segunda-feira, 28 de julho de 2025

A ALMA E AS ESTRELAS.


 

“Eu me tornei uma estrela da manhã entre os deuses”, dizia um epitáfio antigo. Sêneca dizia que a alma humana imortal veio de fora deste mundo, das estrelas, e fará seu caminho de volta para lá. Sendo assim ela ia reunir-se com os deuses. Para Platão, a alma humana é imortal, e, como imortal, é divina, porque divinos são os “imortais” que são os deuses. A morte se define em termos de separação entre alma e corpo, e alguns filósofos da corrente de Platão diziam que a alma, na sua separação, carregava o corpo com ela. Quando o imperador Otaviano foi assassinado, uma testemunha afirmava ter visto a alma do imperador subindo aos céus, e que ele não tinha sido assassinado porque sua divindade não podia ser extinguida. Como era explicada a origem da alma humana? “No princípio o Criador fez um número igual de almas igual ao número de estrelas, e tendo-as colocado ali como numa carruagem mostrou-lhes as leis do destino. As almas assim devem ser implantadas nos corpos humanos. A sua principal tarefa é governar os sentimentos e desejos do corpo. Depois do seu tempo de vida retornarão e habitarão junto à sua estrela gêmea, e lá terão a bem-aventurança e agradável existência”. ( em Aristófones: O Timeu de Platão, apud N.T.Wright, “A ressurreição do Senhor”, pag.107). Por isso, ninguém em sã consciência, uma vez libertados do corpo que é o cárcere da alma, iria querê-lo ou algo parecido de volta. Porque assim chamavam vida essa libertação, e morte à vida encarcerada no corpo. Não se deve portanto temer a morte, ela é o dia em que nascemos na eternidade e todos vão para a ilha das bem-aventuranças. Epicteto, nessa época, dizia que o nosso objetivo na vida é que se deve aprender a ser feliz, ou, ao menos, não infeliz. Na verdade, a alma libertada do corpo ia de volta para as estrelas e para os deuses. Ali os mortos irão ganhar uma vida bastante completa com Osíris, e como Osíris nos deleites da eternidade. E como muitos pensavam que, na separação do corpo a alma carregava também o corpo, para eles a cremação era inaceitável e uma coisa hedionda. A morte era uma saída à luz do dia. Falamos que a habitação da alma seria na estrela gêmea da qual tinha saído. Durante muito tempo houve um grande debate filosófico acerca de qual material exatamente era o das estrelas e da alma, mas havia o sentido geral de que não seria de coisas muito diferentes. Eram, por assim dizer, feitas umas para as outras. Por exemplo, muitos acreditavam que a alma era um tipo particularmente especial de matéria feito de uma substância ígnea, exatamente o que estava presente nas estrelas. Ficamos com a impressão de que estamos em termos de cristianismo. Mas esta era a teoria de Platão, no séc.V a.C. desenvolvida por seus discípulos como Sêneca, Aristóteles e Epicteto, entre os gregos; e por Cícero, Virgilio e Cipião entre os latinos. Platão fez uma reviravolta da teoria do Homero, sec.VIII a.C. que foi o pioneiro desta  filosofia, junto com seus discípulos Ésquilo e Sófocles. Por isso alguns autores têm Homero como o iniciador do A.T. do helenismo antigo, e Platão como o N.T. do mesmo mundo antigo helenístico. A mudança de Homero para Platão deu-se com o seguinte objetivo: Proporcionar aos jovens aprender a verdadeira concepção filosófica para amar a Pátria e a sociedade sobre a morte não ser algo lamentável, mas algo bem vindo, a vida aquirida na ilha das bem-aventuranças. É o meio pelo qual a alma imortal se liberta da prisão domiciliar do corpo em que viveu na terra. “Se o mundo antigo não judaico tinha uma Bíblia, seu antigo testamento era Homero, e Platão o novo testamento do mesmo mundo helenístico antigo”. (N.T.Wright, o.c.p.71). Dizemos isto porque no Antigo Testamento da Bíblia judaica também não se falava na ressurreição, justamente como Homero que viveu na mesma época de Moisés. Só começou a surgir a teoria da ressurreição num tipo de conceito platónico pelo ano 167 antes da vinda de Cristo e por circunstâncias históricas, na época dos Macabeus.

Conclusão. A busca da felicidade é uma constante da sabedoria humana. E antes que chegasse a teologia e as teologias surgiu a filosofia e as diversas filosofias. Assim, paralelamente a Moisés existiu um Homero, e paralelamente às preocupações de Daniel, o maior expoente da nova doutrina da ressurreição apareceu um Platão também quase contemporâneos, e  temos  influências tanto no conceito de alma como de ressurreição ainda hoje em dia tanto de Daniel como de Platão.

P.Casimiro João        smbn

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segunda-feira, 21 de julho de 2025

ATOS DOS APÓSTOLOS E PAULO ANALISADOS.


 

Noutra página falamos no tipo de epopeia em que parece estar redigido o livro dos Atos dos Apóstolos como está sendo assumido pelos estudos atuais. Vejamos: “Os relatos dos primeiros capítulos do livro dos Atos dos Apóstolos não constituem fonte confiável para as origens das primeiras comunidades cristãs; Tendências lendárias e idealistas impregnam esses capítulos.” (Helmut Koester, Introdução ao Novo Testamento vol. II §8, p.102). Mais à frente fala que o livro trata os apóstolos Paulo e Pedro como são tratados os heróis da Ilíada e da Eneida, de Homero; o que leva a crer que o autor tinha em mente as epopeias de Homero onde se inspirou para a composição do Livro Atos dos Apóstolos. (o.c.&9,p.158). Falemos então sobre Paulo. Em primeiro lugar, há uma discrepância entre o livro dos Atos e as Cartas acerca da procedência de Paulo. Em Atos se diz que Paulo era cidadão romano. E nos fragmentos das Cartas aos Filipenses, 2Coríntios e Gálatas Paulo descendia de uma família israelita da tribo de Benjamin, circuncidado ao oitavo dia, e membro da seita dos fariseus (Fil.3,5); 2Cor.11,22; Gl.1,14; 2,15), o que nos tira do sério sobre a historicidade dos Atos como dissemos. Podemos enxergar vários exageros e absurdos sobre a valentia e braveza de Paulo no referente ao seu esforço persecutório narrado nos Atos. Vejamos o que nos dizem os estudiosos: “O relato do livro dos Atos diz mais do que é possível acreditar: a presença de Paulo na morte de Estêvão é excluída em Gl.1,22; É impensável que Paulo recebesse cartas dos sumos sacerdotes, pois nem os sumos sacerdotes nem o Sinédrio jamais tiveram esses poderes para fazer isso.” (o.c.§9,p.115). O que realmente começou acontecendo foi que os próprios judeus começaram a excluir os cristãos das suas Sinagogas mormente depois do congresso de Java no ano 70 d.C. Pois daí em diante eram considerados como uma seita ilegítima judaica, e por isso sujeitos à lei romana da perseguição pois eles tinham perdido os direitos que eram só dos judeus. E o que dizer sobre as narrativas de “vocações” com sabor e ao jeito do Antigo Testamento? Acontece também na narrativa da famosa “conversão de Paulo o mesmo jeito épico e lendário do Antigo Testamento. Os estudiosos dizem que o chamado de Paulo “é um escrito no estilo de lenda”, como as lendárias vocações proféticas. De quebra, é introduzida outra narrativa como um galho nos diálogos entre Paulo e Ananias, o que cria um ambiente mágico e fabuloso próprio do gênero épico de todo o livro, como outros episódios da soltura de Paulo do meio das correntes e das grades das prisões, equiparando assim os dois heróis de Atos com os heróis da Ilíada, Ulisses e Aquiles ou da Eneida, Eneias e Agamenon. Aliás, heróis que quebram correntes, somem e se tornam invisíveis e quebram colunas, que andam sobre ondas do mar, são comuns em poemas antigos, como os de Apolônio de Tiana, Ben Adab, e Sansão no poema do livro dos Juízes. Aqui os heróis são Pedro e Paulo. Vendo mais sobre Paulo: “Embora o livro dos Atos dedique um total de 7 capítulos à narrativa do julgamento de Paulo e à sua viagem a Roma, não existem dados historicamente confiáveis  sobre essa viagem e julgamento. O discurso ao povo depois da prisão (At.22), seu comparecimento diante do Sinédrio (At.22,30), e o seu julgamento diante de Festo e Agripa II, como o relato completo de naufrágios (At. Cap.22 e 23) são produtos da habilidade novelística de Lucas “ (o.c. §9, p.158). Também não há certezas sobre o fim da vida de Paulo. “O propósito da épica de Paulo é o seguinte: terminar a história que começou em Belém e Jerusalém, e terminar com a chegada vitoriosa do evangelho à capital do império, e daí conquistar o mundo.” (o.c.§9,p.158). Este é o objetivo da obra de Lucas em Atos e no evangelho, dois livros que primitivamente eram um só Livro. Originalmente Lucas escreveu um único livro, que compreendia Atos e Evangelho contando toda a história desde o anúncio do nascimento de João Batista até a chegada e pregação do apóstolo Paulo em Roma. E o que contribuiu para essa divisão em dois livros Atos e evangelho? Há uma razão no sentido de considerar Atos um romance em que histórias prazerosas de prodígios, maravilhas, e especialmente histórias de naufrágios, soltura de prisões e quebras de grades e correntes são apropriadas. Nos contos épicos do mundo greco-romano, especialmente de Eneida de Virgílio estes elementos são essenciais. Além do mais os críticos têm mais a acrescentar sobre o prólogo de Atos, que terá sido um grande acrescento feito entre os séculos II-IV” indo buscar elementos do Antigo Testamento. (o.c.§12,p.330).

