MARIA, ATENCIOSA
DISCÍPULA NA ESCURA DO MESTRE
PROGRESSIVO COMPROMISSO
DE IDENTIFICAÇÃO COM CRISTO
Nossa novena vai caminhando para o
fim. Este grandes ajuntamentos em família cristã, as reflexões que aqui têm
sido feitas, toda esta beleza, este interesse e harmonia... transformam a nossa
novena em tempo de graça, (em grego se diz: “kairós”, isto é espaço de tempo,
mas carregado da graça divina). Merece, pois, a nossa maior atenção e
aproveitamento. Poucas vezes no ano vemos assim esta disponibilidade de tanta
gente vir e rezar, conviver em amizade e alegria. Tudo isto já é favor de Deus,
pela intercessão de nossa querida Mãe do céu.
Maria de Nazaré foi a cheia de graça.
A mulher que, apesar de muita riqueza espiritual, não compreende o que lhe está
sendo anunciado e, por isso, pergunta ao anjo como é que sua mensagem, para ser
a Mãe do Salvador, se vai realizar. Ela não tem marido, seu projeto era outro.
Então, como vai ser? A jovem Maria não é parva nenhuma, não se deixa alienar
por qualquer promessa, nem embarca em ditos que não compreende.
Quer saber a
verdade, mas quando esta lhe é explicada, diz sim à vontade de Deus. Bom
exemplo para nós, nestes tempos que correm, em que muitas promessas de
políticos chovem por aí, para nos conquistar e há tanta gente que vende sua
dignidade, embarca em falsos ideais e depois fica queixando-se. Enquanto a
sociedade no seu quase todo não evoluir, não se tornar consciente e não tomar a
sério a defesa de sua dignidade... não veremos evoluir a situação de corrupção,
de grande desiquilíbrio social e de má distribuição de renda em que se encontra
nossa sociedade brasileira, onde uma minoria explora e facilmente vive à custa
da ignorância da maioria que se deixa enganar apesar de viver esmagada por mil
necessidades. Enquanto nossos jovens não tiverem a responsabilidade de preparar
um futuro digno e belo, continuaremos a ver tantos mergulharem sua juventude em
namoros prostitutos, na droga, na vadiagem de vícios contraídos, só porque não há
sentido de vida, nem respeito pela dignidade de filhos de Deus em que estamos
investidos.
A vocação, de cada um de nós, é uma
graça. Deus bate à nossa porta, mas Ele, respeitando nossa liberdade, admite
que a porta só se abra por dentro, com nosso consentimento. Por isso, mais uma
vez, lembramos ditos que aqui têm sido explanados: “Bíblia na mão, pé na missão
e juízo na eleição”. “A vida só tem sabor a felicidade quando a sabemos partilhar”.
“Nossa consciência é o mais antigo celular com que Deus nos comunica Sua
Vontade. Precisamos estar atentos às comunicações divinas”.
O tema de hoje vem reforçar toda esta
temática tão atual e necessária nos tempos que correm. Ser cristão não é uma
brincadeira. Não nos podemos satisfazer com qualquer coisa. Ser cristão não
depende de uma grande ideia que ouvimos ou lemos. Não é resultado de um
sentimento vago que nos chegou ou de uma grande emoção que tivemos. A vida
cristã é fruto de uma opção pessoal,
consciente, crescente e comunicante.
Pessoal, porque
cada ser humano é originalidade, sem segunda edição, irrepetível e, portanto,
responsável único pelo que acontecer nesse existir.
Consciente, porque
temos que trabalhar, sentir suas exigências, aceitar suas dificuldades e tomar
as opções que a Palavra de Deus de Deus nos pede.
Crescente, porque
ser cristão é viver, entregar-se, mergulhar no mistério de Deus, deixar livre
trânsito a Ele em todas as horas do nosso existir. Ninguém vive só com
merendinhas, pequenos lanches, alguns aperitivos.
Todos nós precisamos de
comida. Primeiro de leite materno e depois, progressivamente, começrmos a
alimentarmo-nos com alimentos sadios, com refeições substanciosas , com comida forte e abundante. Se alguma mãe
vê que seu filho não cresce e começa a ficar anémico, raquítico, nanico... logo
pensa em ir ao médico saber a razão. Deve haver doença pelo meio.
Assim devia
ser na vida cristã. Jesus diz que veio trazer vida e vida abundante. A Palavra
é Sua. Não nos quer diminuídos, fracos, doentes por mil vícios, sem aguentar a
alegria do Seu amor... Deus quer que todos levemos a sério essa vida que
recebemos no Batismo, que façamos desenvolver essa enorme dignidade a que somos
chamados de participar na vida divina.
