A teologia africana
reflete sobre Jesus a partir das circunstâncias históricas sócio-culturais do
continente. Defende imagens de um mesmo Jesus encantadoramente africano.
Jesus,
o irmão mais velho
Os angolanos cantam “
Jesus Cristo é nosso irmão mais velho. Ele é africano”. Ele defende os irmãos
mais novos que se metem em apuros. Atua
como medianeiro entre eles e os pais e os outros irmãos.
Participa com eles nos
ritos de passagem através dos quais o irmão se torna pessoa com plenos direitos
dentro de sua tribo. São ritos muito diferentes de uma tribo a outra, ligados
aos diversos momentos da vida: nascimento, puberdade, matrimônio e morte.
Na realidade africana,
esses ritos pressupõem a plena humanidade de Jesus. Os evangelhos mostram que
ele, para ser admitido como membro de pleno direto de sua comunidade que que
passar por ritos assim, como o batismo.
Jesus,
o Antepassado
Se, por meio dos ritos
de passagem Jesus se tornou membro de pleno direito da Comunidade humana, é por
meio da ressurreição que ele passa a fazer parte da comunidade dos
Antepassados. “A morte não significa o
termo definitivo da vida, mas é apenas outra modalidade do processo cíclico da
existência humana, que tem como referência maior os ancestrais: éa restituição
à fonte primeira da vida” (Silva, Antônio da)
A centralidade da
ressurreição para a fé cristã indica a possibilidade de que Jesus não seja
apenas o primogênito entre os vivos como irmão mais velho, mas também o
primogênito entre os vivos que morreram como antepassado.
Em primeiro lugar, os
antepassados são mediadores da força de vida para a comunidade. Isto encontra
um paralelo no evangelho de João: Jesus água, Jesus pão, Jesus vinho.
Em segundo lugar, os
Antepassados são mediadores entre os viventes e Deus. E João Ele é o caminho,
verdade e vida.
Em terceiro lugar, os
Antepassados velam pela comunidade, e assim Jesus vela também pelos discípulos
desolados e lhes promete o Espírito que virá depois da Páscoa.
Jesus,
o grande chefe
Segundo a religião
tradicional africana a salvação acontece nesta vida. Aliás, como no Antigo Testamento
também era assim. É algo que acontece aqui e agora: paz, bem estar social e
muitos filhos.
Para os africanos, a figura
carismática é o chefe da tribo. Ele tem que ser aquela que vela pela
comunidade: ter valentia e heroísmo, sendo capaz de triunfar sobre os inimigos
dos mundos terreno e espiritual. Sua autoridade provém de seus ancestrais.
Compare com Cristo que era tudo isto na narração dos evangelhos, e sua
autoridade vinha do ancestral Davi...
Para reconciliar as
tensões entre amigos e inimigos da tribo o chefe deve colocar as necessidades
da comunidade acima do seu bem pessoal.
Em seu último ato de reconciliação Jesus colocou em primeiro lugar a
comunidade. Na cruz ele reconciliou o mundo com Deus e uns com os outros. Foi o
exemplo do perfeito e grande chefe.
Jesus,
aquele que cura
Outra figura-chave na
vida tribal africana é a pessoa encarregada de restabelecer a vida e a saúde.
Para os teólogos africanos, o “nganga” é a pessoa poderosa e complexa da
sociedade. Jesus, como grande chefe leva o nome de sacerdote, químico, mago,
profeta e vidente.
Para a cura africana,
o caráter holístico do chefe é esse: possui o conjunto desses poderes; detectar
tanto as causas espirituais quanto sociais do sofrimento ou das tensões da
comunidade.
Jesus,
o libertador
A teologia negra sul
africana assumiu a teologia da libertação. Assumiu a própria história e
tradição. Foi-se o tempo da história contada pelos conquistadores holandeses e
ingleses que justificavam a escravidão africana. Esta teologia agora defende
que Jesus passou a vida restituindo a vida e a dignidade aos oprimidos e oprimidas, e as tradições que
lhes eram negadas.
Com Jesus, e com esta
teologia, os leprosos podem agora apresentar suas oferendas no Templo que antes eram
proibidos; os aleijados podem guardar o sábado como os outros; cegos e coxos e
crianças podem acompanhar Jesus ao Templo; prostitutas podem reclamar sua entrada
no reino dos céus; cobradores de
impostos podem também ser chamados filhos de Abraão.
(Cf. Federação Biblica Católica, Nº 42, 1/97).
Escritores e teólogos referenciais: Guerreiro
Vieira, Abrhaam, Blanco e Suana, Manuel Lobato, Medeiros, Souto, Tshibengue,
Nhyombi, Silva e Ferreira, Luciano da Costa, Helgesson, Adamo, Pedro João Pereira,
Olademo, Adamo, Nnalgbo, Alfredsson, Awolalu, Beyers, Idoun.
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