Conclusão Encerro este resumo com as conclusões de H.Koester: “A obra de Lucas é uma epopeia da instituição da Igreja que substitui a epopeia de Israel, especificamente a história do êxodo do Egito por uma nova história que sela a separação de cristãos e judeus” (o.c.§12, p.332). Justamente com esta finalidade podem acontecer dúvidas, ou ser consideradas inverdades muitas narrativas hoje consideradas lendárias, segundo o gênero épico em questão. Na verdade, quanto a Paulo, “a tradição sobre sua chegada a Roma e o martírio sob Nero é lendária” (o.c. §10,p.176). A crítica moderna se inclina, como lugar mais provável para o martírio de Paulo em Filipos, segundo a análise das Cartas Pastorais, e confirmado por recentes escavações. (Id.158). Para a crítica moderna também é lendária a tradição da morte de Pedro em Roma, sendo o lugar mais provável na Síria. Para Eduard Arns, “os Atos dos Apóstolos são uma história em forma de novela”. (E.Arnes, “A Bíblia sem mitos”, p.231).

P.Casimiro João

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segunda-feira, 14 de julho de 2025

PRISÕES DOS APÓSTOLOS E PRISÃO E PÁSCOA DE JESUS.


 

As narrativas da prisão e a soltura de Pedro mostram ser paralelas com a saída de Jesus do túmulo É impossível que não haja uma intenção explicita de comparar uma coisa com a outra, dando ênfase à prisão como sendo o túmulo, e a saída como ressurreição. Em todas aparecem anjos, tremores de terra, correntes que caiem e portas que se abrem e grandes luzes. Aliás, outros paralelos aparecem na cura do paralítico no templo por Pedro, At. Cap.3 e o paralítico curado por Jesus “levanta-te e anda”, no capítulo cinco de João (Jo.5,8). Há ainda os paralelos das prisões de Paulo na narrativa de um grande tremor de terra que abriu as portas da prisão, e as correntes caíram de suas mãos (At.16,26). Aliás, os editores poderiam ainda apoiar-se naquele dito de Jesus “fareis coisas maiores do que estas” sobre os que viessem a acreditar em Jesus. (Jo.14,12). Para uma avaliação geral, é bom termos em conta o caráter épico dos Atos dos Apóstolos, como falei na página anterior onde citei um dos maiores estudiosos do Novo Testamento. Na verdade, Helmut Koester (Introdução ao Novo Testamento, vol.II, pag102 nos diz que os Atos dos Apóstolos têm um enredo do jeito dos épicos latinos, como a Ilíada de Homero, que lhe teria servido de modelo. Nos Atos, Lucas teria criado um ambiente mágico e fabuloso próprio do gênero épico de todo o livro, com os episódios da soltura de Paulo e de Pedro do meio das correntes e das grades da prisão, equiparando assim os dois heróis de Atos com os heróis da Iliada Ulisses e Aquiles, ou Eneias e Agamenon da Eneida. Aqui os heróis são Paulo e Pedro. Aliás, heróis que quebravam correntes, somem e se tornam invisíveis e quebram colunas, que andam sobre o mar, são comuns no imaginário antigo, como Apolônio de Tiana, Bem Adab, e Sansão, no poema dos Juizes. (Jz.16,23-30). Por outro lado, estas narrativas mostram a comparação com a prisão de Jesus no túmulo e a sua saída. Os estudiosos afirmam também que a vida e atividade de Jesus passava para os seus seguidores, manifestando-se neles. Por isso, fatos extraordinários como prisões, tremores de terra, correntes que caíam, e portas que se abriam eram comuns a Jesus e aos discípulos. Eram fatos reais? Não interessa, o que interessa é o objetivo catequético. (Cf. E.Schillebeekx. Jesus, a história de um Vivente, p. 382ss). Vejamos os seguintes paralelos, onde colocaremos os versículos referentes aos apóstolos nos Atos em itálico: Evangelho: “Era a preparação do sábado, e esse sábado era particularmente solene”(Jo.19,31) Atos dos Apóstolos sobre a prisão de Pedro: “Era dia dos pães ázimos” (At. 12,3). Evangelho: “Tendes um guarda, ide e guardai o túmulo como entendeis” (Mt.28,65). Atos: “Na prisão colocaram quatro grupos de soldados” (At.12,4). Evangelho: “Um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela” (Mt.28,2). Atos: “Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela” (At.12,7). Evangelho: “Houve um grande tremor de terra e um anjo do Senhor rolou a pedra do sepulcro”(Mc.16,4). Atos: “As correntes caíram-lhe das mãos”(At.12,7). Evangelho: “Os guardas pensaram que morreriam de pavor”Mt.28,4). Atos: “Passaram a 1ª e a 2ª guarda, e o portão de ferro abriu-se sozinho”(At.12,10). Evangelho: “As mulheres correram a dar a boa nova aos doze”(Mt.28,8). Atos: “A Igreja orava incessantemente a Deus por Pedro”(At.12,5).

Conclusão. Após este estudo comparado, será mais fácil olhar para o trabalho pessoal dos autores do Novo Testamento, que, no dizer do capitulo 16 da LG do Vaticano II são chamados de verdadeiros “autores, exercendo as suas capacidades humanas”.

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 7 de julho de 2025

RELIGIÕES COMO DIFERENTES CONFIGURAÇÕES DA FÉ.


 

Fé é uma coisa, religião é outra. O ser humano já nasce com fé. O ser humano que despertou para a consciência despertou também para a fé. Por isso nas democracias modernas se manda respeitar a fé das pessoas, como se respeita a pessoa. Os ancestrais, de todos os continentes e ilhas tinham fé. E no dizer dos antropólogos, o sinal indicador é o culto dos mortos mostrado nas descobertas e escavações arqueológicas, o que distingue os humanos dos puros animais. Então, cada agrupamento tentou organizar a sua fé, ou configurar, colocando-a inteligível e apta para a memorização, e socialização. Deram assim uma configuração para as ideias segundo as quais  expressavam sua fé, trazendo para a palavra o que estava na cabeça e no coração e dando-lhe forma. Avançando mais um ponto, assim surgiram as diferentes religiões para expressar a fé igual em todas as latitudes. Apareceram então as várias” doutrinas”, ou configurações da fé. Os teólogos chamam-lhes de sistemas, e também paradigmas, mas detenhamo-nos no termo “sistemas” que na linguagem da computação de hoje chamamos também de “configurações”. Vamos recuar para tempos mais antigos, para os exemplos de fé dos povos antigos. Exemplos mais conhecidos e sofisticados, os Judeus e os Gregos. Tanto para uns como para os outros havia o deus principal no panteão dos deuses, e havia os deuses subalternos. O caso mais conhecido era o “demiurgo” no mundo grego. Segundo Platão, o demiurgo era o artesão divino ou o princípio organizador do universo. No pensamento gnóstico, ele era distinto do Deus supremo e em geral considerado mau. O deus principal não se misturava com a matéria por ser má, e vivia indiferente ao mundo criado, como coisa que não lhe dizia respeito. Então o deus de segunda classe se evadiu do seu comando, e conseguiu criar este mundo como está agora, e ficou o chefe deste cosmo, chamado mundo, que não tinha nada a ver e a dever ao deus supremo. O evangelho de João faz referências a este demiurgo, chamando-lhe “príncipe deste mundo”, e “chefe deste mundo” (Jo.14,29-31).  Na alta filosofia, os sábios lhe chamavam de “Logos”, que passou para os latinos como “Palavra” e “Verbo” por “quem tudo tinha sido criado e sem ele nada do que foi feito se fez”, como refere também o mesmo evangelho de João (Jo.1,3). Passando agora para a cultura e a filosofia judaica, no capítulo oito dos Provérbios vem a mesma figura do demiurgo e do Logos poeticamente descrita e identificada, à semelhança também de um segundo deus, e que tinha sido “mestre de obras” de todas as obras de Deus. (Prov. 8,30): “Eu existia antes de suas obras mais antigas, desde a eternidade eu fui constituído, desde o princípio, antes da origem da terra. Fui gerado quando não existiam os abismos, antes das águas, antes das montanhas, antes das colinas fui gerado. Antes das terras, campos e os primeiros vestígios do mundo. Estava presente na preparação do céu e da abóbada celeste, lá estava eu firmando as nuvens no alto, e reprimindo os mananciais do abismo, e fixando os limites ao mar, de modo que não ultrapassasse suas bordas” (Pov. 8,22-30). Este segundo deus “mestre de obras” é em tudo outra versão do demiurgo ou Logos dos Gregos. Avançando para o Novo Testamento, os primeiros cristãos quiseram dar forma à fé no Deus Javé, e aglutinando estas categorias tanto do Antigo Testamento quanto do demiurgo dos gregos, no meio dos quais viviam. Os Padres, os Filósofos e Teólogos da primitiva Igreja, pensando ainda na promessa de Jesus do Espírito Santo, se preocuparam em organizar ou configurar a fé em dados que servissem para todas as igrejas e comunidades. E estavam bem por dentro das figuras do demiurgo  ou Logos dos gregos,  e do “deus-sabedoria-mestre-de-obras” dos Judeus. Isso se expressou no Deus Pai, no Deus filho e no Deus Espírito Santo, que nas suas filosofias aglutinaram num só Deus com uma natureza ou essência única mas distintos como pessoas subsistindo por si. A união do filho de Deus com a natureza humana ficou chamada de união hipostática, que, como dizem os teólogos, para o povo ficou ininteligível, como para nós também. E da promessa de Jesus do Espirito Santo, as dúvidas eram se procedia só do Pai, ou também do Filho. Para os gregos, só do Pai; para os latinos, do Filho e do Pai. Ficou firmada a configuração da SS.ma Trindade. Configuração que os teólogos chamam de sistema ou paradigma. Para acabar com a discussão que não terminava, foi convocado um concílio para a cidade de Éfeso no ano de 325. Quem presidiu e quem convocou o concílio foi o imperador Constantino que temia um racha na Igreja e no império. Das duas alas de opinião ele escolheu uma, e essa foi imposta para todos. Aos que não concordavam mandou para o exílio, e outros mandou assassinar. E como seria se ele tivesse escolhido a outra ala?

