segunda-feira, 27 de outubro de 2025

A FÉ E O HOJE


 

O cristão, por regra, tem medo de ser feliz. Quando goza de certo ambiente momentâneo de felicidade, logo já vem a saudade da infelicidade que tomou conta da sua vida, como a ave que, acostumada na prisão, não se sente bem quando voa dois metros longe da sua gaiola onde se acostumou. Os estudiosos o que dizem sobre a fé que tem orientado a Igreja? “Há todo um lado dolorido da religião que alimenta a melancolia. Frequentemente a fé transforma-se num alibi de que o fiel depende, que quer “agradar” e em função do qual age. Fonte de angústia, porque nos anula a liberdade, a autonomia para tomarmos nas mãos  o próprio caminho, sentindo-nos comandados por outro” (Libanio, Olhar para o futuro, p. 67).  O cristianismo é especialista em grande dureza de uma fraternidade áspera, falta de coração e insuficiente capacidade de amar. Imagem deformada de Deus, rigorismo moralista e masoquista, medo da novidade, insuficiência crítica, fideísmo camuflado, falta de criatividade, repressão da liberdade. Há uma esquizofrenia que afeta muitos eclesiásticos ao terem que ensinar, defender, pregar verdades importantes impostas que não correspondem às suas experiências, à sua interioridade, à verdade deles mesmos. Ou então renunciam a viver no mundo de hoje, aceitando tudo sobre o que pensar e o que conhecer. (Cf. Drewermann, apud Libanio o.c.p.68). E vejamos o que afirma o mesmo autor: “Algum dia a Igreja acabará descobrindo que enquanto continuar presa ao conceito de  uma verdade exterior que não se coadune com a realidade vivida, ela mais ocultará a verdade divina do que revelará. Entretanto os leigos estão a passar por uma trágica experiência de fracasso, incapazes de transmitir aos filhos as suas convicções religiosas, ou seja, o que eles pensam e o que ainda continuam ensinando de maneira antiquada”. E isto torna-se um drama de consciência porque esbarra com a realidade de cada dia. Deste modo, faz-se necessário o questionamento: “Há todo um lado dolorista da religião?” O que nos remete à discussão filosófica, socilógica e psicológica sobre os aspectos negativos ou problemáticos que podem  emergir de crenças e práticas religiosas. A literatura atual, incluindo referências filosóficas como Paul Tilich e estudos sociológicos e psicológicos contemporâneos, descobriu diversas dimensões em que certasformas de religiosidade podem gerar sofrimento ou dor, seja individual ou socialmente falando. Vejamos as causas: primeiro, a religião e o medo: Muitas tradições religiosas estruturam a experiência humana em torno de conceitos de pecado, julgamento e punição eterna, provocando medo constante nos fiéis. Esse temor pode afetar a saúde mental, levando a neuroses ou sensação de inadequação. Segundo: tensão ente religião e modernidade: Estudos contemporâneos apontam que a religião, quando não dialoga com os valores democráticos, culturais e científicos do mundo moderno, pode gerar conflitos internos ou sociais, aumentando o sofrimento de quem tenta reconciliar fé, liberdade individual e conhecimento crítico.

Conclusão: Sim, podemos afirmar que há um lado dolorista na experiência religiosa, particularmente associada a culpa, medo, intolerância e perda de autonomia, sobretudo quando se enfatiza a obediência rígida, dogmas punitivos ou exclusão social. 

P.Casimiro João       smbn

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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

AMAI OS VOSSOS INIMIGOS.


 

Este estudo é sobre as diferenças entre o evangelho de Mateus, “Amai os vossos inimigos Mt. 5,44   e o evangelho de João:  Amai-vos uns aos outros, Jo.13,34. E sobre as consequências que daí resultam, como veremos no final. Em Mateus  o amor inclui os inimigos; em João especifica: “uns aos outros”. Quem são esses “uns aos outros”? São os discípulos da mesma comunidade, que “observam os mandamentos”. “Se observardes os meus mandamentos permanecereis no meu amor”Jo.15,1-6. Já vem de outra afirmação, do fato de Jesus recusar “a orar pelo mundo” “Não rogo pelo ‘mundo’, mas por aqueles que me deste, porque são teus” Jo17,9. Quem são os do “mundo”? No primeiro significado cosmológico, o ‘mundo’ era a Criação que era má porque era do demiurgo ou do maligno, e não do Deus supremo que não se misturava com a matéria; Esta afirmação tem o seu reflexo nas Cartas joaninas nas quais o ‘mundo’ também eram os judeus num primeiro tempo, mas depois estendeu-se aos ‘separatistas’ que tinham deixado a comunidade e fizeram outras comunidades, i.é, era tudo o que era alheio a eles. (Cf.wwwparoquiadechapadinha.blogspot.com.br de 18/72021). Isto sacamos também da 1ª Carta de João: “E há pecado que conduz à morte, não digo que se reze por eles” 1Jo.5,16, transformando-se  numa recusa a orar por outros cristãos que cometeram o ‘pecado’ de se separarem da comunidade deles. As Cartas de João são contra os “separatistas” que em massa deixaram a comunidade por divergências sobre a Cristologia (cf.www.paroquiadechapadinha.com.br  de 08/8/2021). Então os separatistas já não eram mais “irmãos”. Para o autor das Cartas, os ‘irmãos’ eram os da comunidade dele. Na verdade foram estas disputas internas que deram origem às Epístolas joaninas. Como afirma R.Brown, no livro “A Comunidade joanina”. E aqui aparece a grande anomalia dos escritos de João. Em nenhuma ocasião do Novo Testamento se levanta tanto a voz em favor do amor dentro da fraternidade cristã. Com fervor evangélico o autor afirma: “Quem não ama seu irmão a quem vê, como poderá amar Deus a quem não vê” 1Jo.4,20. No entanto esta mesma voz é implacável em condenar aqueles irmãos que tinham sido membros da sua comunidade. Porém, agora eles são ‘demoníacos’, ‘anticristos’, ‘falsos profetas’, como afirma mais adiante: “Eis que há muitos anticristos; eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos” 1Jo.2,18. Enquanto que os membros da comunidade são exortados a se amarem mutuamente. A Carta recomenda que o trato com  os dissidentes deve ser o seguinte: “se alguém vem ter convosco sem ser portador desta doutrina não o recebam em casa nem o saúdem; aquele que o saúda toma parte em suas obras” 2Jo.10-11. Olhando superficialmente, ficamos maravilhados como o autor joanino mistifica o “amor” enrolado na sua comunidade. Porém dá a impressão que para a tradição joanina só existia ‘um único mandamento’, “esse é o meu mandamento’ Jo.15,12. No entanto, debaixo destas palavras está o radicalismo de se considerarem como irmãos somente eles. Em consequência com esta tese vêm outras afirmações limitadoras: “O Espírito da verdade que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece mas vós o conheceis porque permanece em vós” Jo.14,17. E ainda: “Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci” 17,25.  Isto não nos surpreende numa tradição em que o evangelho coloca Jesus prometendo que aqueles que o conhecem conhecerão também o Pai. Claro que eram eles também os que “conheciam” o Pai. Assim como eram eles que “agiam segundo a verdade” e que “aproximavam da luz” Jo.3,21  e os “outros” andavam “nas trevas porque se afastavam da luz” Jo.8,12. Perto de finalizar, comparemos a linguagem dualista empregada por João no evangelho e nas Cartas contra o ‘mundo’ e contra os judeus: Os seguidores de Jesus “não andavam nas trevas”: “Quem ama seu ‘irmão’ não anda nas trevas. Quem ama seu ‘irmão’ permanece na luz” Jo.8,12. Agora o oposto: “Vós tendes como pai o demônio” Jo.8,44. “Aquele que peca é do demônio; todo o que é nascido de Deus não peca” 1 Jo.3,8.  Claro que quem peca são os “outros”; e  os “justos”    são eles. Mas os separatistas diziam que João os odiava com tantas condenações contra eles. Quando avaliamos o evangelho de João descobrimos um senso de hostilidade de “nós contra eles”. Este fato levou os cristãos de séculos posteriores a ver uma divisão dualista da humanidade. Um “nós” que estamos “salvos” e um “eles” que não estão. Na sua atitude para com os separatistas “nem os recebam nem saúdem” 1Jo.2,19 ele forneceu incentivos àqueles cristãos de todos os tempos que se sentem justificados, e motivação para odiar outros cristãos” cf.R.Brown, o.c.p.141.

Concluindo. É provável que nos cause arrepios esta constatação talvez nunca imaginada por leitores dos escritos atribuídos a João. Mas temos que nos acostumar com a ideia de que os escritos bíblicos foram escritos por gente igual a nós que viveram as mesmas lutas e tiveram as mesmas experiências de amor limitado e grupal, e repulsa e condenação para quem não pensava igual a eles. E também caíram na tentação de ‘apropriar-se da verdade’ de Deus e da sua ‘salvação’ e da presença do seu Espírito limitada a eles. Isso mostra um quadro mais real da vida da Igreja, com mazelas e tudo, como dito atrás www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br de 18/7/2021.