O Batismo é a porta, a maternidade desse
projeto a que Deus nos chama para vivermos na órbita divina: de pensarmos, de
sentirmos, de amarmos, de vivermos bem unidos a Ele. Por isso, não podemos
ficar só com nascer para a graça, temos que a alimentar e fortalecer. Não nos
podemos contentar com ter a porta aberta, mas temos que entrar. Quem fica só à
porta a entreter-se com o vê fora, no mundo, nem entra nem deixa entrar outros.
Por isso, dizíamos também que nossa vida cristã tinha que ser comunicante,
cheia, a fazer-nos felizes e a transbordar para os outros.
Ser cristão é ser
uma pessoa apaixonado pela vida em graça, é sentir-se cativado e cativador para
aquela alegria de ser amado por Deus e que não somos só capazes de guardar para
nós. Um provérbio africano diz que uma boa notícia não apodrece na garganta.
Temos que a comunicar a outros. Erguer os caídos no desânimo, socorrer quem está
nas periferias da vida, quem se deixou desviar para a podridão dos vícios. Há
tanta dificuldade no mundo de hoje! Temos que ser missionários, bombeiros, soldados
vigilantes e ativos para ir em ajuda de tantos que necessitam. Quanto mais os
ramos duma árvore se agitam pelo vento, mais as raízes se abraçam para os
defender, diz também um provérbio africano.
Mas como chegar a este ponto de
cristão autêntico, apaixonado por Deus, autêntico missionário da vida cristã?
Aí é que está o problema.! Precisamos de conversão, urgente mudança de vida,
começar a interessarmo-nos mais pela fé, pela vida cristã em graça. Que
interessa ganhar o mundo inteiro, ter muito dinheiro, fama e vaidade... mas
perder a sua alma? Esta foi a frase que mudou o ritmo e a direção de vida de
muitos que se santificaram.
Hoje não basta ser batizado, carregar fórmulas de
catequese infantil decoradas, rezar só quando nos sentimos atrapalhados,
procurar um ou outro sacramento mais pela festa que proporciona que pela
necessidade que se sente. Hoje num mundo pluralista, que admite com facilidade
tantas maneiras de viver, que procura o fácil, o prazer, onde tantas famílias
não mais educam os filhos na fé, onde faltam agentes de pastoral na nossa
Igreja... não basta ser só batizado e contentar-se com alguma coisa.
É preciso
investir, comprometer-se, procurar mais instrução religiosa, dar mais tempo à
oração, respeitar a dimensão comunitária da religião cristã, isto é: frequentar
as celebrações onde nos sentimos ajudados e ajudamos outros, sermos fortes na
defesa da moral cristã, não andar como as borboletas a duvidar de tudo e a
procurar a facilidade da salvação em promessas que por aí aparecem. É triste ver tanta gente capacitada,
comprometida e esforçada na vida social e profissional, mas infantilizada na
sua fé. Interrogadas por qualquer verdade, logo dizem: “o padre é que sabe!” Para
ultrapassar, para dar resposta a tantos problemas que a vida lhes traz, apenas
possuem pequenas fórmulas decoradas em criança infantil. Basta aparecer a
adolescência... e lá se vão! Ficam por aí de qualquer maneira! Precisamos de
uma fé adulta, de conhecimentos que iluminem nossa vida profissional, nosso
compromisso político e familiar. Precisamos de nos alimentar com comida
espiritual substanciosa, de levarmos a sério nossa vida cristã que nos deve
levar á santidade.
Como Maria, precisamos sentir-nos
necessitados de Deus, discípulos de Sua Palavra, alunos atentos de seu projeto
de amor. A vida cristã é um processo contínuo, longo e que tem que ser
perseverante. Como Maria crescer constantemente na fé, botar fé na vida,
enchermo-nos de Deus, da Sua graça, do Seu amor e botar essa fé entusiasmante
nos ambientes que tanto nos condicionam.
Botar fé, irradiar fé, testemunhar fé,
celebrar fé, contagiar nossos ambientes de fé adulta, de respostas sábias e
cheias do Espírito. Essa é a nossa vocação. Que Maria interceda por nós, nos
ajude como ajudou os apóstolos depois da paixão e morte do Senhor. Que nossa
Padroeira nos entusiasme por Jesus, porque só assim vale a pena ser cristão.
Não podemos arrumar Deus no esquecimento, fazer uma religião do nosso gosto,
viver uma fé raquítica carregada de tradições ultrapassadas e de fuxicos
humanos sem sentido.
Como S. Paulo temos que crescer, crescer, até que Cristo
nos encharque, nos penetre em todos os setores da vida, seja tudo em nós a
ponto de podermos dizer como S. Paulo:
já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim.
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