Conclusão. Geralmente a gente pensa que o Papa sabe tudo, mas ele tem os assessores, e convoca reuniões e sínodos e concílios para estudar: ora quem estuda é para saber; os bispos não sabem tudo; os teólogos que vivem estudando não sabem tudo; os padres não sabem tudo. Até porque Papas e concílios já afirmaram coisas como dogmas e depois outros Papas e concílios desfizeram. O último exemplo foi a condenação da teoria da evolução pelo concílio de Colônia, em 1860, e há pouco tempo essa teoria foi aceita como certa pelo Papa João Paulo II no dia oito de dezembro de 1969.

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 30 de junho de 2025

A MORAL DO “É DANDO QUE SE RECEBE”.


Esta afirmação, atribuída a São Francisco de Assis, tem criado mentes depressivas, por um lado; e mentes gulosas e sequestradoras,  por outro lado. Depressivas, quando não correspondidas, i.é, quando não recebem de volta o bem que acham que fizeram. No dizer de Augusto Cury, isso cria um desiquilíbrio emocional ou depressivo. O equilíbrio emocional de Cristo se baseava em não esperar do outro a mesma retribuição do bem que fazia. E nos convida à mesma atitude para manter o equilíbrio emocional. Por outro lado, esse jargão cria mentes gulosas, ambiciosas e sequestradoras naqueles que, já tendo milhões, dão alguns centavos sabendo que esses centavos irão produzir milhões no futuro. Pense nas eleições de todos os países modernos, e nessa democracia quando eleitores “vendem” seu voto a um candidato astuto por algum favor momentâneo. Esse “favorzinho” e mais mil de um milhão de favorzinhos renderão para o candidato milhões nos seus salários fabulosos além de outras benesses. Por sua vez, candidatos gulosos que se tornaram deputados, senadores, etc. se associam em partidos, que, juntos, sequestram o dinheiro da Nação. E quando o poder executivo propõe planos e projetos de benefícios sociais, esses partidos da gula se arrepiam e reagem em não aprovar essas leis se não for a troco de mais dinheiro, o que no Brasil é chamado de “Emendas parlamentares”, um nome de fantasia para seu enriquecimento pessoal. Na verdade, criaram-se partidos da gula que sequestram assim todo o dinheiro e economia de uma Nação. Desta maneira se subvertem as democracias, pois “democracia” significa no seu sentido original, poder do povo. “Cratos” poder; “demo’, povo. Mas resulta que não é mais poder do povo mas poder do dinheiro. A democracia virando ditadura, por culpa da gula do dinheiro. Esta matéria leva-nos a refletir no problema maior que é a Moral e a ética. Precisamos saber que o traço característico da Moral é a universalidade, e que o problema moral preexiste ao surgimento do cristianismo, que tem apenas dois mil anos de existência. Dissemos noutra página que a fé é uma e úncia em  todo mundo, e as religiões são sistemas, ou paradigmas ou configurações. Aqui acontece a mesma coisa, e  afirmamos que a Moral é única, porém povos e culturas fizeram os seus sistemas, ou seus paradigmas, ou como têm sido chamados, seus códigos. É do conhecimento geral o “Código de Hamurabi”. Slogans ou jargões como “Não faça aos outros o que não quer que façam a  você, são universais, digamos, são o primeiro mandamento, junto com o respeito ao Deus supremo, como expresso nos primeiros Códigos da humanidade, séculos antes da Bíblia hebraica. Isso também afirmaram todos os expoentes e fundadores das religiões tradicionais, como Confúcio, Lao Tsé e Zoroastro. Portanto, “sistemas ou paradigmas de moral são as regras com que os homens organizaram a sua razão e elaboraram as suas Morais” (U.Galimbertti, Rastos do sagrado, pag.31). No cristianismo surgiu essa sentença que, à primeira vista pode parecer uma sentença padrão e de valor heroico “é dando que se recebe”, mas tem os pés de barro embora pareça com cabeça de ouro. Já vimos como pode ser utilizada para o maior egoísmo e egocentrismo, e como produz mentes gulosas e sequestradoras de fortunas. Além disso “supõe um Deus contabilista, jurídico e retribuidor. Porém, um Deus retribuidor que adota a regra do “dou para receber de volta” (do ut des) seria um Deus incapaz de graça. É preciso lembrar isso a todos que interpretam a salvação como direito que pode ser adquirido com boas ações sobre a terra, a todos os que se julgam a salvo e se esquecem de que Deus é pura gratuidade” (o.c.p33). Na verdade, podemos considerar três tipos de ética ou moral: a ética cristã, a ética laica e a ética da responsabilidade. A ética cristã é a que acabamos de considerar e que traz no seu bojo a depressão para quem se decepciona com a falta de retribuição, por um lado, e as mentes gulosas por outro lado. Ao lado dela veio a ética laica, formulada por Kant, que tem por princípio que o homem deve ser sempre tratado como um fim e não como um meio. Ele resume também, afirmando o seguinte princípio: “Faça de tal maneira que o que você faz possa ser seguido por todo mundo”. Ou seja, no conceito formulado por Kant, não se mira o receber de volta, mas a gratuidade do bem: o bem deve ser feito porque é bem Esta foi completada com a ética da responsabilidade por Max Weber com a ética da responsabilidade. O que é a ética da responsabilidade? A ética que faz questão de que quem age deve responsabilizar-se pelas consequências de suas ações. Portanto, não fazer simplesmente o bem porque  tem um mandamento, mas responsabilizar-se pelos efeitos sociais e suas repercussões. No exemplo de quem vota num candidato, não deve ter em vista o dever de votar simplesmente mas olhar às consequências sociais.

Conclusão. As duas éticas modernas completam a ética cristã, e são abrangentes. Porque nenhum ato é isolado, mas mexe com o mundo e seu  universo. São portanto três variantes no conceito de ética: a cristã, a laica e a ética da responsabilidade. Esta olha para as consequências sociais, ecológicas e humanas ou desumanas dos atos particulares e fazem a radiografia do jargão tão em voga do “é dando que se recebe”, o qual, nesta radiografia, fica como o jargão de uma moral manca.

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 23 de junho de 2025

GENOMA, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E RELIGIÃO.

Estamos na época de uma nova corrida planetária à Lua. A américa do Norte por um lado, a China e Rússia por outro lado, a Europa e a Índia no páreo. Até que foi a Índia que recentemente encontrou água na Lua, e agora todos querem beber daquela água. Outra história que vai revolucionar as fontes de energia limpa: A Alemanha descobriu e está em fase de testes avançados, que podem formar barragens hidráulicas que não vão seguir os moldes tradicionais, i.é, não serão represas de rios mas irão armazenar água do fundo do mar em grandes reservatórios de 50 e ou  100 metros de diâmetro na sua circunferência, e estas enormes bolas de concreto oco serão jogadas nos oceanos, e lá dentro irão transformá-la em energia, do mesmo modo que as represas hidreléticas, só que é tudo invisível no oco daquelas bolas monstras. Este avanço nos espanta, assim como esses projetos de começar a captar os minerais raros que serão pesquisados na Lua e chegarão às indústrias mais sofisticadas aqui na terra. E de quebra aparecerão bases lunares que serão os novos pontos de apoio para as viagens a Marte. Daqui a 10 ou o mais tardar 20 anos, ouviremos falar que na Lua  tem uma colônia ou uma cidade de humanos. Chegou também a ocasião de avaliar os milhões de Provas do Enem com o uso da IA, inteligência artificial, o que vai economizar horas e dias de trabalho dos professores, e ligeireza dos resultados. Isto que estará acontecendo nesta década é mais avançado do que na época de 1990 quando a ciência começou a mexer no genoma humano que consiste em 3,1 bilhões de pares de base do DNA. Foi também a época da condenação dos processos da regulação da natalidade e dos meios anticoncepcionais por parte da Igreja. Na época o Papa João Paulo II fez umas denúncias severas sobre esses procedimentos porque, segundo ele, seria abrir caminho para a seleção de indivíduos melhores com relação aos piores. Afinal, a ciência respondeu que a natureza já fazia isso durante  milhares de anos, apenas agora artificialmente aconteceria mais rápido. E por parte dos teólogos, hoje se diz que “a Igreja não confia no homem e muito menos nas suas escolhas” (U.Galimbertti, Rastos do sagrado, p.324). Não só, mas sobretudo  em relação à dimensão da ética sexual,  um campo onde a Igreja se acostumou a avaliar muito abusivamente os novos avanços que surgiram devido aos estudos na área das ciências humanas da Psicologia, antropologia, e da cosmologia com a variante da evolução. É por isso que é aconselhada a adotar a “estratégia que todos os pais adotam com relação aos filhos quando percebem que as proibições que serviam para educar os filhos quando eram pequenos perderam sua eficácia; então os pais se dispõem ao diálogo e à escuta e adotam modalidades educativas que nascem da consciência de que a emancipação dos filhos não pode parar, e de que toda a intervenção categórica e definitiva é contraproducente”(o.c.id.id.). Na verdade, quando há uma contenda entre a ciência e a religião, a Igreja ainda não acabou de se dar conta que a ciência é independente da religião, e, quer queiramos ou não, quando há embate entre as duas quem leva o melhor é a ciência, como deixa entrever a história desde os tempos de G.Galileu, passando pelas vitórias da Revolução Francesa e as últimas descobertas da engenharia genética. Os tempos modernos resolveram chamar de “secularização” esta independência da ciência em relação à fé e religião. Situação que também ficou selada no paralelo da independência do Estado em relação à Igreja, separando o “casamento” entre  eles que vinha de longa data, desde os tempos do imperador Constantino, no séc. V d.C. E aí resultou, de quebra, que as autoridades, sendo eleitas pelo povo, perderam aquela aura mítica segundo a qual elas vinham de Deus. É a democracia que nasceu, porque democracia é o poder que vem do povo. De quebra, daí se deve também a origem do Estado laico.