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

VINHO E ÁGUA NO CASAMENTO DE CANÁ


 

Segundo o evangelho de João, cap. dois, num dia de casamento são colocados dois símbolos muito significativos: Seis grandes panelas de água, de 100 litros cada uma, e o vinho que acabou. Logo um observador atento  nota que a água era “para abluções dos judeus” (Jo.2,6). E a história que o vinho acabou é para focar no que vem a seguir sobre as panelas e a água. O Antigo Testamento baseava-se nas abluções e na observância da lei de Moisés. Era isto que representavam as panelas e a água. E desde logo o Novo Testamento irá se basear na obediência a Jesus Cristo. É o significado do vinho novo que “veio” da dita transformação da água. No fundo, vem sempre a questão: aceitar Moisés, ou aceitar Jesus? Aqui a teologia deste trecho fica paralela com o que Paulo afirma: “A lei de Moisés já era; agora é a cruz de Cristo pela qual eu estou morto para o mundo e o mundo para mim”, (Gl.6,14) e: “Cristo é o fim da lei, para justificar todo aquele que crê.” (Rom.10,4). No final da cena vem a intervenção da mãe de Jesus para fechar a situação com chave de ouro: Vão fazer tudo que Jesus disser, ou vão continuar fazendo tudo que Moisés disse?

Conclusão. Temos falado na resistência que o evangelho de João encontrou para ser incluído no cânon do Novo Testamento porque não fazia referências aos sacramentos. E foi só aceito porque um redator posterior postou as referências ao batismo com o episódio de Nicodemos de Jo.cap.3 e com as referências à eucaristia no capítulo seis. E no presente caso uma referência ao matrimônio. “O evangelista fez uma reflexão sobre Jesus Cristo como esposo da comunidade o qual oferece o vinho da alegria e da vida nova aos que participam de sua festa.” (Nilo Luza, em Liturgia Diária, 2025 p.78). Cf. também R.Brown, Comentário ao evangelho segundo João, vol.I p.305).

P.Casimiro João        smbn

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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

TEOLOGIA DA HISTÓRIA, ORIGEM DO CULTO AO IMPERADOR.


 

Podemos estabelecer a origem do culto ao imperador como um deus nos inícios do pensamento dos filósofos da antiga Grécia, com Platão, Xenofonte e Aristóteles. Eles afirmavam que os reis podiam reivindicar honras divinas, e que o exercício da realeza na terra correspondia à realeza de Deus no céu. Entre eles havia alguns mais sensatos para os quais “um rei podia receber honras divinas, mas a cidade pertencia aos cidadãos.” Enquanto que para outros o povo era propriedade do rei.” (H.Koester, Comentário do Novo Testamento vol.I,p.36). Quando o rei conquistava pela lança outros territórios, os territórios conquistados pertenciam como direito de propriedade ao rei. Os novos países eram ‘terras conquistadas pela lança’, sobre os quais o rei possuía direitos soberanos ilimitados. Os habitantes desses países eram simplesmente escravos. O mundo grego ou helenista assumiu esta filosofia, fato que passou posteriormente para as diversas partes do mundo onde, por exemplo os imperadores romanos seriam reverenciados como seres divinos, como César Augusto, Vespasiano, Nero e Domiciano. Para aprofundarmos mais a evolução desta ideologia temos que prestar atenção ao seguimento da História. A potência maior da época antiga antes do Egito, Mesopotâmia e Persa e Roma era a Grécia. Ela tinha colônias inclusive no Egito, na Mesopotâmia e na Pérsia. Conseguiu essa epopeia devido não só ao seu poder econômico e militar, mas sobretudo ao poder da sua sabedoria e sua capacidade organizativa. Os séculos XI e X a.C. renderam-lhe tributos e riquezas de outros Estados e colônias e foram a época de ouro da Grécia. Porém, com o tempo, esses Estados começaram também a se fortalecer e deixaram de enviar seus produtos e matérias primas para a Grécia, transformando-os por sua própria indústria e livre iniciativa. O resultado foi o começo do empobrecimento da Grécia que já não recebia as matérias primas de suas colônias, lá nos séculos VI e V a.C. Uma nação concorrente se fortaleceu: foi a Pérsia que desde tempos vinha concorrendo com a Grécia e que se tornou império concorrente. Foi nesta época que os filósofos foram os primeiros a apresentar a ideia de que somente um individuo com dons divinos seria capaz de restabelecer a paz, a ordem e a prosperidade da nação. A esse indivíduo davam o nome de messias. No caso da antiga Grécia, só um rei na qualidade de um filho de Deus, ou messias, podia levar a nação à antiga glória. Aí apareceu Alexandre Magno, o grego, que se prestou para conquistar de novo o mundo. Alexandre quando chegou ao Egito e o conquistou, o sacerdote egípcio o saudou diante do templo de Amon como “filho de Deus”. (o.c.§1.5b,p.37). De volta à Grécia, Alexandre Magno enviou uma carta a todas as cidades gregas para exigir ser adorado como deus. Então construiu os seus templos onde mandou colocar estátuas de seu pai Filipe II,  assim como dele mesmo e de sua esposa Olímpia e de seu filho. Os atenienses reverenciavam e tiveram estes “deuses” como deuses salvadores (o.c.§1,p.38). Por sua vez a rainha Berenice II, era chamada de “Isis”, “Mãe dos deuses”. Daí em diante Alexandre Magno conquistou a Ásia Menor, a Palestina, a Judeia, a Síria, o Líbano, o Egito, a Líbia, a Fenícia e Mesopotâmia, e a Babilônia. A principal cidade com o nome dele foi Alexandria. Nós veneramos os Santos como exemplos e de humanidade de virtudes cristãs. Já nem é tanta novidade assim, porque na Grécia antiga pessoas excelentes tinham honras de heróis depois da morte, como estamos vendo, sendo celebradas pelos poetas como seres quase divinos (o.c.p.36). Porém a aclamação e entronização como deuses eram reservadas aos reis e filhos de reis. Alguns destes  reis-deuses respeitavam o povo e seus súditos como “cidadãos”, porém, em relação aos outros povos conquistados eram deuses e senhores absolutos  enquanto as populações eram escravas. Eles governavam em linha vertical, i.é, como deuses e senhores da vontade da nação. Isto, além de ser regime da teocracia, ou poder de deuses, era poder de ditadura, onde a nação não tinha vez nem voz, onde o povo não tinha vez nem voz também. O rei era a lei. Era governo de linha vertical onde tudo descia de cima, dos deuses e das deusas que estão “lá em cima”. Porém, nos séculos 18 e 19 o mundo evoluiu para que os governos não governassem em linha vertical mas em linha horizontal, escutando a voz e as petições das nações. Era já o governo da democracia. Foi isto que falou uma vez o presidente do Brasil Luis Inácio da Silva Lula, na 5ª Conferência nacional dos Direitos da Pessoa Deficiente: ”Nós não queremos governar em linha vertical, com uma voz que vem só de cima, mas em linha horizontal, ouvindo a voz e as necessidades do povo com deficiência física”.(Canal Gov. 21/07/24).

Conclusão. Para terminar, notemos também uma espécie de paralelo entre a história da Grécia antiga e a história de Israel: Israel perdeu o seu período de ouro com os reis  Davi e Salomão nos séculos V-IV, e ficou suspirando sempre para que Deus mandasse outro período de ouro igual. Como na Grécia também eles queriam esse enviado “do alto” para a  volta das antigas glórias de Davi. Era essa a missão e o significado de  messias assim como Alexandre Magno tinha sido o messias da Grécia.

P.Casimiro João     smbn

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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

FILOSOFAR A VIDA.


 

