segunda-feira, 14 de abril de 2025

DEUS NÃO É DEUS SEM NÓS, E NÓS NÃO SOMOS NÓS SEM DEUS.

 

Trata-se da transcendência e imanência de Deus. Transcendência enquanto está acima de todas as coisas, imanência enquanto está “dentro” de nós e do cosmos. Porque é isto que define Deus. Deus é transcendência e imanência, e tanto uma como a outra. Deus não precisa de nós, mas não existe sem nós. Enquanto não precisa de nós é transcendência, mas enquanto não existe sem nós é imanência. E dizer de nós é dizer do cosmos e seus mistérios. E não é por uma necessidade que Deus precisa de nós, mas é por pura doação ou entrega de si mesmo. Porque se fosse por uma necessidade, essa necessidade tiraria a liberdade de Deus. Por outro lado, essa doação gratuita e livre de Deus é que faz nós ser nós. Em consequência, nós e o cosmos estamos “fora” e “dentro” de Deus. Enquanto estamos “fora”, não somos “Deus”, e enquanto estamos “dentro” somos “de Deus”. Isto o entendeu já o rezador do Salmo quando disse: “Vós sois deuses, sois todos filhos do Atíssimo” (Sl.82,6). E também não é panteísmo, porque “o que define o panteísmo é a negação da gratuidade, ou seja, do caráter radicalmente gratuito, “de graça” do “ser cristão”, de sorte que o panteísmo chega a afirmar que Deus, internamente, precisaria de criaturas para completar a própria definição do seu ser divino” (E.Schilleebeeckx, Jesus, a história de um Vivente, p. 638). Exatamente é esse “ser de Deus” que acompanha o ser humano em tudo, que é a base e fonte de nossa própria existência humana. Isto fundamenta também  o núcleo de realidade e experiência contida em tudo o que na história se apresenta como religiões” (o.c.p.637). Dissemos que Deus não é Deus sem nós, sem sua entrega e presença em nós e no cosmos. O corolário é que também o ser humano só se torna pessoa quando se entrega aos outros. “Independentemente dessa referência interna a Deus no cerne da nossa existência, podemos refletir sobre a pessoa humana e chegar à conclusão de que o ser humano, a bem dizer, somente se torna pessoa quando se entrega aos outros no mundo que ele tem de humanizar” (o.c.p. 637). É aí, no intercâmbio das ações que fazemos em benefício dos outros que se manifesta a voz soberanamente livre do criador. No momento em que o outro apela para a minha generosidade a fim de que eu cuide dele, isso manifesta os apelos de Deus. É um clarão do amor universal criador do Deus único querendo realizar a libertação em e pelos seres humanos para a salvação de todos. Por outro lado, e como uma derivação desta realidade, a criatura e o cosmos não apenas revela, mas ao mesmo tempo esconde Deus. Isto é, a transcendência de Deus nos permite apenas uma limitada visão de sua transcendência. Deus não recebe o que ele é, o seu “ser Deus”. A sua abundante presença ou imanência nas suas criaturas não limitam nem restringem a transcendência de Deus, apenas deixam que esta presença apareça dentro de uma certa medida limitada, criada, não divina. Mas, então, isso significa que o ser humano, de fato, ao revelar que é “de Deus” esconde ao mesmo tempo o que Deus é. É por isso que o humano “aponta” para o que Deus é em si mesmo e por si mesmo. “A criatura – o mundo, a história, o ser humano – é uma presença de Deus “como dádiva”. Significa isto que a nossa perspectiva sobre o Deus transcendente é limitada, porque o percebemos através de sua imanência em nós e nos seus vestígios neste mundo, na história e no ser humano. As criaturas, portanto, intermedeiam para nós a presença de Deus, mas elas não são Deus. Por isso só sabemos de Deus a partir do “não-divino”, i.é, a partir do que não é Deus” (o.c.p.639). O mundo criado tem partículas de Deus mas não é Deus. E nós, dentro do mundo criado também. Não somos Deus mas temos algo de Deus. Chamamos isso de imanência. Por isso Deus não é Deus sem nós. E nós não somos nós sem Deus porque não viemos de nós mas dessa realidade que se derrama em nós, e no cosmos de uma maneira dadivosa que faz o todo de Deus e a partezinha de Deus que somos nós.

Conclusão. Antigamente se dizia: “Lembra-te oh homem que és pó e em pó te hás-de tornar”;  Os astrônomos agora  dizem: ”Lembra-te oh homem que és partícula de estrelas e em estrela te hás-de tornar”; O cristão hoje diz: “Lembra-te oh homem que és partícula de Deus, e para Deus hás-de voltar”.

P.Casimiro João        smbn

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sábado, 5 de abril de 2025

A MULHER E A LEI.


 

Há um capítulo impressionante no evangelho.  Trata-se justamente do tema do título desta matéria: A mulher e a Lei. Ou seja, falando da Lei fala-se de Moisés e de Deus, a “lei de Deus”. Falando da mulher fala-se do ser humano como tal. Pela Lei, a mulher devia ser condenada a morrer por conta de um adultério. Pelo ser humano que ela era, não deveu ser condenada, e não foi. Pela teologia dos fariseus era a condenação; pela teologia de Jesus, foi a não condenação. A teologia dos fariseus, era a teologia tradicional do Antigo Testamento. A teologia de Jesus foi a teologia não tradicional. A teologia dos fariseus era teologia do magistério e da tradição, e colocava Deus no centro. Jesus não seguiu o magistério e nem a tradição e colocou a mulher no centro. A teologia tradicional da Igreja herdou aquela teologia dos fariseus do Antigo Testamento. Hoje em dia muita gente se sente à vontade defendendo a teologia tradicional que levava a mulher adúltera ao apedrejamento. Mas não explicam porque é que Jesus não seguiu essa teologia? Porque um dos pilares da teologia tradicional é colocar “Deus no centro”. E são contra a teologia que, no dizer deles, coloca o homem e a mulher no centro.  Não ficam encabulados quando viram que Jesus colocou a mulher no centro? “Moisés, na Lei, mandou que tais mulheres sejam apedrejadas, que dizes tu?” (Jo.8,5). Jesus disse “Eu não te condeno” (Jo.8,11). Quando eles destratam aquela teologia que colocava a mulher  e o homem  no centro, destratam e condenam a teologia de Jesus que usou com a mulher. Estou me referindo à teologia da libertação. Talvez eles estão olvidados que quando se coloca o homem e a mulher no centro, coloca-se também Deus no centro. Ao passo que, colocar Deus no centro nem smpre é colocar o ser humano também, mas matá-lo, como iam fazer os fariseus: “Moisés, na Lei, mandou apedrejar tais mulheres” (Jo.8,5).  Antes de avançar: Será que Deus mandava mesmo apedrejar alguém? Mas assim ensinava o magistério e a tradição dos fariseus, e aquele Deus que eles colocavam “no centro”. Mas a história continua. Aquela teologia chamada da “tradição” e do “magistério da Igreja” e que colocava “Deus no centro”, o que nos diz a história sobre o que ela tem feito? Quem estuda a Inquisição sabe que eram torturados “pecadores”  e “pecadoras”, presos e queimados nas fogueiras da Inquisição. Por causa de Deus e da Lei havia esses tribunais, prisões, mortes, torturas e queimas na fogueira, gente queimada viva. Tudo fruto dessa teologia que colocava Deus “no centro” mas matava as pessoas. Era então uma opressão contra o ser humano. E vejamos bem, essa teologia tradicional apoiava-se tanto em Deus como no rei, ou seja, no poder temporal.  Outra opressão: todo mundo era obrigado a ser católico para se salvar, senão ia para o inferno. Esta mudança e libertação de que ninguém agora é obrigado a ser católico não veio da teologia da libertação mas veio da sociedade civil por meio da filosofia  do século dezoito. Também colocou o ser humano no centro, e colocando o ser humano no centro colocou Deus que respeita o ser humano. Hoje em dia se esquece que esta malfadada teologia do A.T. sobre a mulher contribuiu para o maior rebaixamento da dignidade da mulher, com atitudes como apedrejamento, objeto só dos desejos do homem, facilidade do divórcio, por ‘não achar mais ela bonita, (Dt.cap.24,1), segregação de reuniões e da sinagoga a por aí vai. Pela falta de reciclagem há lideranças da Igreja que ainda hoje alimentam esses preconceitos contra a mulher. Não investem em formação e reciclagem de seus conhecimentos, e continuam desinformados e deformando as camadas desinformadas da Igreja. Seguem aquela cultura arcaica e obsoleta dos mitos do livro do Gênesis copiado depois na Carta dos Efésios “As mulheres sejam submissas a seus maridos” Ef.5,22 que nem é de Paulo mas de um aluno dele que transmitiu o que rolava na época. Esquecem  que essa malfadada cultura era a base do estrato social da época, que já não é hoje a mesma, que está mudada em 190 graus. Mas os desinformados permanecem como múmias ou fósseis da história do passado, num ostracismo ignorante dos progressos da história e da humanidade. Esquecem que a Bíblia traz a cultura da época, e eles se colocam ainda como quase os primeiros antropoides que dominavam as fêmeas, que não usavam Pix, não eram doutoras nem juízas, repórteres da TVs, ministras ou mestras de investigações científicas.