Conclusão. Na base de nossa reflexão está a questão de como a Igreja confia no homem. É fácil confiar em Deus, ou fazer de conta que se confia. Se alguém diz que Deus faz uma planta crescer com a raiz para cima, tem gente que aceita tranquilo pensando que sim. Mas não vai saber se isso aconteceu alguma vez, e nunca aconteceu. Enquanto isso, a razão questiona se as afirmações a respeito de Deus são inteligíveis ou absurdas. Nesse sentido, o iluminista Kant considerava a Idade das luzes a “saída da humanidade de um estado de menoridade” (apud Galimbertti, o.c.p.300).

P.Casimiro João       smbn

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segunda-feira, 16 de junho de 2025

VIOLÊNCIA E A LÓGICA MIMÉTICA.


 

A humanidade viveu e vive de ondas de violência, como ondas do mar. E arrumou seus símbolos  como Caim e Abel. E hoje os símbolos dos Hitlers. A violência tem a sua fonte na fome do poder. “A fome do poder perverte o tecido interno do ser humano donde resulta a relação de senhor-escravo e a coisificação do homem como joguete na mão do ímpio. E aqui há duas vertentes do ser humano que se subvertem: uma é a dignidade do ser humano como construtor de si próprio que é subvertida, e outra é a dimensão do ser humano frente à interpelação do “outro” que também fica truncada.  Para interromper esse ciclo de violência torna-se necessário atentar no termo simbólico que é “o outro” na sua alteridade inabarcável; esta atitude se forma, antes de mais nada, por um critério crítico denunciador e superador de uma cultura do individualismo egoísta” (Cf. Duque, João Manuel, “Para o diálogo com a pós-modernidade, Coimbra,48). Isto pressupõe dar lugar a um “humanismo do outro homem”                                               , como paradigmaticamente lhe chama Levinas. Nenhuma atitude religiosa pode prescindir desse humanismo fundamental, sem correr o grave risco de se tornar atitude desumana, mesmo anti-humana, e, como tal, anti-divina, ou seja, falsamente religiosa”o.c.p.48). Por outro lado, nasce daí a responsabilidade de denunciar a cultura de todos os idealismos especulativos e ideológicos, de todas as falsas utopias que sacrificam a realidade concreta, e sobretudo a realidade das vítimas da história ao totalitarismo de um sistema filosófico, político ou religioso. Nenhuma atitude religiosa  autêntica pode prescindir de uma profunda solidariedade com o “outro” sofredor, e da memória dos mártires da história” (o.c.p.49). Na base da nossa análise está em jogo a psicologia do conflito e da violência, dando-nos conta de que os seres humanos são mais violentos que os animais, num tipo de conflito que é interno, recíproco e potencialmente interminável, ao qual nenhum sistema judiciário consegue por freio. Historicamente, a violência tem fabricado vítimas inocentes e bodes expiatórios exigindo sacrifícios rituais nas religiões. E, como diz Duque, “as religiões fabricam bodes expiatórios e depois os divinizam sem saber o que estão fazendo” (o.c.p.27). No dizer de Girard, “a linguagem dos evangelhos confirma a interpretação da morte de Jesus como bode expiatório: um de seus epítetos ou sinónimos é “Cordeiro de Deus”, o que é sinônimo de bode expiatório” (Girard, “Cristianismo e relativismo”, pg.105). Por outro lado, daí origina-se o “contágio mimético”, que significa que  uma multidão é contagiada por uma convicção unânime de ter encontrado um culpado, uma vítima de todos os seus pecados; não há comportamentos individuais, mas apenas a lógica mimética da multidão. No meio disto aparece o lugar das religiões. Estudiosos das religiões afirmam que por milhões de anos as religiões, apesar das suas contradições foram aquilo que permitiu às comunidades primitivas não se autodestruírem, inventando o símbolo do bode expiatório e a vítima e os sacrifícios. No cristianismo, a vítima é inocente, nas outras a vítima é culpada como no mito de Édipo onde é morto o pai Laio para casar com Jocarta. Isto sem falar da violência contra a Natureza, já que os homens primitivos não cultivavam a terra pelo medo dos espíritos e divindades que nela habitavam e permeavam a natureza. (Girard,31). Vem ao nosso caso a expressão usada na teologia da pós-modernidade da concepção de um “Deus sobre nós” (Deus super nos), ou de um “Deus entre nós” (E.Jungel, apud Duque, o.c.p.98) respondendo à eterna pergunta da metafísica “Onde está Deus?” Esta é uma questão que brota já do próprio texto escriturístico. Esse contexto surge no âmbito da discussão sobre o Deus de Israel ou dos outros deuses. E  “onde está o Deus de Israel, se parece estar sempre ausente? Aqui surge o dilema: a ânsia da certificação do ser divino acompanha a literatura bíblica. Isto afeta também a ideia que o homem atual passa a ter de Deus, mas também a outra presença, a do mundo. Este passa a ser o espelho da sua atividade pois é obra sua, pela qual ele se sente responsável, tornando supérflua a ação de Deus. O peso do mundo então cai sobre o homem tornando supérflua a referência a Deus. Peso demasiado pesado, sobretudo frente às injustiças de que a história é testemunha. O recurso a Deus poderia então aliviar o homem desse demasiado peso. Mas é então neste contexto que se volta à pergunta: “Onde está Deus?” pergunta que parece perder-se no vazio do próprio ressoar.  De novo temos a resposta de Jungel: “A fé não pode falar da presença de Deus sem pensar simultaneamente na sua ausência”.(Apud Duque, o.c.p.99). Foi esta a experiência que Dietrich Bonhoeffer nos deixou na experiência do “Viver em Deus sem Deus, como se Deus não existisse” como ele assim se expressou na sua expressão “Honest to God”, honestos com Deus. O recurso do “Deus entre nós” deu-se na cruz, onde “o Deus que morre não é um Deus sobre nós, mas um “Deus entre nós” (Jungel, apud Duque, o.c.p.101). Isto é tudo o contrário da religiosidade onde “tudo vale”, porque “nada tem valor”, exceto a promoção individual e o dinheiro, e onde se cria a era do vazio e do “homem light”, onde se fabrica também a “self religião” como um “sel service” no restaurante. E também a religião ‘de mercado’ onde a religião é apresentada com a mesma facilidade com que se vai ao mercado comprar um parafuso para completar a engrenagem de uma máquina e pô-la a funcionar. Porém, a  atitude de fé não é uma atitude de supremacia em relação ao mundo e aos outros, mas uma atitude de entrega de si mesmo” (Duque, o.c.p. 156).

Conclusão. Refletimos sobre a filosofia da violência e da lógica mimética e do bode expiatório. A psicologia explica que a violência tem que escolher um bode expiatório para encontrar a desculpa furada da fome de poder e de domínio. Os Hitlers antigos viviam disso, como o da Alemanha nazista, e os hitlers de hoje das guerras de Gaza. E acontece o fenômeno do “contágio mimético” pelo qual as massas agem por mimetismo ou imitação contagiosa dos seus chefes.

P.Casimiro João     smbn

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segunda-feira, 9 de junho de 2025

ILUMINISMO DE HERÁCLITO ANTES DO ILUMINISMO.