Tudo começou pela filosofia: a “alma”, o “céu”, o “inferno”, o “demônio”, o “pecado”, o “castigo”. Os primeiros pensadores começaram filosofando a vida. No século XIX a Igreja condenou as locomotivas, a iluminação a gás, as pontes suspensas e as vacinas porque “eram contra a vontade de Deus”, e porue os sábios pretendiam se colocar no lugar de Deus. Comecemos pela “alma”. Platão foi o primeiro filósofo que pensou no elemento ”alma”. A alma era uma chama que habitava no Olimpo, a morada dos deuses. Essa chama era uma substância imortal e eterna distinta do corpo, ela era o princípio da  vida e do conhecimento. Ela pertencia ao mundo das Ideias, ela é real e imutável, e se une ao corpo de forma temporária. A alma, em Platão, possuía três partes: a racional, a espiritual e apetitiva. Numa vida ideal, a parte racional tinha que governar as outras duas dimensões, a sensitiva e apetitiva. Alma era uma substância que existe independente do corpo, sendo este uma prisão temporária para a alma. A alma anima o corpo e é o princípio do conhecimento e do raciocínio da razão, e da busca pela verdade. A alma fazia este trabalho usando a cabeça do corpo; pela dimensão espiritual a alma fabricava as emoções, as paixões, a raiva e a coragem, usando o peito do corpo; a dimensão sensitiva ou concupiscente abrangia os desejos, os prazeres e os instintos usando o abdômen do corpo. Antes de se unir ao corpo a alma contemplava as ideias perfeitas no Mundo das Ideias. O esquecimento ocorria quando se unia ao corpo, mas depois, pela filosofia e o conhecimento recuperava essas ideias. Depois de Platão veio Aristóteles, para o qual a alma não é imortal nem separada do corpo, mas um princípio de vida que dá forma e função ao corpo, tornando-se sua essência. Aristóteles também destacou três funções na alma: a função vegetativa, a sensitiva e a função racional ou intelectiva. A função vegetativa e a sensitiva estão presentes em todos os seres vivos, plantas e animais, a intelectiva só nos humanos. Para Aristóteles a alma e o corpo são uma única coisa, inseparáveis e interdependentes. Seria assim, na metafísica de Aristóteles: a alma é a “forma”, do corpo; o corpo seria a “matéria” da alma. A alma nutritiva era responsável pela Nutrição, crescimento e reprodução; A alma sensitiva era responsável pela sensação de dor e da alegria; A alma racional tinha a função da razão, do intelecto e do raciocínio. As duas primeiras “almas” são comuns a todos os seres vivos, a racional só é própria dos humanos. Conclui-se daí que para Aristóteles a alma não era elemento sobrenatural, como para Platão, mas um princípio natural e essencial para a vida. Por sua vez Zoroastro, da Pérsia, que viveu muito anos antes, entre 1.500 e 1000 a.C. pensava a alma como essência imortal do indivíduo, e após a morte seria julgada com base nas boas ou más obras. As almas boas atravessavam uma ponte para o céu, enquanto que as outras caíam no inferno, ou casa das Mentiras. E lá também havia um lugar intermediário para as almas de ações equilibradas a que os cristãos depois chamaram de purgatório.  Porém, no final dos tempos viria um Messias que reuniria todas as almas, que, purificadas, entrariam num lugar de felicidade. Estamos vendo sobre a filosofia da ‘”alma” e do “céu”. Falemos agora sobre quando se começou a falar sobre sobre “demônio”. Esta palavra começou a ser falada entre os  gregos, era uma divindade menor. Era um deus menor chamado “daimon”, que servia de intermediário entre deuses e humanos, e que podia agir para o bem ou para o mal. No antigo livro de Enoque os demônios eram os filhos dos anjos que foram deixados na Terra depois do dilúvio para levar os homens a adorar os ídolos. No livro do Gênesis fala-se nesses filhos de deuses ou anjos que depois se uniram com as primeiras mulheres e produziram os gigantes,(Gn.cap.6). Finalmente, formou-se a lenda do Apocalipse da “luta de Lúcifer”; numa batalha celestial onde o arcanjo Miguel e os exércitos celestiais lutaram contra o Anjo da luz  ou Lúcifer que queria ser igual a Deus. Derrotado, é lançado na Terra. (Apoc. cap12). Por seu lado, os rabinos judeus ensinavam nos seus segredos  que Deus criou os demônios na tarde do sexto dia mas não teve tempo de dar-lhes um corpo, porque com o pôr do sol começava o descanso do sábado. Por isso eles ficaram vagando. E então entravam no corpo das pessoas e cada um tinha uma doença para adoecer os homens. (Prado, José Luis, biblista). Sobre os princípios da humanidade, muito se tem falado nos mitos do Enuma Elish, e Gilgamesh que foram em parte copiados para o Gênesis, mas agora apresento um mito dos povos africanos: "Deus criou muitos filhos dos homens no céu. Mas um dia apareceu uma criança deformada. Como os homens se revoltassem, foram nesse instante expulsos do céu. Aí Deus se apresentou na Terra em forma de peixe. Em seguida tomou a forma de homem e tornou-se seu companheiro. Ingrato, o homem insultou a Deus, e então Deus separou-se para sempre do homem. Quando os primeiros homens saíram do pântano do caniço, o chefe do pântano mandou um camaleão levar-lhes a seguinte mensagem: os homens morrerão, mas hão de ter outra vida. O camaleão pôs-se a caminho vagarosamente. Entretanto o chefe do pântano mudou de opinião e despachou o lagarto de cabeça azul para dizer aos homens: morrereis e apodrecereis debaixo da terra. O lagarto partiu imediatamente, e em breve ultrapassou o camaleão. Quando enfim chegou o cameleão com sua mensagem, os homens disseram-lhe: vens tarde demais, o animal da morte chegou primeiro” (Altuna, “Cultura tradicional africana, apud Vicente, José Armando “A salvação na RTA, Loyola, pag.145-146). Israel sempre quis ter Deus ao seu serviço. Isso traz consequências teológicas. Israel não gerou filosofias, apenas teologismos, e estes direcionados ao orgulho de sua nação, sobre o seguinte: que Deus tinha que estar a seu serviço para derrotar os inimigos, e um dia dominar todo mundo. Tal como o atual Donald Trump de hoje, que alguns historiadores dizem ser descendente de imigrantes de judeus da antiga Baviera alemã. Comparem com o comparsa dele, Natenyahu, de Israel. Porém, na Grécia nasceu a filosofia, que bota a cabeça e a razão para trabalhar e equilibrar a mente, a escrita e as ações. E a pouca filosofia que reinou entre Israel foi tardia, e copiada da Grécia, como o livro da Sabedoria de Ben Sirac, que releu toda a Bíblia sob o prisma da “Sabedoria”, uma filosofia eclética a partir da filosofia dos gregos. A Bíblia dos Judeus não se  interessava com “céu” nem com “inferno” como o zoroastrismo da Pérsia, mas estes conceitos vieram em dado momento tardio para a Bíblia do Novo Testamento, copiando da filosofia  de Zoroastro. Na verdade, para os judeus funcionava assim: Depois da morte havia outro estágio de vida, que chamavam “dormir”, aguardando a vinda final do Messias, como afinal também no zoroastrismo. Porém esse Messias não vinha tratar de  uma vida “no céu”, mas outra vida nesta Terra, vida feliz e libertada dos inimigos da Nação que agora aprontaria todas as vinganças contra todos seus inimigos. Não seria ressurreição como nós entendemos hoje mas uma vida feliz aqui na terra de “novos céus e nova terra”(Is.65,17, e Apoc,21,1). (Cf. N.T.Wright, a ressurrição do filho de Deus, pag.590-595). Isso consta do próprio evangelho quando Pedro perguntou a Jesus o que “eles”, os apóstolos iriam ganhar depois de deixarem tudo:  “Não há ninguém que tendo deixado tudo isso não receba já neste mundo 100 vezes mais em casas, irmãos, irmãs, filhos, terras, e no século vindouro a vida eterna ”(Mc.10,28).  E ainda, no momento da despedida de Jesus, na Ascesão, qual era a preocupação dos discípulos: “É agora que vais restaurar o reino de Israel?” (At.1,6). Podemos ainda conferir o pedido dos filhos de Zebedeu: “queremos o primeiro lugar,  um à tua direita e outro à tua esquerda na vinda do teu reino” (Mc.10,37). Finamente, quando entrou em voga o termo “ressurreição”? “Ressurreição era um símbolo imponente: de “pôr de ponta-cabeça a ordem presente e marcar o começo do reinado do “Messias”, ou seja o “reinado de Israel”. Este conceito vem em todas as entrelinhas do cap.3 do Êxodo, episódio da “sarça ardente”, em Ez. Cap.37, no sentido da “destruição do “(Jo.2,19), e em Isaías cap. 53-56, quando a exaltação do servo sofredor representa a exaltação de Israel. ("Cf. Wright, o.c.p. 595). Falamos em filosofar a vida. Neste capítulo demo-nos conta que a fé vem depois da filosofia. Os elementos que mais nos impressionam e ao mesmo tempo nos incomodam vieram todos da filosofia: ALMA, CÉU, PURGATÓRIO, PECADO, DEMÔNIO, PRIMEIROS ANTEPASSADOS E "SALVAÇÃO". Isto nos diz que o cristão deve botar mais a cabeça na organização da sua vida; Há uma coisa contraditória nisso aí, é aquela atitude dos povos que nos parecem mais religiosos, como Israel, e se mostram os mais egoístas, como o povo judeu, que sempre quiseram ter Deus ao seu serviço. E porque Jesus não se pôs ao seu serviço o eliminaram.

Conclusão. É preciso filosofar a vida; não só teologizar. Porque teologizar sem filosofar cai-se num espiritualismo vazio, e muitas vezes caricato, como aquele que a “iluminação a gás, as locomotivas e as pontes suspensas e as vacinas eram contra a vontade de Deus”, a teoria que condenava esses avanços científicos no séc.XIX. Isto nos diz que a teologia vem depois da filosofia e não o contrário, como aconteceu com Agostinho e Tomás de Aquino  que se seguraram em várias filosofias para fazer as suas teologias, e como acontece com os teólogos modernos.

P.Casimiro João         smbn

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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

EXALTAÇÃO DA “SANTA CRUZ”, O PORQUÊ.

