sexta-feira, 3 de abril de 2020

UMA REFLEXÃO ALÉM DO DEMAIS


“Estamos entregues à nossa sorte”, se diz às vezes. Isto é, o futuro e o êxito dos acontecimentos atuais depende só de nós.

A questão é o “CORONASVÍRUS”. Você faz? Você vencerá. Não faz? Aumentará as mortes. Não só para você, mas a questão é a humanidade, e a nação.

Está de acordo o paradigma chamado hoje de holística, isto é, de pensar no conjunto, no global. Este paradigma estabelece a relação entre o todo e as partes. E o slogan desta filosofia diz que “O todo vale mais que as partes”. O todo é que precisa vencer, a humanidade precisa vencer; o todo vai-se organizar, as partes vão triunfar.

Vemos sua majestade o REI VÍRUS brincando de chefão no planeta Terra, atacando americano, chinês, italiano, espanhol e sul americano. Você quer vencer sozinho? Nem pensar. É se unindo. Na inteligência e na estratégia. É descobrir a fraqueza dele. Qual é? Ele ataca os indivíduos.

 A nossa estratégia é se unir, no recuo, na fuga do agir sozinho: A vitória está numa derrota estratégica de fuga provisória para partir seguros para a vitória. “Perder uma batalha não é perder a guerra” como diz o jargão. Por isso é que tem o isolamento coletivo.

Está aí a humanidade unida. A Organização Mundial da Saúde. Umas nações auxiliando as outras. Cientistas juntos num estudo conjunto para descobrir a arma que ainda não chegou. Ela vai chegar, é só questão de tempo. “A União faz a força”.

E Deus? Parece que nos deixou entregues à nossa sorte. Vimos que este Rei Vírus mandou o Papa se recolher. Não tem diante dele Papa, nem bispos, nem padres, nem gurús, nem reis, nem rainhas, nem senadores ou deputados, nem bilionário ou pobre. Só vai ter um poder contra ele, qual? A UNIÃO, a “holística”. 

Neste tempo que vivemos de quarentena parecendo uma grande Sexta Feira Santa, em que, como Nosso Senhor, gritamos Pai porque nos abandonaste, vem a propósito este trecho complicado de Etty Hillesum:

Torna-se-me cada vez mais claro o seguinte: que Tu, ó Deus, não nos podes ajudar, mas nós é que temos de ajudar-te, e, ajudando-te, ajudamo-nos a nós. Sim, meu Deus, não nos podes ajudar, mas nós é que temos de ajudar-te, mas quanto às circunstâncias...é evidente que fazem parte indissolúvel desta vida. Também não te chamo à responsabilidade por isso. 

Tu é que podes mais tarde chamar-nos à responsabilidade. E, a cada batida do coração torna-se-me isto mais nítido, que Tu não nos podes ajudar, que nós devemos ajudar-te e, que a morada em nós, onde Tu resides, tem de ser defendida até às últimas”. (citado em José Tolentino de Mendonça – Vulnerabilidade de Deus, 202).

E, semelhante a este, o trecho de Shirley MacLaine: “Somos todos parte do divino. Deus é cada um de nós. Não há separação entre Deus e nós” (citado por João B. Libanio- Introdução à Telogia, 290).

Para reforçar esta filosofia e teologia do holístico, do todo, também esta frase do poeta: “Em cada homem um Deus escondido, uma forma perfeita que se esconde - que se perdeu –numa aldeia dos demônios” (C. de Brito).

Lição moral: Não se diz que Jesus está em nós? Pois o grito dele Pai por quê me abandonaste também está em nós. Abandono de botar o pé no chão. E de se dar conta que é tu que tem que comer o teu próprio pão.

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