Conclusão. Paira nos ambientes uma raiva infundada e difusa contra a teologia da libertação. Quem tem essa raiva, que fique sozinho com ela, porque devido a uma formação teológica preconceituosa, antiga e deficiente, terá a sua desculpa. Mas andar espalhando em redes sociais essas suas crenças atrasadas e pensar que tem Deus no bolso, tenham cuidado com aquele aviso: “Vós fechais aos homens o reino dos céus; mas vós mesmos não entrais e nem deixais os outros entrar” (Mt.23,13).

P.Casimiro João        smbn

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segunda-feira, 31 de março de 2025

ARETOLOGIA O QUE É

Aretologia era uma literatura greco-romana sobre pessoas em que se tornava visível uma força divina, chamada areté, força, virtude e valor fora do comum entre os humanos, de tal maneira que eles eram classificados como “os divinos”. Isso deu origem a um tipo de literatura baseada no cacife desses personagens, assim tipo axé  dos afrodescendentes brasileiros da Bahia, onde o axé é força, virtude  espiritual. Este gênero de escrita foi um gênero que campeou em círculos cristãos da Igreja primitiva e se apoderou também da vida de Jesus, e mais tarde continuou a comandar a escrita dos “Atos dos mártires” e “Vidas dos Santos” como chegaram até nós hoje. Essa doutrina influenciou fortemente os judeus da diáspora que depois se tornaram cristãos, como afirmam os historiadores. Personalidades como Alexandre Magno e o imperador Augusto eram considerados como “homens milagrosos e apelidados como “filhos de Deus”, os “divinos”. No conceito popular eram seres celestes “revestidos de figura terrestre que apareceram em nosso mundo, alguns vivendo tão virtuosamente, muitas vezes renunciando a todo prazer, à carne e à sexualidade, e com tanta força ou areté, que eram exorcistas e curavam doentes, às vezes ressuscitavam mortos. O divino tornava-se visível em seu miraculoso aparecimento terreno. Nasciam também miraculosamente do próprio Deus, muitas vezes virginalmente, isto é, eram divinos. Depois da morte eram “arrebatados”, tirados “dentre os humanos” e “assumidos” junto aos seres divinos e não raramente apareciam depois a seus íntimos e “admiradores”. Os estudiosos dizem  que “judeus de língua grega, educados com tais ideias, ao ouvirem falar sobre Jesus e ao se tornarem cristãos, sentiam-se plenamente motivados para interpretarem Jesus neste formato padrão helenista dessa aretologia. (Cf. E.Schillebeeckx, Jesus a história de um Vivente, p.425). No evangelho de Marcos e de João foram usadas referências que tiveram como fonte essa aretologia. Uma referência muito clara é a terminação do evangelho de João onde diz: “Jesus realizou ante os olhos de seus discípulos muitos outros  sinais que não estão escritos neste livro. Estes foram escritos para que creiam que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e, crendo, tenham a vida em seu nome” (Jo.21,25). Justamente era assim que terminava o final das vidas de todos os miraculosos homens de Deus: “Poderíamos falar de muitas outras coisas e nunca terminaríamos. Mas para concluir podemos dizer: “ele é tudo”. Como poderíamos encontrar forças para elogiá-lo?” (Sr.43,27). E: “O restante das ações dele, de seus combates, das proezas que realizou, de seus títulos de glória, não foi escrito pois seria assunto demais” (1.Mc.9,22). Aretologias e biografias de heróis se escreviam com finalidade propagandista. Lucas usa frequente este recurso a fim de tornar seu evangelho mais “acessível” para os gregos. Em lugares mais destacados, como o seu evangelho da infância de Jesus, é apresentado como uma aretologia.  E não só: Os Atos dos Apóstolos continuam a mesma narrativa sobre os “grandes feitos” dos apóstolos, como em At.2,22. (o.c.p.427). No Novo Testamento, a primeira propaganda missionária pertence à aretologia, aumentando as listas de milagres bem como os formatos de vocações e chamados para uma missão.

Conclusão. Numa de suas Cartas Paulo fala sobre missionários que têm no bolso “cartas de recomendação”. Na realidade eram cartas onde alguma comunidade atestava neles obras miraculosas, “aretológicas”, imitando os grandes milagres de Jesus. Em resposta, Paulo declara que prega Jesus mas “sem esses poderes, para não diminuir o valor da cruz de Cristo”. Por isso se refere aos valores onde se baseava: “nos sofrimentos e nas perseguições por amor a Cristo” (2Cor.4,7-12). Isto prova como essa aretologia influenciava comunidades e cristãos. Tomara que hoje, passados tantos anos, ainda não continue influenciando não só pregadores evangélicos, mas também católicos.