É muito bonito fazer uma festa da “Exaltação da santa Cruz”. Mas é muito difícil considerar as cruzes que vão pelo mundo de guerras, de malvadezas e de hipocrisias, como em Gaza, Ucrânia, e as fomes que daí resultam. Em segundo lugar, nesta festa há dois motivos de política, um do mundo, outro da Igreja. O “mundo”, leia-se os “políticos” dizem; “o povo tem que sofrer para nós sobreviver”. A Igreja diz que o povo tem que sofrer para ir pro céu. E botam aí a vontade de Deus. E assim se formou a teologia do sofrimento, a vontade de Deus. Para os políticos é o dinheiro, para a Igreja é a vontade de Deus. Que Deus manda os sofrimentos, e quis o sofrimento de Jesus. Ora, nunca podemos dizer  isso, embora que tradicionalmente a Igreja  o falou e escreveu, até nas orações da liturgia, pelos motivos que dissemos acima. Se Jesus não sofresse seríamos salvos do mesmo modo, e os sofrimentos não vieram da vontade de Deus, mas dos homens. Logo de quebra, no Antigo Testamento fizeram o recurso às “serpentes do deserto” que “foram mandadas por Deus” para castigar o povo. É outra lenda, porque não é Deus que manda o sofrimento e nem mandou serpentes nenhumas. Sempre Deus no meio e sempre o sofrimento. Ora isso das serpentes era um conto pagão para o deus da saúde, Esculápio. E entrou no evangelho de João já mais tarde do original para uma lição do batismo para reforçar uma vida de cruz. Até porque, veja bem, se morrer um pobre cheio de sofrimentos, enterra-se em qualquer buraco. Se morrer um poderoso, vai até bispo no funeral para dizer que vai pro céu. Em vida, o pobre tem que sofrer para ir pro céu; na morte todos vão para o céu. Mesmo antigamente, quando se dizia que os maus não iam para o céu. Não deixa de ser irônico que já 1.500 anos antes de Cristo se dizia isso na religião de Zoroastro, que foi a primeira que falou de “céu”, “inferno” e “purgatório” que o purgatório iria acabar com a vinda de um messias que iria igualar todo mundo, e juntar todo mundo no reino da glória e felicidade. Então, para quê tanto sofrimento pregado? Quando o imperador Constantino concedeu liberdade ao cristianismo já se valeu da cruz com duas lendas inventadas:  numa dizia que tinha achado a cruz de Jesus na Jerusalém destruída depois de 300 anos; a outra que tinha visto no céu uns raios de luz em cruz. Aqui se valeu destas duas lendas para implementar o seu império que estava-se desmoronando: primeiro implementando o seu poder político pela cruz agradando aos cristãos, depois juntando os dois poderes, o poder político da cruz para o pobre e a teologia da Igreja para o sofrimento do povo. Deve ter vindo daí o célebre ditado que o mundo cristão esteve sempre entre a cruz e a espada.

Conclusão. Lemos nas linhas e entrelinhas dos escritores biblistas e teólogos de hoje que nos dizem que todo o Antigo Testamento é uma grande epopeia política. E que o novo é pelo menos três quartos. Situação que adéqua com este tema das “serpentes” venenosas e “teológicas” aportado para a festa da “exaltação da santa cruz”.

P.Casimiro João        smbn      www.paroquiadechapadinha.blgospot.com.br

 

 

 

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

VINHO NOVO EM VASILHAS NOVAS.


 Há quarenta anos atrás o escritor filósofo e teólogo Frei Beto cunhava uma frase que virou jargão internacional “Hoje não vivemos numa época de mudanças mas numa mudança de época”, publicada num artigo para o Jornal “O Globo” em 1984. Na verdade é quase assim como em 1789 quando começava outra mudança de época com a Revolução francesa em que se inaugurava a época do Iluminismo com John Locke; da Razão pura com Eamuel Kant; e da liberdade de consciência e de religião com Descartes. Em que se passava da assim chamada “Idade das trevas”, um apelido da Idade Média para a Idade do pensamento de Descartes. Imagine o mundo de hoje sem a TV, sem o celular, sem o avião, sem os robôs das montadoras de carros e aviões e todos nossos utensílios, sem o laser e todas as suas aplicações na medicina, nas cirurgias presenciais e à distância, e sem a IA, inteligência artificial que está fazendo os seus primeiros ensaios. Um dia o Mestre Jesus decidiu uma polêmica com os tradicionais fariseus e mestres da lei dizendo que não adéqua costurar um “remendo novo em roupa velha” (Lc.5,36), e nem botar “vinho novo em odres velhos, porque o vinho novo arrebenta os odres velhos” (5,37). Por outras palavras, o jargão de Frei Beto vai pelo mesmo caminho quando disse que “estamos numa verdadeira mudança de época”. No entanto há uma plêiade de cristãos e alguns que se têm por conceituados intelectuais dentro das fileiras das hierarquias da Igreja que, supomos, resistem em dar o passo para a “mudança de época”, ou de colocar o “vinho novo” da nova época em vasos novos. Dá-nos a impressão de que têm os pés no dia de hoje mas a cabeça nos dias da Idade Média, inclusive antes do concílio vaticano II. Esta dicotomia cria embates e conflitos. A Igreja atual está envolvida em levar a cabo o debate sinodal. Seria um grande esforço para a atualização da Igreja quanto à Família, à teologia, à Bíblia, à antropologia e à ciência. Se no Sínodo se resolverem cinquenta por cento dos embates e conflitos e resistências encontradas digamos pela velha guarda, seria já um resultado satisfatório. Na verdade, ainda estamos com as nossas homilias chovendo no molhado da idade de há 100 ou 200 anos atrás, em vez da atualização que seria exigida hoje, segundo o jargão do evangelho citado “vinho novo em vasilhas novas”. Eram dessa maneira as “homilias” de Jesus. E era dessa maneira que suscitava embates, resistências e conflitos com os seus opositores. Naquela época os opositores de Jesus eram os mais devotos e os mais “santos” da fé dos judeus. Os fariseus batiam no peito dizendo que eles eram os “santos de Israel”, e da fé e dos costumes judaicos. Não admira que hoje os mais “santos”, os “mais seguidores da tradição e das tradições e “da fé”, sejam também os que se opõem a botar o vinho novo em vasilhas novas. Ao mesmo tempo na fileiras eclesiásticas e nas fileiras do povo cristão isto existe.

Conclusão. Como nas Preces da Assembleia se reza: “Pela Igreja em seu caminhar de renovação sinodal, para que seja fortalecida pelo Espírito diante dos desafios que se apresentam em nossos dias”. A prece termina: “rezemos” (Cf. Liturgia Diária, Nov.2024, pag. 36).

P.Casimiro João    smbn

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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

FAMÍLIA, UMA REFELXÃO


 

Um homem fala pra sua mulher: “eu estou sempre contigo porque te amo. Mesmo que não existisse lei nenhuma eu sempre te amarei”.  Que alegria para aquela esposa. E vice-versa, a mulher falando pro seu esposo. O contrário: “eu não separo só porque é proibido, porque não te amo mais.”  Olha a tristeza! Aqui o exemplo de um casamento certo e de um errado. É destes que o último Sínodo dos bispos falou, em 2015. O tema da família é tão abrangente, que ela é o primeiro lugar onde aprendemos a “comunicar”. Ela é o lugar paradigmático onde a comunicação aparece como um diálogo que se tece com a linguagem do corpo, numa expressão feliz do Papa Francisco. Exultar pela alegria do encontro é o arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação que aprendemos ainda antes de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira escola de comunicação feita de escuta e contato corporal. Onde começamos a familiarizar-nos com o mundo exterior. Depois de chegarmos ao mundo permanecemos num outro ventre que é a família; um ventre feito de pessoas diferentes inter-relacionando-se. A família é o espaço onde aprendemos a conviver na diferença. Na família recebemos as palavras que são o veiculo da comunicação dos nossos antepassados. Não nos inventamos, e nem inventamos as palavras: tudo recebemos, e nós, como numa corrente, aprendemos a passar adiante o fluido de palavras e comunicação que recebemos em família. Tudo quanto recebemos em família será enriquecido com a nossa experiência que iremos transmitindo por nossa vez. Aprendemos também a oração dos pais e avós, e exemplos de vida que nos passam. Também aqui a família se torna a dimensão religiosa da comunicação. O paradigma comunicativo da família se concretiza em vários canais e capacidades: na capacidade de abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, capacidade de rir e chorar juntos. E ainda na capacidade de “visitar” e sair da sua zona de conforto,  indo ter com o outro. É assim que a família leva conforto e esperança às famílias mais feridas. Também na família experimentamos limitações próprias e alheias. E nos damos conta que não existe família perfeita cem por cento. E não precisamos ter medo da imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos conflitos. Por isso aprendemos a enfrentá-los de modo construtivo. Aprendemos ainda que a família é uma comunicação que definha e se quebra como a teia de uma rede de tecido, mas é possível refazer os nós e fazê-la crescer, e ficar mais bonita que colcha de fuxico. Na família, como na rua, entram os meios de comunicação social. Eles são perigosos e são luminosos, segundo aquela afirmação de O.Murchu: “é da essência do futuro ser perigoso”. Aí nadamos num futuro belo e arriscado. Na família se aprende também a conviver com as tecnologias e não só se deixar arrastar por elas. Seja a família um ambiente onde se aprende a comunicar. Uma comunidade que sabe acompanhar: festejar, frutificar e narrar. Narrar significa compreender que nossas vidas estão entrelaçadas numa trama unitária; que as vozes são múltiplas, mas onde cada uma é insubstituível. É importante afinar o olho clínico no seguinte, segundo as palavras do Papa Francisco: “Aquilo que parece normal para um bispo de um continente, pode resultar estranho, quase um escândalo para outro bispo de outro continente; aquilo que se considera violação de um direito numa sociedade, pode ser preceito óbvio e intocável noutra; aquilo que para alguns é liberdade de consciência, para outros pode ser só confusão. Na realidade, as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral, se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado.  E o Sínodo terminava: “Significa que procuramos abrir os horizontes para superar toda a hermenêutica conspiradora ou perspectiva fechada, para defender e difundir a liberdade dos filhos de Deus, para transmitir a beleza da novidade cristã, por vezes coberta pela ferrugem duma linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível. Significa também que espoliamos os corações fechados que, frequentemente, se escondem mesmo por detrás dos ensinamentos da Igreja ou das boas intenções para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”. Isto ressoa como um apelo para que sejamos mais adultos e possamos avaliar mais a nossa responsabilidade. Como dizendo, você não é mais criança, seja adulto. Enfoca-se também a importância de defender o homem e não as ideias, defender o espírito e não a letra. “A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade  do amor de Deus e do seu perdão”. Outra constatação do Sínodo: “O primeiro dever da Igreja não é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, chamar à conversão e conduzir à salvação do Senhor” (cf. Jo.12,44-50). É por isso que o Sínodo deixou ao discernimento e ao critério do pároco e dos bispos assuntos delicados como a comunhão dos recasados em segundas núpcias.