 

A “epilepsia”, ou o “mal sagrado” para os antigos, e “possessão” dos demônios para os judeus, o que era para Heráclito, o pai da medicina? Sobre o assim chamado “mal sagrado”, eis o que ele já dizia: “ Em nada é mais divino do que outras doenças, pois tem estrutura e causas racionais, porém os homens o julgaram obra divina por ignorância e espanto, já que em nada se assemelha às outras doenças; e esse caráter divino é confirmado pela dificuldade que eles têm de compreendê-lo” (Hipócrates, “Mal sagrado &1, apud Umberto Galimbertti, “Rastos do sagrado”, p67). Por esta atitude de Heráclito, (séc. V a. C.), considerado o pai da medicina, é antecipado o Iluminismo do Renascimento, quando a luz da razão ganhou independência em relação à fé no séc. XVIII, que foi chamado o século das luzes ou do Iluminismo. Porque de fato a medicina não pertence ao campo da fé mas da ciência. E o Iluminismo assim iniciou essa caminhada a duras provas e bem à revelia da Igreja, pois a Igreja se julgava com poder absoluto tanto no campo da fé como no campo da ciência. Porém, Heráclito bem claramente falou já no séc.V a.C. o que os filósofos e cientistas do Iluminismo falaram depois de tantos séculos, no século 18. Por isso nos diz o autor citado que “para Heráclito, o distanciar-se do divino equivale a distanciar-se da ignorância; e a “impiedade”, mais do que uma revolta contra Deus, é a condição para encontrar conhecimentos. Com efeito, iniciando a discussão sobre o ‘mal sagrado’, nome da antiguidade para a epilepsia, Heráclito pôs os pingos nos iis” (o.c.p.68). Nesse sentido diz outro investigador que, nestas circunstâncias, o recurso ao divino é a máscara da ignorância” (M.Vergetti, id., id.). Na verdade, Heráclito com esta teoria, se afastou da mítica de Platão, sobre a unidade do cosmo. Nesta unidade, o homem teria sido feito para o todo, quase como o Tao para o Lao-Tsé da China. Segundo esta unidade mítica, o homem seria um ponto dentro do universo, e não podia mexer no universo, ou, como diria o filosofo da Idade Média Tomás de Aquino, dentro do “motor imóvel”. Vem ao caso dizer que no mundo há dois tipos de dizer: “Uns que arriscam a linguagem, e estes “são os que dizem”; outros usam a linguagem e se detêm nos modos de dizer” (o.c.p.74). A linguagem destes não diz, a linguagem simplesmente lhes serve; e valem-se  da linguagem para brincar de “dizer” mas não dizem mais nada senão sons. Por outro lado, tem havido um mundo de só obediência e só submissão na área religiosa e na área civil que se criou em toda a Idade Média. Até porque a razão e a inteligência nunca foram chamadas a exercer a primazia. Geralmente, o mundo tem sido governado por ditaduras de reis e de impérios, e por ditaduras da política nos outros tempos e na área da Igreja. E em todos os regimes o Estado privava as populações em geral do acesso à escrita e à leitura e portanto à ciência, aliás já como diziam Platão e Aristóteles que o estudo era só para as elites, não para as classes baixas. Inclinação seguida também pela Igreja católica que só e sempre escolhia seus dirigentes entre as classes ricas, deixando os outros só para obedecer, castrando-os de pensar, seguindo os regimes do mundo onde a Igreja estava inserida. Daí que  na Igreja, como dizem hoje os estudiosos, a fé reduzia-se à moral, e a moral reduzia-se a uma obediência que não se podia contestar e nem muito menos compreender. Nas pegadas de Heráclito chegou portanto o Iluminismo moderno, desmitificando a doença com causas naturais, e não mais atribuindo-a ao “divino” ou “sagrado”. Daí em diante o espírito se abriu à investigação, e com a investigação chegou também a técnica como ferramenta de atuação na vida  prática. É aqui que U.Galimbertti tira algumas conclusões a este respeito: “A ciência não é neutra, porque cria um mundo com determinadas características que nós não podemos evitar de habitar, e, habitando-o, adquirimos hábitos e costumes. A tecnociência é agora o nosso mundo. Não somos seres isolados e estranhos, seres que só por vezes se servem da ciência e da técnica. Nós habitamos um mundo cientificamente e tecnicamente organizado. Portanto a tecnociência não é objeto de escolha nossa, mas é nosso ambiente onde virtudes e vícios, condutas e paixões, sonhos e desejos são cientificamente e tecnicamente estruturados e já têm necessidade da ciência e da técnica para se realizarem. Não há lugar para os trogloditas que viviam nas cavernas. E os que ainda pensam encontrar uma existência do homem além deste condicionamento simplesmente não têm consciência de que vivem uma mitologia do homem que já não existe” (cf.o.c.p.364). Esse homem mitológico tem sido paulatinamente destronado segundo as etapas da história. Por exemplo, no século dezoito a Igreja chegou a condenar a iluminação a gás, as pontes suspensas e as locomotivas dos trens a vapor. Mas esse homem não existe mais hoje; mais recentemente condenou a regulação da natalidade e os anticoncepcionais e a pílula e a camisinha. Mas esse homem e mulher também não existem mais.

Conclusão. Na Idade Antiga Sêneca foi condenado à morte porque foi considerado ateu: ele se recusava a aceitar a quantidade de deuses dos seus compatriotas. Para ele um deus era suficiente. Discordava da plataforma de pensamento reinante da quantidade de deuses e suas histórias. Hoje não é diferente: não é difícil “inventar deuses” para o nosso serviço. E há para tudo, até para as “causas impossíveis”. Se aquele Deus que está lá em cima não nos serve inventamos os nossos “das causas impossíveis” e das Novenas ou trezenas que “não podemos quebrar”. E  também é muito cômodo para a maioria dos mortais ser “maria vai com as outras”, repetindo as respostas “de rebanho” e de “maria vai com as outras”das postagens da Internet: “amém, amém, amém”...

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segunda-feira, 2 de junho de 2025

RECORDANDO O DIA DO SOL

“No dia chamado do Sol reunimo-nos num lugar da cidade ou do campo, e lemos as memórias dos Apóstolos, até que o tempo permita” (São Justino, Apol.1,67). Parece-nos estar no mesmo patamar das comunidades de base do nordeste brasileiro, ou numa celebração da América latina. Este relato nos diz que São Justino, do século II d.C. se fazia presente nessas orações “Reunimo-nos”, “até que o tempo permita”. E eram lidas as “Memórias dos Apóstolos”, uma vez que o termo “evangelhos” ainda não existia. O primeiro a usar a atual expressão de “evangelho” foi o próprio São Justino, que primeiro lhe deu também o nome de “Memórias dos Apóstolos”. Como sabemos, os evangelhos eram inicialmente anônimos. Os textos originais já existiam há mais de cem anos, sem nome. A primitiva Igreja atribuiu-lhes os nomes de quatro evangelistas no séc.II depois de Cristo. Esta atribuição de autores tinha o objetivo de dar credibilidade e autoridade aos evangelhos, antes chamados Memorias dos Apóstolos. Inicialmente, “evangelho” já existia, e era o anúncio de “boas notícias”, como vitórias militares ou o nascimento de um imperador, antes de se referir à mensagem cristã. A inteligência de aplicá-lo para as “memórias dos apóstolos” se deveu ao gênio de São Justino que era um filósofo da Palestina. Enquanto que, quem começou o nome de “Novo Testamento” foi Tertuliano, no ano 200. Os evangelhos não são relatos de testemunhas oculares, e nenhum dos escritores evangélicos jamais afirmou ser uma testemunha ocular. O fato de serem escolhidos 04 Evangelhos entre os mais de 20 ou 30 que havia, foi para representar os 04 pontos cardeais, os 04 cantos da Terra, Norte, Sul, Leste e Oeste. Formou-se até uma lenda que no concílio de Niceia (325) os quatro evangelhos voaram para um altar, mas, como disse, foi uma lenda popular e nada mais. Os evangelhos, assim como a Bíblia, “não são um livro caído do céu” (Valerio Mannucci, A Bíblia, palavra de Deus, p.74). Mesmo assim as primeiras enciclopédias traziam que teria sido trazido por um anjo, como os islamitas ainda pensam isso hoje sobre o Corão, o livro religioso deles. E mesmo que antes do concilio vaticano II se sustentasse que a Bíblia tinha sido “ditada” por Deus, antes pelo contrário, ela teve por autores verdadeiros os redatores humanos. O Concílio nem chamou os hagiógrafos de “instrumentos”, mas de “verdadeiros autores”, como para dizer que a qualificação de “autor literário” cabe apenas ao leitor humano. E por isso não se resolve num “ditado” da parte de Deus e nem é equiparável a uma inspiração de tipo divinatório”(o.c.p.181). Consequentemente, a “Bíblia também não foi composta com revelações previamente recebidas pelos autores” (L.Alonso Schokel, apud Nannucci, o.c.p.175). Também na Literatura patrística era comum citar a expressão “Carta de Deus aos homens”. Porém, é uma maneira de dizer mais pastoral e homilética do que teológica, expressão que já vinha de Santo Agostinho no seu romance “a cidade de Deus”. (Cf.V.D.n.21). Sobre as traduções da Bíblia, a começar pelas mais antigas, temos dados impressionantes do próprio São Jerônimo, quando diz: “Uns procuram traduzir palavra por palavra, outros só o sentido, e outros ainda não diferem muito dos antigos” (S.Jerônimo, Praef. In 2 Chron.Eusebii, apud Mannucci, o.c.p. 113). Já vimos noutra página que não há nenhum escrito original da Bíblia. Rolos e códices originais foram logo deteriorados pelo uso, outros queimados ou soterrados por guerras, terramotos e sanhas dos inimigos. As transcrições aumentaram também os erros de transcrição e tradução feita de cópias de cópias. Daqui nasceu a necessidade da crítica textual que começou há pouco mais de 100 anos, com novas descobertas de documentos soterrados, outros encontrados em grutas, como as Grutas de Qumram, ou a biblioteca de Nag-Hammadi, no Alto Egito. Vimos que além dos quatro evangelhos havia outros, que por não pertencerem à lista ou cânon dos que foram escolhidos ficaram com o nome de evangelhos apócrifos. São eles: O evangelho de Pedro, de Tomé, de Tiago, de Filipe, de Maria Madalena, de Judas, o evangelho grego dos Egípcios, o evangelho da infância de Jesus, o evangelho de Maria, o evangelho da verdade, o evangelho de Nicodemos, o evangelho dos Armênios, o evangelho da infância siríaco, o evangelho dos hebreus, o evangelho dos Nazarenos, o evangelho dos Vivos, o evangelho de Apeles, o evangelho da natividade de Maria; e outros perdidos, como: o evangelho de Eva, o evangelho do reino celeste, o evangelho da perfeição, o evangelho de Matias, o evangelho dos 70, o evangelho dos Doze, e o evangelho das “memoria apostolorum”. Vimos que  quem deu a primeira vez o nome de “evangelhos” foi São Justino. E quem deu pela primeira vez o nome de “Novo Testamento” foi Tertuliano, no ano 200. Os evangelhos, como todo o Novo Testamento têm na sua escrita o ambiente daquela época deles, como mitos e lendas. Como dizem os estudiosos, o “mundo do Novo Testamento, como aquele do Antigo, era um mundo habitado por anjos e demônios, governado por potências cósmicas e possuído por forças misteriosas, com Deus que fazia o papel de dominador deste grande conjunto cósmico” (o.c.p.340). Autores recentes falam então em “demitização” e desmitologização”. Por outras palavras, eu acho uma fórmula mais breve e popular, temos que fazer um desconto quando lemos a Bíblia. O concílio vaticano II no documento Dei Verbum põe em “evidência  a atividade literária integralmente humana dos escritores sagrados, chamados ‘verdadeiros autores” (DV.n11). Por isso há exageros quando se dá lugar à emoção, e entrega-se tudo ao Espirito, o que não é correto. Vejamos: “Todo o recurso apressado ao Espírito contra a letra do texto é ao mesmo tempo uma traição à Palavra de Deus e às leis do falar humano. O primeiro critério ineludível para não cair no subjetivismo hermenêutico e sobretudo para entender a palavra de Deus na Bíblia, é a fidelidade ao texto e ao seu sentido literal.” (o.c.p.360).