P.Casimiro João      smbn

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sábado, 29 de março de 2025

CHAPADINHA 87 ANOS

Chapadinha, és a cidade do Senhor Jesus, e de NªSª das Dores, terra amada e sempre intercedida pela Mãe de Deus, sua Padroeira e Mãe do Salvador.

E a história da Padroeira com a criação da cidade vem de muito tempo atrás:

Chapadinha foi elevada à categoria de cidade no dia 29 de Março de 1938, há 86 anos, e antes mesmo de sua emancipação política, a Paróquia de Nossa Senhora das Dores já existia desde o dia 02 de Março de 1802. E tempos depois, nosso amado território, homologou-se com a Carta régia de 16 de Setembro de 1804, criando a freguesia de Nossa Senhora das Dores. Pouco depois, em 1838, a Família Ferreira ofereceu à Nossa Senhora das Dores a área de uma légua de raio (6,6 km partindo da atual Igreja Matriz) nas terras habitualmente conhecida como Chapada das Mulatas à Nossa Senhora das Dores por ter sido livrada das Guerra da Balaiada. É assim, que desde a chegada das famílias ao nosso território, que a nossa Paróquia Bicentenária faz parte do cotidiano dos munícipes. E aqui só nos fortalece a Fé, que especialmente em Setembro, em toda a cidade habita um forte e fervoroso turismo religioso.

Mas hoje, rogamos e damos graças ao seu povo ordeiro e feliz, que Nossa Senhora os abençoe continuamente, livrando esta terra amada de todo o mal.

P.Casimiro João      smnb

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segunda-feira, 24 de março de 2025

PALAVRA DE DEUS


 

Nós recebemos palavras e expressões dos nossos antigos, mas usamos sem saber a origem. Por exemplo, A expressão que usamos cada dia “Okei” (0.k.) vem da história de um soldado de plantão da noite que saía pela madrugada pra dar uma volta pelo acampamento pra ver se havia algum soldado morto. Quando voltava e trazia a boa notícia, que em inglês é: “Zero killed”  ou: “0.k”, significava “Zero mortos”  ou “nenhum soldado morto”, o que deu o nosso “okei”, ou “Oká”.  Agora não são soldados mortos ou vivos, mas que tudo vai bem. A expressão “palavra de Deus” tem a sua origem na antiguidade. Na antiguidade havia as pitonisas ou adivinhas “inspiradas” que pronunciavam oráculos “inspirados” pelos deuses. E havia também os profetas desses povos antigos que se pensavam como se fossem como “divindades”. Estes recursos faziam parte dos sistemas religiosos antigos para impressionar o povão, ou seja, para “fazer a cabeça do povão”; E não só, deuses falavam , não só terceirizavam, mas também tinham ocasiões especiais da “fala deles”. Então as palavras de pitonisas, adivinhas e profetas eram consideradas “palavra de Deus” embora que tudo era feito à base de truques, bebidas alucinantes e vapores destilados que punham as pitonisas em estado de transes e êxtases. Ou seja é um componente dos sistemas religiosos  da antiguidade e que entrou no sistema religioso cristão. Noutra página demos a diferença entre religião e sistema religioso. Religião é a busca de Deus; Sistemas religiosos são os diferentes formatos e expressões da busca de Deus. Falámos que até os próprios deuses falavam em certas ocasiões e convidavam pessoas escolhidas para uma refeição. Temos ecos de disso no Livro de Êxodo. “E subiram setenta anciãos de Israel; eles viram a Deus, e comeram e beberam com ele” (Êx.24,9-11) E daí, tanto nos povos antigos como em Israel vinham expressões como esta: “Deus disse”; “assim falam os deuses”, ou “o deus de nossos pais disse” e :”Estas são palavras de Deus” (Cf. Eduardo Arns, a Bíblia sem mitos, Paulus, 2014, p.288). Para os Judeus isto passou com a expressão “Assim falou Javé”. Quanto às palavras das pitonisas, dos profetas e dos deuses veio o jargão dado como certo “palavra de Deus”, que entrou automaticamente no Novo Testamento. E ninguém contesta, visto que são expressões que ganharam sacralidade, e ficaram como pilares dos sistemas religiosos. Como vinham dos antigos, assim foram recebidas e sacralizadas. E não se faz distinção e não excluindo, mas incluindo que todas as “Escrituras” são “palavra de Deus”. Mesmo que  histórias e narrativas imaginárias sejam incluídas, como onde se diz” que seus bebês sejam jogados contra a rocha”, no Salmo 137,9). Por isso diz o autor citado: “As palavras da Bíblia têm os mesmos conceitos e os mesmos ‘erros’ que as pessoas do seu tempo; nesse contexto são simplesmente “cultura religiosa” (o.c.p.294). Não só entre os escritores bíblicos, mas entre os fundadores e redatores de outras religiões, “todos se jugavam inspirados por Deus”. Vejamos no Novo Testamento, as Cartas deuteropaulinas, assim chamadas porque não são de São Paulo mas dos discípulos dele. Vejamos os acréscimos que foram aumentados já ao A.T. e depois aos evangelhos primitivos e nas próprias Cartas. E quanto às cópias de documentos antigos, se inventaram palavras às que estavam apagadas, ou queimadas ou rasgadas pelo tempo. Mas tudo isso entrou no tratamento como “palavra de Deus”. No entanto, “ a Bíblia não deve ser sacralizada nem absolutizada como se Deus a tivesse ditado ou escrito”(o.c.p.295). A Pontifícia Comissão Bíblica no seu documento de 1993 nos alerta: ”Por interpretação literal entende-se uma interpretação primitiva, literalista, que exclui todo esforço de compreensão que leve em conta seu crescimento histórico e seu desenvolvimento, opondo-se ao método histórico-crítico e a todo outro método científico para a interpretação da Escritura” (PCB,1993).

Conclusão. Como conclusão, a Bíblia não deve ser divinizada ou absolutizada, como se Deus a tivesse ditado por sua boca ou escrito por sua mão. A Bíblia não é uma aula de ditado. 

P.Casimiro João           smbn

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segunda-feira, 17 de março de 2025

BÍBLIA IDOLATRADA, VALIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO.