Conclusão. Nessas reflexões do sínodo houve muito senso na seguinte constatação de um olho clínico apurado: “A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade  do amor de Deus e do seu perdão”.

P.Casimiro João        smbn

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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

DOBRAR O JOELHO, HISTÓRICO.


 

“ Por isso Deus  o exaltou e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho de quantos há no céu, na terra e nos abismos e toda língua proclame para glória de Deus Pai que Jesus Cristo é o Senhor” (Fil.2,9). Nas literaturas apocalípticas antigas, Henoc e Moisés eram narrados como mensageiros de Deus, e são elevados até junto de Deus e recebem o nome do próprio Deus: são chamados com o nome de “senhor”. Henoc recebeu até todos os setenta nomes de Deus, e lhe foi dado o império, o poder sobre todas as criaturas. E o nome de Moisés era ”senhor de todos os profetas” (Schilleebeeckx, Jesus, a história de um Vivente, Paulus, 2014,p.492). Como vemos, para os judeus antigos era aceitável esta atribuição do próprio nome de Deus e “senhor” aos seus mensageiros antigos e não contradizia o pensamento estritamente monoteísta deles. “O nome de Deus, “o Senhor”, o “nome colocado acima de todo nome” também foi colocado em Jesus, e atribuído a ele como mensageiro enviado por Deus, e depois devolve tudo aos pés de Deus” (o.c.p.492). Em Deuteronômio está escrita a teoria sobre o profeta escatológico dos últimos dias: “Javé, teu Deus, fará surgir dentre teus irmãos um profeta como eu em teu meio, e vocês o ouvirão” (Dt.18,15). Na tradição antiga, Deus colocou, ou carimbou seu próprio nome nos seus mensageiros. Por isso colocou e carimbou a pessoa de Jesus com seu próprio nome. Que a Jesus era atribuído o nome de profeta dos últimos dias do Livro de Deuteronômio atesta-o o evangelho quando ele é chamado de profeta: “Um grande profeta surgiu entre nós” (Lc.7,16) e: “um dos antigos profetas” (Lc.9,19). Em cima desta missão como “profeta dos últimos tempos” se aumentaram todos os outros títulos e atributos dados a Jesus, e foi nesse status que se firmaram as credenciais de Deus para que fosse proclamado “Senhor”, “Guia” e “Salvador”, e “Kyrios”, como missões que eram credenciadas da parte do Pai. E como diante de Deus se dobrará todo joelho, igualmente diante do seu mensageiro Jesus Cristo. “Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda a língua” (Is.45,23), que depois foi traduzido livremente por Paulo quando escreveu: “Está escrito, por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho e toda língua dará glória a Deus” (Rom.14,11). Esta citação de Isaías Paulo copiou-a e colocou num contexto do julgamento de todos por Cristo como juiz. Isto esclarece a missão do profeta escatológico dos últimos tempos que também vinha com a missão de juiz: “Por isso é que  morreu e retornou à vida, para ser o “senhor” tanto dos mortos como dos vivos. Porque julgas então o teu irmão? Todos temos que comparecer perante o tribunal de Deus. Está escrito, por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho e toda língua dará glória a Deus. Assim, pois, cada um de vós dará contas de si mesmo a Deus” (Rom.14,11-14). Nesta página tivemos ocasião de ver a origem da expressão “dobrar o joelho”, e seu histórico. Qual o significado de “dobrar o joelho”? É expressão figurada para render-se, submeter-se ou humilhar-se. Na religião cristã, dobrar o joelho ou ajoelhar-se é um gesto de súplica, respeito e adoração. Uma cortesia ou reverência que é um tradicional gesto de saudação na qual alguém dobra seu joelho, ou curva a fronte. O gesto é caracterizado como uma tradicional saudação de um inferior para um superior, mormente aos reis e rainhas. Também acompanhado com a mão que se leva à boca, que em latim se diz “ad oris”, isto é, levar à boca, donde veio a palavra “a-dorar”.

Cnclusão. Palavras geram atitudes e atitudes são sempre relativas e culturais. A palavra “adorar” afinal vem de um gesto e de uma atitude: o joelho e a mão e a boca. (o beijo).

P.Casimiro João     smbn

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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

O INÍCIO DO INÍCIO DO CASAMENRO


 

Convido você a brincar só um pouquinho com uma interpretação que supostamente terá sido atribuída a Jesus num dado momento. É quando o próprio Jesus teria dito: “Moisés permitiu despedir a mulher por causa da dureza do vosso coração; mas não foi assim desde o início” (Mt.19,7b). E “Nunca lestes  que o Criador  desde o início os fez homem e mulher; e disse: por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne; portanto, o que Deus uniu, não separe o homem” (Mt.19,4-7). Vejamos: Havia cinco milhões de anos que haviam passado quando estas coisas foram escritas no livro do Gênesis. Já 5 milhões de anos que os homens e as mulheres se uniam, e não esperavam a ordem de Deus. E, onde se diz: “Não foi assim desde o inicio”: sabemos que desde o início foi pior porque ninguém sabe como foi, mas pouco diferente  dos animais. Eles não sabiam “quando” foi o “início”, nem “como” foi. Parece curioso notar isto, mas tem que se dizer: nem eles nem Jesus sabiam quando foi esse início. E nem eles nem Jesus sabiam da cosmologia de hoje, que diz que nós, os humanos, aparecemos por evolução, ou seja, eles estavam na cosmologia antiga do “criacionismo” que dizia que o homem tinha sido criado do pó da terra, ou com o sangue de algum deus, segundo o “mito” dos vizinhos dos judeus, ou com a água e o pó da terra segundo o “mito” dos judeus. E de quebra haveria só um casal. Enquanto que hoje temos a teoria científica da evolução do cosmo,  que diz que não foi só um homem e uma mulher que surgiram, mas um sem número de machos e fêmeas, o que levou o nome de poliformismo.  Chegando agora na pequenina tribo de Israel, na época de quando foi escrita esta narrativa, o que sabemos? Duas coisas: a primeira, que quando o homem queria abandonar a companheira, bastava que acordasse mal naquele dia achando que ela não estava bonita ou algum defeito na comida, então escrevia um papel, um “libelo”, lhe entregava, e a mandava para a casa da mãe. É donde vem a pergunta: “É permitido ao homem despedir a mulher por qualquer motivo?” Mt.19,3. Segundo: As famílias dos sumos sacerdotes tinham esquadrões de assassinos profissionais encarregados de invadir as casas dos camponeses para tirar até com ameaças de morte os dízimos e os impostos, e raptar esposas para eles trocarem ou ajuntarem às que já possuíam, como afirma Helmut Koester em História e cultura do cristianismo primitivo, pag. 192.                               Se era assim na época deles, imagine como devia ser naquele “início dos inícios”, em que os primeiros machos e fêmeas eram ainda meio animais e meio humanos. Em terceiro lugar, a ciência diz que entre o reino animal 25% por cento são híbridos, isto é, misturados num só animal os dois sexos. E ainda: em todas as culturas ancestrais dos seres humanos tem havido a mesma proporção da mesma hibridez. Percorrendo a história da Grécia e de Roma fica evidente essa narrativa. Então, o “mito” que Deus os formou “homem e mulher” estaria só na cabeça do redator, mas não estava escrito nem na criação seja da mãe natureza, seja do Pai-Deus criador.

P. Casimiro João        smbn       www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

PODER E LEI NA IGREJA.


