sábado, 26 de fevereiro de 2011

Reflexão da Semana: NÃO TENHO, NEM QUERO NENHUMA RELIGIÃO. E DAÍ?

Ter uma religião não é coisa supérflua. Não é  preocupação dispensável ou substituível. Não é postura exagerada, nem atitude acidental. Ter uma religião é mais que conveniente. É necessidade absoluta para quem acredita em Deus.  É uma questão de fé. Quem acredita em Deus precisa absolutamente de uma religião. Fechar-se em si é morrer antecipadamente. A dimensão transcendente é essencial ao nosso viver. Quem é fabricante de ídolos, quem sabe arranjar um deus próprio, jeitoso, à medida dos seus caprichos, quem tem sua maneira pessoal de satisfazer ao ídolo fabricado... a esse basta um boteco para fazer zoada e cumprir os ritos que ele mesmo inventou.

Ouve-se tantas vezes dizer: “Creio em Deus, mas não tenho religião!” ou “sou religioso, mas não pertenço a igreja nenhuma. Não tenho tempo de andar pelas igrejas!” Estarão certas estas afirmações? Certas, porque correspondem ao pensar de algumas pessoas, isso sim. Mas certas na sua relação com a possibilidade humana? Isso, não, no meu pensar. Deus não se costuma revelar direta e verdadeiramente a ninguém. Pode alguém pensar que tem uma fé vivida de uma forma individual e solitária. Podemos meter na cabeça que ninguém possui Deus e que nenhuma igreja é dona de Deus, por isso estou dispensado de a freqüentar. Podemos pensar! O pensamento é livre. Mas fica-nos a obrigação de baixar de nosso orgulho e não tentar monopolizar Deus. Ele não é propriedade de ninguém, muito menos de cada pessoa que o deseja manipular. Deus revelou-se a um povo que fez com Ele uma aliança (Heb.1,1-2). Comunicou-se a ele através de intermediários, como os profetas, por fim, em Jesus, manifestação máxima de Deus na História (Jo 1,18). Jesus chamou um grupo de Apóstolos (Mc.3,13-19). Os Apóstolos fizeram comunidades (IJo.1,1-3). Os primeiros cristãos viviam sua fé na fidelidade à comunhão fraterna, à oração, à celebração da Eucaristia e ao ensino dos Apóstolos (At.2,42-47). Vinte séculos de existência da Igreja revelam-nos que Deus nos salvou em família e é em família que precisamos procurar salvar-nos em diálogo com Deus. 

Conhecer Deus, ter intimidade com Cristo exige viver esta fé em comunidade. Ter uma religião é uma questão de fé. Facilmente nossos interesses nos enganam, nossos pensamentos, por diversos motivos, nos traem, fogem do projeto divino. Para satisfazer utopias podemos desejar manipular Deus. Mas Ele não se deixa engaiolar em nossas pretensões. Relativos como somos, pessoas acidentais e de existência breve, não podemos querer ser senhores do Absoluto. Isso seria a supervalorização de nossa fragilidade, seria viver um sentimento de superioridade enganosa. Aspetos autônomos de nossa existência humana só são verdadeiros quando reconhecemos que não somos seres absolutos.

Também há pessoas que passam ao ataque, e, para se desculpar de não ter religião, afirmam que há pessoas que, sem ir à igreja, têm vida melhor que muitos que andam por lá sempre. Importa ser tolerante e saber reconhecer o valor da religião, para as pessoas e para a sociedade, e analisar que todos temos defeitos, mesmo quem, descaradamente, os sabe catar nos outros, escondendo os seus próprios.

Claro que ter uma religião não é ter sido batizado em criança, praticar uns ritos, freqüentar esporadicamente uma ou outra celebração ou sentir-se satisfeito por ajudar alguma igreja. Ter uma religião não é pouca coisa, nem tão pouco viver um fanatismo estéril. É reflexão séria e compromisso aceite. A religião liga-nos a Deus e aos irmãos. A palavra “religião” vem do latim “religare” que significa reconciliar-se com Deus, reatar comunhão com Ele. E, para nós católicos, a Igreja é esse lugar de encontro. Repito: Deus salvou-nos em família. É em família que nós nos salvaremos.

Vociferando que nenhuma igreja possui Deus, que ninguém é proprietário do divino... isso vale para as igrejas e para qualquer ser humano. Seja ele quem for!. Querer desprezar o sentido social da pessoa, desejar esquecer toda a tradição... é muita coisa. É demais. Querer viver sem os irmãos, sem comunidade religiosa, é como querer viver sem Deus. Quanto à análise de quem se salva ou condena, isso só a Deus pertence. Quem pensa bem não arrisca no individual. Até porque só temos uma vida! E, na Igreja, Deus colocou muitos meios à nossa disposição que em muito nos ajudam a caminhar para Ele. Sem eles, a vida torna-se mais difícil. 

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