Não é novidade que havia validades de prazo do Antigo Testamento. Essa descoberta não é só da visão teológica e da crítica atual, mas “já foi manifestado por autores de diversos escritos do Novo Testamento, pois há partes do A.T. que foram abrogadas, outras deixaram de ser normativas e outras foram relativizadas ou corrigidas, especialmente as leis do Pentateuco” (Eduardo Arens, “A Bíblia sem mitos” Paulus, 2014, pag.199). Sem contar que teólogos antigos como Marcião excluíam do seu cânon o Antigo Testamento. Partes que foram abrogadas não é difícil de encontrar, como Circuncisão. Abluções, Leis sabáticas, todas as leis de morte para “pecados sexuais” (Lev.19,20-29); leis de morte e apedrejamento. E pecados que eram castigados com fogueira, “os três serão queimados vivos” (Lev.20,14). Outras que deixaram de ser normativas, como sacrifícios de animais, cultos e suas cerimônias e suas vestes e leis de sangue. E leis relativizadas, como de gênero, de todo tipo de exclusão por conta de raça, de riqueza, doença, ou pobreza ou gênero. Assim como maldições (Lev.26, 15-46). E também leis de escravidão que permitiam a venda de pessoas como escravas (Lev.25,44-54). Todas estas situações tiveram seu tempo que dependia da cultura atrasada e primitiva da humanidade e dos judeus. Acabou o prazo de validade. Embora que a própria Igreja tivesse imitado até há bem pouco tempo essas situações de morte, de queima etc. pelos séculos XVI até XVIII. Isto nos leva a ver que seria incômodo afirmar que estas eram “palavra” de Deus e “ordens de Deus”. Eram palavras e ordens das pessoas humanas daquela época primitiva, que se atribuíam autoridade com coisas tão odiosas. E não iríamos dizer que essas autoridades eram constituídas por Deus, mas nasciam de relações primitivas de como os povos entre si se organizavam, tanto na ordem social como na religião. E nem que essa religião e essa autoridade vinha de Deus porque se fosse de Deus, seria  Deus que era o culpado. Como vimos noutra página, cada povo teve sempre uma religião e seus sistemas religiosos, assim como teve uma política e seus sistemas políticos.  Tanto entre judeus como não judeus. Já vimos o que é religião e o que são sistemas religiosos: religião é a busca de Deus e de obediência à consciência; sistemas religiosos são as formas e as formatações de como exprimir e manifestar a amizade com Deus, ou o temor, ou o louvor, e “aplacar” Deus para ele não “castigar”, e depois agradecê-lo. E isto inclui gestos, ofertas de animais, danças, e livros que contam as coisas de cada época, e as louvações ou sacrifícios de cada época, que mudavam segundo as circunstâncias e os entendimentos de cada época. É isso que estamos detectando também na Bíblia, que faz parte desses sistemas religiosos universais. Vejamos alguns exemplos de coisas que acabaram com o tempo na Bíblia, além do relatado atrás: A poligamia(vários casamentos) praticada por todos os reis de Israel; a facilidade do divórcio, como ficou escrito no Deuteronômio, e como  era praticado por todo o judeu: “Se um homem toma uma mulher e se casa com ela, e resulta que esta mulher não ache graça a seus olhos porque descobre nela algo que lhe desagrada, lhe redigirá uma ata de repúdio, colocará na mão dela e a despedirá de sua casa” (Dt.24,1-5). Eis o que diz Eduard Arns a respeito: “A Bíblia não é um livro onde se encontram respostas a todos os problemas, tal como controle da natalidade, corrida armamentista, ecologia. Os problemas daqueles tempos não são idênticos aos nossos. Não somente isso, mas as respostas correspondem ao grau de compreensão de cada época. É assim que o problema do divórcio recebeu diferentes respostas em diferentes escritos da Bíblia (Dt.22,13; e cap.24,1-5; Mc.10,1-12 e Mt.19,3-9). As respostas estavam condicionadas pela teologia do momento e dirigiam-se a auditórios concretos daqueles tempos. A vontade de Deus para nosso momento histórico atual deve ser buscada para tempos de hoje. Os escritores bíblicos  ofereciam referências e orientações para o tempo deles. Eles não tinham condição de ensinar sobre questões de biologia, de antropologia, de psicologia social, mas para comunicar suas crenças” (o.c.p.233-234). Para terminar vejamos alguns erros da Bíblia: *A arqueologia descobriu que Jericó não era habitada nos tempos de Canaã (Js.6-9) *Nabucodonosor era rei da Babilônia, e nunca foi rei de Nínive (Jd.1,1) *Em Dn.cap.5 se dia que Baltazar era filho de Nabucodonosor, mas não era; ele era filho de Nabomid, o último rei da Babilônia. *Não foi Dário que conquistou a Babilônia, mas Ciro (Dn.6,1). *Dário não era filho de Xerxes, ao contrário, ele é que era o  pai de Xerxes (Dn.9,1). *Na arca de Noé se diz duas coisas contrárias, uma vez que entrou um casal de cada ser vivo e noutro lugar que entraram sete casais de cada ser vivo (Gn.6,19 e Gn.7,2). * Também num lugar diz que o dilúvio foi de 40 dias, e noutro lugar de 150 dias (Gn.7,12 e Gn.7,24). *Que o rei Joaquim não tinha filhos (Jer.22,19) mas quem lhe sucedeu foi seu filho (2Rs.24,6). *Em 2Sam. se diz que Davi comprou um terreno por 50 ciclos de prata, e em 1Cr. que comprou o mesmo terreno por 600 ciclos de ouro.(1Cr.21,25). Enquanto há o mandamento “Não matarás” (Ex.20,13), em Josué Deus mandou “passar a fio de espada” todos os habitantes das cidades conquistadas, inocentes ou não (Jer.10,28). Para terminar, “como poderia explicar-se que teria sido Deus quem inspirou a ideia de que a terra era plana e o centro do universo, quando sabemos que a terra é somente um planeta que gira em redor do sol, e não o contrário? Caso tivesse sido assim, Deus se teria equivocado muitas vezes e seria responsável pelos erros que estão na Bíblia” (E.Arnes, “A Bíblia sem mitos”, p.243).

Conclusão. Para o Islão o livro do seu sistema religioso é o Corão, e eles afirmam que foi escrito por Deus. Eles idolatram o Livro. Em contrapartida o Novo Testamento acabou por idolatrar também a Bíblia porque também “escrita por Deus”. Será que Deus disse uma vez uma coisa e depois outra coisa? Afinal, os dois livros fazem parte de dois sistemas religiosos. O Corão faz parte do sistema religioso deles, e a Bíblia faz parte do sistema religioso dos judeu-cristãos. Não podemos idolatrar a Bíblia.

P.Casimiro João       smbn

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sábado, 8 de março de 2025

OS TEMPOS DE NETANYAHU E OS TEMPOS DE TRUMP.

“Todos os povos foram criados por causa de Israel” (4Esd.6,59). Ainda faltava inserir na saga  da história de Israel esta novidade, enfocada desde os livros secretos de Israel que foram inspiradores de muitas histórias bíblicas dos últimos anos turbulentos das últimas narrativas bíblicas. E esta afirmação nos surpreende, assim tão clara, embora ela esteja difundida como uma sombra que atravessa transversalmente todas as publicações da biblioteca judaica que chamamos A Bíblia do Antigo Testamento, e respingou ainda para as novas publicações do N.T. sobretudo para o Apocalipse. Esta afirmação contundente vem no livro secreto do 4Esdras,(4Esd.6,59). E o espanto dos antigos israelitas manifestava-se assim: “Se o mundo foi criado por nossa causa, então por que não somos donos deste mundo”? (4Esd.6,50). Portanto, “redenção significa: Israel será libertado de seus inimigos que o impedem de ser dono do mundo. Por isso, o aniquilamento de todos os inimigos de Israel é condição escatológica para a redenção final de Israel. Somente depois que isso acontecer, o messias pode dedicar-se inteiramente a seu “resto sagrado” ou seja, Israel. Isto corresponde  ao paraíso original. O reino de Deus, o “novo céu e a nova terra” surgirá somente desse reino messiânico de paz” (4Esd.7,30-31). Apud Schillebeeckx, Jesus, a história de um Vivente, Paulus, 2014, p.447). Que Israel  agora em 2024-25 declarou-se como o maior aliado de Trump, não deixa lugar a nenhuma sombra de dúvida que sempre foi trumpista. Obs: Donald Trump é filho de pais imigrantes da Baviera e descendes de antigos israelitas).