Conclusão. Quando estamos lendo os evangelhos devemos ter presente que os evangelistas não deixaram a sua assinatura. E também que não são os documentos originais, mas cópias de cópias que atravessaram muitas gerações. E finalmente, que nessas cópias entraram influências de várias filosofias do entorno, conforme o período e conforme o autor das cópias. Assim sendo, os escritores não deixaram a sua assinatura, mas quem deixou a sua assinatura foram as filosofias de sua época, e a cultura das épocas, e das traduções e das várias edições do Novo Testamento, tendo em conta mitos e lendas na mistura.

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segunda-feira, 26 de maio de 2025

TOMÁS DE AQUINO PERSEGUIDO E SUA TEOLOGIA.


 

Tomás de Aquino começou  por ser um teólogo muito contestado, combatido e difamado como modernista e suspeito de heresia pelos teólogos tradicionalistas do seu tempo, no século XIII, 1274. Foi destituído da Ordem dos Dominicanos e expulso da Universidade de Paris onde ensinava, e por fim foi formalmente condenado como herege. Estas penas perduraram por três séculos, até ao século XVI, até à Reforma Protestante. Então a sua obra, Summa Theologiae é que foi reconhecida pela Igreja, e entrou nas Universidades (Cf.H.Kung, Teologia a caminho, p. 165). Porque aconteceu isso? Os teólogos atuais nos dizem os motivos. “Não só na teologia, mas nas ciências, os descobridores de novidades, que ameaçam o modelo estabelecido, podem ser moralmente desacreditados como ‘perturbadores da paz’, ou simplesmente reduzidos ao silêncio” (o.c.p.166). Foi o que aconteceu com São Tomás de Aquino, que começou um novo modelo de Teologia que ameaçava os padrões estabelecidos tradicionais. Vejamos como era o ambiente em que foi escrita a teologia da Summa Theologiae. A teologia e a exegese bíblica, antes de Tomás de Aquino baseavam-se na interpretação da Escritura em sentido alegórico, simbólico e metafórico-espiritual seguindo o método tradicional que vinha já de Orígenes,  o principal teólogo do Oriente do séc.II d.C. Esta linha teológica e exegética, retomada também por Santo Agostinho, perdurou por mil anos, justamente até ao período de Tomás de Aquino. Após Agostinho, qual foi o motivo do surgimento da Summa de Tomás de Aquino? Ele desenvolveu a revalorização da razão diante da fé, o sentido literal da Escritura em face do sentido alegórico-espiritual, e o sentido da natureza diante da graça, e da filosofia diante da teologia. A mola que orientou o novo paradigma de Tomás foi o ressurgimento da filosofia de Aristóteles, que serviu de base para a Summa Teológica. Com estas ferramentas em mãos, algumas Universidades adotaram este novo paradigma de ensino. Tomás de Aquino organizou e expandiu este novo paradigma na sua teologia que ultrapassava o paradigma clássico e tradicional da teologia agostiniana, que ficava ultrapassada. Porém, as mais célebres Universidades, como a de Paris e de Oxford detonaram Tomás de Aquino até ao ponto de ser excluído e expulso de ensinar na Europa. (o.c.p.165). Estamos falando de Paradigmas, o que são? Paradigmas são sistemas conceituais ou esquemas filosóficos que são caminhos de pensamento. E quem está num caminho onde se sente seguro, dificilmente quer enveredar por outro caminho desconhecido. Foi o que aconteceu com os opositores de Tomás de Aquino, que mostrou um paradigma ou caminho novo, e foi rechaçado por 300 anos, até que fosse aceito. Começamos por dizer que há macro, meso e microparadigmas. Exemplo de macroparadigma: o modelo agostiniano, que perdurou por 1000 anos; o mesoparadigma, com a doutrina da criação e da graça e sacramentos; e microparadigma, com a doutrina do pecado original e da união hipostática. Como vimos, os paradigmas ou “modelos” são caminhos provisórios ou projetos teóricos enquanto não se descobrem outros melhores. Não há modelos ou paradigmas absolutos, e sim novas buscas constantes para descobrir novos aspectos da realidade. Ultimamente, deixando agora para trás S.Tomás, um novo paradigma surgiu, com o despertar do Renascimento e com as novas filosofias daí resultantes, assim como com o despertar das novas ciências. É o paradigma ou modelo da teologia histórico-crítica. Como aconteceu com o novo paradigma de Tomás de Aquino, assim este novo paradigma encontra muita estranheza nos teólogos acostumados com o padrão tradicional, igual os tradicionalistas que combateram Tomás de Aquino. Como dizem os teólogos atuais, “os novos modelos teológicos de interpretação não surgem porque alguns teólogos gostam de brincar com o fogo ou porque ficam sentados  na escrivaninha criando novos modelos, e sim porque o modelo hermenêutico tradicional teve validade de prazo vencido” (o.c.p.172). O concílio vaticano II falou bem claro que a Escritura é a “norma normans”, ou seja o princípio normativo da Teologia.(Dei Verbum,12,3). O concílio fala que a Palavra de Deus é “alma ou princípio vital” de toda a teologia. Falamos que na transmissão dos conteúdos da fé, em cada época se vive num horizonte diferente conforme a visão e as ferramentas que aumentam ou diminuem a visão desse horizonte. Assim como o nosso horizonte visual hoje não é o mesmo de há 500 anos atrás, com os modernos telescópios de ciência de hoje. Em um mundo mágico, assim os humanos se expressavam. Como esse horizonte era o mundo mágico deles, o mundo de hoje vive cada vez menos do mágico e mais do científico. Como dizem os teólogos, “a teologia não consiste na ‘simples repetição’ de um ensinamento supostamente eterno; ao contrário, trata-se de uma tradução da mensagem histórica daquele mundo de experiência ao nosso mundo de hoje” (o.c.p.198).

Conclusão. Ninguém hoje, com um mínimo de instrução, tem o mesmo olhar sobre o universo e a pessoa humana dos tempos de S.Agostinho e de S.Tomás de Aquino. Foram gênios no seu tempo, mas também passaram de época e de prazo de validade. Inclusive, hinos litúrgicos que deixaram, pertenciam ao horizonte da fé e da teologia da época, que hoje ó outra e noutro horizonte.

