Em
primeiro lugar, nas Cartas de Paulo “existem palavras que foram escritas em seu
nome por outros, alguns séculos depois de sua morte. (Neil Elliot, Libertando
Paulo, Ed.PAULUS, P.19). E o autor
exemplifica a sua afirmação com o seguinte texto: “O marido é a cabeça da mulher assim como Cristo é a cabeça da Igreja”
(Ef.5,22). “Esse texto, interpolado depois, tornou-se mantra quase
semanal em muitas igrejas em toda a Idade Média. Este apelo ao Paulo bíblico
tornou-se parte integrante do controle social das mulheres. Até houve um
documento de um ministro evangélico, há dois séculos, nos Estados Unidos,
dizendo que “bater em mulheres está sendo normal porque os homens são líderes
em suas casas” (o.c.p.23).
Os
escritores bíblicos do Novo Testamento tinham intenções de não mexer com a
dominação reinante no império romano do poder dos machos sobre a mulher, e por
isso inseriram nas Cartas de Paulo os mesmos tratos dos romanos como sendo da
autoria de Paulo. E não só faziam isso com frases particulares mas escreviam
cartas inteiras como sendo da autoria de Paulo. Por exemplo essa Carta dos
Efésios não é de Paulo, como está hoje aceito por todos os críticos bíblicos.
Os escritos não não originais de Paulo são chamados de “pseudo-paulinos”,
ou seja, falsamente atribuídos a Paulo.(oc.p.39). Isto resultou não só como um
retrato torcido do pensamento do Apóstolo, mas também contaminou a maneira de
lermos as Cartas autênticas de Paulo.
Eis
as Cartas Pseudo-paulinas: Carta aos Efésios; Carta aos Colossences;
Carta as Hebreus; 2ª Tessalonicenses; 1ª e 2ª Timóteo;
Carta a Tito. Cartas autênticas de Paulo: 1ª Tessalonicenses;
1ª e 2ª Coríntios; Carta aos Gálatas; Carta aos Filipenses;
Carta aos Romanos; Carta a Filemón. Portanto, das 14 CARTAS antes
atribuídas a São Paulo, sete são autênticas e sete
pseudo-paulinas.
Aparte
estas sete Cartas pseudo-paulinas existem trechos ou frases
interpoladas nas Cartas autênticas. Dois exemplos: Primeiro, a passagem que
urge que as mulheres se calem nas igrejas: “As mulheres estejam caladas nas igrejas;
não lhes é permitido falar, mas devem estar submissas, como também ordena a
lei.”(1 Cor.14,34). Segundo: “Cada
qual seja submisso às autoridades constituídas porque não há autoridade que não
venha de Deus”(Rom, 13,-1-7). Quais são os reais motivos? No 1.º exemplo
era porque no império romano, a mulher não podia falar na presença do marido,
tinha de ficar de boca calada, e de cabeça coberta, como diz também em
1.Cor.11,4-16). O segundo exemplo era para manter a submissão ao império romano
e não serem perseguidos, e também porque o imperador César Augusto se
considerava deus.
Vamos
refletir os quatro itens nevrálgicos para os cristãos do 1.º e do 2º século: Primeiro:
O cuidado para não dedurar o império, no meio do qual eles viviam; segundo:
a herança do machismo reinante na sociedade romana quanto judaica e grega; terceiro:
a herança da exclusão da Sinagoga; quarto; A ideologia da antiguidade
dos poderes divinos do rei.
No
1º item: Todos os críticos atuais confirmam a submissão servil ao império e
suas instituições. Historicamente, sabemos de várias tentativas falhadas de rebeliões
de líderes judeus contra Roma, e que todas levaram ao fracasso final da destruição
de Jerusalém no ano 70 d.C. Foi nessa época que os evangelhos e as Cartas
estavam sendo escritas. Havia um cuidado da parte dos escritores de não acirrar
mais os romanos, mas ao contrário, de adulá-los tentando torná-los parceiros e
amigos. Autores mais atentos vêem, por exemplo, a atribuição da culpa da morte
de Cristo aos judedus e não aos romanos, inocentando completamente Pilatos. Vem
Daí gesto de “lavar as mãos”, coisa discutida de ser histórica ou não. Há
outros exemplos nos próprios evangelhos quando exaltam a fé e o comportamento
dos romanos, versus a fé dos judeus, como quando Jesus teria dito: ”Eu lhes afirmo que nunca vi tanta fé mesmo
entre o povo de Israel” (Mt.8,10). Este espirito de não exasperar os
companheiros ou autoridades romanas com quem conviviam esteve sempre nos
primeiros séculos.
Segundo
item: o machismo e
costumes dos romanos no plano familiar: Vejamos como era o patriarcalismo
dos Coríntios romanos: onde estivesse o marido, a mulher não podia falar nem
opinar. E a cabeça tinha que estar coberta por respeito ao marido(1 Cor.11,4).