P.Casimiro João      smbn

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segunda-feira, 3 de março de 2025

CALA-TE E SAI DELE, Mc.1,21. O MITO DOS EXORCISMOS.


 

Um dia na Sinagoga, “havia um homem possuído por um espírito mau, e ao topar com Jesus gritou: que queres de nós, vieste para nos destruir?” Mc. 1,21. Ele não devia dizer, “que queres de mim, mas falou “o que queres de nós?” Porque todos da Sinagoga sabiam que Jesus vinha para destruí-los. Então ele representava a Sinagoga inteira. Nesse caso, trata-se de uma metáfora, dizendo que toda a Sinagoga era espírito impuro, isto é algo impuro. E como Jesus vinha destruí-los? Vejamos, destruir o sistema: “Vocês lavam o copo por fora, mas o interior de vocês está cheio de rapina e de impureza” (Mt.23,25). Dai vem uma segunda cena: “Cala-te e sai dele” Mc.1,21. Marcos arruma aí um quadro de mágica, porque a mágica funciona quando o sistema o fabrica e o aceita. Heródoto, historiador grego e muitos outros historiadores, todos usavam mágicas de curandeirismo e exorcismos de demônios porque todos acreditavam nessa magia. Naquela época, como em épocas aqui no Nordeste do Brasil, em qualquer doença psicológica se dizia: fulano está ‘espritado’, porque tudo era atribuído a maus espíritos. Era o que se praticava também na Palestina. “Se eu expulso demônios pelo poder de belzebu, os filhos de vocês por quem os expulsam?” Mt.12,27. Vale dizer, os judeus viviam de exorcismos, e Jesus entrou nessa de exorcismos, ou se não entrou, os evangelistas lhe atribuíram essa atividade. Foi a cena que Marcos encenou nesta ocasião. Jesus o intimou ‘cala-te e sai dele’. Funciona a metáfora: subrepticiamente Marcos quis dar uma baita lição de que toda a Sinagoga era um espírito impuro. “Sai dele quer dizer, sai da sinagoga” Vejamos bem que estamos no capítulo primeiro de Marcos, e logo de início ele propõe qual é projeto e o programa da ação de Jesus: Purificar a religião judaica, que tinha-se tornado “antro de ladrões” e corações fingidos e pintados por fora como sepulcros caiados, mas por dentro cheios de ossos e de podridão, de falsidade e de rapina” (Mt.21,13).

Conclusão. Enquanto escrevia esta página me lembrei da igreja fundada pela ex-deputada Flordelis, “Comunidade Evangélica Ministério Flordelis”, no Rio de Janeiro, atualmente na prisão. Certamente devem ter feito muitos “exorcismos”. Mas porque não tiraram o "mau espírito" do corpo dela, que a levou a matar o seu marido Anderson do Carmo e a fazer toda sorte de suruba com todo os ‘filhos adotivos’ do harém que tinha em sua casa?

P.Casimiro João   smbn    www.paroquiadechapadinha.blogspot.com.br

 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

MITOS POR AQUI E POR ALI NOS EVANGELHOS

 

“A Bíblia sem mitos” é um livro aberto de Eduardo Arns, Paulus, 2014. Hoje tomei como tema o episódio narrado por Marcos onde conta a degolação por Herodes, e onde peritos encontram mitos e lendas. (Mc.6,14-21). Entre as várias considerações que aqui cabem, vou-me limitar a três. Primeira: Não é histórico que João Batista tivesse se encontrado com Herodes, e por isso é considerado redacional aquela narrativa segundo a qual ele lhe teria dito ‘não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão’. (Mc.6,8). E de quebra a outra afirmação que “Herodes gostava de ouvi-lo embora ficasse embaraçado quando o escutava e por isso o protegia” (v.20). Isto são preliminares redacionais para compor a cena que se segue. Em seguida vamos falar dos dois motivos-chave da cena desenvolvida  em dois atos. O primeiro ato trata do tema do matrimônio, que teria levado João à prisão e à degolação. O historiador Flávio Josefo, testemunha insuspeita sobre a história declara que Herodes desde o princípio odiava João e o perseguia mandando espiões emissários para espionar a atuação de João Batista que ele considerava subversivo e com potencial de arrastar multidões para uma revolta política (Cf. Shed Meyer, O Evangelho de Marcos, pag. 264). Por sua vez, os matrimônios na Palestina eram feitos por alianças. Deixavam uma esposa por outra por causa de alianças com a nova família e por amizades e compromissos com os pais de uma ou de outra.(o.c.p.321). Por isso ao evangelista interessava só o motivo religioso para não expor as autoridades desviando do motivo político, que era o único em questão, visto que tanto para os profetas como para o povo em geral essa situação era normal, e muito mais para as autoridades reais como acontecia com Davi e Salomão com as suas concubinas. Em segundo lugar aparece a arrumação adequada para aumentar a “moralidade” do conto: a dança da filha de Herodíades. Os estudiosos consideram esta cena como uma “lenda piedosa” para encontrar motivo de pedir a cabeça de João Batista: “É uma parábola para descrever o sistema de como a vida humana era pisada para salvar a face régia” (S.Meyers o.c.p.265). Não é difícil comparar com cenas de hoje, pensando como são pisadas vidas humanas na Faixa de Gaza para salvar figuras de mandantes tiranos como o primeiro ministro de Israel e o aliado presidente da América do Norte. Na verdade o evangelho é um código. Não devemos parar numa palavra como tal, mas é um link com muitos desdobramentos. Reportamo-nos agora com um olhar relâmpago à “Bíblia sem mitos” para ajudar-nos na conclusão do nosso tema. Sobre alguns imaginários  vejamos algumas afirmações: “Muitos pensam que tudo o que é narrado pelo fato de estar na Bíblia é histórico” (Eduard Arns, Bíblia sem mitos”, p.105). Perguntemos o que se entende por ‘lenda’: “A vida de um personagem essencialmente histórico, mas onde se exagera o aspecto no qual a lenda se esconde tanto que parece incrível” (E.Arns, o.c.p.103). Outro exemplo: “Quase todos os leitores contam como se o episódio da entrega da Lei no Sinai ocorresse como se narra; porém, na entrega da Lei de Hamurabi o rei recebe também a Lei das mãos do deus Marduk” (o.c.p.106). Também pensamos que profecias e Apocalipse dizem coisas sobre o futuro; porém os profetas falavam do presente e para o presente do seu povo e não para 20 séculos adiante, e para traduzir aquilo quando dizemos: ‘quem ri por último ri melhor’. (o.c.p.110).

