sábado, 25 de abril de 2020

O CRISTÃO DO FUTURO VIVERÁ PARA SERVIR OU NÃO SERÁ CRISTÃO



Ser batizado não é igual a ser cristão: é só ser batizado. Pelo contrário, pode alguém não ser batizado e vier até melhor que um batizado. Desde que decide ser cristão só será mesmo se viver para servir.

Ninguém é obrigado a ser cristão, e ninguém é obrigado a ser batizado. Eu tenho repetido que “o batismo não é para  a outra vida, á para esta vida.” E nesta vida o batizado é para cumprir as tarefas de um cristão e de um cidadão. O soldado também não é soldado ou policial para a outra vida, é para esta vida...

A Igreja também é só para esta vida. Não é para a outra vida. Assim o batismo. E também os outros sacramentos: a comunhão, a crisma, o matrimônio, a unção, a ordem, a confissão. 

Justo, missa, quer dizer missão. A palavra missa vem do latim missio. Quando terminava a missa, o celebrante dizia assim: “Ite, missa est”, quer dizer “Agora vão para a missão”. É igual quando você acaba a refeição é para continuar a obrigação.

A missão hoje chama-se solidariedade. Nesta pandemia do COVID-19 somos chamados ao “CENSO DE SOLIDARIEDADE”. E é uma das grandes lições que ela nos traz.

Apraz-me reproduzir aqui o testemunho de um Enfermeiro que tem se dedicado de corpo e alma a curar doentes infetados: “Desde os 18 anos eu trabalhava com enfermagem, seguindo minha mãe como exemplo. A enfermagem está na raiz da família. 

Minha mãe sempre trabalhou na Santa Casa da Misericórdia. Quando eu era criança tinha essa visão de pessoa trabalhadora e lutadora que ela era, e via uma realização no que fazia. Chegou a tragédia do COVID-19. Eu vi muitos vídeos na Internet. Mas quando você vê na realidade, é traumatizante. Mexe  com seu psicológico.

Isso significa que todos os profissionais da saúde precisamos estar muito bem paramentados, criando barreiras contra a contaminação. São várias horas seguidas com os paramentos de proteção individual. Passamos a pensar: vou adiar beber água ou comer, vou segurar para ir no banheiro. 

Desparamentar é um sufoco, e os paramentos vão ficando escassos. Não é fácil passar o dia inteiro com as máscaras, e nós profissionais ficamos hiperpreocupados em coçar os olhos, o nariz, o cabelo, fico suando no plantão, mas sem encostar no rosto, o tempo todo preocupado se quebrei alguma barreira. 

Muitas vezes você não se contamina, mas pode levar para os outros, e para a família...Assim eu trabalhei com meu amigo, o médico plantonista Dr. Paulo Fernando por semanas.

Quando eu estava terminando esta entrevista, soube que o meu amigo não tinha resistido e que não vou vê-lo mais. E a mim me levaram para a UTI de urgência  com febre alta de 48 graus”.

Testemunho de um cristão modelo de doar-se pela vida no serviço. Alguém disse que no relato da última Ceia o evangelho de João não colocou o Corpo de Cristo, mas o corpo do serviço, no Lava-pés. 

Na verdade quem comunga no corpo dos irmãos fazendo o bem comunga no corpo de Cristo (Jo,13,14). O serviço e a comunidade deste enfermeiro era o hospital.

Neste período de teste da nossa fé no isolamento forçado da quarentena podemos sentir uma certa frustração da ausência da eucaristia na igreja. Porém todos temos uma ocasião de praticar a eucaristia do serviço da casa da gente: 

trabalhando mais em comum na cozinha, partilhando os serviços da casa, nas arrumações disto e daquilo, e conversando mais em família.

Como estou cumprindo a minha missão, e as minhas missas e as minhas eucaristias familiares?

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