Ser
batizado não é igual a ser cristão: é só ser batizado. Pelo contrário, pode
alguém não ser batizado e vier até melhor que um batizado. Desde que decide ser
cristão só será mesmo se viver para servir.
Ninguém
é obrigado a ser cristão, e ninguém é obrigado a ser batizado. Eu tenho
repetido que “o batismo não é para a
outra vida, á para esta vida.” E nesta vida o batizado é para cumprir as
tarefas de um cristão e de um cidadão. O soldado também não é soldado ou policial para a
outra vida, é para esta vida...
A
Igreja também é só para esta vida. Não é para a outra vida. Assim o batismo. E
também os outros sacramentos: a comunhão, a crisma, o matrimônio, a unção, a
ordem, a confissão.
Justo,
missa, quer dizer missão. A palavra missa vem do latim missio.
Quando terminava a missa, o celebrante dizia assim: “Ite, missa est”, quer dizer “Agora vão para a missão”. É igual quando você acaba a refeição
é para continuar a obrigação.
A
missão hoje chama-se solidariedade. Nesta pandemia do COVID-19 somos
chamados ao “CENSO DE SOLIDARIEDADE”. E é uma das grandes lições que ela nos
traz.
Apraz-me
reproduzir aqui o testemunho de um Enfermeiro que tem se dedicado de corpo e
alma a curar doentes infetados: “Desde os
18 anos eu trabalhava com enfermagem, seguindo minha mãe como exemplo. A
enfermagem está na raiz da família.
Minha mãe sempre trabalhou na Santa Casa da
Misericórdia. Quando eu era criança tinha essa visão de pessoa trabalhadora e
lutadora que ela era, e via uma realização no que fazia. Chegou a tragédia do
COVID-19. Eu vi muitos vídeos na Internet. Mas quando você vê na realidade, é
traumatizante. Mexe com seu psicológico.
Isso significa que todos os
profissionais da saúde precisamos estar muito bem paramentados, criando barreiras
contra a contaminação. São várias horas seguidas com os paramentos de proteção
individual. Passamos a pensar: vou adiar beber água ou comer, vou segurar para
ir no banheiro.
Desparamentar é um sufoco, e os paramentos vão ficando escassos.
Não é fácil passar o dia inteiro com as máscaras, e nós profissionais ficamos
hiperpreocupados em coçar os olhos, o nariz, o cabelo, fico suando no plantão,
mas sem encostar no rosto, o tempo todo preocupado se quebrei alguma barreira.
Muitas vezes você não se contamina, mas pode levar para os outros, e para a
família...Assim eu trabalhei com meu amigo, o médico plantonista Dr. Paulo
Fernando por semanas.
Quando eu estava terminando esta
entrevista, soube que o meu amigo não tinha resistido e que não vou vê-lo mais.
E a mim me levaram para a UTI de urgência
com febre alta de 48 graus”.
Testemunho
de um cristão modelo de doar-se pela vida no serviço. Alguém disse que no
relato da última Ceia o evangelho de João não colocou o Corpo de Cristo, mas o
corpo do serviço, no Lava-pés.
Na verdade quem comunga no corpo dos irmãos
fazendo o bem comunga no corpo de Cristo (Jo,13,14). O serviço e a comunidade
deste enfermeiro era o hospital.
Neste
período de teste da nossa fé no isolamento forçado da quarentena podemos sentir
uma certa frustração da ausência da eucaristia na igreja. Porém todos temos uma
ocasião de praticar a eucaristia do serviço da casa da gente:
trabalhando mais
em comum na cozinha, partilhando os serviços da casa, nas arrumações disto e
daquilo, e conversando mais em família.
Como
estou cumprindo a minha missão, e as minhas missas e as minhas
eucaristias familiares?
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