Conclusão. Não seria pequeno o número de lendas e mitos pesquisados na Bíblia, a começar no relato da criação e encerrando com o Apocalípse, o primeiro e o último dos livros da Bíblia. Começamos com os evangelhos mas nosso confronto foi mais longe dando essa olhada de relâmpago mais vasta.

P.Casimiro João      smbn

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domingo, 16 de fevereiro de 2025

CADÊ A FELICIDADE DOS POBRES, CADÊ AS BEM-AVENTURANÇAS?


 

A felicidade dos pobres é saber que eles têm os mesmos direitos dos ricos, coisa que eles não sabiam. Sem dúvida que é esse o sentido  da ordem de Jesus: “Eu vim pregar a Boa Nova aos pobres” (Lc.4,18). E felizes aqueles ricos que colaborarem para que isto aconteça, quando não colocam entraves e obstáculos no caminho dos pobres. Segundo Jesus, a mesa da felicidade é para todos, representada na parábola do banquete (Mt.22,1-14). Historicamente os judeus do A.T.fizeram uma teologia baseada na opressão dos reis, que se tornou uma opressão igual à opressão dos faraós do Egito, e por isso viram-se sem chão quando perderam as esperanças de felicidade quando ganharam a Terra prometida mas não ganharam a felicidade. E a teologia foi assim: aqui no mundo o pobre não consegue saída, então só no fim dos tempos, na vida do além“ ou na outra reencarnação” com a vingança de Deus. E isto se chamou a teologia escatológica ou do fim dos tempos. Foi esta situação que Jesus encontrou. E ele então anunciou que os pobres não são excluídos da mesa da felicidade, eles têm o mesmo direito igual aos reis e aos ricos. E conclamou ricos e pobres para participar da mesma mesa. E ele estava convencido que isto pudesse acontecer ainda na vida dele. (Cf.Schillebeeckx, “Jesus, a história de um Vivente, pag.156). E pôs a sua cabeça a prêmio. Isto aconteceu, não aconteceu? Foi igual ao princípio da criação: o mundo para todos. Tem havido bons tempos e tempos maus. Na segunda criação, na segunda lei do Novo Sinai com Jesus também tem havido tempos bons e tempos maus. Houve muitas conquistas dos pobres, e muita opressão de poderosos, mas há melhorias. E muitas igualdades têm acontecido. A mesa do Ensino ficou mais igual, a mesa das Universidades, a mesa dos Direitos Humanos e a mesa de um mundo mais igual e democrático. Os estudiosos dizem que os “Ais” dos Evangelhos não são  de Jesus, mas dos pregadores e redatores posteriores (o.c.p. 167). “Sofrer” é vontade de Deus? Ser “pobre” é vontade de Deus? Esta foi a teologia fabricada no Antigo Testamento para não se “revoltarem” contra Deus, que “permitia” isso, assim pensavam. E as Igrejas na sua história fizeram ressuscitar essa teologia para “sossegar” a sua consciência de manterem os seus privilégios, e também para “agradar” aos poderes políticos para manterem os pobres na “sujeição” e na “escravidão”. Isto porque: "O poder requer corpos tristes. O poder necessita de tristeza porque consegue dominá-la. A alegria portanto, é resistência, porque ela não se rende. A alegria como potência de vida leva-nos a lugares aonde a tristeza nunca nos levaria" (Gilles Deleuse).

Conclusão. Tentamos responder à pergunta "Cadê a felicidade, cadê as bem-aventuranças". No contraste da teologia do sofrimento do Antigo Testamento adotado depois pelas Igrejas e pelos poderes públicos, analizados pela psicologia da dominação.  

P.Casimiro João      smbn

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domingo, 9 de fevereiro de 2025

GERASENO, O POSSESSO


 

Quando foi escrito este episódio do evangelho as comunidades discutiam se era para pregar o evangelho aos estrangeiros ou não. Essa preocupação era uma  ideia fixa para as comunidades, e apresentavam-se motivos religiosos e políticos. Os motivos religiosos se baseavam em que na vida terrena de Jesus ele proibira os discípulos de ir aos gentios e aos samaritanos “Não ireis ao meio dos gentios nem entrem em Samaria” (Mt.10,5).  E “Eu fui enviado somente para as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt.15,24).  O segundo motivo religioso era que os territórios dos pagãos era terra impura. O fato de os discípulos sacudirem o pó das sandálias tinha o paralelo de que os israelitas tinham que sacudir a poeira da roupa e dos chinelos quando entravam no território de Israel,  porque eles vinham contaminados dos territórios das nações estrangeiras. O terceiro motivo que era  político é que as legiões dos exércitos romanos em territórios estrangeiros poderiam impedir a ação missionária dos cristãos. Com o fundo deste quadro tripartite podemos compreender a ação simbólica da expulsão “da legião de demônios” do possesso geraseno desses territórios pagãos. Em primeiro lugar “o evangelho aos estrangeiros que não se podia pregar porque eram territórios impuros: então o evangelista fez este quadro para dizer que Jesus já os purificou. Agora já são territórios purificados porque Jesus purificou o território dos gerasenos quando “expulsou” os demônios do geraseno que eram “legião”. E mais purificados ficaram quando os demônios que saíram dele entraram nos porcos e se atiraram ao mar e todos se afogaram, nos recordando ainda os soldados do faraó que ficaram afogados no mar vermelho. Deste modo, geraseno purificado e território purificado numa baita lição para os ouvintes. Os                                                                      motivos religiosos estão aqui resumidos, e de agora em diante não tem divisão em território “santo” e território “impuro”. Quanto ao motivo político da Legião que representava o imaginário do medo das legiões romanas, também este imaginário não tem mais fundamento uma vez que o poder de Jesus glorioso é mais forte do que as “legiões” que atacaram aquele homem e aquele território. E também elas reconheceram o poder do Salvador.

Conclusão. Olhando a conclusão do sucesso da cena notamos que o homem curado foi mandado “a pregar na região tudo o que Jesus tinha feito” (Mc.5,20). E em Lucas: ”Volta para casa e conta quanto Deus te fez” (Lc.8,39).

P.Casimiro João    smbn

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

DIFICULDADES DE PASSAR DE CONVICÇÕES ANTIGAS.