Item
três: Entre o machismo dos
judeus não era melhor a situação da mulher. Primeiro que nas Sinagogas
eram excluídas as mulheres, os escravos e as crianças. Veja bem o grau em que
era colocada a mulher. Segundo, havia o ditado dos masculinos agradecendo a
Deus: “Eu te agradeço, ó Deus porque não
nasci mulher “ (Tales de Mileto).
Quarto
item sobre as autoridades:
Desde a história arcaica da entronização do “filho do rei” nos
primórdios da realeza: O filho do rei ganhava “status divino” e recebia poderes
divinos; por isso podia fazer o quer que fosse do cidadão: “Levará tuas filhas como perfumistas; levará
o melhor das tuas colheitas e o melhor dos teus rebanhos; e os teus filhos
homens para serem cocheiros do rei” 1 Sam.8,13). Desde os tempos mais
remotos era assim, e os judeus herdaram, como já desde o Código de Hamurabi, o
primeiro código do mundo. Por isso que Paulo, embora que pouco menos que os
seus copistas, também participou desta ideologia. Sobre os escravos diz:
“que permaneçam na escravidão” (1
Cor.7,24). Assim as coisas correram o tempo todo e por toda a Idade
Média, onde se praticava a teocracia,
na união de Estado/ Igreja Rei /Papa. Criou-se uma ideologia do
machismo politico e do poder quase divino que hoje se denuncia, mas leva tempo
à transformação porque tem profundas raízes. Somos herdeiros dum machismo
bíblico e de divinizar as autoridades.
Podemos
agora definir a teoria da “família tradicional” e dos “costumes
tradicionais”. 1- Entre os Judeus:
-
Excluíam as mulheres das Sinagogas; Os homens eram donos delas; Elas não podiam
mostrar os cabelos; Em hebraico a palavra marido é baal, que significa
dono, patrão proprietário; O judeu podia ter duas
mulheres, desde que tivesse autorização de um rabino; A mulher era considerada
impura por conta da menstruação (Torá); Mulher não podia ser rabino nem juíza;
Mulher não podia servir de testemunha; Mulher não podia rezar ao lado de um
homem; Mulher só foi criada para gerar filhos para trabalhar nas terras e para
as guerras; Mulher não podia ler a Lei, nem conduzir culto. Então...quando se
fala em “família tradicional inclua todo este pacote judeu.
2-
Entre os romanos: As mulheres
eram excluídas dos diretos políticos; Como eram sociedades guerreiras
valorizava-se só o sexo masculino; O pai é que combinava o casamento da
filha; A mulher só saía de casa quando fosse para o casamento; A mulher não
aprendia as letras com o fito de agradar ao marido; O casamento tinha como principal
objetivo gerar filhos para trabalhar nas terras e para as guerras.
3-
Na Grécia: Assembleias de cidadãos só de homens, excluídas as mulheres;
Tribunais, só compostos de homens, excluídas as mulheres; Funcionários
públicos, só homens, excluídas as mulheres; Na cultura e filosofia, só para os
homens, eram excluídas as mulheres; O homem dominava, a mulher não podia falar,
abrir a boca e nem opinar na presença do marido.
4.-
Idade Média: Na Idade Média a Igreja e a sociedade juntavam essas
limitações romanas e gregas. E além disso ficou agravada a situação, porque as
mulheres foram mais discriminadas do que os homens porque quando se
interessavam com a ciência eram acusadas de bruxas, e condenadas `a
fogueira, coisa que aconteceu no Brasil colonial também. Quando se fala em
“família tradicional junte o pacote. No
Art.V da Constituição federal está escrita a “igualdade da mulher e do
homem. E no art.226 a igualdade dos gêneros pelo que ambos os gêneros têm o
direito de exercer a mesmas funções. Porém ainda há um longo caminho para que
se cumpra esta igualdade.
Conclusão. Há ainda muita coisa a pensar. Para uma parte de
pessoas bem intencionadas há uma fala que agrada, porque é aquela da chamada
“família tradicional”. Essa onde o marido é o dono da mulher, dos filhos e
das opiniões, como nos romanos e judeus e gregos. E que passou para a Bíblia.
Mas assim como a Igreja oficial já classificou os 11 primeiros capítulos da
Bíblia como lenda ou conto dos antigos para imaginaar a criação do homem e do
mundo como eles pensavam, assim fizeram transportar para a Biblia o que se
praticava nas sociedades pagãs e judaicas do seu tempo. Já é tempo de usar
filtros para a leitura da Bíblia, e ler a Bíblia com critérios de adulto e
esclarecido cristão
P.Casimiro
João smbn
www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br
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