P.Casimiro João       smbn

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segunda-feira, 19 de maio de 2025

CULTO ÀS RELIQUIAS, ORIGEM


 

As verdades reveladas, para S.Tomás, eram a “autoridade sagrada”. Porém, no século XVI essa autoridade sagrada faliu, e a Igreja antes “unida na fé”, da cristandade, se desuniu. Falamos isto a respeito da definição e essência do que é a Teologia fundamental: A teologia fundamental é a ciência do por quê. Ela estuda o evento da revelação e a sua credibilidade. Define-se como a disciplina que constitui a função do saber teológico e imbricada com outras ciências evidencía o caráter científico, hermenêutico e metodológico da Teologia. Como ciência do porquê ela se interroga permanentemente sobre seus conteúdos à luz das novas aquisições do saber universal, e sabe tornar presente ao homem de todos os tempos a riqueza  inexaurível da revelação cristã.  Sendo uma ciência do saber crítico, ela encontra a sua razão de ser naquela pergunta do livro de Deuteronômio, 6,20 onde o membro mais jovem da família pergunta aos mais velhos: “porque fazemos estas coisas”?  E segue-se a resposta do pai da família dizendo que eles eram um povo nômade, sem pátria e sem identidade, escravo no Egito, eleito pelo Senhor e possuidor do dom da Lei e da terra prometida. Aqui há uma revelação que é transmitida a outra geração. E há um ato de fé em gérmen na criança. E para que a criança, com sua idade em andamento possa ganhar um saber e uma consciência de que nesse saber não está sendo enganada. Temos ai a gênese da teologia fundamental: um evento de  uma revelação e um saber livremente perguntado e respondido, até porque aberto a outras perguntas e outras respostas que virão depois, conforme a idade da criança e suas motivações. A teologia fundamental começa onde as fases do crescimento formulam outras perguntas, e onde o confronto contribui para descobrir novas respostas. Em épocas antigas da Igreja a Teologia fundamental reduzia-se à “Apologética”, chovendo no molhado de sempre e só repetindo o que já estava aprendido, e fabricando barreiras para não tomar contato com outras ciências, julgando-as inimigas da Igreja, em vez de usá-las como escadas e molas de crescimento. Num jogo de futebol, a equipe que só opta pela defesa, inevitavelmente perde porque não aproveita os lances da outra equipe para fazê-los seus e avançar para o seu campo. Assim era  na Apologética antiga, que só jogava na defesa e no método defensivo. Porque a teologia fundamental é o estudo do acontecimento da revelação e sua transmissão. E como transmissão, assume a idade, o conhecimento e as ciências e as capacidades do sujeito. A revelação é o conteúdo, a transmissão  é o método. Uma comparação com o conteúdo da ciência médica: não se pode fazer hoje, num moderno hospital uma cirurgia do coração com os métodos da há 500 anos atrás. Estamos falando no método da revelação, falemos agora no conteúdo. Durante a história da teologia houve várias interpretações do conteúdo da revelação. Santo Irineu dizia que há três modelos de revelação: a criação e o mundo, o corpo humano, e o Verbo feito corpo também. Por outro lado, as Enciclopédias antigas traziam que a revelação era a comunicação de verdades religiosas que Deus faz pessoalmente ou por meio de um anjo. (confira a semelhança com o islamismo).  A atual noção de revelação é uma experiência do sagrado no A.T. e no N.T. a experiência do evento chamado Jesus Cristo. Voltando atrás, antes das Enciclopédias, a revelação foi definida  por Tomás de Aquino como “doutrina sagrada”, i.é, os ensinamentos contidos na Escritura e interpretados pela fé da Igreja. Porém, no século XVI a autoridade da Igreja foi abalada, e a Igreja antes unida pela fé da Cristandade se desuniu. E há um item importante: a Idade Média foi caracterizada  pelo surgimento das Universidades,   onde o “mestre” era aquele que detinha a “autoridade”. Diante disto surgiu uma resposta inédita para explicar o colapso da unidade tradicional da fé: “Cada região com a sua religião”, “cuius régio eius et religio”(Rino Fisichella, Introdução à Teol.Fundamental, Loyola p.76). Chegou-se aí porque o despedaçamento dessa unidade seguira-se ao fato de que a razão devia ter um papel importante no campo da fé. Inaugurava-se assim uma nova etapa do saber cristão, como saber humano e saber teológico. O concílio de Trento já se deu conta disso e com isso se deparou. E  o que aconteceu depois? No século XVI a fé agora dividiu a cristandade, e a unidade parecia poder ser alcançada somente por meio da razão. Por isso o eixo de interesse começou a deslocar-se da fé para a razão. A razão entra em cena na sua relação com a fé, e parece que deu lugar à religião, compreendida como exigência natural do homem.(o.c.p.77). A explicação foi a constatação de que a fé cristã já não era mais o instrumento de unidade em condições de manter os vários Estados e reinos ocidentais unidos. Seria o caso de explicar com o jargão: “foram-se os anéis, ficaram os dedos”. Afinal das contas, a fé parece que ficou trocada pela religião; a religião invadiu o campo da fé. Como vimos noutro Blog, a religião são as estruturas e sistemas; a fé é o coração e o espírito; a fé são os dedos; os anéis são as estruturas. Há ainda por trás disso outras causas: os ataques iniciais ao poder temporal da Igreja, e a possibilidade de Deus revelar-se a uma existência pessoal. Vendo então que o rio da história não estava correndo para a Igreja com aquelas águas mansas, a teologia da Igreja refugiou-se encarando a religião como refúgio a alguns dos seus ataques, porque a religião pode não incluir fé nenhuma, mas ficar só nos sinais e símbolos, e nas estuturas, como aquele que faz promessas aos Santos até para “matar a Deus.” E de quebra, escreveram-se vários livros de Aretologias, i.é, livros fantasiosos de muitos milagres que não levavam à fé, mas só à religião, ou ao deismo, popularmente chamado de religião de fachada.

Conclusão Há helenismos que entraram no imaginário cristão e católico, como aquele dos Atos dos Apóstolos onde se diz que “Colocavam os doentes para que a sombra de Pedro os tocasse” (At.5,15), assim como as vestes de Paulo que curavam doentes (At.19,12).  Foi assim, segundo os estudiosos, que apareceu o culto às relíquias (o.c.p.82). Para entender no seu ambiente e na sua história pagã e mítica é que o “saber” e o “discernir” do ato de fé  tem que intervir contra uma fé infantil e folclórica e fantasiosa.

P./Casimiro João     smbn

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segunda-feira, 12 de maio de 2025

A BÍBLIA DIZ, OU A BÍBLIA DIZIA?


 

As mulheres estejam caladas nas assembleias: não lhes é permitido falar, mas devem estar submissas, como também ordena a lei. Se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus maridos, porque é inconveniente para uma mulher falar na assembleia” (1.Cor.14,34-35).  Sim, é como as crianças eram tratadas antigamente. E também as mulheres. E o respaldo: “como também e lei ordena”. Como primeira observação, a Bíblia dizia isso, hoje a Bíblia não diz. Antigamente a “lei” também dizia, hoje a lei não diz. Avancemos: “ Todo homem que orar com a cabeça coberta falta ao respeito ao seu Senhor. E toda a mulher que ora tendo a cabeça coberta falta ao respeito ao seu Senhor, porque é como se tivesse a cabeça rapada. Se uma mulher não se cobre com um véu, então corte o cabelo. Ora, se é vergonhoso para a mulher ter os cabelos cortados ou a cabeça rapada, então se cubra com um véu. Quanto aos homens não devem cobrir sua cabeça porque o homem é imagem e esplendor de Deus. A mulher é o reflexo do homem. Com efeito, o homem não foi tirado da mulher, mas a mulher do homem; nem foi o homem criado para a mulher, mas sim a mulher para o homem” (1 Cor.11,5-9).  De novo, sobre a oração, o recurso à lei dos romanos da época. “Romano rezava não tendo a cabeça coberta” (Apud Eliott, Libertando Paulo, Paulus 2013, pag.277). Claro que não tinham os SALÕES de beleza, então o autor da Carta punha-se no lugar de cabeleireiro e dono de Salão. E como não havia ainda a cosmologia do Big-Bang punha-se no lugar da criança da catequese, que a “mulher foi tirada da costela do homem”. Portanto, orar com a cabeça coberta era faltar ao respeito ao seu Senhor. Era para se adequar aos romanos que assim faziam também “diante dos seus deuses”. E o inverso era igual para as mulheres porque as mulheres de Roma oravam com a cabeça coberta. E tudo era “como manda a lei. Se no entanto, alguém quiser contestar, nós não temos tal costume, e nem as igrejas de Deus.” (1.Cor.11,16). Porque não podiam contestar? Porque não podiam ir contra os costumes da Colônia, porque eles eram colonos de Roma. Com isto notemos os motivos desajeitados e espiritualizantes da Carta, e digamos, machistas: “porque o Senhor de todo homem é Cristo, e o senhor da mulher é o homem” 1Cor.11,3. Não será que Cristo é tanto Senhor do homem como da mulher?  O autor da Carta procura uma explicação que nós diríamos furada, para encontrar um fundamento banal. Por outro lado, é também por essa espiritualidade e esse fundamento que também se encontra a mesma sem razão na Carta aos Efésios: “As mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor, porque o marido e a cabeça da mulher”(Ef.5,22). A explicação maior e fundamental para todo esse desajuste é: “Esse foi o contexto no qual foram escritas estas Cartas, e que já não é hoje. Assim como os outros contextos quando se fala em circuncisão e não circuncisão, e ritos de lavar as mãos, copos e vasilhas” (o.c.p 274). Na verdade, quem ainda queira teimar na aceitação desse contexto daquela época terá que aceitar também apedrejar as mulheres, e não deixar mulher falar e pregar nas igrejas, nem servir nos altares, nem ministrar a comunhão. E na vida civil não usar pix, nem ser professora ou doutora, nem juíza e nem ministra, deputada ou senadora. Por isso quem diz: “A Bíblia diz”, seria mais adequado dizer: “A Bíblia dizia”. Ou seja, dizia para aquela época, e não diz para a nossa época de hoje. Temos mais sobre o ambiente que se vivia “naquele tempo”.  Do mesmo modo, quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados,  ouro, vestidos de luxo, e sim boas obras como convém a mulheres que procuram a piedade. A mulher ouça a instrução em silêncio, com espírito submisso. Não permito à mulher que ensine nem que se arrogue autoridade sobre o homem, mas permaneça em silêncio. Pois o primeiro a ser criado foi Adão. Depois Eva. E não foi Adão que se deixou iludir, e sim a mulher que, enganada, se tornou culpada da transgressão. Contudo, ela poderá salvar-se cumprindo os deveres de mãe, contanto que permaneça com modéstia” (1Tim.2,11-15). De novo tratando a mulher como criança, e no preconceito de culpada da “transgressão”, na interpretação primitiva do mito da criação, e relegando a mulher à função biológica de só reproduzir filhos. Finalmente, o autor desta Carta a Timóteo não é Paulo, mas um aluno dele que se preocupava com roupas e adereços, como confirmam os autores atuais (o.c.p.74). Aqui vemos as mesmas regras citadas atrás. Isto leva a maior parte dos intérpretes a dizer que esta passagem foi copiada com algumas modificações para a 1 Carta aos Coríntios, e respingando para Efésios.