 

Antes a ciência era escrava da fé. A fé era ditada pelo magistério da Igreja. E os teólogos recebiam a incumbência de divulgar a fé e explicar os documentos da Igreja. Havia sempre a sombra e ameaça da excomunhão. Nasciam daí os dois tipos de magistério: um magistério soberano, absoluto e infalível, o da cúpula da Igreja; e outro magistério subalterno. O primeiro era o “magistério eclesiástico”; o segundo, o “magistério teológico”, distinção feita pelo alemão Hugo Grotius no século XVII. Desde que a Igreja dominada pelo império recebeu a credencial de liberdade do imperador Constantino, até o final da Idade Média, foram muitos séculos deste esquema. Só mudou a situação com a chegada do Renascimento iluminista e as suas descobertas como a liberdade de consciência e a liberdade de religião, consideradas como as colunas e as alavancas da modernidade. A duras provas aconteceu a emancipação dos poderes dos reis e no que toca à teologia, e à ciência o diálogo mútuo. Em seguida chegou o processo da libertação dos escravos das mãos dos reis e dos nobres e dos senhores feudais; e de quebra a libertação dos direitos totalitários da fé sobre o magistério teológico e a ciência.  A duras provas aconteceu tal processo mas aconteceu: a custo de excomunhões, ameaças, prisões e torturas de cientistas e teólogos. Deste modo a ciência conseguiu seu status de igualdade, com os mesmos direitos e de independência da fé. Até que hoje, após o concílio vaticano II vivem lado a lado em boa harmonia e colaboração, sem contar sempre aqui e ali com os retrógrados que sempre ficam amarrados ao passado. O que acontece com aquele ditado: quem não avança volta para trás porque a vida é movimento. A Igreja sentiu que devia se adequar com exigências da ciência como controle de natalidade, métodos anticoncepcionais, pílula anticoncepcional, comportamentos homoafetivos, e reavaliação da qualidade de “pecados antigos” hoje vistos sob o prisma onde entra a ciência e a crítica histórica, a psicologia e a antropologia, como os “pecados dentro do matrimônio” e “masturbatórios”, “valor da virgindade” e suas motivações, assim como o valor dado a manifestações afetivas antes duvidosas ou condenadas. Isto posto, vejamos afirmações a respeito, de um dos maiores teólogos do séc.XX: “Evidências científicas não podem ser detidas pela fé, podem contradizer certas imaginações em torno da fé” (Schillebeeckx, “Jesus, a vida de um Vivente”, pag.58). Por outro lado, o mesmo teólogo alerta sabiamente sobre as dificuldades de quem estava acostumado com a fé antes da ciência: “Na hora da divulgação dessas novas convicções há, muitas vezes, pouca compreensão para as dificuldades dos fiéis em se acostumarem com essas novas ideias e assimilá-las. De outro lado, o resultado crítico não pode ser silenciado, e isso exatamente para o bem da fé cristã. A fé nada perderá por causa de uma verdade nova, empírica, pelo contrário ganha muito” (o.c.p.59). Falei noutra página que até há pouco tempo se dizia que a revelação terminou com a morte do último apóstolo, o que agora é uma falácia porque ninguém sabe quando morreu o último apóstolo, além de que quase todo o Novo Testamento foi escrito depois da morte de todos os apóstolos, e ainda mais, sabe-se agora que a autoria do Novo Testamento não é de nenhum deles mas das comunidades, com poucas exceções mormente das comunidades da Síria. Avançando, vejamos mais: “A revelação, como revelação, só está completa, a bem dizer, na resposta da fé surgindo de uma situação bem concreta com horizonte próprio de perguntas. E nossas perguntas de hoje são diferentes das do passado. (o.c.p. 54). No caso, a revelação tem duas mãos: numa mão o que recebemos do Jesus de Nazaré, noutra mão a interpretação da situação atual.

Conclusão. Falou-se da dificuldade dos fiéis em se acostumar com as novas ideias. “Um fato é que no passado os fiéis e até os teólogos e o magistério consideravam todas as tradições do N.T como relatos diretos de acontecimentos históricos. A teologia e as repostas da fé baseavam-se também numa interpretação pré-crítica, puramente biblicista, da história de Jesus, uma vez que não se discerniam, por ex. a diferença entre os gêneros literários, e que cada época é inevitavelmente sujeita a limitações do seu próprio contexto histórico(o.c.p.58). Daí vem a necessidade de entender as dificuldades dos fiéis para se adequarem com a nova realidade que está surgindo. Mas tem que ir acontecendo.

P.Casimiro João      smbn

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domingo, 26 de janeiro de 2025

MELQUISEDEQUE E OS DÍZIMOS.


 

Os judeus sempre foram bons em lidar com o dinheiro, e são donos de muitos Bancos. E a classe sacerdotal também. Foi a classe sacerdotal que fez a última edição do Gênesis, e que foi buscar uma figura “lendária” chamada Melquisedeque com o perfil de “sacerdote”, sem pai, sem mãe e sem genealogia, heb.7,3 e que deu os dízimos ao patriarca Abraão. E ainda mais, para completar a lenda o homem tinha que ser rei. Ficava feito o jogo que serviu 100 por cento para ser o suporte de um sacerdócio rico, político e dominador de toda a história judaica. Sacerdócio aliado com o poder real, truculento na recolha dos dízimos e despoticamente dominador: com o domínio imperial e o domínio econômico do dinheiro e o domínio da religião. E tudo isto para provar que o Dízimo era de instituição divina e estava escrito nos céus, como dizem os estudiosos. Aliás, conta a história dos primórdios do antigo judaísmo e dos povos vizinhos como começou o histórico do sacerdócio. Não havia sacerdote nem sacerdócio. O rei é que exercia o sacerdócio e oferecia os sacrifícios aos deuses, como também entre os judeus assim era. Paulatinamente os funcionários mais próximos do rei foram encarregados desse ofício pelo rei, pagos com bom salário. E para isso começaram a ser construídos os templos para oferecer sacrifícios porque ainda não havia. É por isso que vem a lenda dos dízimos de “rei Melquisedeque” que ofereceu ao patriarca Abraão. Esta era a situação do sacerdócio no A.T. Aí o rei tomava conta do palácio, e o sacerdote tomava conta do templo e dos sacrifícios. O rei tinha os impostos, e o sacerdote tinha os dízimos. E como tinha que obedecer ao rei, assumia também as funções de mágico para adivinhar as guerras, as fortunas e as mulheres. Um item: na época de Jesus tudo funcionava assim. A Carta aos Hebreus, que foi escrita por um judeu convertido para colocar o look de sacerdote em Jesus, nos diz que “ninguém deve atribuir-se essa “honra”, (Hb.5,4). Isto é, o tal cargo era uma baita de uma honra, e portanto com os direitos de personagem igual a um rei. E ainda, falando de Cristo como ele o imaginava, o que diz a Carta: “Ele foi por Deus proclamado sumo sacerdote na ordem do Melquisedeque”, (Hb.5,10). Expliquemos: na ordem de uma lenda? Mais: se Jesus foi proclamado sacerdote, porque é que Jesus nunca exerceu o sacerdócio no templo e nunca vestiu as vestes de sacerdote? Então Jesus teria sido desobediente e nunca foi sacerdote na sua vida, e nunca vestiu vestes sacerdotais nem ofereceu sacrifícios no Templo. E ainda mais, foi condenado à morte pelos sumos sacerdotes. E ainda mais, ele fez a Ceia pascal numa casa enquanto os sacerdotes ofereciam o cordeiro no Templo. E agora? Esse judeu anônimo que escreveu essa Carta  esqueceu todas essas coisas. No entanto, essa Carta aos Hebreus, leia Judeus, foi muito apreciada e seguida por uma Igreja triunfalista, dado que oferecia todo o suporte para que os sacerdotes do N.T. continuassem com as mesmas regalias do A.T. Foi por isso que ela foi redigida, e reeditada mais vezes em datas posteriores. Aí batem as saudades desses tempos de “glórias” hoje em dia, em que a Igreja vive de uma reflexão das bem-aventuranças, e ao mesmo tempo de uma pressão obsessiva pela volta ao passado, com os privilégios, os salários, os abraços aos poderosos de hoje, e às mesmas roupagens e looks lendários do passado. A este respeito eis o que o Papa Francisco afirma aos que andam flertando com esse passado: “É curioso esse fascínio, que muitas vezes desperta o interesse de muitos jovens. Esse imaginário geralmente vem acompanhado de vestes preciosas e caras, com bordados, rendas, e estolas. Isso não é uma alegria por esse passado, mas ostentação de clericalismo, e uma modernidade sectária. Às vezes, por trás dessas vestimentas escondem-se distúrbios afetivos, problemas de comportamento ou um desconforto pessoal que pode ser instrumentalizado. Há candidatos com algo de errado, algo que os leva a esconder sua personalidade por detrás de conceitos rígidos e sectários”.Cf. www.katolish. de, 14-01-2025). O Papa certamente tem conhecimento de fatos reais, como seminários e formandos que flertam com as honrarias do passado, para não passarem essa ambição para as novas gerações.

