quinta-feira, 9 de abril de 2020

A CATEQUESE E A TEOLOGIA AFRICANA SOBRE JESUS


A teologia africana reflete sobre Jesus a partir das circunstâncias históricas sócio-culturais do continente. Defende imagens de um mesmo Jesus encantadoramente africano.

Jesus, o irmão mais velho

Os angolanos cantam “ Jesus Cristo é nosso irmão mais velho. Ele é africano”. Ele defende os irmãos mais novos  que se metem em apuros. Atua como medianeiro entre eles e os pais e os outros irmãos.

Participa com eles nos ritos de passagem através dos quais o irmão se torna pessoa com plenos direitos dentro de sua tribo. São ritos muito diferentes de uma tribo a outra, ligados aos diversos momentos da vida: nascimento, puberdade, matrimônio e morte.

Na realidade africana, esses ritos pressupõem a plena humanidade de Jesus. Os evangelhos mostram que ele, para ser admitido como membro de pleno direto de sua comunidade que que passar por ritos assim, como o batismo.

Jesus, o Antepassado

Se, por meio dos ritos de passagem Jesus se tornou membro de pleno direito da Comunidade humana, é por meio da ressurreição que ele passa a fazer parte da comunidade dos Antepassados. “A morte não significa o termo definitivo da vida, mas é apenas outra modalidade do processo cíclico da existência humana, que tem como referência maior os ancestrais: éa restituição à fonte primeira da vida” (Silva, Antônio da)

A centralidade da ressurreição para a fé cristã indica a possibilidade de que Jesus não seja apenas o primogênito entre os vivos como irmão mais velho, mas também o primogênito entre os vivos que morreram como antepassado.

Em primeiro lugar, os antepassados são mediadores da força de vida para a comunidade. Isto encontra um paralelo no evangelho de João: Jesus água, Jesus pão, Jesus vinho.

Em segundo lugar, os Antepassados são mediadores entre os viventes e Deus. E João Ele é o caminho, verdade e vida.

Em terceiro lugar, os Antepassados velam pela comunidade, e assim Jesus vela também pelos discípulos desolados e lhes promete o Espírito que virá depois da Páscoa.

Jesus, o grande chefe

Segundo a religião tradicional africana a salvação acontece nesta vida. Aliás, como no Antigo Testamento também era assim. É algo que acontece aqui e agora: paz, bem estar social e muitos filhos.

Para os africanos, a figura carismática é o chefe da tribo. Ele tem que ser aquela que vela pela comunidade: ter valentia e heroísmo, sendo capaz de triunfar sobre os inimigos dos mundos terreno e espiritual. Sua autoridade provém de seus ancestrais. Compare com Cristo que era tudo isto na narração dos evangelhos, e sua autoridade vinha do ancestral Davi...

Para reconciliar as tensões entre amigos e inimigos da tribo o chefe deve colocar as necessidades da comunidade  acima do seu bem pessoal. Em seu último ato de reconciliação Jesus colocou em primeiro lugar a comunidade. Na cruz ele reconciliou o mundo com Deus e uns com os outros. Foi o exemplo do perfeito e grande chefe.

Jesus, aquele que cura

Outra figura-chave na vida tribal africana é a pessoa encarregada de restabelecer a vida e a saúde. Para os teólogos africanos, o “nganga” é a pessoa poderosa e complexa da sociedade. Jesus, como grande chefe leva o nome de sacerdote, químico, mago, profeta e vidente.

Para a cura africana, o caráter holístico do chefe é esse: possui o conjunto desses poderes; detectar tanto as causas espirituais quanto sociais do sofrimento ou das tensões da comunidade.

Jesus, o libertador

A teologia negra sul africana assumiu a teologia da libertação. Assumiu a própria história e tradição. Foi-se o tempo da história contada pelos conquistadores holandeses e ingleses que justificavam a escravidão africana. Esta teologia agora defende que Jesus passou a vida restituindo a vida e a dignidade  aos oprimidos e oprimidas, e as tradições que lhes eram negadas.

Com Jesus, e com esta teologia, os leprosos podem agora apresentar  suas oferendas no Templo que antes eram proibidos; os aleijados podem guardar o sábado como os outros; cegos e coxos e crianças podem acompanhar Jesus ao Templo; prostitutas podem reclamar sua entrada no reino dos céus; cobradores de impostos podem também ser chamados filhos de Abraão.

(Cf. Federação Biblica Católica, Nº 42, 1/97).  
Escritores e teólogos referenciais: Guerreiro Vieira, Abrhaam, Blanco e Suana, Manuel Lobato, Medeiros, Souto, Tshibengue, Nhyombi, Silva e Ferreira, Luciano da Costa, Helgesson, Adamo, Pedro João Pereira, Olademo, Adamo, Nnalgbo, Alfredsson, Awolalu, Beyers, Idoun.


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