Conclusão. A Bíblia dizia milhares de coisas segundo o “contexto” da época. Hoje o contexto é outro, onde essas coisas não se podem dizer. Por isso seria mais adequado dizer: “A BÍBLIA DIZIA”, em vez de “A BÍBLIA DIZ”.

P.Casimiro João   smbn

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domingo, 11 de maio de 2025

NOME DE PAPA, HISTÓRICO

O termo "papa", no início era dado a qualquer bispo ou ancião da comunidade cristã. Significava pai. A partir do século VI, começou a ser mais usado para o bispo de Roma, mas só foi oficialmente declarado como título exclusivo do bispo de Roma em 1073, por Gregório VII. O primeiro bispo de Roma que trocou o seu nome foi João II, que tinha o nome batismal de Mercúrio. Por ser o nome de um deus pagão, ele adotou o nome de João, e assim ficou João II porque o anterior tinha sido também João, no ano de 533. E daí em diante a moda pegou, de trocar o nome do batismo. O único Papa que ficou com o nome do batismo foi o Para Adriano VI, ele que já era Adriano, 1459-1523.

P.Casimiro João       smbn

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sexta-feira, 9 de maio de 2025

ENTRE A CRUZ E A ESPADA.


 

Há um axioma hoje muito válido, devido ao pensador alemão Lessing, um dos grandes filósofos do Iluminismo que influenciou a teologia atual, onde se diz que “nenhuma religião possui toda a verdade, só o próprio Deus, qualquer que seja o seu nome, é a verdade” (G.Epfraim Lessing, apud H.Kung, Teologia a caminho, pag.263). Assim por exemplo, o ser humano procura  Deus como que às apalpadelas, como disse Paulo aos atenienses (At.17,27), ou como um enigma, num espelho, 1 Cor,13,12. Nós e também os bilhões de  pessoas de todas as religiões. Ah, mas nós temos os dogmas, e a palavra infalível de Deus. Cuidado, é por causa dos dogmas que a Igreja se tornou excludente, o que significa que a Igreja exclui, ou excluía um monte de gente, e hoje não exclui ninguém. No concílio de Latrão, em 1215 foi declarado como dogma que “fora da Igreja não há salvação”, e este dogma foi repetido no concílio de Florença cerca de 200 anos depois, em 1447: “ A santa Igreja romana crê firmemente, confessa e prega que ninguém fora da Igreja católica, não apenas os pagãos, mas também os Judeus, hereges e cismáticos não poderão entrar na vida eterna. Todos vão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, caso não se incorporem antes da sua morte à Igreja” (Denzinger, Hermann, op.cit.n.1351). Veja bem que este dogma já foi questionado no século XVI no concílio de Trento, e no século XVII Roma condenou os Jansenistas rigoristas franceses por propagarem este dogma; e em 1952 o Santo Ofício condenou o Capelão da Universidade de Harvard por continuar defendendo este dogma (Cf. H.Kung,o.c.p.266). Finalmente o concílio vaticano II considerou como nulas as declarações do concilio de Latrão  e de Florença na Constinuição sobre a Igreja: “Todos os que buscam a Deus sinceramente, procuram cumprir a sua vontade, conhecida por meio da consciência e agem sob o influxo íntimo da graça podem obter a salvação” (LG.n.16). E na Declaração sobre as religiões não cristãs: “A Igreja Católica não rejeita o que é verdadeiro e santo em todas as religiões” (NA.n.2). Isso significa que a posição católica tradicional  já não é a mesma daquelas épocas. E isto esclarece também, como afirma o teólogo H.Kung, “que a Igreja deixou aquele dogmatismo que se considerava de antemão na posse de toda a verdade, oferecendo às outras religiões apenas condenações ou exigências de conversão. Agora o desprezo das outras religiões deve ser substituído pelo apreço; a negligência pela compreensão; o proselitismo pelo diálogo. Na verdade, durante muito tempo, os pregadores e catequistas recebiam pedras em vez de pão” (o.c.p.217). Este axioma antigo de que todo mundo teria que entrar na Igreja católica pra se salvar é que gerou o jargão “fora da Igreja não há salvação”, fabricado por São Justino no séc.II, e que foi adotado e sacramentado pela Igreja. Não interessava em primeiro lugar a mensagem do evangelho, mas a Lei que obrigava com penas eclesiásticas e civis todos os cidadãos. Porque o cidadão tinha dois patrões, e duas camisas de força: a Igreja e o Império, porque agiam juntos. O cidadão estava fritado entre a cruz e a espada, como se dizia no jargão antigo. De um lado, a Igreja com a cruz, de outro lado, o Rei com a espada. E o “escravo-cidadão” exprimido no meio. Durante toda a Idade Média foi esse o regime. Foi preciso chegar o século XIX com a Declaração dos Direitos Humanos da liberdade de consciência e de religião para mudar esta situação, e dar a liberdade ao ser humano. Com isto, na Idade Média, havia duas espécies de escravidão: a física e a moral. A dos corpos e das mentes. A da sujeição aos donos de escravos, com a espada; e a sujeição aos donos da fé, com a cruz. Isto aconteceu depois que a teologia de Tomás de Aquino firmou o axioma de que a filosofia e a ciência eram escravas da teologia; e surgia dai a escravidão das mentes aos donos da fé, e ao mesmo tempo se sacralizava a escravidão aos donos dos escravos, e aos Reis. Baseado na filosofia de Aristóteles segundo o qual o estudo não era para as classes baixas e trabalhadores, mas para os “bem-nascidos”. Depois do Aquino veio o “Encridion ou conjunto das definições do magistério eclesiástico publicado por Henrich Denzinger em 1854, como um livro de Leis dogmáticas indiscutíveis. Estava sacralizada e sacramentada a escravidão das mentes, em paralelo com a escravidão dos corpos, a escravidão da cruz e da espada. Ah, mas a Bíblia! Ah, mas Deus falou! E o que olharam os outros? “Na história do Cristianismo é “lícito matar crianças, queimar viúvas e torturar hereges ate à morte? Pode-se justificar sacrifícios humanos porque são oferecidos a um Deus? E a magia que procurava forçar a divindade, tomada como religião?” (o.c.p. 278). O que nós criticamos noutras religiões, eles criticam no Cristianismo. Não sem razão há muitas vezes uma crítica bem clara das grandes religiões ao Cristianismo: “O Cristianismo parece aos olhos dos seguidores de outras religiões frequentemente exclusivista, intolerante e agressivo, apesar de sua ética de paz e amor. E sua aversão contra o mundo e contra o corpo. E exagera de maneira quase doentia a consciência do pecado da culpa do homem supostamente corrompido em seu interior” o.c.p.273. Por outro lado, cada religioso de cada religião pensa ter a “verdade”. Porém, nenhum problema produziu na história das Igrejas tantas contrariedades, tantos conflitos sangrentos e até tantas “guerras santas” como o problema da “verdade”. Em todos os tempos e em todas as religiões o fanatismo cego pela verdade atormentou, matou, queimou, destruiu, e assassinou impiedosamente. Nesta busca da verdade sempre tem que entrar a religião. Porém, todo mundo esquece que, como dizíamos, no céu não haverá religião nenhuma, só a  do amor. Na verdade “uma religião é verdadeira e boa na medida em que é humana, e não oprime nem destrói a humanidade, e sim a protege, e enquanto promove uma profunda convicção da unidade fundamental da família humana e da igualdade e dignidade de todos os seres humanos e um sentimento de inviolabilidade do indivíduo e de sua consciência” (o.c.p.278).

Conclusão. A sabedoria popular soube interpretar a situação em que vive o ser humano inventando o jargão “entre a cruz e a espada”. Essa expressão resume a situação vivida e na Europa e adjacências durante milênios de anos. Hoje em dia corremos o risco de transferir essa mesma situação deslocando o eixo desde a Europa para a América do Norte e adjacências reinventado a mesma realidade da cruz e a espada. Na Europa se aliavam os reis e o império aos Papas e à Igreja. O mundo corre hoje o mesmo perigo se o leão e um Trump fizerem alianças, já que ele teve a ousadia de se vestir de Papa e declarar “eu gostaria de ser Papa; seria a minha escolha n.1” (www.G1 Redação com Reuters 29/04/25).

P.Casimiro  João       smbn

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