 

Noutra pagina falei nesse tópico “poder e lei” mais que o reino de Deus, e isso fazia  parte da teologia tradicional do Antigo Testamento. E não só, também em datas mais recentes havia esse casamento do poder e da lei. Desde alguns anos que a Igreja vem tentando uma reviravolta dessas atitudes no passado, deixando para trás ligações, alianças e compromissos com o poder político. Sobrou no entanto o apego ao seu próprio poder “sagrado” tomando o lugar do outro poder temporal. Isto acontece quando o seu próprio poder é “sacralizado”, tornando-o igual ao antigo poder imperial, com a característica de que é “sagrado”, como vindo de Deus, enquanto não, o que vem de Deus é o “serviço” (Mc.10,45). Até porque, se o poder imperial era perigoso enquanto usando e sendo usado por forças humanas, este se torna ainda mais perigoso enquanto “poder sagrado” da Igreja, porque ganha todas as condições para um domínio mágico sobre o povo. Na verdade, a Psicologia diz que a religião é o que exerce a maior força psicológica sobre a humanidade. O concílio vaticano II foi o princípio de uma conversão, mas só o princípio. E tanto foi só o princípio, que logo ao nascer, surgiram forças ocultas dentro da própria Igreja para não deixar essa plantazinha crescer. O modelo de Igreja do concílio foi de uma Igreja que está no mundo a serviço do mundo, não mais para “dominar” o mundo. A visão de que a Lei e o Poder eram mais importantes que o Evangelho do Reino de Deus começava a ser diagnosticada como doença e começou a causar  incômodos  em muitos setores da Igreja. As elites econômicas e políticas do mundo rico e da Igreja tiveram um sobressalto e um susto. Porque o seu modelo de Igreja era claramente de cristandade articulado pela relação Igreja-Poder. E a espiritualidade era desligada da realidade. As primeiras reações começaram e aumentaram fomentadas por setores e movimentos tanto da Igreja como do poder temporal. Nos Estados Unidos instaurou-se um regime de domínio de toda a América Latina, com Herry Truman. Foi quando se formaram os dois blocos Rússia versus Estados Unidos. E aí, nos Estados Unidos estabeleceu-se esta bandeira e esta ideologia: “Tudo o que não for pela América é contra a América. Foi a chamada “Guerra Fria”. E tentou dividir o mundo nesses dois blocos, como se no mundo não houvesse mais ninguém. Esta era uma estratégia para dominar todas as nações da América do Sul. E com as Nações também a própria Igreja entrou na roda da ideologia dos Estados Unidos. Nascia assim o imperialismo moderno dos Estados  da América do Norte. O inicio do conflito “foi o discurso de Truman, em 1947, que deu origem às ditaduras da América Latina no Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Guatemala e Brasil. A implantação destas ditaduras militares estava diretamente associada com o cenário da Guerra Fria, começando com o discurso de Truman, enquanto que a Rússia não tinha feito nunca ameaça nenhuma a nenhum país” (Cf: Silva, Daniel http://brasilescola.uol.com.br/historiag/militar.htm). Tanto que este imperialismo dos USA conseguiu infiltrar-se na Igreja, que por três ocasiões aceitou receber políticos dos USA em Roma para conseguir as amizades do Vaticano. (Apud O.Culman) . E não só, mas conseguiram também colaboração e alianças com a Igreja em muitas nações da América do Sul. Veio desse movimento a mania de chamar comunista a quem não fosse abertamente a favor dos Estados Unidos. Isso aumentou na ditadura militar brasileira e depois da ditadura continuou essa mania ou melhor esse trauma, como um fermento e um veneno que contaminou a sociedade. Duas dimensões retornaram e renasceram numa espiritualidade doentia e até na formação do sacerdócio. As nações mais ricas começaram a dominar o mundo pelas redes sociais. Foi um poder global e digital dos Estados Unidos com o domínio dessas plataformas digitais. Eles tinham o máximo cuidado de levar as Igrejas nessa onda. Desse jeito fomentaram uma espiritualidade que servisse a sua ideologia e seu império. Assim eles promoveram um mercado de espiritualidade alienada e desencarnada, invadindo toda América do Sul com seus pastores bem alinhados ao regime e pagos com muitos dólares americanos. Por outro lado, os padres começaram sendo formados em uma concepção do sacerdócio como poder, e “poder sagrado” para dominar, tudo como reação ao concílio vaticano II. (Apud Pablo Richard – “Contexto Atual da Globalização,pg.49 e 55).

Conclusão. Enquanto que, como frutos do concílio, se fizeram na América Latina os Sínodos de Medellin e Puebla para aplicar os princípios do Vaticano II, em Roma não se davam conta das intenções dos USA que tentavam tomar terreno e afastar as Igrejas das práticas do concílio.  Deste modo, como anteriormente a Igreja se ligava aos poderes imperiais da Europa e do padroado, agora com uma nova fase de unir-se ao novo poder imperial da América do Norte.

P.Casimiro João                  smbn

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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A RESSURREIÇÃO SEGUNDO O MUNDO HELENÍSTICO E JUDAICO.

“A maior parte da Bíblia nega ou pelo menos ignora a possibilidade da uma vida futura, com apenas alguns poucos textos que se levantam fortemente com uma ideia diferente no período do Segundo Templo” (N.T.Wright, A ressurreição do filho de Deus, pag. 202). Afirmamos numa página anterior o seguinte, que pode-nos parecer estranho: “Se o mundo antigo não judaico tinha seu antigo testamento era Homero; e Platão era o novo testamento” (o.c.p.71)  Digamos que nesta teoria helenística de Homero, séc. VIII a.C. não havia ressurreição nem imortalidade, e nisto se assemelhavam à Bíblia do Antigo Testamento com Moisés, da mesma época  séc.VIII antes de Cristo. Porém, com Platão, séc. V a.C. se falava, em vez de ressurreição, em imortalidade: a alma deixava o corpo donde saía no momento da morte e retornava imortal e incorpórea para a estrela gêmea de onde se tinha originado. Os judeus, depois da era dos Macabeus, e com o livro de Daniel começaram a falar em ressurreição, pelo ano de 160 a.C., mas no sentido de “restauração”, não como conceito ontológico mas histórico. Porque não tinham em vista o estado do indivíduo depois da morte, mas a restauração da Nação como vingança sobre os povos que os tinham oprimido. Este conceito perpassa transversalmente todo o período seguinte e acompanha também o nascimento de primitivo cristianismo no Novo Testamento. O cerne do conceito de ressurreição começou por aí. E nos primeiros capítulos do livro dos Macabeus e do mesmo Daniel essa restauração começava pelos mártires assassinados pelo rei Antíoco como representantes da restauração de todo o Israel. Com Homero, mais ou menos da época de Moisés como dissemos, não havia vida nenhuma depois da morte. Foi preciso chegar a Platão e Epicteto para chegar ao conceito de  imortalidade da alma, que se desprendendo do corpo mortal voaria para a estrela da sua origem vivendo a imortalidade na ilha das bem-aventuranças e do gozo da companhia dos deuses. Os judeus eram também avessos a qualquer vida depois da morte, uma vez que não achavam nada a respeito no Pentateuco e nos Sábios, onde se dizia: “Os mortos apodrecerão para sempre como seu próprio destino” (Jó,20,7; Ec.12,7; Sl104,19). Este era o A.T. dos judeus, como o de Homero dos gregos. Uma novidade: Quando foi escrito o livro de Daniel é de todo provável que Daniel se pusesse em contato com a nova filosofia de Platão que estava entrando na cultura judaica, e, como num link descreveu: “ Os mortos ressuscitarão a um estado de glória no mundo, e terão a condição das estrelas, da lua e do sol dentro da ordem criada” o.c.p.180). Notemos que aqui permanece vivo o conceito de restauração e vingança, enquanto em Platão é conceito ontológico. Na verdade “toda a narrativa dos cap.2 e 4 de Macabeus, como afirma o autor citado é originária de Platão no helenismo” (p.178). A ressurreição tem a sua alma gêmea na esperança. Porém, qual era a esperança dos autores bíblicos? A esperança deles concentrava-se não no destino dos seres humanos após a morte mas no destino de Israel. A Nação e a terra do presente eram muito mais importantes do que aquilo que aconteceria com o indivíduo além túmulo. Até os tradutores gregos da Bíblia dos LXX, intencionalmente mudaram afirmações, como as de Jó, que havia a vida futura, no positivo, enquanto no original estava que não, Jó, 14,14 e 19,26 (cf.o.c.p.226). Por outro lado, o referencial do mundo judaico nos dias de Jesus e Paulo alinhava-se  com este mesmo imaginário e seguia os mesmos textos supracitados de Platão e Daniel e dos Macabeus como sendo as principais fontes para a sua crença geral da ressurreição” (o.c.p.174). E, queiramos ou não, essa era ainda a crença e o imaginário do primitivo cristianismo que ainda está vigorando no imaginário geral da cristandade de hoje. Por isso já foi dito noutra página que o nosso DNA de cristão é composto com os dna’s dos gregos, judeus, mesopotâmios e persas. O que falamos sobre o Novo Testamento está bem claro quando dois apóstolos pediram a Jesus para sentarem um do lado direito e outro do lado esquerdo quando chegasse o seu reinado.(Mc.10,1,37); E a na pergunta que não calava na boca dos apóstolos na hora da ascensão: “Mestre, é agora que vais instaurar o reino de Israel?” (At.1,6). Disse que a ressurreição, historicamente falando foi sempre um conceito mais político do que ontológico, ou seja a volta a uma nova vida individual, mas visava a nação como um todo. Numa dada época surgiu uma nova leitura da Bíblia que intrigou alguns pensadores mais independentes. Trata-se de nova visão da leitura do Gênesis. O livro da criação, o Gênesis, deu inspiração para os profetas Oseias e Jeremias, pois Javé criou os seres humanos soprando neles o seu próprio espírito e, quando ele o retoma para si novamente, eles novamente voltam ao pó, e assim o sopro de Deus era um empréstimo ao ser mortal.. Foi daí que surgiu a figura dos ossos secos em Ezequiel (cap.37), embora seja alusão clara também ao povo  ressequido de Israel. (Cf. também Os. 1,6). E também o livro do Êxodo, onde se fala no Deus que restaurou a vida seca do seu povo tirando-o do Egito. De qualquer maneira que busquemos ambientes e conceitos de ressurreição-restauração, houve sempre uma classe da elite dos judeus que nunca aceitaram qualquer tipo de ressurreição, os saduceus. Por dois motivos, o primeiro porque eles mesmos se consideravam os fiéis guardiões da tradição do inicio da Bíblia que não falava nada a respeito. Segundo, porque  pessoas que acreditavam que seu Deus iria criar um novo mundo, e aqueles que morrem em lealdade a ele durante o processo ressuscitariam para ter parte nele, teriam a probabilidade muito maior de perder o respeito pela aristocracia do que pessoas que acreditavam que esta vida, este mundo, são os únicos que existirão. Por outro lado, eles, que eram a aristocracia, liam o livro de Daniel e dos Macabeus como uma ameaça dos que queriam tirar-lhes o poder, como afirma Wright.  E por último, se olhassem para o conceito de ressurreição como “restauração”, isso não mexia nada com eles porque eles não precisavam de “restauração” nenhuma pois comiam no mesmo prato da aristocracia das nações opressoras e tinham os mesmos privilégios. E a “ressurreição” em Paulo quando fala que “iremos ao encontro do Senhor nos ares”? Não devemos nos deixar enganar pela metáfora de “subir” às nuvens, o que evoca Dn.7,13 que usa este texto para falar de vindicação ou vingança do povo da aliança após seu sofrimento. Ou seja, é uma maneira diferente de dizer o que Paulo já tinha dito em Gal.5,5 “o povo que pertence ao Deus único será vindicado”. Na sua linguagem metafórica ele fala também em “dormir e despertar” expressões empregadas para denotar  a transformação da vida que se produz em virtude da pregação do evangelho. Com esta metáfora Paulo reforça o ensinamento moral, e confere este ensinamento com a repetição da promessa sobre  o que Israel esperava: que a ressurreição-restauração que Israel ansiava já está em caminho em suas vidas por ação do Espirito Santo. Mais ainda, vejamos o ponto central: a lição de que a ressurreição de Jesus foi o cumprimento repentino e perturbador da história de Israel, inaugurando um novo e inesperado período da história, no qual os chamados pelo evangelho vivem como filhos do dia, esperando pelo amanhecer final (o.c.p. 320). A pista para tudo isto é que na morte e ressurreição de Jesus o Deus criador derrotou o poder da morte, de forma que a vida de seu novo mundo, a nova criação, o novo dia que amanhece já se antecipam nas vidas daqueles que foram conquistados pela palavra do evangelho e será completa na volta do Messias (id.id.)   Em tempo: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel? Era a questão dos discípulos que explodiu na “despedida oficial” que Lucas colocou no final do seu evangelho e inicio dos Atos dos Apóstolos, At.1,6. Não admira então que Jesus, não tendo correspondido a essas expectativas, tenha tido o desfecho da condenação, como quem diz, este não nos serve, temos que esperar um outro. E daí a confusão de quando ele falava que ia sofrer e ser entregue, com a resposta do evangelho: “Eles não entendiam nada, mas tinham medo de interrogá-lo” (Mc.9,32). Conclusão. Compreendemos agora o conceito platônico sobre imortalidade, conceito ontológico referente à natureza do indivíduo e o conceito histórico de ressurreição-restauração dos judeus que se baseava na história da Nação.

