quarta-feira, 16 de março de 2011

FALSAS MIRAGENS DO DESERTO

Deserto é lugar inóspito, inabitável,indesejável. É lugar de passagem.Traz a tentação de voltar atrás, de fugir da carência de tudo e de qualquer maneira. Deserto é lugar de tentação, de miragem: coloca perto o horizonte que nunca se alcança. Deserto é lugar de sofrimento e cira a urgência de sair dele. Na Bíblia, odeserto é mais um lugar simbólico que uma localização geográfica. Os evangelhos dizem que Jesus foi ao deserto, isto é, desceu à maior fragilidade humana, à situação de extrema pobreza. E aí foi tentado pelo diabo a servir-se de Deus, a fazer valer seu prestígio. Mas preferiu ficar servo obediente à vontade do Pai. Também sentiu necessidade de se agarrar aos bens da Terra para fugir a tanto sofrimento.Mas ficou pobre, apenas imensamente rico de Amor para salvar os homens. Também o visitou a tentação da glória, do orgulho, de mostrar seu poder. Mas preferiu o despojamento, a paixão, a cruz...que lhe deram a glória da Ressurreição. Quaresma é tempo de reflexão e de avivar nossa opção cristã. Temos que nos interrogar quais os valores que estão orientando nossa vida. Hoje o nosso mundo tem os mesmos valores de antigamente, só que a sua hierarquização é diferente. Prefere-se os valores mais fáceis , os descartáveis, os conseguidos com maior rapidez, embora menos duráveis.. Os universais, os que transmitem mais felicidade permanente...são esquecidos. A maior tragédia de hoje é que as pessoas expulsam de sua consciência a alegria de servir os outros, de buscar felicidade duradoura. Perdem a rota espiritual. Tornam-se atrevidos, abandonam convicções éticas fundamentadas em princípios religiosos para se agarrarem a bagatelas, a prazeres passageiros. Faltando o respeito pelo Absoluto, abre-se espaço para absolutizar tudo que é relativo. E aí se atola no lamaçal do relativismo em que se perde a coragem de lutar pelo bem, se ama mais o que agrada que o que se deve, aumenta a voragem, a ganância, a irresponsabilidade...tudo se esvai na satisfação individual...Quaresma é tempo de refletir sobre os valores que preferimos em nossa vida pessoal,econômica, familiar, social e política...Refletir e mudar de rota, se sentirmos que andamos perdidos por atalhos esquisitos.



CARTA DOS BISPOS DO MARANHÃO

Nos dias 12, 13 e 14 de Janeiro próximo passado, os senhores bispos do Maranhão estiveram reunidos em Carolina. Foram dias de partilha pastoral,de reflexão e de ouvir relatórios apresentados pelos diversos setores da Igreja. Seu olhar sobre a realidade suscitou sentimentos de compaixão visto que o nosso povo continua vivendo uma situação de sofrimento e abandono. Pareceu aos senhores bispos que o povo vive momentos de euforia e otimismo por causa de intensas expectativas vindas depromessas oficiais e de umcrescimento econômico generalizado. A Bolsa Familia, a energia rural, as aposentadorias e o crescente acesso ao consumo...estimulam esse otimismo. Na verdade, parece ter sido freada a extrema pobreza, e com ela, o êxodo rural. Mas por outro lado,nota-se um mau uso do dinheiro público e particular na compra de bens nãao de primeira necessidade. O desejo humano e legítimo de sair da dependência, da insegurança e do abandono a que sempre foi relegado o povo maranhense não devia desejar parecer o que não é e não se devia endividar. Na vida intra-eclesial, apesar das fraquezas, pecados e limitações, surgiram motivos de alegria, nas últimas décadas, por haver mais sacerdotes jovens e terem sido nomeados  cinco bispos no último ano. Os senhores bispos terminam dizendo: " sentimos que chegou a hora de não mais aceitar que se jogue com os sentimentos e as expectativas de nosso povo, vendendo-lhe promessas mirabolantes de que tudo, a partir de agora, vai melhorar. Estamos às vésperas da comemoração de 400 anos da chegada dos europeus a estas terras. É momento oportuno para se fazer um resgate histórico das formas de luta por liberdade, de resistência à escravidão, de testemunho de coerência de grupos sociais e de evangelizadores que têm marcado positivamente a história de nosso Estado. Esse resgate nos ajudará a fortalecer um projeto popular independente e soberano".  Os senhores bispos lamentam que a história do Brasil e do Maranhão tem sido marcada pela apropriação indevida, por pequenos grupos, mediante influências politicas e corrupção ativa daquilo que pertence a todos. " Esses pequenos grupos fazem do bem público um patrrimônio pessoal".  Por isso nosso povo, erradamente, também não estima o que é público. " Para inaugurar um novo momento histórico precisamos educar para um novo mais ético, com o bem comum. Sentimos que chegou a hora de se fazer uma radical inversão de prioridades e valores. Não podemos deixar que o Estado continue colocando sua estrutura a serviço quase exlusivo dos grandes exportadores de minério, de soja, , de sucos e carnes. "  A integridade humana dos cidadãos maranhenses merece mais respeito e cuidado. Preocupa o episcopado maranhense a redução do desenvolvimento só à sua dimensão econômica e que " empresários, quadrilhas de colarinho branco, setores do Estado e do Judiciário pisoteiem direitos básicos, transgridam normas ambientais".

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