Conclusão. Afinal das contas a figura lendária de Melquisedeque  serviu para suporte de todo um passado de conluio entre sacerdócio e poder temporal, coleta de dízimos, e domínio do sacerdócio sobre o povo, igual a ditadura imperial, sacralizando-o com uma “divina lenda” sagrada. Será que não tem gente flertando agora numa volta aos tempos dessa lenda sagrada?

P.Casimiro João       smbn

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

OS LOOKS DE JESUS CRISTO DO PASSADO E DE HOJE


 

Podemos arriscar e dar uma chance de considerar os diferentes “looks” de Jesus durante a história. Quem sabe, os looks foram mudando e acompanhando o processo da revelação. Na teologia clássica se considerava que a Revelação se encerrou com a morte do último apóstolo. Isso hoje se considera como uma falácia, primeiro porque ninguém sabe quando morreu o último apóstolo; segundo, porque quase todos os livros do Novo Testamento vieram à luz depois que todos os apóstolos não eram mais vivos. Em terceiro lugar, porque hoje se sabe que a “revelação” foi feita por camadas, e segundo o entendimento e a “fé” das várias camadas de gerações de cristãos. Por esse mesmo motivo todos os looks dos judeus sobre Jesus não serviram para os gregos e os Sírios, como o look “Messias” e “Cordeiro” ou “filho do homem”, que eram da cultura judaica. Para os gregos e sírios serviam mais os looks que incluíam Jesus como o ser que tinha o poder sobre o Cosmo e sobre a Terra como os generais. E lhe deram o look de “pantocrator” e “Logos”, assim como os sírios. Também ninguém lhe dava o look de “sacerdote” e “sumo sacerdote”. Foi preciso um anônimo judeu ir ao Antigo Testamento e pegar os links do sacerdócio do A.T. para vestir Jesus com esse look, porque queria apresentar Jesus aos judeus vestido com esse look sacerdotal e por isso redigiu a “Carta aos Hebreus” com esse objetivo. Embora as páginas da Bíblia não digam nada sobre o aspecto físico de Jesus, os primeiros cristãos se apropriavam de figuras pagãs para representar Jesus. Era comum recorrer a imagens pagãs de pastores jovens e sem barba para apresentar Jesus como pastor. Com a autorização do culto cristão pelo imperador Constantino em 313 os artistas traduziam Jesus com sentimento de vitória e o representavam em belos e grandes mosaicos bizantinos. Assim ficou o primeiro look de Jesus, uma figura com rosto de um nobre romano, de túnica e barba. Na Idade Média ficou famoso o look de Leonardo da Vinci, outro nobre romano, da elite, e junto com esse, o Jesus da Última Ceia do mesmo autor. Um pouco mais à frente ganhou fama o look dos afrescos de Michelângelo, no Vaticano, inspirado nos looks dos deuses gregos Apolo e Orfeu. Antes do século dezoito não havia o look de Jesus como “Coração de Jesus”. Foi preciso uma freira como Santa Margarida Maria de Alacoque ter na sua imaginação a representação de Jesus mostrando o seu coração para vestir esse look em Jesus, em 1678. Isso porque era um tempo em que a comunhão não se praticava. O povo tinha medo da “hóstia” e do “sacrário” e nem podia pensar em comungar. Dizia São João Eudes que “se soubéssemos do valor da “reserva” que era a hóstia no sacrário, tínhamos que colocar grades em volta para não se aproximar. Isso refletia a frieza e o medo daquela época em que ninguém comungava por aquela magia daquela presença que até podia fulminar quem se aproximasse. Havia na teologia da época a magia até de quem tocasse nos panos da missa e do altar ficava excomungado. Esse ambiente repercutiu no espírito da Santa Margarida, e foi o estopim para esse look e essa “experiência” de um Cristo que teve que usar até a estratégia de mostrar o coração fora do peito para que o povo se aproximasse de um Jesus que amava as pessoas em vez de expulsar. E havia uns pedidos e umas promessas para que o povo se aproximasse da comunhão nas primeiras sextas-feiras. Imagine se pedisse todos os domingos ou todos os dias. E Jesus foi assim vestido com esse look do Sagrado Coração de Jesus. Como vemos, foi um look para uma época, se fosse hoje não teria sentido porque com o andar dos tempos a missa e a comunhão tornou-se popular. Como dizem os teólogos, toda a devoção inclui uma experiência. E na Igreja católica as experiências têm um objetivo direcionado à prática sacramental, enquanto que nos evangélicos a experiência é sobre  a “Palavra” da Bíblia. Essa experiência do look do “coração de Jesus” chegou “como vinda do céu”. Ainda não havia o look de Cristo Rei. Foi na época do Papa Pio XI que Jesus foi vestido com o look de Cristo Rei em 1925. E tem uma simples motivação da proclamação de Jesus com esse look. O papado estava de baixo astral porque tinha perdido os Estados Pontifícios. A cidade de Roma tinha passado das mãos do Papa para ser a capital da Itália, quando foi tomada por Victor Emanuel em 1870. Por seu lado, Pio XI foi o primeiro Papa a ficar confinado no Vaticano pelo Tratado de Latrão. O papado ficou reduzido no seu poder temporal, como sempre deveria ter sido, acarretando humilhações e decepções nesse sentido. De sua vez, Pio XI flertou muito com as opiniões de seus antecessores que detonaram e condenaram os avanços do mundo moderno. Ele condenou o que chamou de “modernismo”. E isso foi o estopim para proclamar Jesus como Rei do universo, vestindo mais esse look em Jesus, o look de Cristo Rei.

Conclusão. Tivemos oportunidade de ver como os looks de Jesus têm mudado conforme a história, a cultura e a política. Pode imaginar qual seja hoje o look de Jesus preferido, ou que mais adequa com o nosso tempo.

P.Casimiro João      smbn

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