P.Casimio João             smbn

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segunda-feira, 28 de julho de 2025

A ALMA E AS ESTRELAS.


 

“Eu me tornei uma estrela da manhã entre os deuses”, dizia um epitáfio antigo. Sêneca dizia que a alma humana imortal veio de fora deste mundo, das estrelas, e fará seu caminho de volta para lá. Sendo assim ela ia reunir-se com os deuses. Para Platão, a alma humana é imortal, e, como imortal, é divina, porque divinos são os “imortais” que são os deuses. A morte se define em termos de separação entre alma e corpo, e alguns filósofos da corrente de Platão diziam que a alma, na sua separação, carregava o corpo com ela. Quando o imperador Otaviano foi assassinado, uma testemunha afirmava ter visto a alma do imperador subindo aos céus, e que ele não tinha sido assassinado porque sua divindade não podia ser extinguida. Como era explicada a origem da alma humana? “No princípio o Criador fez um número igual de almas igual ao número de estrelas, e tendo-as colocado ali como numa carruagem mostrou-lhes as leis do destino. As almas assim devem ser implantadas nos corpos humanos. A sua principal tarefa é governar os sentimentos e desejos do corpo. Depois do seu tempo de vida retornarão e habitarão junto à sua estrela gêmea, e lá terão a bem-aventurança e agradável existência”. ( em Aristófones: O Timeu de Platão, apud N.T.Wright, “A ressurreição do Senhor”, pag.107). Por isso, ninguém em sã consciência, uma vez libertados do corpo que é o cárcere da alma, iria querê-lo ou algo parecido de volta. Porque assim chamavam vida essa libertação, e morte à vida encarcerada no corpo. Não se deve portanto temer a morte, ela é o dia em que nascemos na eternidade e todos vão para a ilha das bem-aventuranças. Epicteto, nessa época, dizia que o nosso objetivo na vida é que se deve aprender a ser feliz, ou, ao menos, não infeliz. Na verdade, a alma libertada do corpo ia de volta para as estrelas e para os deuses. Ali os mortos irão ganhar uma vida bastante completa com Osíris, e como Osíris nos deleites da eternidade. E como muitos pensavam que, na separação do corpo a alma carregava também o corpo, para eles a cremação era inaceitável e uma coisa hedionda. A morte era uma saída à luz do dia. Falamos que a habitação da alma seria na estrela gêmea da qual tinha saído. Durante muito tempo houve um grande debate filosófico acerca de qual material exatamente era o das estrelas e da alma, mas havia o sentido geral de que não seria de coisas muito diferentes. Eram, por assim dizer, feitas umas para as outras. Por exemplo, muitos acreditavam que a alma era um tipo particularmente especial de matéria feito de uma substância ígnea, exatamente o que estava presente nas estrelas. Ficamos com a impressão de que estamos em termos de cristianismo. Mas esta era a teoria de Platão, no séc.V a.C. desenvolvida por seus discípulos como Sêneca, Aristóteles e Epicteto, entre os gregos; e por Cícero, Virgilio e Cipião entre os latinos. Platão fez uma reviravolta da teoria do Homero, sec.VIII a.C. que foi o pioneiro desta  filosofia, junto com seus discípulos Ésquilo e Sófocles. Por isso alguns autores têm Homero como o iniciador do A.T. do helenismo antigo, e Platão como o N.T. do mesmo mundo antigo helenístico. A mudança de Homero para Platão deu-se com o seguinte objetivo: Proporcionar aos jovens aprender a verdadeira concepção filosófica para amar a Pátria e a sociedade sobre a morte não ser algo lamentável, mas algo bem vindo, a vida aquirida na ilha das bem-aventuranças. É o meio pelo qual a alma imortal se liberta da prisão domiciliar do corpo em que viveu na terra. “Se o mundo antigo não judaico tinha uma Bíblia, seu antigo testamento era Homero, e Platão o novo testamento do mesmo mundo helenístico antigo”. (N.T.Wright, o.c.p.71). Dizemos isto porque no Antigo Testamento da Bíblia judaica também não se falava na ressurreição, justamente como Homero que viveu na mesma época de Moisés. Só começou a surgir a teoria da ressurreição num tipo de conceito platónico pelo ano 167 antes da vinda de Cristo e por circunstâncias históricas, na época dos Macabeus.

Conclusão. A busca da felicidade é uma constante da sabedoria humana. E antes que chegasse a teologia e as teologias surgiu a filosofia e as diversas filosofias. Assim, paralelamente a Moisés existiu um Homero, e paralelamente às preocupações de Daniel, o maior expoente da nova doutrina da ressurreição apareceu um Platão também quase contemporâneos, e  temos  influências tanto no conceito de alma como de ressurreição ainda hoje em dia tanto de Daniel como de Platão.

P.Casimiro João        smbn

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segunda-feira, 21 de julho de 2025

ATOS DOS APÓSTOLOS E PAULO ANALISADOS.


