MARIA, EM SILENCIOSA
OFERTA JUNTO DO CRUCIFICADO
VALOR REDENTOR DO
MONTÃO DE NOSSAS ADVERSIDADES
Estamos na
oitava noite de nossa novena à Padroeira. Depois de ontem termos refletido que
a vida cristã não é alguns atos religiosos que praticamos, não é uma ideia, um
sentimento passageiro ou uma opção superficial que assumimos, mas é um
processo, uma caminhada, um esforço de nos identificarmos com Cristo, até à
plenitude.
Hoje
entramos no centro do mistério que celebramos no nosso festejo: o acontecimento
do Calvário que sendo um pequeno monte se tornou mais célebre que todas as
altas montanhas do mundo inteiro. No Gólgota, é meio da tarde e tudo escurece.
O sol se esconde, as trevas invadem o mundo e Cristo agoniza na cruz. Mas há
uma mulher que vigia a vida, guarda o afeto que não podem morrer. É Maria de
Nazaré. Como o sacerdote no altar ela oferece seu Filho pela salvação de todos.
E nos ensina a prolongar em nós os sofrimentos de cristo pela nossa e pela
salvação de nossos irmãos.
Jesus
olhando para ela pronuncia essa palavra sagrada: “mãe”, que quer dizer: amor, geração, afeto... A morte não vai
extinguir a vida. Maria tem ali sua maternidade ferida, mas ela vai ser
transferida para outro ser, para João, o discípulo amado por Jesus e que é bem
o sinal da nova humanidade restaurada em Cristo agonizante. “Mulher, eis teu
filho!” Jesus vê uma mãe e um filho, pede a um homem e uma mulher que reatem o
fio quebrado da vida.
A morte não triunfará. No vértice da dor, Jesus pede a um
homem que converta seu coração, mude seu olhar e olhe essa mulher como mãe. Na
dor, nós, seres humanos, agarramo-nos a Deus. No Calvário é Deus que se agarra
a nós, àquela parte sã e boa, afetuosa e forte, àquele instinto amoroso e
enérgico que existe na terra: a relação de mãe e filho. Maria era mãe de Jesus.
Agora no Calvário fica quase sem filho, mas Jesus a torna mãe de todos nós. Notemos
que o evangelista João não usa a palavra “mãe” quando em Caná e no Calvário se
refere a Maria.
Usa o termo: “mulher” que não é palavra genérica que indique
afastamento ou falta de respeito. É palavra que universaliza Maria, que nos
leva a reconhecer nela toda a humanidade, de todos os tempos. João estende
Maria do particular para o universal para atingir a todos sem exceção. E neste
projeto João coloca Maria como modelo, referência, raiz e início de uma nova
era. Eva era mãe do velho projeto de homem. Maria torna-se no Calvário a mãe da
nova humanidade.
Há um provérbio hebraico que diz: “Como Deus não podia estar
em toda a parte, criou as mães”. A vocação de mãe é proteger, guardar e fazer
reflorir a vida que tem sempre que prevalecer sobre a dor. “Eis aqui um filho!”
e Maria volta a ser mãe. Em nome da maternidade, Maria é ajudada a depor aquela
dor que talvez gostaria que fosse totalizante e a passar a um novo filho.
Paremos
aqui um pouco para refletir como nós mães vivemos a nossa maternidade. Como os
pais vivem sua paternidade. Querem as autoridades por esse mundo fora
despenalizar, tornar normal o aborto, tirar da família a responsabilidade de
educar, não promover políticas públicas para proteger a família. E quantos pais
trocam família pelo boteco, pelo baralho durante horas e horas e depois não
lhes resta tempo para dialogar com os filhos. E temos que nos saber posicionar
com energia contra a tendência do que chamam casamento gay.
Não há casamento a
não ser entre homem e mulher, porque essa é a vontade de Deus, para isso está
orientada a natureza humana e nesse hábito se viveu durante milénios, criando
uma tradição que não se pode abolir. Temos que nos preocupar com correntes
hedonistas, materialistas que querem criar, em promoção ilusória, o super-homem
para colocar Deus em descanteio ou mesmo fora de jogo.
E, nesta hora de
eleições, devemos saber o que pensam sobre esta matéria aqueles que se propõem
ser nossos representantes. Dois por cento ou até, segundo outros, 1,5% de
pessoas que se julgam intelectuais, ricos ou super- dotados desejam impor esta
maneira de ver, embriagados pela novidade e ajudados pelos meios de comunicação
social que dominam a seu belo prazer.
