorme mudança na Igreja com o Concílio Vaticano II, este homem ficará para sempre lembrado. Mostrou-se firme na aplicação das decisões do Concílio. Foi o primeiro Papa que saiu do Vaticano à procura da humanidade, lançou as bases do diálogo ecuménico e da colegialidade na Igreja. Abdicou da tiara papal a favor dos pobres da Índia, veio a Fátima pedir a paz para o mundo e proclamou em África a necessidade de enculturação do cristianismo como verdadeira evangelização. Inteligência superior, místico, filial devoto de Maria, corajoso, firme, mas muito sereno e misericordioso nas decisões. Disponível e generoso nas suas obras de caridade. Incarnou em si o amor e a paixão de Cristo. Fez seu o lema de S. Ambrósio: “Cristo é tudo para nós!” Cristão corajoso, entusiasta pela Missão, sempre ao serviço de Cristo e da sua igreja. Beato Paulo VI escreveu sete encíclicas, instituiu o Sínodo dos Bispos e o dia da Paz. A paróquia de Chapadinha alegra-se com esta beatificação!

2)- Impressionante e lamentável o ambiente que se vem criando, entre nós, no Dia de Finados ou na véspera! Passa-se por cima de todos os sentimentos de respeito, saudade, tristeza... que a maioria da população vive nesse dia. Para muitos, o que interessa é a brincadeira e o lucro. Nem têm respeito pelos mortos nem respeitam os sentimentos alheios. O ano passado houve show em dia de finados, este ano anuncia-se novo show.
 A Polícia Civil, ao dar licença para festas e shows, devia lembrar que isso toca com os sentimentos da maioria. Fica aqui o nosso mais vivo repúdio por se promoverem festas, seja onde for, nesse dia.

3)-A reconstrução da capela de S.ta Teresinha, na Boavista, continua em ritmo apressado. Já se derrubaram as paredes e substituíram por outras, fazendo o espaço muito mais comprido. Mas tivemos que colocar abaixo todo o antigo reboco. O trabalho vai ficar muito mais dispendioso que se previa.              

4)-Esta semana foram visitadas as seguintes comunidades do interior: Centrão, Cajazeiras do Osmar, Tabuleiro, Madeira Cortada, Canto do Ferreira, S. Joaquim, Soledade, Boca da Mata dos Cardosos e Centro dos Lopes.

5-P.Pedro lançou seu livro em Portugal e deu uma entrevista no jornal diocesano em que fala de sua recente viagem a Chapadinha e dos muitos amigos que por aqui encontrou. Recorda sua ida a Mata Roma e a Urbano Santos.

6)-Aconselhamos todos os fiéis a que participem da Eucaristia em sufrágio pelos seus defuntos. Não fiquem só na flor e na vela que são sinais de lembrança, respeito e fé. Depois da celebração dirijam-se a algum cemitério para lembrar e rezar. Quem não passa o bom testemunho de rezar pelos seus familiares defuntos está a semear o esquecimento, para si mesmo, quando morrer. Hoje, as missas como nos horários de domingo.






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