 

Noutra página falamos no tipo de epopeia em que parece estar redigido o livro dos Atos dos Apóstolos como está sendo assumido pelos estudos atuais. Vejamos: “Os relatos dos primeiros capítulos do livro dos Atos dos Apóstolos não constituem fonte confiável para as origens das primeiras comunidades cristãs; Tendências lendárias e idealistas impregnam esses capítulos.” (Helmut Koester, Introdução ao Novo Testamento vol. II §8, p.102). Mais à frente fala que o livro trata os apóstolos Paulo e Pedro como são tratados os heróis da Ilíada e da Eneida, de Homero; o que leva a crer que o autor tinha em mente as epopeias de Homero onde se inspirou para a composição do Livro Atos dos Apóstolos. (o.c.&9,p.158). Falemos então sobre Paulo. Em primeiro lugar, há uma discrepância entre o livro dos Atos e as Cartas acerca da procedência de Paulo. Em Atos se diz que Paulo era cidadão romano. E nos fragmentos das Cartas aos Filipenses, 2Coríntios e Gálatas Paulo descendia de uma família israelita da tribo de Benjamin, circuncidado ao oitavo dia, e membro da seita dos fariseus (Fil.3,5); 2Cor.11,22; Gl.1,14; 2,15), o que nos tira do sério sobre a historicidade dos Atos como dissemos. Podemos enxergar vários exageros e absurdos sobre a valentia e braveza de Paulo no referente ao seu esforço persecutório narrado nos Atos. Vejamos o que nos dizem os estudiosos: “O relato do livro dos Atos diz mais do que é possível acreditar: a presença de Paulo na morte de Estêvão é excluída em Gl.1,22; É impensável que Paulo recebesse cartas dos sumos sacerdotes, pois nem os sumos sacerdotes nem o Sinédrio jamais tiveram esses poderes para fazer isso.” (o.c.§9,p.115). O que realmente começou acontecendo foi que os próprios judeus começaram a excluir os cristãos das suas Sinagogas mormente depois do congresso de Java no ano 70 d.C. Pois daí em diante eram considerados como uma seita ilegítima judaica, e por isso sujeitos à lei romana da perseguição pois eles tinham perdido os direitos que eram só dos judeus. E o que dizer sobre as narrativas de “vocações” com sabor e ao jeito do Antigo Testamento? Acontece também na narrativa da famosa “conversão de Paulo o mesmo jeito épico e lendário do Antigo Testamento. Os estudiosos dizem que o chamado de Paulo “é um escrito no estilo de lenda”, como as lendárias vocações proféticas. De quebra, é introduzida outra narrativa como um galho nos diálogos entre Paulo e Ananias, o que cria um ambiente mágico e fabuloso próprio do gênero épico de todo o livro, como outros episódios da soltura de Paulo do meio das correntes e das grades das prisões, equiparando assim os dois heróis de Atos com os heróis da Ilíada, Ulisses e Aquiles ou da Eneida, Eneias e Agamenon. Aliás, heróis que quebram correntes, somem e se tornam invisíveis e quebram colunas, que andam sobre ondas do mar, são comuns em poemas antigos, como os de Apolônio de Tiana, Ben Adab, e Sansão no poema do livro dos Juízes. Aqui os heróis são Pedro e Paulo. Vendo mais sobre Paulo: “Embora o livro dos Atos dedique um total de 7 capítulos à narrativa do julgamento de Paulo e à sua viagem a Roma, não existem dados historicamente confiáveis  sobre essa viagem e julgamento. O discurso ao povo depois da prisão (At.22), seu comparecimento diante do Sinédrio (At.22,30), e o seu julgamento diante de Festo e Agripa II, como o relato completo de naufrágios (At. Cap.22 e 23) são produtos da habilidade novelística de Lucas “ (o.c. §9, p.158). Também não há certezas sobre o fim da vida de Paulo. “O propósito da épica de Paulo é o seguinte: terminar a história que começou em Belém e Jerusalém, e terminar com a chegada vitoriosa do evangelho à capital do império, e daí conquistar o mundo.” (o.c.§9,p.158). Este é o objetivo da obra de Lucas em Atos e no evangelho, dois livros que primitivamente eram um só Livro. Originalmente Lucas escreveu um único livro, que compreendia Atos e Evangelho contando toda a história desde o anúncio do nascimento de João Batista até a chegada e pregação do apóstolo Paulo em Roma. E o que contribuiu para essa divisão em dois livros Atos e evangelho? Há uma razão no sentido de considerar Atos um romance em que histórias prazerosas de prodígios, maravilhas, e especialmente histórias de naufrágios, soltura de prisões e quebras de grades e correntes são apropriadas. Nos contos épicos do mundo greco-romano, especialmente de Eneida de Virgílio estes elementos são essenciais. Além do mais os críticos têm mais a acrescentar sobre o prólogo de Atos, que terá sido um grande acrescento feito entre os séculos II-IV” indo buscar elementos do Antigo Testamento. (o.c.§12,p.330).

Conclusão Encerro este resumo com as conclusões de H.Koester: “A obra de Lucas é uma epopeia da instituição da Igreja que substitui a epopeia de Israel, especificamente a história do êxodo do Egito por uma nova história que sela a separação de cristãos e judeus” (o.c.§12, p.332). Justamente com esta finalidade podem acontecer dúvidas, ou ser consideradas inverdades muitas narrativas hoje consideradas lendárias, segundo o gênero épico em questão. Na verdade, quanto a Paulo, “a tradição sobre sua chegada a Roma e o martírio sob Nero é lendária” (o.c. §10,p.176). A crítica moderna se inclina, como lugar mais provável para o martírio de Paulo em Filipos, segundo a análise das Cartas Pastorais, e confirmado por recentes escavações. (Id.158). Para a crítica moderna também é lendária a tradição da morte de Pedro em Roma, sendo o lugar mais provável na Síria. Para Eduard Arns, “os Atos dos Apóstolos são uma história em forma de novela”. (E.Arnes, “A Bíblia sem mitos”, p.231).

P.Casimiro João

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segunda-feira, 14 de julho de 2025

PRISÕES DOS APÓSTOLOS E PRISÃO E PÁSCOA DE JESUS.


 

As narrativas da prisão e a soltura de Pedro mostram ser paralelas com a saída de Jesus do túmulo É impossível que não haja uma intenção explicita de comparar uma coisa com a outra, dando ênfase à prisão como sendo o túmulo, e a saída como ressurreição. Em todas aparecem anjos, tremores de terra, correntes que caiem e portas que se abrem e grandes luzes. Aliás, outros paralelos aparecem na cura do paralítico no templo por Pedro, At. Cap.3 e o paralítico curado por Jesus “levanta-te e anda”, no capítulo cinco de João (Jo.5,8). Há ainda os paralelos das prisões de Paulo na narrativa de um grande tremor de terra que abriu as portas da prisão, e as correntes caíram de suas mãos (At.16,26). Aliás, os editores poderiam ainda apoiar-se naquele dito de Jesus “fareis coisas maiores do que estas” sobre os que viessem a acreditar em Jesus. (Jo.14,12). Para uma avaliação geral, é bom termos em conta o caráter épico dos Atos dos Apóstolos, como falei na página anterior onde citei um dos maiores estudiosos do Novo Testamento. Na verdade, Helmut Koester (Introdução ao Novo Testamento, vol.II, pag102 nos diz que os Atos dos Apóstolos têm um enredo do jeito dos épicos latinos, como a Ilíada de Homero, que lhe teria servido de modelo. Nos Atos, Lucas teria criado um ambiente mágico e fabuloso próprio do gênero épico de todo o livro, com os episódios da soltura de Paulo e de Pedro do meio das correntes e das grades da prisão, equiparando assim os dois heróis de Atos com os heróis da Iliada Ulisses e Aquiles, ou Eneias e Agamenon da Eneida. Aqui os heróis são Paulo e Pedro. Aliás, heróis que quebravam correntes, somem e se tornam invisíveis e quebram colunas, que andam sobre o mar, são comuns no imaginário antigo, como Apolônio de Tiana, Bem Adab, e Sansão, no poema dos Juizes. (Jz.16,23-30). Por outro lado, estas narrativas mostram a comparação com a prisão de Jesus no túmulo e a sua saída. Os estudiosos afirmam também que a vida e atividade de Jesus passava para os seus seguidores, manifestando-se neles. Por isso, fatos extraordinários como prisões, tremores de terra, correntes que caíam, e portas que se abriam eram comuns a Jesus e aos discípulos. Eram fatos reais? Não interessa, o que interessa é o objetivo catequético. (Cf. E.Schillebeekx. Jesus, a história de um Vivente, p. 382ss). Vejamos os seguintes paralelos, onde colocaremos os versículos referentes aos apóstolos nos Atos em itálico: Evangelho: “Era a preparação do sábado, e esse sábado era particularmente solene”(Jo.19,31) Atos dos Apóstolos sobre a prisão de Pedro: “Era dia dos pães ázimos” (At. 12,3). Evangelho: “Tendes um guarda, ide e guardai o túmulo como entendeis” (Mt.28,65). Atos: “Na prisão colocaram quatro grupos de soldados” (At.12,4). Evangelho: “Um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela” (Mt.28,2). Atos: “Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela” (At.12,7). Evangelho: “Houve um grande tremor de terra e um anjo do Senhor rolou a pedra do sepulcro”(Mc.16,4). Atos: “As correntes caíram-lhe das mãos”(At.12,7). Evangelho: “Os guardas pensaram que morreriam de pavor”Mt.28,4). Atos: “Passaram a 1ª e a 2ª guarda, e o portão de ferro abriu-se sozinho”(At.12,10). Evangelho: “As mulheres correram a dar a boa nova aos doze”(Mt.28,8). Atos: “A Igreja orava incessantemente a Deus por Pedro”(At.12,5).

Conclusão. Após este estudo comparado, será mais fácil olhar para o trabalho pessoal dos autores do Novo Testamento, que, no dizer do capitulo 16 da LG do Vaticano II são chamados de verdadeiros “autores, exercendo as suas capacidades humanas”.

P.Casimiro João      smbn

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