E Jesus
pronuncia a palavra “filho”: “eis aí teu filho!”. Isso significa: eis quem
prolongará na sua vida o teu estilo de vida. Eis quem numa relação de fé estará
com Deus como você, acolhedor e fiel como você, capaz de cantar e servir como
você, gerando alegria e esperança e comunhão como você. Eis quem, pelo seu
trabalho e exemplo, também será como mãe gerando fé na vida dos que se
desinteressaram. Na mãe encontramos essa orientação missionária que todos
devemos assumir na nossa vida cristã. Nunca esqueçamos que estamos em Santas
Missões Populares.
A
maternidade que é lembrada no Calvário, é hospitalidade que parte em
peregrinação a caminho daqueles que chamamos irmãos. Seria este o caminho que
nós devíamos prolongar tornando-nos irmãos uns dos outros. Esta é a atitude
suprema, esta é a peregrinação a caminho do outro que todos nós devíamos tentar
prolongar. Se curares outro, a tua ferida sarará. Ilumina outros e
iluminar-te-ás (Is.58). Mata a sede a outros e a tua sede se aplacará.
Quem
olha só para si nunca ilumina, nunca ressurge. O avarento é um monstro. Na
medida em que mais quer ter, menos é, menos vive, porque mais se preocupa com o
que tem e não lhe resta tempo para pensar em si e na salvação. Oração corajosa
aquele da Madre Teresa de Calcutá: “ Senhor, quando estiver triste, manda-me
alguém para consolar; quando tiver fome, manda-me alguém a quem eu possa matar
a fome; quando não tiver tempo, manda-me alguém a quem eu possa ajudar, ao
menos por um momento”
O mundo é
um imenso pranto, mas se olharmos para o Calvário, também podemos dizer que é
um imenso parto. E que nos fala do misterioso vínculo que a dor teceu com a
maternidade e com a novidade. O novo nasce sempre com dor. E, nós cristãos,
temos que nos convencer que ser apóstolo, transmitir aos outros a Boa Nova,
evangelizar, contagiar o mundo com o
Evangelho... faz sofrer, mas gera alegria. O grito vitoriosos da criança que
vem à luz é um grito de sofrimento, mas ultrapassado pela vitória da vida.
A
nossa vocação é a mesma de Maria: uma maternidade universal: guardar, proteger,
cuidar, amar. Nossa tarefa é guardar vidas como a nossa vida, sobretudo as
vidas débeis. Maria, no Calvário, que já não é mãe porque seu Filho está a morrer,
que tem uma maternidade ferida, tem então uma maternidade transformada, curada,
multiplicada: todos nós somos seus filhos.
Aceitar com
resignação e espírito oblativo e redentor as contrariedades! É S. Tiago que
diz: o passar por diversas provações, considerai isso motivo de grande alegria
por saberdes que a comprovação da fé produz em vós a perseverança, mas é
preciso que a perseverança gera uma obra de perfeição para que vos torneis
perfeitos e íntegros, sem falta de deficiência alguma” (Tiago,1,2-4).
Outro pensamento que podemos tirar do
silêncio oblativo do Calvário é o mandato do Senhor: ”eis a tua mãe!” deixa-te
formar por ela, pela caridade e pela paixão., pela palavra e pelos exemplos de
Maria. Deixa-te educar e formar por ela, como cada filho aprende a vida com sua
mãe. E repete a sua escuta atenciosa, e o seu ato de tudo guardar no coração, o
seu louvor, o seu cuidado com tudo, a sua fortaleza e a sua admiração...
Prolonga a sua presença onde quer que te encontrares. Eis a tua mãe! Dirige os
olhos, fixa o olhar, contempla aquela imagem para vires a ser como ela.
Estão aqui muitas pessoas que são
apóstolas do terço. Não esqueçamos este pedido de Deus, de imitar Maria, de nos
deixar orientar pelos seus exemplos para que nossa vida se transforme na
vontade de Deus. E quem é autoridade, padre ou professor, pai ou mãe na vida
familiar lembremo-nos todos que etmos uma mãe que soube ser simples, generosa,
atenta à vida, disponível à vontade de Deus. Que pequena é a vida para sermos
santos! Quanto devemos aprender a nos prender a Deus que nos ama infinitamente.
ER (cuidado!) Ele anda por aí, nós O encontramos a cada passo na pessoa do
nosso irmão.
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