segunda-feira, 8 de maio de 2023

Os gregos aprenderam para compreender, os hebreus para reverenciar (Abraham Yoshwa).

A bíblia não é geográfica, nem histórica, é uma fé e uma teologia. O nascimento de Jesus é um exemplo claro pois até há bem pouco tempo não estava definido o ano do seu nascimento. Hoje em dia sabe-se que nasceu 6 anos “antes de Cristo”. É que o evangelho não foi escrito por  especialistas históricos da época, mas por especialistas de fé.

Diferentes dos gregos, que aprendiam para compreender, os judeus aprendiam para reverenciar. Dos gregos nasceu a filosofia mundial, a física e a matemática. Na verdade, o conhecimento de fé e o conhecimento de ciência são diferentes. A Igreja, por sua vez, como herdeira dos judeus, também aprendeu para reverenciar e não para compreender. Daí vieram os dogmas e muitas doutrinas. Daí veio também a tradicional briga entre a fé e a ciência. A teologia antiga dizia que a ciência tinha que ser escrava da fé. Hoje não é mais isso, e embora a fé não seja escrava da ciência, no entanto a fé tem que seguir os ditames da ciência para não virar crendice. Na verdade Santo Anselmo de Cantuária, no séc.XII já proferiu a famosa sentença: “Fides quaerens intelectum”, a “fé buscando entendimento”, o qual também explicava: “acredito para entender” e vice-versa: “penso para que possa crer”. E o Papa Paulo VI em 1970, comentando a sentença de Anselmo falava muito claro na “confiança na capacidade cognoscitiva do ser humano: “A fé tem necessidade do serviço da razão; a fé não sufoca a razão nem a substitui”.

Na Grécia nasceu a ciência, na Judeia nasceu a Bíblia. Diferença: a ciência é universal, e a fé bíblica é particular, embora os judeus até alimentassem a ambição de torná-la universal, e até hoje nem atingiu 20% por cento da humanidade. E assim como a fé nasce de experiências religiosas concretas, assim há tantas religiões como povos e civilizações no Universo. Além da fé bíblica temos as religiões mesopotâmicas e sumérias, donde aliás a Bíblia partilhou muitos elementos, as religiões indianas, chinesas, japonesas, as pérsicas ou masdeístas de Zoroastro, as religiões iranianas, e babilônicas. Em todas as religiões antigas havia profetas, Orações, Salmos, alguns dos quais passaram para a Bíblia, assim como mais de 30 provérbios do Livro dos Provérbios, sem falar nos mitos da criação, dilúvio, arca de Noé, Torre de Babel etc.(Cf. John Bright, História de Israel, p;118-120).

Essas religiões nasceram da experiência mística de um fundador. No povo hebreu a sua experiência deveu muito ao símbolo formado em torno do sofrimento do “Servo Sofredor” como personificação dos cativeiros do Egito, Pérsia e Babilônia. Na Pérsia surgiu Zoroastro que viveu a juventude perambulando e meditando, sempre no contato com Deus. Com ele surgiu uma religião monoteísta registrada como a primeira religião monoteísta do mundo. Perseguido pelos príncipes e sacerdotes, morreu assassinado por eles. (o.c.p.129). O conceito de céu-inferno-purgatório vem inclusivamente desta religião fundada por Zoroastro, que passou para os sumérios e babilônicos e judeus. O conceito de alma vem de Platão, e para ele era uma emanação dos deuses, separada da matéria, teoria esta que originou a filosofia e depois a teologia dualista. Temos outros fundadores de religiões, que como Zoroastro percorreram suas nações como peregrinos e profetas ambulantes que sentiam o fogo de Deus queimar os seus corações, como Confúcio na China, Buda na Índia, Narayana no hinduísmo, Am Omikami no Japão bem como os monges Sohei, e também Maomé na Arábia. Os profetas surgiram da crise. ”Não resta a menor dúvida de que o aparecimento dos profetas nasceu do desaparecimento de alguns templos o que levou a se juntarem em grupos de livres movimentos carismáticos. Vemo-los peregrinando ardentes de zelo, “profetizando” ao som de música e no meio de sua fúria incentivando todos a um zelo santo para combater o inimigo invasor” (J. Bright o.c.p.232).

Assim como a cultura, as ideias, a filosofia, as religiões passam de uns países para os outros. “Inúmeros estudos sobre as línguas antigas, o contexto histórico e social, os costumes e a mentalidade dos autores, os empréstimos que fizeram, tudo isso nos permite uma melhor compreensão da unidade do ser humano, suas relações uns com os outros e com o Criador”.(Gilles Drollet, Compreender o Antigo Testamento, p.33). Graças a Deus que os estudos modernos descobriram esta riqueza humana na unicidade do ser humano”, como refere também G.Drollet. O resgate das literaturas antigas  que recoloca o Antigo Testamento em seu ambientge natural é algo absolutamente moderno. Nem o Renascimento, nem a Idade Média, nem a própria antiguidade puderam instituir uma comparação direta entre os textos da Bíblia e seus correspondentes egípcios e cananeus e outros. Atualmente conhecemos testos mesopotâmicos sobre a Criação, Jardim do Éden o dilúvio, e sabemos que os autores da Bíblia se inspiraram neles para expor sua própria visão das coisas e do mundo. Desse modo podemos entender melhor sua mensagem”(o.c.p.33).

Princípios éticos internacionais foram proferidos por fundadores de religiões que hoje fazem parte do patrimônio da ética mundial. É de Zoroastro o primeiro princípio chamado “regra de ouro”(Mt.7,21): “Não faças aos outros o que não queres que façam a você”. E Confúcio, da China dizia: “Quando vires um homem bom tente imitá-lo; um mau, examina-te a ti mesmo”. Não foi sem razão que o vaticano II declarou  a respeito da salvação universal: “Tudo que de bom e verdadeiro neles há é considerado pela Igreja como preparação para o evangelho e para que possuam a vida eterna” (Lumen Gentium, N.16).

Conclusão. Voltando ao mote com que iniciamos: “os gregos aprenderam para compreender, os hebreus para reverenciar” diremos agora a mesma coisa para as outras religiões, e que a religião hebraica partilhou muita coisa das outras religiões. A Pontifícia Comissão Biblica nos diz: “O estudo das múltiplas formas de paralelismo permite um melhor discernimento da estrutura literária dos textos bíblicos”; e “todos se baseiam numa cosmologia já ultrapassada”. Denuncia também a leitura fundamentalista como sendo “uma grande estreiteza de visão ao analisar certos episódios só porque encontram-se na Bíblia”. E afirma a necessidade de uma interpretação no hoje do nosso mundo porque “os textos da Bíblia são a expressão de tradições religiosas que existiam antes deles,  os quais foram retrabalhados e reinterpretados para responderem a situações novas desconhecidas anteriormente”. (Pont. Com. Bíblica, 1994).

Parafraseando então e retomando a afirmação de Abraham Yoswa concluiremos que a fé dos povos nasceu para reverenciar enquanto que a ciência é para compreender. E como afirma também Umberto Galimberti: “raciocinar” é mais dificil do que “crer”(Rastros do Sagrado, p.327) por isso em tantas nações uma só pessoa passou sua experiência religiosa para multidões, e sua experiência atingiu facilmente milhões.

P.Casimiro João    smbn

www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

 

 

 

 

 

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