segunda-feira, 15 de maio de 2023

Durante tempos “brincando de Deus”.


 

Durante tempos pessoas passavam o tempo “brincando de Deus” como se o que elas diziam e pensavam é como se fosse o que Deus assim pensasse e agisse. Era assim que faziam os Fariseus e não só. E, como noutras religiões tradicionais, houve e há gente que brinca ainda de Deus. É conhecido o caso de Inocêncio XIII em 1216: “Eu estou no lugar de Deus, posso julgar a todos mas ninguém pode me julgar a mim” (Bruce J.Malina, O evangelho social de Jesus,, p.97).

Isto tem antecedentes pagãos que são os seguintes. Os povos primitivos consideravam o rei como filho de Deus com grande pompa. Na Bíblia os Judeus também. Quando havia a “entronização do rei” aí ele era proclamado filho de Deus. Com o tempo, o filho do rei passava a ser considerado também Deus. Daí a considerar todas as ações e palavras do rei como ações e palavras de Deus foi só um passo. O problema não existia quando na nação havia só um rei. O problema começa quando numa nação  havia mais reis e mais deuses, e qual deles seria o maior. Aconteceu também assim quando o povo de Israel se dividiu em dois reinos: o do Norte e o do Sul. Dali a alguns séculos o império romano dividiu-se também em dois, com o imperador bizantino no Oriente e o imperador de Roma no Ocidente. Ajuntava-se a isso a luta da Igreja cristã que estava tomando os seus rumos, só que ela estava tanto no Oriente como no Ocidente. E a divisão da Igreja ameaçava a divisão do império romano, porque o cristianismo estava num processo de formação dos seus dogmas e havia muitas divisões que envolviam tanto a Igreja como os imperadores. Foi quando o imperador Constantino se impôs e decidiu que quem não alinhasse com ele seria herege, e perseguido ou exilado E ele mesmo convocou o primeiro concílio de Niceia em 325, depois o concilio de Constantinopla em 381, o de Éfeso em 431 e de Calcedônia em 451. Pouco a pouco o império de Roma foi engolido pelas invasões dos germanos e ficou o império bizantino com a capital em Constantinopla. A Igreja de Constantinopla ficou separada da Igreja de Roma após o concilio de Calcedônia em 451, com o Patriarca de Constantinopla enfrentando o Papa de Roma, aliás também ele Patriarca ou bispo de Roma porque o nome de Papa veio mais tarde pelo século sétimo. Os historiadores dizem que as questões de autoridade política e eclesiástica exageraram as diferenças entre as duas profissões de fé, do Oriente e do Ocidente, no concílio de Calcedônia” (Oliveira J. Lisboa Moreira). Notemos como diz o can.8 do concilio de Calcedônia: “Se algum clérigo ou monge arrogantemente afetar os militares ou qualquer outra autoridade seja amaldiçoado”. Foi numa época dessas que o já Papa de Roma se arrogou o direito de declarar, como vimos, numa competição aberta com as Igrejas Orientais naquela afirmação: “Eu estou no lugar de Deus, posso julgar a todos mas ninguém pode me julgar a mim”. As igrejas Orientais que não aceitaram a de Roma foram: Igreja ortodoxa copta ou egípcia, Igreja Síria, Igreja Armênia, Igreja da Etiópia e Igreja da Rússia. Isso nos prova duas coisas: primeiro, a competição das Igrejas pela luta de quem possui a verdade; segundo, que durante tempos pessoas passavam o tempo ‘brincando de Deus’ como se o que elas pensassem e diziam era como se fosse Deus que assim pensasse e agisse. A Igreja católica nos nossos tempos já tentou reverter a situação quando em 2001 o Papa João Paulo II pediu perdão em nome da Igreja às Igrejas ortodoxas Orientais, e o Papa Francisco repetiu em 2021, assim como às Igrejas protestantes. E em 1965, com o Papa Paulo VI foram retiradas as mútuas excomunhões entre as duas Igrejas. 

Consideremos agora o que nos diz a história: “As Igrejas se arrogavam o dieito de determinar qual era a “verdade objetiva” da Bíblia e de dirigir a aplicação dessa verdade ao cotidiano dos crentes. Davi Bosh afirmou que Schliermacher foi o primeiro em perceber que toda a teologia era influenciada, se não determinada, pelo contexto em que evoluira” (Em Missão transformadora – Mudanças de paradigma na Teologia da Missão” Ed.Sinodal, Rg.do Sul, 2002.p.504).

Conclusão. Como a história é mestra da vida, a Igreja aprendeu algumas lições da história. Pediu perdão à ciência pelas condenações que fez contra os cientistas. Pediu perdão às Igrejas Ortodoxas Orientais na pessoa do Papa João Paulo II e do Papa Francisco em 2001 e 2021 respectivamente, e pediu perdão às Igrejas Protestantes em 2016. Hoje em dia a Igreja deverá levar em conta o que foi resolvido no concílio vaticano II de deixar de lado o sistema imperialista das condenações. E de concretizar o seu acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos onde o maior avanço está no direito da liberdade de consciência e de religião. E por isso largar de mão a propensão ou compulsão da competição das Igrejas entre si pela luta de quem possui a verdade. E de não passar o tempo ‘brincando de Deus’.

P.Casimiro João smbn www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

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