Durante tempos pessoas passavam o tempo “brincando
de Deus” como se o que elas diziam e pensavam é como se fosse o que Deus assim
pensasse e agisse. Era assim que faziam os Fariseus e não só. E, como noutras
religiões tradicionais, houve e há gente que brinca ainda de Deus. É conhecido o
caso de Inocêncio XIII em 1216: “Eu estou no lugar de Deus, posso julgar a
todos mas ninguém pode me julgar a mim” (Bruce J.Malina, O evangelho social de
Jesus,, p.97).
Isto tem antecedentes pagãos que são os seguintes.
Os povos primitivos consideravam o rei como filho de Deus com grande pompa. Na
Bíblia os Judeus também. Quando havia a “entronização do rei” aí ele era proclamado
filho de Deus. Com o tempo, o filho do rei passava a ser considerado também
Deus. Daí a considerar todas as ações e palavras do rei como ações e palavras
de Deus foi só um passo. O problema não existia quando na nação havia só um
rei. O problema começa quando numa nação havia mais reis e mais deuses, e qual deles
seria o maior. Aconteceu também assim quando o povo de Israel se dividiu em
dois reinos: o do Norte e o do Sul. Dali a alguns séculos o império romano
dividiu-se também em dois, com o imperador bizantino no Oriente e o imperador
de Roma no Ocidente. Ajuntava-se a isso a luta da Igreja cristã que estava
tomando os seus rumos, só que ela estava tanto no Oriente como no Ocidente. E a
divisão da Igreja ameaçava a divisão do império romano, porque o cristianismo estava
num processo de formação dos seus dogmas e havia muitas divisões que envolviam
tanto a Igreja como os imperadores. Foi quando o imperador Constantino se impôs
e decidiu que quem não alinhasse com ele seria herege, e perseguido ou exilado
E ele mesmo convocou o primeiro concílio de Niceia em 325, depois o concilio de
Constantinopla em 381, o de Éfeso em 431 e de Calcedônia em 451. Pouco a pouco
o império de Roma foi engolido pelas invasões dos germanos e ficou o império
bizantino com a capital em Constantinopla. A Igreja de Constantinopla ficou
separada da Igreja de Roma após o concilio de Calcedônia em 451, com o
Patriarca de Constantinopla enfrentando o Papa de Roma, aliás também ele
Patriarca ou bispo de Roma porque o nome de Papa veio mais tarde pelo século
sétimo. Os historiadores dizem que as questões de autoridade política e
eclesiástica exageraram as diferenças entre as duas profissões de fé, do
Oriente e do Ocidente, no concílio de Calcedônia” (Oliveira J. Lisboa Moreira).
Notemos como diz o can.8 do concilio de Calcedônia: “Se algum clérigo ou monge
arrogantemente afetar os militares ou qualquer outra autoridade seja
amaldiçoado”. Foi numa época dessas que o já Papa de Roma se arrogou o direito
de declarar, como vimos, numa competição aberta com as Igrejas Orientais
naquela afirmação: “Eu estou no lugar de Deus, posso julgar a todos mas ninguém
pode me julgar a mim”. As igrejas Orientais que não aceitaram a de Roma foram:
Igreja ortodoxa copta ou egípcia, Igreja Síria, Igreja Armênia, Igreja da
Etiópia e Igreja da Rússia. Isso nos prova duas coisas: primeiro, a competição das
Igrejas pela luta de quem possui a verdade; segundo, que durante tempos pessoas
passavam o tempo ‘brincando de Deus’ como se o que elas pensassem e diziam era
como se fosse Deus que assim pensasse e agisse. A Igreja católica nos nossos
tempos já tentou reverter a situação quando em 2001 o Papa João Paulo II pediu
perdão em nome da Igreja às Igrejas ortodoxas Orientais, e o Papa Francisco
repetiu em 2021, assim como às Igrejas protestantes. E em 1965, com o Papa Paulo VI foram retiradas as mútuas excomunhões entre as duas Igrejas.
Consideremos agora o que nos diz a história: “As
Igrejas se arrogavam o dieito de determinar qual era a “verdade objetiva” da
Bíblia e de dirigir a aplicação dessa verdade ao cotidiano dos crentes. Davi
Bosh afirmou que Schliermacher foi o primeiro em perceber que toda a teologia
era influenciada, se não determinada, pelo contexto em que evoluira” (Em Missão
transformadora – Mudanças de paradigma na Teologia da Missão” Ed.Sinodal, Rg.do
Sul, 2002.p.504).
Conclusão. Como a
história é mestra da vida, a Igreja aprendeu algumas lições da história. Pediu
perdão à ciência pelas condenações que fez contra os cientistas. Pediu perdão
às Igrejas Ortodoxas Orientais na pessoa do Papa João Paulo II e do Papa
Francisco em 2001 e 2021 respectivamente, e pediu perdão às Igrejas
Protestantes em 2016. Hoje em dia a Igreja deverá levar em conta o que foi resolvido
no concílio vaticano II de deixar de lado o sistema imperialista das
condenações. E de concretizar o seu acordo com a Declaração Universal dos
Direitos Humanos onde o maior avanço está no direito da liberdade de
consciência e de religião. E por isso largar de mão a propensão ou compulsão da
competição das Igrejas entre si pela luta de quem possui a verdade. E de não
passar o tempo ‘brincando de Deus’.
P.Casimiro João smbn www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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