domingo, 3 de abril de 2011

O VELHO É CELEIRO DE EXPERIÊNCIA, BIBLIOTECA DE SABER!...


A tendência de nossa época é dar importância a quem produz. Quem já não trabalha, é arrumado. Quem já não se evidencia pela beleza, pela habilidade ou pela capacidade de produção... é esquecido. O que não presta, se encosta. Em sociedades mais evoluidas, constrói-se até casas para abrigar os idosos, as pessoas abandonadas pela sua família. Quem criou, às vezes, mais de uma dezena de filhos, agora é abandonado, não há quem lhe reserve um lugar em sua casa. Não há tempo para perder com idosos. Esta é uma triste solução, uma abominável lição que facilmente será aprendida pela geração mais jovem que fará o que vê agora fazer. Pensa-se evitar uma chatice e bota-se fora uma preciosidade.

Lembro-me da velha história do filho que, ao levar seu velho pai para o abandonar num monte e aí morrer, lhe entregou uma manta para que ele se protegesse. E recebeu estas palavras como lição: “leva metade desta manta, meu filho, para quando teu filho te trouxer também para cá. Ele pode-se esquecer de te dar um abrigo para o frio!”. O filho refletiu e levou o pai de volta para casa.

Entre nós, aqui em Chapadinha, ainda não acontece esses abrigos da terceira idade. Os velhos ficam em sua casa. Mas quantas pessoas idosas vivem, entre nós, abandonadas, esquecidas, solitárias... os últimos dias de sua vida! Não fora o dinheiro do aposento, nenhum filho os visitaria mais. A pele enrugada, as mãos encarquilhadas, as pernas entorpecidas... aí estão essas pessoas entregues, muitas vezes, à caridade dos vizinhos. Há algumas exceções: há maridos fiéis, esposas carinhosas, filhas agradecidas que cuidam de seus familiares idosos ou doentes com amor e ternura. Há, sim, exemplos que encantam! Mas há muitos outros casos que nos revoltam.

Na cultura africana, onde vivi em Moçambique, não é assim. Ainda hoje. O idoso é pessoa respeitada. Faltar ao respeito a uma pessoa velha é crime imperdoável, porque ele é como o celeiro da tribu onde se vai buscar vida e maneiras de melhorar a situação. O velho é arquivo da comunidade, é biblioteca do povo, é experiência de vida, é um bom livro sempre aberto... Seu exemplo é estímulo de imitação, sua experiência é sabedoria, capacidade de conselho, transmissão de valores. Desprezar um velho é desprezar uma boa lição, é não querer evoluir, é ser colocado fora da tribu. Na tradição africana, os idosos são exemplos apreciados, valores respeitados, pessoas valorizadas.

Assim: escutar um avô ou uma avó é endireitar rumos no caminho da existência. Aos idosos se recorre a buscar conselhos, a pedir orientação nas horas dificeis, a encontrar ajuda para solucionar problemas. Na hora de resolver casar, no momento de sofrimento pela morte de um familiar... aí está a pessoa mais idosa da família a amenizar a dor, a dar um conselho, a intervir para acabar com algum problema. Idoso é celeiro, é experiência... Deve ser visitado
com frequência. Nunca abandonado. Sempre merece respeito.

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